Como já contei um
milhão de vezes, em 1982 foi apresentado pela primeira vez o Projeto de Viabilização
de Bicicletas como Modo de Transporte, Esporte e Turismo para o Estado de São
Paulo, nome original. A ideia básica era tirar o ciclista de avenidas e locais,
em especial cruzamentos, perigosos (http://escoladebicicleta.com.br/topicos.html).
Como experiência propunha fazer um sistema
cicloviário completo de aproximadamente 255km, para começar, basicamente
implantado dentro de bairros e todo interligado. Em comparação ao que se
apresenta hoje era muito detalhado. Apresentei a proposta para o Covas, então
Prefeito de São Paulo, que me mandou para o Getúlio Hanashiro, Secretário de
Transportes, que por sua vez me encaminhou para uma reunião (na av. Faria Lima
quase esquina com Euzébio Matoso) com um dos papas da CET, que daria a palavra
final, que foi um sonoro “não”. “Não por que não quero!” e a reunião foi
rapidamente encerrada. Covas reconhecia a importância da bicicleta por que era
de Santos, mas era voz solitária na prefeitura paulistana.
A CET foi criada por
lei e existia para dar fluidez ao trânsito de veículos motorizados. Na época, segurança
no trânsito para ciclistas era pensada única e exclusivamente como “ciclovias”,
que quase via de regra eram projetadas em rotas estruturais, pensamento monolítico
dentro e fora da CET. Urbanistas, arquitetos, ecologistas, alternativos, e todos
outros apaixonados pela bicicleta tinham discurso uníssono: ciclovias! Ponto
final. E os técnicos de trânsito provavelmente devia ter orgasmos por que este discurso
de única palavra simplesmente inviabilizava a bicicleta como modo de transporte.
Simples: com toda a
população aplaudindo as maravilhas do automóvel e as cidades sendo
deliberadamente deformadas para melhorar a fluidez, pensar em tirar espaço para
dar para ciclovias era coisa de idiota. E a CET não estava completamente errada.
Quem não entendeu a realidade foram os minguados ciclistas.
Foram mais de 20 anos
tentando explicar para os ciclistas que o discurso “ciclovia” não funcionava,
era tiro grosso no próprio pé. Nunca entenderam. A construção das ciclovias do
Rio de Janeiro só piorou a rigidez do discurso paulistano pela ciclovia, pouco
importando algumas sutis diferenças, como ter o trajeto à beira mar, não ter cruzamentos
e portanto não atrapalhar o trânsito motorizado. Na época não se divulgou uma
palavra sequer sobre o óbvio alto número de acidentes causados exatamente pela própria
ciclovia, que era de conhecimento da comunidade de ciclistas. Enfim, fatos e sensatez
não era interessante para os objetivos.
Todas documentações e
manuais técnicos sempre afirmaram que o uso mais intensivo da bicicleta se dá em
distâncias mais curtas, até uns 4km. Mas até hoje o pessoal que fala pelo
ciclista pressiona por rotas de longa distância, o que atende em especial ao
anseio dos próprios, uma minoria que aguenta pedalar qualquer distância. Rotas
estruturais, ligando locais distantes, é onde está o trânsito mais pesado e onde
acontece a maioria dos acidentes com ciclistas. Bicicleta fica invisível no
meio de veículos grandes. Nestas vias é necessário, mas muito difícil ou até
mesmo impossível implantar ciclovias. Mais um ponto para quem não saber de
bicicleta. E muitos pontos a menos para a massa que só gostaria de ir pegar pão
pedalando.
Felizmente está
crescendo o número de ciclistas que entende e faz discurso que o caminho é o interno
de bairro, a mãe, a criança, o prego, o gordo..., o não esportista.
A CET vir com esta
que vai proibir ciclista em via de trânsito rápido, ou qualquer coisa no
gênero, é risível. Será que alguém lá dentro acredita mesmo que eles conseguem controlar
a entrada de ciclistas na vias expressas? Só pode ser um delírio.
De parte dos
ciclistas começa uma reação contra a medida, mas duvido que junto com esta reação
venha qualquer ação sensata e realista no sentido de proteger o ciclista que circula
por estas vias por absoluta falta de opção. Vão pedir capacete?
O que está acontecendo
agora é que a bicicleta ganhou vida própria, com ou sem Prefeitura, com ou sem
CET, e, melhor ainda, fazendo e andando para discursos utópicos de ciclistas. Caiu
a ficha que é pegar a bicicleta e sair pedalando, simples assim. E mais, que o
bicho papão do trânsito é bem mais manso e inofensivo que faz crer o discurso
dos terroriciclistas e da imprensa cega, surda, e medíocre.
Recomendo a leitura do ótimo artigo da Vá de Bike assinado por Willian Cruz: http://vadebike.org/2013/06/cet-sp-quer-ciclistas-fora-das-avenidas-de-sao-paulo/
Parabéns pelo blog, pelo site e pela causa. Infelizmente boa parte das pessoas possui "pensamento em Quatro Rodas". É difícil para muitos fugir do paradigma do carro como solução para os deslocamentos urbanos, some-se a isso as agendas políticas ligadas a interesses de montadoras, perolíferas e toda uma gama de indústrias.
ResponderExcluirJoahnnes. Obrigado pelo comentário. Você só não citou o fator humano, que pesa muito em todo processo decisório. Quem assina o faz por que acredita, e este é seu direito; simples assim.
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