Neste
domingo, 21 de Junho de 2015, a caminho da Virada Cultural no Centro de São
Paulo passei pela avenida Paulista e vi a ciclovia que será inaugurada na
próxima semana, creio que no domingo. Está melhor do que eu imaginava, mesmo
assim continuo não gostando da história toda. Enquanto pedalava fiquei revisando meus
prós e contras e fazendo uma autocrítica.
Prós:
- Por estar na av. Paulista a
ciclovia deve causar um grande impacto em todo Brasil, estimulando outras
cidades a fazer o mesmo.
- Henrique Peñalosa, ex
Prefeito de Bogotá, sempre repete que é crucial que a ciclovia passe pelo
ponto mais importante da cidade, como um marco de mudança
- É óbvio que o número de
ciclistas que passam pela av. Paulista, que já é grande, vai aumentar bem
mais que os 30% normais depois da implantação de uma ciclovia. Não existem
outras alternativas interessantes à av. Paulista. As ruas no entorno são
acidentadas, as duas paralelas estão saturadas e em alguns pontos são mais
perigosas que a própria Paulista.
- A solução aponta para o que
se está fazendo: ciclovia de canteiro central. Partilhar o trânsito na av.
Paulista é possível, mas complexa e arriscada. Infelizmente tivemos as
três mortes e um grave acidente envolvendo ciclistas na avenida, o que
cria mais empecilho para por para frente um projeto ousado.
- Onde partilhar? Junto aos
ônibus depois dos acidentes fatais? Junto aos ônibus reduzindo mais ainda
a velocidade média destes? Na segunda faixa de rodagem, junto aos carros,
mas e as conversões à direita?
- No Velo City ouvi de várias
autoridades, de vários países, que a segregação do ciclista é o caminho,
principalmente por causa de mulheres, crianças e idosos.
Contras:
- Por estar na av.
Paulista a ciclovia deve causar um grande impacto em todo Brasil, estimulando
outras cidades a fazer o mesmo e isto pode ser um grande problema.
Infelizmente brasileiro acha lindo imitar e mais infelizmente ainda (com
este português horroroso mesmo) imitar o que não faz sentido, o que não
tem necessidade. Exemplos absurdos não faltam. É muito comum ver cidades
pequenas de interior com edifícios altos. Perto de Avaré tem uma pequenina
cidade que tem um destes edifícios. O construtor foi um fazendeiro que
queria mostrar riqueza. Numa outra cidadezinha perto dali outro fazendeiro
construiu um edifício mais alto ainda para não ficar para trás. Quando a
Ciclo Faixa de Lazer de Domingo de São Paulo deu certo muitas cidades
passaram a criar suas próprias ciclo faixas de lazer de domingo, só que
sem patrocinador, portanto com dinheiro público... Operacionalizar ciclo faixa
de lazer todo fim de semana custa uma montanha de dinheiro. Falta investimento
em praticamente todos outros esportes, em eventos de lazer e principalmente
na cultura. Poderia escrever páginas de imitações medíocres, desastrosas.
- A av. Paulista é o
símbolo de São Paulo, São Paulo, esta cidade que já foi símbolo de
modernidade, de progresso, de riqueza, de futuro. Ciclovia não é por si
símbolo de modernidade, progresso, riqueza ou futuro. Ciclovia é o caminho
mais fácil, da forma como se está fazendo um caminho simplório para
alegrar incautos.
- Não se caminha para
frente sem tomar riscos.
- Segregar? Como?
Aonde? Para que? Por que? Quanto custa? Há outra alternativa? Alguém se
perguntou estas e outras questões?
- "O que estiver
errado depois corrige"... O que, gastando o dinheiro público, dos
outros? Estou fora. Não é possível que não caia a ficha que a crise
que o Brasil só está começando a viver foi causada exatamente por este “se
estiver errado depois corrige”.
- É lógico que a
ciclovia da avenida Paulista é um imenso instrumento de propaganda
politica, importantíssimo para um partido que está mais por baixo que
"barriga" de cobra.
- O que me arrepia é
a pergunta: Quem está por trás desta história? "Diga com quem andas e
dir-te-ei quem és". Abra o Google, veja os currículos. É óbvio
que ninguém muda do dia para a noite. Eu não quero chegar aos meus
objetivos a qualquer custo. A vida ensinou que definitivamente que no
futuro vai aparecer problema.
