Quando
estamos furiosos geralmente olhamos o lado da situação que nos incomoda, ou o
que está realmente errado. A percepção, nestas situações, vai depender muito do
grau de maturidade, treinamento específico ou até do caráter da pessoa. Como
somos todos seres biológicos deve-se levar consideração variações biológicas
dentro da mesma espécie, mas no fim das contas somos todos muito parecidos; ou
melhor dizendo iguais.
Quem já
não sentiu inveja do cara que deu uma porrada no outro, das bem dadas e
merecidas, e colocou o agressor no chão de primeira? Estava eu no Rio, voltando
de ônibus do carnaval da Marques de Sapucaí, quando um sujeito subiu um degrau
na porta de entrada do ônibus, sacou a arma e antes que pudesse anunciar o
assalto recebeu um direto de direita no nariz que o jogou no meio da rua. Nós,
passageiros, só vimos pela janela o sujeito voar para trás e cair estatelado. Quando
o motorista avisou aos passageiros que era assaltante, todos seguimos felizes
para casa. E quem não sentiu inveja de quem resolve tudo na mais absolutamente calma? Em particular, este é meu sonho (não riam!). Gandhi. Os resultados invariavelmente são muito melhores que na porrada. Vera, uma psiquiatria que estava fazendo graduação no Canada, grávida, já na cama pronta para dormir, sentiu que havia alguém dentro da casa e antes que pudesse levantar-se o estranho estava dentro do quarto. Por causa de sua habitual calma e de seu treinamento conseguiu convence-lo a deixar a casa sem importuna-la. Pequeno detalhe: o sujeito era então um dos dez mais procurados serial killers da América do Norte.
Infelizmente nós, brasileiros, não somos uma sociedade treinada para usar as raivas de forma produtiva. Leia o jornal.... Infelizmente somos socialmente muito imaturos. Mata-se por nada. Falta educação ou falta de caráter? Os dois; só não sei em que ordem ou medida. Se colocar os dois numa balança afunda o chão.
Os pais recebem uma mensagem do filho que está viajando. Diz ali: “Pai, manda dinheiro”. O pai, furioso, mostra a mensagem para mãe e lê com voz dura, irritada. “Olha só isto, olha só a forma como ele trata a gente. ‘Pai, manda dinheiro!’”. A mãe olha a mensagem e diz para o marido: “Desculpe, mas você não leu direito a mensagem. Aqui diz: ‘Paai, ...manda dinheiro’”, lendo com voz doce e carinhosa.
Como ler as mensagens que este Brasil do nunca antes está nos mandando? A questão é como responder a elas. O que eu deveria ter feito com o idiota do motorista de ônibus articulado que me ultrapassou e virou a direita, mesmo com eu estando sinalizando claramente que seguiria em frente? Mike Tyson ou Gandhi? Um pouco mais a frente, envergonhado, racionalizei que o ônibus tinha passado numa distância normal, segura para o trânsito paulistano, e que eu havia tomado um puta susto porque estava absorto nos meus pensamentos. Resposta: Sidarta!
Na ciência exata da segurança do trânsito há uma certeza: quem vai em paz tem muitíssimo menos possibilidade de sofrer acidentes.
Aos meus caros ciclistas fica uma frase que está sendo repetida numa propaganda de filme novo: “Perigo é real. Medo é uma opção.” E outra, creio, do Art of Urban Cycling: Play the game!
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