sexta-feira, 12 de maio de 2023

Pegar nos talheres: muito além de despedaçar uma carne

Não importa se você quer mandar ou ser mandado, se você quer ser boiadeiro ou quer viver tranquilamente ruminando no meio da boiada, o que quer que você queira ou tenha feito de sua vida, saber pegar nos talheres define quem você é e o que pretende.  
A globalização está no garfo e faça, muito mais que no guardanapo do McDonald's. 

Regras sociais são vitais para a o bom convívio e até mesmo a sobrevivência. Um cidadão ou cidadã agradável sempre terá as portas mais abertas que um sujeito grosseiro, com hábitos sociais que gerem desconforto.

Este texto estava bem amarrado quando me aconteceu uma situação para lá de desagradável envolvendo um senhor que é para lá de agradável, extremamente bem educado, com rara habilidade social, conversa para prender todo mundo e qualquer um, que conseguiu abrir todas as portas abertas, no caso mais portas abertas que o caro leitor possa imaginar. Como ele é perante toda a sociedade uma referência, óbvio que alguém de discorde dele não terá a mesma recepção. A verdade dos fatos é apoiada numa versão unilateral, a dos simpáticos, dos vencedores, não a do chato, do que criou alguns problemas. 
A disputa entre o bonzinho e nao tão bonzinho fazem roteiros e mais roteiros campeões de audiência no cinema. É fácil que a vida seja mais complexa e louca do que o mais cabeludo dos roteiros de cinema. 

Em outras palavras: a forma de pegar no garfo faz toda diferença no contato social, mas definitivamente não separa o joio do trigo.

A forma como se usa os talheres faz parte da comunicação social. Pegar de qualquer forma, principalmente o garfo, sinaliza a educação e a cordialidade com o conviva. Parece um detalhe sem importância, mas foi nos detalhes que a humanidade começou a se comunicar melhor, com isto evoluir e parar os eternos conflitos e guerras. Quando se fala a mesma língua é mais fácil chegar a um acordo. O mesmo vale para as posturas sociais; vestir, comer, beber, andar, falar, gesticular, fazer...

O guri pega no garfo e faca para cortar a carne como se aquela fosse a primeira vez que tivesse visto e usado talheres. Decepado o grosso pedaço de carne quase encosta a boca no prato para morde-lo, mastiga rapidamente de boca aberta enquanto olha o celular agora seguro por uma das mãos. Quem está comendo na mesa junto a ele simplesmente não existe. Terminada sua feroz refeição levanta-se celular na mão e sem tirar os olhos dele e sai deixando prato com restos na mesa e guardanapo amassado jogado no meio da toalha. Os outros não existem, são conto ficcional nas verdades definitivas do celular. Tem praticamente tudo que quer, quarto individual, espaçoso, com vídeo game em tela grande, cadeira especial para jogar, tem as roupas e tênis que quer, estuda numa escola particular... A bem da verdade é bom garoto, sem dúvida fruto de seu meio. "Se ele comer e não der problema deixa com o celular ou liga a TV". Para ele, o guri, não faz sentido sentar-se a mesa, largar o celular, conversar, muito menos segurar os talheres feito gente civilizada, seguindo os ditames sociais que não são só das elites, mas via de regra de todos, um meio de comunicação de quem quer ser agradável aos convivas.
Fico pensando: o que virou ser agradável? Será que não só ele, o guri, mas toda esta nova geração faz ideia do que signifique "conviva".
Está feito... (almocei)

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