terça-feira, 7 de outubro de 2014

Pedalar, ganhar tempo, informar-se

O transporte de massa nas grandes cidades é um massacre diário, uma nova forma de escravidão. Se eu morasse na periferia e fosse obrigado a usar transporte público provavelmente não teria tido a possibilidade da leitura que tenho hoje (que é infinitamente menor que a que gostaria de ter) pelo simples fato que enjoo quando leio dentro de qualquer coisa que chacoalhe. Invejo para valer quem consegue. Como curiosidade um dos maiores ciclistas da história, o italiano Fausto Copi, ia para escola pedalando e estudando ao mesmo tempo.
Leitura, bem dito, informação, faz toda diferença no grau de liberdade e civilidade do indivíduo. Ninguém coloca em dúvida. É preciso tempo e concentração, além de qualidade, para que a leitura seja proveitosa. O resto depende do indivíduo.
Um dos milagres da bicicleta é que ela fornece uma sensível diminuição do tempo de transporte, principalmente em viagens curtas ou até médias. Dentre outras, ciclistas têm grande chance de chegar a casa mais cedo  e com isto ter mais tempo para si e a família, o que resulta em melhor relacionamento familiar e melhora do aproveitamento escolar dos filhos. Como pedalar melhora o condicionamento físico o ciclista normalmente é mais calmo, atento e perspicaz que os usuários de outros modos de transporte. O impressionante aumento do número de reclamações sobre as condições ambientais do Rio Pinheiros depois da abertura de sua ciclovia é prova.
Vale dizer que ciclistas são mais informados e esclarecidos? Não dá para ir tão longe. Conversas com amigos usuários da bicicleta como transporte me trazem a este texto. Falo sobre cidadãos que estão acima da média intelectual do brasileiro comum, inclusive se comparados ao nível social que pertencem, universitários de classe média alta trabalhando em empresas de qualidade reconhecidamente também acima da média. Conversávamos sobre o resultado do primeiro turno da eleição e perspectivas para o futuro do Brasil e fiquei impressionado como no geral não se interessam pela realidade do país. Navegam nos ventos do social e quando muito trabalho; ponto! Não é exclusividade dos ciclistas, mas de toda a sociedade brasileira.
Tive a oportunidade de acompanhar a campanha presidencial da França entre Sarkozy / Hollande. Foram semanas seguidas, dias e dias, quase inteiros, de debates nas mais diversas áreas, praticamente todas. Jornais, rádio, TV com mediadores e jornalistas inteligentes, intelectuais, especialistas, números, projeções... Quem quisesse (e aguentasse tanta falação) teve uma visão clara da situação da França, Europa, e mundo. Mesmo assim elegeram Hollande com sua proposta de intervir nos estoques reguladores das petroleiras para congelar o preço dos combustíveis, uma imbecilidade populista sem tamanho (vide Venezuela, produtora). Mas o francês sabia onde estava colocando o pé, ou melhor, o voto. Arrependeu-se logo em seguida e continua profundamente arrependido até hoje.

Ciclistas: a bicicleta lhes oferece o milagre do tempo e a possibilidade de informar-se e pensar, ser melhores cidadãos. Mas milagre nenhum vai se realizar se você não desligar o smartphone e procurar informação de verdade, consistente, não de breves toques. Seja você smart. 

Leitura imperdível:
O Estado de São Paulo
E2 / Aliás / Domingo, 5 de Outubro de 2014
matéria de Capa
O país da tocáia. 
por Carlos Guilherme Mota
- Vivemos numa nação esfrangalhada e de precária cultura política, em que a difamação substitui a informação no debate público, diz historiador
(Políticos guardam resquícios coloniais, imperiais e republicanos unidos numa mixagem tropical perversa)

e E3 / Aliás / Domingo, 5 de Outubro de 2014
De Fidel a Fidelix
de Eugênio Bucci
- Candidato do PRTB fez o que áulicos do ditador cubano lá e cá não têm mais coragem: repetir o discurso com que Castro humilhou e baniu gays. 
(Moral sexual da esquerda nos anos 80 afinava com a da TFP)

Nenhum comentário:

Postar um comentário