Minha irritação com esta situação é tanta que simplesmente esqueci de colocar no “Orem e Progresso”, divulgado ontem alguns exemplos de histórias que circulam no mercado e mostram bem o tamanho da confusão:
• No meio do ano passado houve uma mudança repentina de plano de um importante fabricante de pneus e os fabricantes de bicicletas foram avisados que ficariam sem pneus para suas vendas de Natal. Vi algumas bicicletas topo de linha básica de grande marca com um pneu de origem indiano (ou por ali) que não monta no aro, portanto não alinha ou deixa a câmara de ar a vista.
• Umas tantas bicicletarias foram treinadas para aprender a fazer os cálculos finaceiros corretos, ou seja, descobriram quanto realmente ganham. O resultado foi um monte de gente furiosa porque descobriu porque a conta dificilmente fecha no fim do mês. Já sabiam, mas na falta de controle não indentificavam a causa. Vender bicicleta com estes impostos é mau negócio. Cumprindo a lei, pagando todos impostos, fica no vermelho sim.
• O tamanho da informalidade ninguém sabe, mas acredito que esteja bem acima dos 50%, o que é muito acima da média nacional, que por sua vez já é considerada alta e perigosa. Como referência todos sabem que metade das bicicletas fabricadas no Brasil, algo próximo aos 5 milhões de unidades / ano, são informais. Muitas destes informais sequer tem inscrição na receita, portanto não tem CNPJ e absolutamente nenhum controle de qualidade. Talvez seja a razão para o pessoal da concessionárias de rodovias afirmarem que pelo menos 35% das mortes são causados por falha mecânica da bicicleta
• Depois de uma longa luta e muito trabalho o IMETRO definiu normas para fabricação de quadro, garfo, ciclopeças, pneus e câmaras de ar. A intenção de todos foi melhorar a qualidade geral da bicicleta e com isto aumentar sua segurança e durabilidade. Um dos resultados desta história é que o que for certificado tem que receber o selo do IMETRO, o que acaba interferindo na importação de vários produtos. Há reciprocidade entre nossa certificação e a internacional, mas também haverá pressão de quem fabrica aqui para usar esta nossa certificação para conter de qualquer forma a importação. O foco principal é a pirataria, mas é óbvio que vão tentar de alguma forma pegar todo mundo, inclusive os legais. O primeiro resultado desta confusão, dizem por ai, é que um dos importadores de bicicleta mandou retirar todos os pneus e câmaras para internar as bicicletas no Brasil sem problemas. Exatamente o mesmo que fez o representante de uma famosa marca de motos. Uma das mais respeitadas marcas de pneus de estrada consultou informalmente o Brasil porque sabe impossível colocar selo do IMETRO num pneu de alta tecnologia. Reciprocidade? Tem tratado que cola e lei que tratado não cola
• Infelizmente é comum os fabricantes e distribuidores realizarem a venda, receberem e não entregar o produto no prazo ou simplesmente não entregar. No caso de ciclopeças e acessórios há muita informalidade, o que deixa o proprietário da bicicletaria desarmado para fazer uma reclamação via justiça. Ou ele arca com o prejuízo com um sorriso ou a situação pode ficar ainda pior
• Histórias de entrada ilegal de mercadoria no Brasil é comum. O que espanta é a quantidade. Ai você entra numa bicicletaria de cidadezinha de interior e pega um câmbio traseiro Shimano falsificado provavelmente no Oriente, com um preço que não paga sequer o peso em aço que ele tem. Algum tempo atrás apareceu Caloi falsificada, dentro da caixa, também falsificada – é lógico.
• De vez em quando simplesmente arrombam uma bicicletaria e limpam todo estoque. O interessante é que em alguns destes roubos levaram bicicletas importadas de altíssimo preço, coisa tipo Ferrari ou Maserati, e elas simplesmente somem. Puft!
• Recomendo aos que gostariam de ver a coisa da bicicleta ir para frente, ver os projetos cicloviários darem os resultados esperados, o número de ciclistas crescer... para que de vez em quando entre nas bicicletarias populares, as mais simples e converse com o dono ou mecânico. Vai descobrir a curta durabilidade das peças vendidas e o índice de troca de peças. Aproveita e descobre o índice de acidentes dos usuários. Para finalizar descobre o que dá mais dinheiro, o que sustenta a bicicletaria.
E assim segue....
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