Vir aqui para Nantes
e estar no Velo City foi uma experiência muito estranha. Não tenho mais quase
nada a ver com toda esta coisa da bicicleta. Ficaram ótimos amigos e uma
geração que me deixa esperançoso. Meu tempo se foi, como é natural para todos.
A maioria de vocês provavelmente não consegue colocar o dedão do pé na boca, o
que qualquer bebe faz brincando. No geral as coisas melhoram, mesmo que você
fique mais velho, enrugado, lento e peidorento!
Vim para cá por que
quis o destino. Por pura brincadeira fiz a inscrição de ideias que venho
juntando a tempo na última hora do último dia. Sabia do Velo City pelo Eric
Ferreira que havia me pedido minha colaboração num trabalho genial que ele
estava inscrevendo. A minha palestra "Qualidade e Equidade", que na criação
do abstrato obrigatório foi levemente modificada pelo Eric para "Redes
Sociais, Qualidade e Equidade" emplacou. O trabalho do Eric,
"Velocidade efetiva", não. Depois entrou, depois saiu, depois entrou e
finalmente aqui, na hora H não foi apresentado. Uma confusão só. Não muito
diferente do que aconteceu com o meu.
Enfim, quis o destino
que minha despedida do ativismo pela bicicleta, dessa vez uma chique e
internacional, fosse aqui no Velo City. E me despedi em grande estilo: ninguém
entendeu porra nenhuma de minha palestra. Pela cara das pessoas já havia
percebido que minha fala estava um pouco fora da curva. Fica a esperança que
tenha ficado algum petardo em alguma cabeça que lá estava, o que para mim já é
bom negócio.
Tive que trocar de
moradia e quando voltei estavam desmontando tudo no Velo City. O alívio que senti
quando entrei no centro de convenções e vi aquilo já quase vazio foi muito
grande. No final de contas, acho que alguma coisa valeu destes mais de 30 anos
de trabalho.
Amanha vou pedalar no
Vale do Loire. Hoje comprei uma bicicleta muito simples e barata e só me dei
conta que ela lembra demais minha primeira bicicleta quando estava fazendo os
últimos ajustes. Fiquei lembrando de como, na garagem escura do meu prédio,
apanhei para regular a minha primeira bicicleta, que hoje sei que era quase
impossível regular. Aquela era branca e amarela, como a luz, um ponto de
referência; esta é preta, cor do vazio, do recomeço. Amanha saio na porra
louca, sem ter nada programado, exatamente como saia quando era jovem.
Dentro de uns dias
volto a São Paulo e para a arte. Ou para um trabalho qualquer. Nâo vou deixar
de fazer arte, seja lá o que signifique isto. Na fila da leitura estão livros
sobre a história do transporte na Itália e França, e outros, mais preciosos,
sobre a história das mulheres e das bruxas. Foram elas que de fato mudaram
nossa cabeça, pode estar certo. A história é sempre dos vencedores, mas nem
sempre a verdadeira. E, como dizia dona Lollia (minha mãe): O tempo diz tudo a
todos.
Sinto um desabafo, mas não me parece q existe uma nostalgia . Foi uma despedida parcial, pq a bicicleta sempre esteve e sempre estará c vc. Ela faz parte de vc .
ResponderExcluir"Toda arte é experimental. Ou não é arte ". Youngblood
Experimente novos caminhos, materiais, busque, teste, se envolva e deixe se envolver, amplie a sua visão do q é arte . Mergulhe .Vc vai conseguir, só precisa começar. Boa sorte !!!!!!
Só percebi hj, q vc está se sentindo leve, livre e solto. Uma criança. Feliz, por ter feito a sua parte e feliz pela continuidade q está sendo dada. Parabéns, vc é um vitorioso. Virou a pagina e está pronto para recomeçar .
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