- São Paulo tem uma
coisa, sim uma coisa, conhecida como Minhocão. Esta coisa, um elevado que
rasga o Centro numa das áreas mais bem estruturadas da cidade, foi
recebida como um grande avanço para a mobilidade da cidade. É inegável a
deterioração que o Minhocão causou no seu entorno e até mesmo em boa parte
do Centro da cidade, assim como é inegável que a mobilidade de carros e
motos fica muito melhor com ele. Hoje se luta para sua desativação e
demolição.
- Qual é o valor
agregado de cada ciclista? Qual é o valor agregado dos pedestres, de quem
usa transporte coletivo, dos motoristas, motociclistas...
- Ainda no valor
agregado, como vai ficar a circulação dos motoboys com a diminuição do
espaço entre as faixas de rodagem? Motoboy, em São Paulo, tem mais que um
simples valor agregado; são absolutamente cruciais para a macro economia
do país. OK, em quanto tempo se consegue substituir os motoboys por bike
couriers - com a mesma eficiência. Nem a questão legal dos bike couriers
está completamente clara.
- av. Paulista é um
das mais importantes pontos da macro economia do Brasil. Só o investimento
imóvel da Paulista já é incalculável. O Centro de São Paulo está sendo
desintegrado em nome de uma política dita social que não leva em consideração
a geração de impostos. O que vai acontecer com a Paulista?
- A bandeira do
Município de São Paulo traz escrito Non ducor, duco, 'Não sou conduzido,
conduzo'. Não é preciso falar mais nada. Eu sou dos paulistanos que ainda
tem sonhos. Eu não imitaria, eu não faria o mais fácil, eu ousaria.
Eu tenho um
sonho; um sonho de uma avenida Paulista inteligente, ousada, gente cruzando
livre o leito carroçável com total segurança, transporte coletivo por bonde,
via sem meio fio, veículos circulando em velocidade compatível com a segurança
de mães, crianças, idosos, e pessoas com deficiência. Ciclistas integrados e circulando
com respeito aos outros. A diminuição do barulho, da poluição, a volta da vida.
Uma reformulação completa do uso do espaço comum, público e privado, onde as
áreas comuns dos edifícios sejam espaços fluidos com o público e com as
contíguas. Onde a cultura de qualidade possa se expandir além dos ótimos
espaços culturais e museus já existentes, num museu de rua, num projeto comum. Mesas
na calçada, bares, cafés, restaurantes, mais gente conversando, mais tempo na
rua. Melhoria do acesso para vizinhos da Paulista. Melhor paisagismo, melhor
urbanismo, mobiliário urbano e sinalização uniforme... Recuperação do
conjunto MASP, Parque Trianon, Túnel Nove de Julho e seu mirante. Segurança própria,
comunitária, treinada para atendimento e turismo. Uma administração única da
área. E como parte desta reformulação um SISTEMA CICLOVIÁRIO compatível. Ou
seja, só um pouco além de uma ciclovia de canteiro central.
Não se
enganem: mediocridade mata.
Compartilhamos do mesmo pensamento traduzidos em texto Sr. Arturo. Será que todas as "nações desenvolvidas" não tiveram que atravessar todo esse processo de tentativa e erro, tentativa e acerto para chegar ao patamar atual de "desenvolvidos"? (Livro Riqueza das Nações - Adam Smith)... Seria possível fazer uma grande mudança tanto no aspecto pessoal quanto a uma avenida, bairro, cidade, estado, país...e acertar logo de primeira?
ResponderExcluirSerá que acertamos tudo desde a primeira vez que tentamos? (o primeiro namoro, a primeira faculdade, a primeira casa, o primeiro trabalho, o primeiro tudo...)
Suas palavras traduzem o que todos sabem ou sentem de forma consciente ou inconsciente na administração pública de uma forma geral no Brasil (e tem que ser externado mesmo!!!) mas fica a dúvida: Há prefeitos e vereadores qualificados hoje para fazer tudo da forma correta de primeira? O que é a forma certa? Como fazer da forma certa? Qual é o prazo certo? Qual o custo certo? Se não for inspirado e "copiada" boas praticas dos "países desenvolvidos", quem deve ser a referência para o brasileiro? Será que temos algum bom exemplo e referência no Brasil para administração pública? E muitas outros questionamentos que não cabem aqui... sorrisos.
Cicloabraços - Joãozinho