sexta-feira, 24 de maio de 2013

A segurança dos ciclistas segundo O Estadão

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O Estado de São Paulo

Segurança dos ciclistas

Gostaria de fazer alguns comentários sobre o texto “A segurança dos ciclistas” publicada hoje, 24 de Maio de 2013, no Opinião, pg. 3, deste jornal. Os números de mortos no trânsito de São Paulo são profundamente vergonhosos para as autoridades de trânsito, em especial para a CET, o que a levou a agir, ação tardia e tímida, muito tímida em vista do problema. São Paulo teve algo em torno de 12 mil mortos uma década. Os números vêm caindo, mas falta um ano luz para serem dignos de uma cidade civilizada. Pedestres, pessoas com deficiência física e de mobilidade, ciclistas, e outras mobilidades humanas foram praticamente desprezadas até recentemente. A divida com estes, e por que não dizer com todos paulistanos, é imensa, vergonhosa.
O texto cai em dois erros recorrentes no jornalismo brasileiro: falar sobre capacetes e ciclovias como soluções. Capacete, ao contrário do que se insiste em divulgar aqui no Brasil, é até contra produtivo para a segurança do ‘ciclista usuário da bicicleta como modo de transporte’, como está mais que provado por farta documentação científica internacional. Mesmo os mais fanáticos defensores do capacete reconhecem a verdade que em absolutamente todas as localidades onde o capacete foi tornado obrigatório o número de ciclistas nas ruas caiu, o número de ciclistas acidentados aumentou, a bicicleta se tornou mais insegura. Há vários documentos disponíveis na Internet sobre o assunto, alguns irônicos, debochativos e divertidos. Recomendo a leitura da carta da ECF – European Cyclists’ Federation sobre a discussão da obrigatoriedade do capacete na Espanha; de vários papers holandeses e franceses que chutam o pau da barraca do lobby do capacete; ou até mesmo os artigos do NY Times sobre o lançamento do bike share de Nova Iorque e posição do Governo sobre o capacete.  

O mesmo se pode dizer sobre ciclovias. Ciclovias só são seguras numa utopia perigosa. Protegem o ciclista do trânsito motorizado no meio do quarteirão, mas não de outros ciclistas. Não é porque não há interesse em divulgar dados contrários e não se fez jornalismo investigativo que não há acidentes, até graves, em espaços segregados para ciclistas. Muito pelo contrário. Ciclovias, por segregarem os ciclistas aumentam muito o perigo para estes nas esquinas. Assim como aumenta muito o conflito com os pedestres.
São Paulo, como a maioria das cidades grandes, tem um problema grave de falta de espaço e saturação de trânsito. Onde colocar as ciclovias esperadas? Roubar espaço de quem ou do que? Puft! Está criada a ciclovia? A venda da ideia que a segurança do ciclista está atrelada à implantação de espaço segregado só ajuda aos que querem frear ao máximo o crescimento do uso da bicicleta. Protege um status quo retrogrado que está pouco se lixando para a selvageria da cidade. Não foi assim em nenhuma cidade do mundo. Infelizmente e de novo, faltou interesse pelo investigativo. Há uma diferença brutal entre sistema cicloviário e ciclovias. Mas o que adianta explicar? 
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texto original:
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,a-seguranca-dos-ciclistas-,1035131,0.htm

A segurança dos ciclistas

24 de maio de 2013 | 2h 08
O Estado de S.Paulo

São animadores os resultados do programa lançado há um ano pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) para melhorar a segurança dos ciclistas na capital paulista. Aumentaram as multas aos motoristas que cometem infrações que colocam em risco os ciclistas e diminuiu o número de acidentes de que estes são vítimas. Mas, para garantir a sua convivência harmônica com os veículos automotores, é preciso que daqui para a frente os ciclistas comecem a fazer a sua parte, não só usando equipamentos de segurança, como respeitando como os demais as leis de trânsito. Infelizmente as autoridades de trânsito não deram até agora nenhum sinal de que estão dispostas a cuidar desse outro lado do problema.

Em média, um motorista vem sendo multado a cada hora por desrespeito a um dos três artigos do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) que, segundo a CET, protegem os ciclistas. No total, foram aplicadas 8.844 multas, de maio de 2012 a março deste ano. Uma tarefa nem sempre fácil para os agentes da CET, porque apenas um daqueles artigos - o 220 - diz respeito diretamente ao caso. Estabelece ele que os veículos automotores, quando forem ultrapassar os ciclistas, devem reduzir a velocidade de maneira a garantir a segurança destes. Curiosamente, ele foi o que menos rendeu multa.
Os demais tratam de questões gerais, como o artigo 169, segundo o qual é punido quem dirigir sem atenção ou sem os cuidados indispensáveis à segurança. O artigo 197, por sua vez, considera infração deixar de deslocar, com antecedência, o veículo para a faixa mais à direita, quando for manobrar.
Como não tratam especificamente dos ciclistas, eles tornam subjetiva a apreciação dos agentes. Mesmo assim, a fiscalização da CET conseguiu reduzir bastante o número de vítimas entre os ciclistas. No ano passado, morreram em média 4 ciclistas por mês. Em janeiro e fevereiro deste ano foram registradas duas mortes.
Para avançar ainda mais, duas outras providências são necessárias. Uma - óbvia - é a criação de ciclovias, pois nada protege mais e permite maior velocidade aos ciclistas do que elas. É incompreensível, por isso, que as autoridades municipais tenham assistido - e mesmo estimulado - à expansão desse meio de transporte, sem investir na construção dessas faixas de circulação exclusiva. O que se fez neste caso foi muito pouco e em geral com fins de lazer.
Agora, o prefeito Fernando Haddad promete construir ciclovias ao longo dos 150 quilômetros dos corredores de ônibus que pretende entregar até o fim de seu governo. Para tornar isso possível, será redesenhado o entorno desses corredores, no qual também serão feitos reforma das calçadas e aterramento da fiação. Se a promessa sair do papel, será um passo importante.
Outra medida indispensável é começar a obrigar os ciclistas a respeitar as regras de trânsito, pelas quais a maioria deles parece ter um solene desprezo, mas que são importantes para sua própria segurança. Porque ocupam pouco espaço, não gastam combustível e são ecologicamente corretos, os ciclistas adotam com frequência uma atitude superior. É grande o número dos que agem como se estivessem acima da lei. Andam na contramão, não sinalizam as manobras que vão realizar, não respeitam os sinais e a faixa de pedestres. Também não usam capacete e circulam sem farol, equipamento essencial durante a noite.
Como se tudo isso não bastasse, ainda andam nas calçadas. Nesse caso, fazem com os pedestres, especialmente idosos e crianças, o que acusam os motoristas de fazer com eles - colocam sua segurança em perigo. É preciso encontrar meios legais para punir os maus ciclistas que agem dessa forma.
Com os graves problemas de trânsito, transporte coletivo e meio e ambiente que enfrenta, São Paulo tem muito a ganhar com a difusão do ciclismo, a exemplo do que já fizeram ou estão fazendo grandes cidades dos países desenvolvidos. Mas para isso é indispensável que os ciclistas cumpram suas obrigações.


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