Nelson Piquet, quando piloto campeão de F1, pintou uma bandeira brasileira na lateral do seu carro onde se lia “Orem e Progresso”. Ele negou que fosse brincadeira ou crítica sua e responsabilizou o inglês que pintou a bandeira pela confusão. Inteligente comentário numa época que ao caos econômico do Brasil só restava rezar. Passei muitas férias na Argentina tanto para estar com família por parte de avô e amigos, como razões econômicas. Era muito barato. Época de ditaduras, umas ferozes e declaradas e outras mal disfarçadas, como a de Isabelita e seu El Brujo, José López Rega, uma dupla que nem o diabo gosta. Populismo asqueroso! Solução milagrosa, a base de falatório ou truculência, sempre acaba resultando em problema ou desastre. Manter a ordem para chegar ao progresso é o único caminho.
Aos trancos e barrancos este nosso país seguia em frente. E ai veio um plano econômico que colocou ordem na inflação. Ordem, e com ela o progresso estável e sustentável que temos hoje. Gosto de repetir que todos os setores que empurram este progresso também têm sólida base na ordem: agronegócio, Embrapa, Embraer, Petrobras, sistema bancário, construção civil, vários setores da indústria e de serviços, e outros. Daí vem o resto, no geral e como é se esperar, com setores relativamente organizados e muitos atrasados. Infelizmente o setor da bicicleta, mesmo com tudo de bom que vem acontecendo, continua mal. A ordem é precária e o progresso pífio, apesar de “bonito” aos olhos do povo. Bonito por fora, podre por dentro.
O nível de informalidade é a melhor prova da bagunça instituída. A situação econômica de boa parte do setor das bicicletas é delicada, quando não ruim. O setor industrial não vem bem há muito. Culpam a importação, mas não conseguem colocar ordem a própria casa repetindo o que vários setores de nossa indústria que foram à luta e hoje apresentam bons resultados no mercado interno e externo. Muitas bicicletarias melhoraram na aparência, mas continuam prestando serviços de qualidade duvidosa. Há montes de pequenas bicicletarias que não passam de oficinas sujas levadas por donos primários. Ganha quem sabe jogar o duro jogo, que não é dos mais simpáticos e fáceis. O resto se vira ou porque ama o que faz ou porque não simplesmente não tem capacitação para fazer outra coisa e fugir desta pobreza.
Faz um bom tempo que bicicleta passou a ser um dos xodós da mídia, dos ambientalistas, dos progressistas, dos próprios ciclistas, e para alguns a solução de vários males. O número de ciclistas cresceu, principalmente nas capitais e grandes cidades onde a bicicleta vinha esquecida há décadas. Ótimo! Mas em que bases isto está acontecendo? Como estamos aproveitando esta boa onda? Ou será mais uma onda passageira. A bicicleta continuará crescendo independente de quem quer que seja, dos que tentam ajudar ou dos que só atrapalham. Falta uma visão completa, racional e estratégica. Quem fabrica, fabrica; quem vende, vende; quem pedala, pedala; mas nada de estratégia conjunta.
Coloquei neste blog uma pesquisa realizada pelo gabinete do ex Secretário de Esporte do Município de São Paulo e Deputado Federal Walter Feldman sobre o que há projetos de leis, requerimentos e emendas na Câmara Federal dos Deputados. O documento de 14 páginas mostra muito a fazer, muito a pensar, muito a pressionar, muito resultado que está no terreno do sonho. “Leis, ora as leis. “Há as leis que colam e as que não colam”. “Leis; ruim com elas, pior sem elas”. Ou mantemos a ordem sob o manto das leis ou é não há consistência, ou não há futuro. Uma coisa é não acreditar na baderna jurídica que vivemos neste país, outra é acreditar na utopia do anarquismo. Qual anarquismo? O romântico ou dos inocentes úteis?
Quem se interessa de fato pela bicicleta e ciclismo, o esportivo ou o de rua, aprende que não há resultado sem obediência às técnicas, à ordem, à busca do resultado, pelo progresso do pelotão ou de todos com fluidez e sem tombos, sem deixar para trás os iguais. Ordem e progresso. Estratégias eficientes baseiam-se nestas mesmas verdades. A bicicleta é a repetição da vida, nada além.
Talvez desta vez a bicicleta tenha vindo para ficar, mas a oportunidade que estamos perdendo é incrível. Há algo no ar que lembra a fase do mountain bike quando estourou no Brasil. O que une as duas épocas é o mesmo mercado desorganizado; ciclistas nas ruas fazendo o que bem lhes vêm na cabeça, mal educados, cheios de verdades próprias, egoístas; ações de governo lentas, muito aquém da realidade; a falta união honesta e centrada em um bem maior. A questão da bicicleta cresceu muito, mas a essência permanece praticamente a mesma. É incrível como é frágil o discurso de quem diz que quer perenizar a bicicleta. Como fica imensa demanda reprimida?
Nós que aqui estamos somos cheios de egos, crenças e manias. Uns cheiram a negociantes, outros a populistas baratos. Ganha quem desafina mais alto. Vide o produto, a venda, a manutenção, o usuário, o respeito pelo ciclista que diminui dia a dia, o que não sai do papel, e os trágicos números. Portanto meus caros ciclistas e amantes da bicicleta; em nome da velha e boa bicicleta, e dos prazeres que ela nos dá, orem e progresso.
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