Minha grande paixão é
correr a pé, o único momento que sinto meu corpo completamente livre, integrado
à natureza, natural. Nada da chatice que fazem da corrida sempre no mesmo circuito,
com os mesmos treinos...; mas simplesmente a liberdade de correr. Não sei bem
como comecei, mas depois que aprendi a correr descobri uma sensação de capacidade
corpórea e liberdade sem precedentes. Você não precisa de absolutamente nada,
basta sair correndo...
Creio que o Chico Macchione
tem a ver com o interesse. Começamos juntos no mountain bike e Chico corria a
pé, o que fazia grande diferença no preparo físico. Numa São Silvestre fui acompanha-lo
pedalando e fiquei um tanto impressionado com a subida da (av.) Brigadeiro (Luís
Antônio) que ele fez. Ali entendi a nossa diferença nas subidas das provas de
MTB. Um dia o Felix, um dos primeiros (e injustiçado) organizadores de provas
de MTB, contou que corria ultra-maratonas. Ouvi de queixo caído que ele tinha
vindo de Campinas para São Paulo de ônibus e que ia voltar correndo a pé. “Como?”
Assinei a Bicycling
por décadas. Acho que foi numa propaganda dela que vi a Runner’s World, da
mesma editora, Rodale Press, e decidi assinar por curiosidade. Faço aqui um
elogio e agradecimento à qualidade editorial da Rodale Press, sempre cuidadosa com
o leitor, o que me influenciou demais para o bem. A Runner’s mostrava o passo a
passo sensato e comecei a gostar para valer da brincadeira.
Joguei futebol durante
décadas praticamente todo fim de semana. Por praticar o esporte de maneira
errada tive inúmeras lesões, algumas graves, principalmente no joelho esquerdo.
Médicos e ortopedistas repetiram que eu não conseguiria correr mais. Com as
dicas da Runner’s fiz duas meias maratonas e três São Silvestres, e na última
fiz uma molecagem que me custou mais uma longa parada, que pensei ser a
derradeira. Acabou. Acabou? Nada disto; mais uma vez estou de volta.
Os diagnósticos sobre as dores no joelho
esquerdo realizados por especialistas foram todos errados. Ai apareceu o Alberto
Minami, ‘mestre’ em massoterapia e acupuntura, que com as mãos e em silêncio provou
que estavam errados. Um bom tempo depois fui para no Bruno Bettarello, preparador
físico, que começou seu trabalho fazendo testes de equilíbrio, força e
agilidade em todo corpo, o que mostrou que a dor no joelho era resultado problemas
com as cadeias musculares dos pés, bacia e coluna. E agora Rogério Neves,
fisioterapeuta, está completando o trabalho. Estou de volta.
Nosso corpo é um sistema
complexo e integrado. A medicina chinesa e a cultura indiana sabem bem disto há
milênios. A medicina ocidental, com menos de dois séculos de boa história e grande
arrogância, busca a correção rápida dos problemas localizados, pouco ou não
levando em consideração que o joelho está entre o pé e a bacia, e que estes
fazem parte do todo do corpo, num sistema ósseo, articular, muscular e
neurológico completamente interligado. Saúde ocidental é cartesiana. Ótima para
extremos.
Faz uns dias consegui
correr sem qualquer dor, uma experiência inacreditável. Minhas corridas ainda
são relativamente curtas, mas o que importa, eu corro! Voltei a sonhar em fazer
a São Silvestre. Ou talvez mais uma meia maratona. Quem sabe? Estou escrevendo
este texto por que no final do dia escapei do trabalho e fui correr na mata do Parque
Alfredo Volpi, um pequeno paraíso. Fiquei assustado com trânsito pesado na ida
e muito deprimido com o que vi na volta, uma hora depois. Pensei em escrever
sobre o colapso de São Paulo, mas para que? Por causa das corridas a pé minhas
pernas giraram os pedais de volta para casa com uma consistência maravilhosa.
Minhas pernas estão vivas, se precisar delas é só usar, respondem imediatamente.
E passando por todos encalacrados senti mais uma vez a liberdade de ter o corpo
em ordem, a alma limpa, o rosto leve, sorrindo de bobeira. Tesão!
Mais um pouco vou
para cama. Vou ler um pouco e quando desligar a luz cada passada no meio da
mata irá embalar o sonho. Vida! Viva a vida!
tenho um amigo que diz:
ResponderExcluir"depois que eu corro, tomo uma cerveja no Bar X, volto caminhando pra casa, janto e vou dormir igual um bebê". rs
Corrida não é o meu forte, mas se pudesse voltar no tempo, faria Le Parkour com certeza! Hoje, incentivo os meus filhos, espero que eles nunca percam a ansiedade que o nosso corpo tem em subir, escalar, pular, girar... Em algum momento eu perdi. Torço para que eles não e utilizem com criatividade os percursos cheios de desafios que esta cidade oferece sem saber...rs.
ResponderExcluirCorrida
ResponderExcluirCorremos juntos
eu e meu companheiro.
Meu não por posse;
mas por instante fugaz
de perfeita compreensão.
Sinto seu calor
a um metro de distância.
Absorvo sua energia
e corro mais.
Meu companheiro.
Meu companheiro e eu.
Lola Mora