quarta-feira, 17 de julho de 2013

Minimalismo e o custo de uma vida



Fiat Panda
O Palio que perdi foi do meu irmão. Era absolutamente espartano, desprovido que qualquer coisa desnecessária. Murillo pensava no carro como função, transportar daqui para lá e voltar, ponto! Cada vez que tinha que trocar de carro era uma tourada, As brigas com os vendedores das concessionárias eram homéricas. “Quero o carro sem nenhum acessório, se puder até sem calotas!” Os vendedores o consideravam um louco, o que depois simplesmente fazia toda a história da compra mais divertida para ele e os convivas; gargalhável nos longos jantares e almoços regados a gin tonic, vinho, acompanhados da melhor comida que o dinheiro pudesse comprar.

Forma e função. Purismo. Bauhaus. Viver. E o charme de passear por uma inteligência rara. Compreende quem pode. Fiat 500, Citroën 2CV, Iseta, Mini Moris, Kombi... Compreende quem pode. Ser ou ter? Qual é o preço da vida? “Pague!”

Qual é o preço da vida? Pensando como ciclista:

Como ficaria uma Iseta com motorização e câmbio de uma moto moderna? Resolvido seu maior problema. (A motorização original era a mesma de uma Lambreta 175 de dois tempos.) E como ficaria com uma carroceria monocoque e uso inteligente de plástico? Mais redimencionamento de suspenção e freios. Aplicação de tecnologia atual para o projeto original. Provavelmente teríamos um automóvel perfeito para uso urbano, mas com certeza não seria aprovada no crash test. A questão é o crash test, os padrões atuais. Qual o custo ambiental deles? Qual é o preço da vida – das outras e das nossas?

O Uno, um dos mais inteligentes projetos da história, não passa no crash test. Deforma a célula de sobrevivência... Sobre vivência.... De quem? Em que condições? A qual preço?

Quem se move com as próprias forças - pedestres, ciclistas, patinadores, skatistas, cadeirantes, aves, quadrupedes, insetos, peixes, lesmas..., quer manter-se vivo no meio desta loucura motorizada. Entre os humanos conscientes, quem gosta da vida (no sentido mais amplo) está lutando pela diminuição da velocidade do trânsito. Velocidade mata! Assim como irracionalidade do uso indiscriminado de material acaba matando aos poucos, lentamente, sem que se perceba.

Não sei com quantas peças é fabricado um carro atualmente, mas tenho quase certeza que é um número muito maior que num destes projetos de carros populares do pós Segunda Guerra Mundial, quando tudo era escasso.

E as modernas bicicletas? Opção de mercado? Ganho de qualidade? Para quem? Compreende quem pode.

Forma e função. Purismo. Bauhaus. Ser ou ter. Compreende quem pode. Inteligência; isto é que é difícil. O resto? Hidroforme?

 

2 comentários:

  1. Arturo, adorei o seu texto. Inteligente e perspicaz. Concordo 1000%. Estou vendendo o Puma e quero uma bike elétrica para usar o motor esporadicamente, mas é perfeita para a minha necessidade hoje.
    Mas esse mercadinho brasileiro é punk. Picaretagem geral. Talvez importe uma como pessoa física da China, ou compro um kit de R$1000 e instalo na minha M2.
    Abração

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  2. ...sakamoto, vá de bike, a escola, a bicicleta e a vida...a blogosfera tá boa hj.

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