Por mais que se fale, por mais que queiram, não resta mais qualquer dúvida, o automóvel não vai desaparecer. O que talvez aconteça é o número de automóveis circulando dentro das cidades ou em áreas específicas venha diminuir, como já se provou possível, mas em quanto tempo isto acontecerá será resultante de ações dos governos e principalmente da população. Mudar culturas é complicado. Mudar vícios é mais complicado ainda. Automóvel é mais que uma complexa e profundamente impregnada cultura social e econômica muito bem estabelecida e sucedida. Automóvel é um dos mais consistentes vícios sociais. Ou já terá se tornado um dogma?
A história do sucesso do automóvel não ocorreu por acaso ou por vontade deste ou daquele agente, como querem uns, mas porque a ideia foi boa, funcionou muito bem e caiu para valer no gosto popular. Mais, depois do início de sua fabricação em massa, no início do século XX, aos poucos foi se mostrando um fator macro econômico de extrema importância e por isto virou programa de estado fomentado por todos governos.
Reverter o que está aí não é nada fácil.
A China vem tentando dominar o mercado de automóveis elétricos. Está investindo fábulas em novas tecnologias. Um artigo publicado faz tempo no Economia ou Mobilidades do Estadão conta que uma destas fábricas, a mais moderna existente no planeta, estava ou segue produzindo com uma perda em torno de US$ 15.000,00 por unidade, se não falha a memória. Quem faz uma aposta tão pesada num produto não o faz porque acha bacana, mas porque tem dados consistentes sobre as possibilidades do mercado. Não resta dúvida que a China tem um planejamento estratégico bem montado, certo ou errado, é jogo pesado. Diminuição de automóveis circulando pode estar funcionando na Europa e em algumas outras poucas cidades pelo mundo, mas está muito longe de ser uma realidade que venha afetar um macro projeto econômico de uma economia que tudo indica vai ditar o futuro do planeta.
No último Matéria de Capa que passa na TV Cultura, o tema era energia limpa e novas tecnologias, entrando na questão dos paineis solares, que agora ja geram energia mais barata que as usinas de carvão, até agora base energética da China. Os paineis geram energia, que tem que ser armazenada em baterias, e uma das formas de armazenar enegia é usando as baterias dos automóveis para estabilizar o sistema todo. Ups!
Voltando ao planeta terra tupiniquim. Vou pegar a São Paulo e seu caos completo no trânsito, quantos anos mais serão necessários para que a cidade tenha uma grade de metrô que de fato seja um fator de freio para o uso do automóvel? Escrevendo isto me lembrei que nunca vi dados estatísticos cruzando número de usuários de uma linha de metrô com a diminuição do uso do automóvel. Sim, a lógica diz que uma coisa está diretamente ligada a outra. Ouvimos muita falação, mas números de verdade, não que me lembre. Como será esta relação lá fora, em cidades que têm uma vasta rede de metrô? Lembrando que cidades civilizadas têm metrô para tudo quanto é canto, têm calçadas boas, cruzamentos seguros, ambiente urbano para ficar longe do automóvel, sombra, locais convidativos para sentar e relaxar, e uma taxa baixíssima de roubos e assaltos. Latrocínio banal como temos por aqui? Nem pensar. Tudo isto faz uma grande diferença na hora de pensar em abandonar o automóvel.
"Bandido bom é bandido morto" é um lema que está um tanto impregnado nas cabeças brasileiras. Fui contra o lema "um carro a menos" tão divulgado pelo cicloativismo porque para mim remete ao carro como o bandido e, para o bem de todos e felicidade da nação, carro morto é o desejável. Como carro não tem vida, leia-se motorista morto.
Temos sim ou sim que diminuir o uso irracional do automóvel porque da forma como está não funciona mais para todos, incluindo e talvez mais ainda para os próprios usuários do automóvel. Mas o problema só será resolvido quando se colocar na equação e trabalhar em conjunto todos fatores paralelos, tangenciais, e externos ao automóvel. Por uma simples razão: somos a sociedade do automóvel; simples assim.
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