quinta-feira, 17 de junho de 2010

Hombridade e sensatez

O Estado de São Paulo
Fórum do Leitor

Vai meu melhor agradecimento ao Governador Alberto Goldman pela decisão de não colocar dinheiro público na construção de um estádio para a Copa do Mundo. Goldman dá aula solene sobre a abissal diferença entre socialismo responsável e populismo sindical. Mesmo na cidade mais rica do país e América Latina é completamente irresponsável gastar números astronômicos para ter alguns jogos da Copa. Parabéns também para Kassab que agora poderia ter outro gesto de grandeza e definir que mesmo com dinheiro privado um novo estádio em Pirituba está fora de questão por estar próxima à três vitais rodovias, Bandeirantes, Anhanguera e Castelo Branco, e da futura linha de trem entre Rio de Janeiro – São Paulo – Campinas - Sorocaba. Qualquer possibilidade de parar, mesmo que por umas poucas horas, a economia nacional por causa de um jogo de futebol é ridícula. Na localização e situação financeira que se encontram o Morumbi, Palestra Itália, Pacaembu (o melhor de todos), e o Canindé, outro estádio deste lado da cidade é agravar os problemas existentes e principalmente mais uma vez esquecer a sofrida Zona Leste (onde se encontra o sem estádio Corinthians). O dinheiro pode ser privado, mas a finalidade é pública, portanto deve atender aos interesses da cidade.

Para terminar: “Eu tenho um sonho: o futuro Presidente da República anunciando que a prioridade do Brasil é social e não a festa de uma Copa”
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Depois que enviei esta carta para o Estadão houveram outras notícias na TV e ficou claro que Kassab teve o mesmíssimo discurso de Alberto Goldman. Numa das entrevistas o Presidente da SPturis e Coordenador da Copa do Mundo em São Paulo, Caio Luiz de Carvalho, respondeu porque a cidade mais rica do pais não ter conseguido investidor para a reforma do estádio do São Paulo: qualquer investidor sabe que um estádio para 70 mil não é rentável, que a conta não fecha. Se não fecha aqui, como será em outras cidades?
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Se eu gosto de futebol? Joguei futebol de campinho e campo até não ter mais condições físicas por causa do meu joelho, o que me levou para a bicicleta. Pudesse estaria até hoje, eu, perna de pau, levantando poeira e chutando canelas. Fui girar os pedais com uma seriedade quase profissional, ou completamente profissional, dependendo do aspecto e agradeço à vida por isto.
Gostar muito de futebol ou da bicicleta obriga alguém a defender cegamente e sem concessão suas paixões? Bom, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Considero fanatismo uma profunda burrice, coisa improdutiva, retrógada, de pobre de espírito. (O mesmo para quem embarca no populismo).
Não, não sou contra a Copa do Mundo. Sou contra torrar fortunas numa hora que o pais tem a chance de encontrar seu melhor futuro. Temos urgências sociais e econômicas que ou são resolvidas ou o que foi conseguido até agora vai pelo ralo. Voltamos ao país da montanha russa. Sou contra a Copa do Mundo no Brasil. Sou contra terminar a Copa e as capitais ficarem com dívidas, sem forças de investir no que é realmente necessário. Sou contra uma Copa do Mundo no Brasil com a maioria dos nossos clubes de futebol na pindaíba ou falidos. Sou contra besteira. O maior perigo é a besteira.
Futebol me ensinou que jogos e campeonatos se ganham coletivamente, sem bonecas, sem falácia, sem mentiras. A bicicleta me ensinou que qualquer caminho é vencido de forma mais tranqüila, rápida e segura se for respeitada a técnica, a hierarquia, a história; respeitado quem está em volta, próximo ou não. Ciclismo é a arte da suavidade; assim como o progresso é a arte da seriedade. Ciclismo, como o futuro, é coisa que exige hombridade e sensatez.
Repito: “Eu tenho um sonho: o futuro Presidente da República anunciando que a prioridade do Brasil é social e não a festa de uma Copa”

Um comentário:

  1. "Goldman dá aula solene sobre a abissal diferença entre socialismo responsável e populismo sindical" ... perfeito o comentário. Infelizmente o presidente assume seu populismo sem a menor vergonha. Não entende a diferença entre trabalhar pelo povo e fazer o que o povo quer. Investir dinheiro público em estádio é o fim, permitir subsídios de impostos federais e municipais para as empreiteiras que estarão trabalhando nisso não é nada diferente. Triste.

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