quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Ciclovias de São Paulo: tantas críticas porque?

Reinaldo Azevedo: "Haddad, o maníaco da ciclofaixa, conta com jornalismo biciclopetista para atacar os conservadores e anuncia pistas para bicicletas em 12 pontes da Marginal do Pinheiros"
 
Já vi muita coisa nesta vida e sei que certas mudanças, por menor que sejam, dificilmente acontecem sem algum desconforto, mesmo que seja trocar o sofá velho e incomodo da casa. Foi nele que você viu televisão, leu jornal de domingo, conversou com os irmãos, segurou a mão de mamãe, comeu pipoca, deu uns pegas na namorada, tomou uma puta bronca da velha que pegou o casal no pulo... Mesmo que o sofá esteja caindo aos pedaços, dando dores na coluna, cheio de pulgas, furado, desbotado, ele tem história, faz parte de sua vida, vai deixar saudades.
No mundo inteiro a inclusão da bicicleta como modo de transporte foi, é ou até mesmo continua sendo traumática em menor ou maior grau. Vide NY e Londres, para ficar nos exemplos de problemas mais agudos. Mesmo em Amsterdã o uso da bicicleta cresceu tanto que ela deixou de ser uma maravilhosa solução para ser um dos problemas urgentes a serem resolvidos, principalmente no que se refere a estacionamento. 
Quem já teve que fazer uma reforma na casa sabe o tamanho da confusão e desgaste. Eu sei e pago para não ter pião aqui dentro, mesmo que minha casa necessite urgentemente de alguns consertos. 
No caso de São Paulo, que vinha em crise faz décadas, o IPI Zero não deixou alternativa que fazer mudanças rápidas, algumas radicais; daí os corredores de ônibus e a necessidade de melhorias para ciclistas, com o que concordo. Mas não da forma que vem sendo feita. De simplório para simplórios.
O drama do Brasil é que tudo é realizado na base do improviso, mal feito, aparentemente sem projeto. Tudo, não só as ciclovias e ciclofaixas. Mais ainda, vamos progredindo, se é que isto é progresso, pontualmente. "Mais pior ainda", com segundas intenções, ...eleitoreiras. O pedestre que se foda! Agora é a vez do ciclista. Pinta de vermelho, coloca obstáculos, sinaliza e pronto, feita a revolução da noite para o dia. A meu ver definitivamente não, isto não é revolução; só é se for estilo estado islâmico, com o qual não concordo, mas faz o estilo de muita gente do partido.
Quando sonhei com o Projeto de Viabilização de Bicicletas como Modo de Transporte, Esporte, Lazer, e Cicloturismo para São Paulo, sonhei com uma mudança lenta e gradual, o menos conflituosa possível. Sonhei em agregar, paz, conforto, segurança, prazer e vida, com qualidade, a melhor possível. Estruturar passo a passo, com inteligência, crucial para um futuro perene. Não foi possível.
Não tenho absolutamente nada a ver com o que está sendo feito, como não tive nada a ver e fui absolutamente contra os que agrediram em nome da bicicleta. A verdadeira revolução da bicicleta é outra, no caminho oposto. Bicicleta é da paz, cultura da paz como diz Walter Feldman. 
São Paulo sempre teve um restrito grupo de ciclistas batalhando pela bicicleta. Felizmente hoje temos uma nova geração, garotada gente fina, de qualidade, que procura fazer as coisas bem feitas. Já expressei minha preocupação, pessoalmente e aqui, que eles estejam sendo usados como massa de manobra. Espero que não, mas tendo em vista o pessoal que está na Prefeitura de São Paulo, não é difícil que esteja acontecendo. 
Sejamos justos: não é hoje que se faz porcaria para a bicicleta. As ciclofaixas de Moema foram implantadas pela CET SP, Governo Kassab, da mesma forma que estão implantando o sistema cicloviário hoje, ou seja, pinta de vermelho em cima da buraqueira e pronto. 
Espero que eu esteja errado. Alguma coisa vai restar disto, mas a que custo? Este é o ponto? Buenos Aires refez boa parte do que havia sido implantado. Não foi o único caso. 
Reinaldo Azevedo, colunista da Veja, é anti-petista, mas ninguém duvida que escreve com linhas que atiram direto nos fatos reais da mosca. O texto "Haddad, o maníaco da ciclofaixa, conta com jornalismo biciclopetista para atacar os conservadores e anuncia pistas para bicicletas em 12 pontes da Marginal do Pinheiros" fala o que se ouve nas ruas, nada mais. Pena que o mesmo Haddad, protetor dos pobres e oprimidos, não tenha feito desde o primeiro minuto de sua administração as mesmas pontes, do rio Pinheiros e também Tiete, mais amigáveis para pedestres, que somos todos nós e fazem mais de um terço dos deslocamentos (modais) da cidade. Estes sim merecem atenção. 


Um comentário:

  1. Como gosto de ler seus artigos Sr. Arturo!!!
    Me faz pensar e refletir positivamente... e ver tudo o que já conhecia de uma forma diferente...

    Cicloabraços
    joaozinho

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