Eu devo um pedido
de desculpas para Marisa, uma das meninas do Saia na Noite e gracinha de pessoa,
nota 10. Marisa veio pedalando de frente para mim na ciclovia da Faria Lima com
a luz dianteira piscando e mal a cumprimentei já saí dando bronca por conta do
pisca-pisca. Mesmo que eu tivesse razão, o que acredito que tenha, mais de uma e
boas razões, não tenho direito de fazer o que fiz. Ou talvez tenha e deva, até
por preocupação com quem gosto, e Marisa é destas pessoas que valem a pena.
Talvez a forma..., talvez tenha razão, talvez não, já não sei mais. De qualquer forma fica aqui meu pedido de
desculpas por que realmente gosto dela.
Perdi o
controle do convívio social, em especial aqui no Brasil. Não aguento mais
selvageria, politicamente correto, burrice, preguiça, desinteresse e outras grosserias
sociais. Lá é muito difícil vivenciar situações desagradáveis. Via de regra vive-se
em regime de cordialidade e cooperação coletiva; e as coisas funcionam.
Numa loja de
roupas de NY uma mulher brasileira foi até uma atendente com uma blusa na mão e
perguntou literalmente em português “Tem em amarelo?”. Como obviamente a
funcionária americana não entendeu nada a brasileira repetiu a pergunta algumas
vezes aumentando a voz até soletrar “A-MA-RE-LO!” aos berros. E ai, fazer o
que?
Estou cada
dia mais intolerante com este tipo de situação. Virar as costas e deixar de
lado ou continuar a enfrentar para construir um futuro melhor?
No JFK, aeroporto
de NY, a American Airlines comunicou pelo sistema de som alto, claro, audível e
compreensível, em inglês e português, a ordem de entrada no avião: primeiro a
primeira classe, depois a econômica, logo em seguida e por ordem os grupos 1,
2, 3 e 4 marcados na passagem de todos. Um bom punhado de brasileiros avançou
sobre a funcionária que organizava a fila de embarque e conferia passagens. Ela
repetiu algumas vezes com calma o pedido de organização da fila, mesmo assim
quem tinha que embarcar não conseguia passar pelo tumulto. Desrespeitada, o tom
da funcionária mudou e ela passou a repetir que o embarque ficaria suspenso
enquanto não se fizesse uma fila. Os brasileiros não se moveram e houve até que
fosse para frente pedir explicações, aumentando o tumulto. Na quinta vez que a
funcionária da American Airlines repetiu o pedido e não foi ouvida eu perdi a
paciência com os brasileiros e desandei eu a pedir ordem, dignidade e respeito.
Fui vaiado por um punhado e aplaudido por outros, inclusive por funcionários da American Airlines (o que
me contaram depois por que não vi). No meio da confusão veio um funcionário americano com crachá,
que não sei de onde, se da AA, da segurança ou das lojas próximas, fez um incisivo
agradecimento e me deu um saco cheio de guloseimas e água como prêmio, atitude que nos Estados Unidos tem significado forte. Uma menina brasileira que está estudando nos Estados
Unidos parou junto a Tereza Murray que
não quer mais voltar para o Brasil por conta destas coisas. Um jovem baiano veio me apertar a mão em
agradecimento. Outros fizeram de longe sinal de positivo. Muitos fecharam a
cara. Foi uma das sensações mais patéticas que tive na vida. Fiquei envergonhado,
mas neste meio termo a fila se organizou e todos começaram a embarcar civilizadamente.
Aqui no Brasil menos controle no convívio social. Me sinto socialmente doente, um marginal. Lá fora é muito difícil vivenciar situações grosseiras.
Via de regra, lá fora, nos Estados Unidos, Europa, Turquia, Equador, e mesmo na
decadente Buenos Aires, vive-se em regime de cordialidade e cooperação.
Civilidade é a peça chave. Exagero meu? Não sei mais, mas estou cada dia mais propenso a achar que não. Vide nossas cidades completa e desagradavelmente emporcalhadas. Não aguento mais ver no que nos transformamos. Peço
desculpas a todos.
"Estar bem adaptado à uma sociedade doente não é sinal de saúde"
ResponderExcluirObrigado pelos teus textos, lúcidos e escritos com sentimentos verdadeiros. É por existirem ainda âncoras do bom-senso e razão que nossa sociedade ainda não entrou em colapso.
"- Possuo o mesmo sentimento!!!"
ResponderExcluircicloabraços
joaozinho