terça-feira, 12 de março de 2019

Meio na ciclovia, meio na rua

Tomei um café sentado ao lado de um jovem pai segurando um lindo bebe de colo que não parava de olhar para mim e rir. Elogiei a beleza da criança, perguntei de onde vinha o sotaque dele, pai, e conversa vai, conversa vem, acreditem – a conversa acabou caindo no pedalar na cidade. Ele trabalha numa empresa de logística (das grandes e conhecidas) e vai para o trabalho pedalando, uns 3 ou 4 km. Metade do percurso é por dentro do bairro e metade pela ciclovia da Faria Lima. "Seria melhor se toda a cidade tivesse ciclovias. Eu me sinto mais seguro na ciclovia". É lógico que seria, assim como faz todo sentido sentir-se mais seguro na ciclovia, principalmente com toda a propaganda que fizeram e seguem fazendo.
Perguntei quantas vezes ele teve incidentes com motoristas na rua e quantas com ciclistas, patinetes, e outros quando pedalava na ciclovia. Ele parou, ficou com olhar perdido e pensativo e disse nunca tinha pensado nisto, mas acabou falando sobre uns ‘probleminhas’ na ciclovia, sem deixar de completar sobre os perigos de pedalar na rua. Não insisti, mas qual será o índice de incidentes e acidentes numa e noutra situação? Do pedalar na rua o pessoal só lembra dos incidentes, mas quando puxados começam a lembrar que foram poucos se comparado aos muitos quilômetros tranquilos e prazerosos. Liberdade!
Quantos quilômetros os ciclistas paulistanos estão fazendo pedalando nas ciclovias e ciclo-faixas quantos no meio do trânsito? Ou ninguém tem que pedalar na rua para chegar até a ciclovia?
As reclamações sobre ‘probleminhas’ nas ciclovias só crescem enquanto se ouve cada dia menos reclamações sobre incidentes na rua. É lógico que depois de tanto martelarem sobre só existir segurança para ciclistas em ciclovias a imagem está bem consolidada, assim como é lógico que no meio do trânsito a bicicleta é o elo frágil e o ciclista está exposto a situações mais perigosas, mas ainda não se pergunta onde é mais perigoso.

Converse com um médico especialista em atendimento de emergência e ele dirá que o atropelamento por moto com velocidade de impacto a 25 km/h é muito pior para o pedestre que ser atropelado por automóvel. A explicação é simples: motos são cheias de pontas enquanto automóveis tem a frente lisa, sem pontas, com para-choque em plástico e capô que amassa fácil, projetados para diminuir os ferimentos num atropelado. Colisão contra uma bicicleta com velocidade resultante de impacto 25 km\h machuca menos que uma moto, mesmo assim machuca para valer, podes crer.

As ruas vão ficando cada dia menos perigosas por duas razões simples: os motoristas estão acostumados com a presença dos ciclistas na rua e principalmente os ciclistas estão sabendo pedalar com mais segurança no trânsito. Interessante é que muitas destas histórias sobre os malditos perigos das ruas e seus motoristas assassinos são contadas por ciclistas que se você sair para pedalar atrás vai entender tudo.
Colocando tudo na balança o que dá? É claro que ciclovias ajudam, mas tem lá seus problemas que a propaganda e o discurso comum simplesmente abafam. Se queremos uma cidade mais justa o caminho não é ter ciclovias em todas as ruas, mas onde são realmente necessárias. E de preferência bem projetadas.

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