segunda-feira, 22 de junho de 2015

Av. Paulista, símbolo de São Paulo

Neste domingo, 21 de Junho de 2015, a caminho da Virada Cultural no Centro de São Paulo passei pela avenida Paulista e vi a ciclovia que será inaugurada na próxima semana, creio que no domingo. Está melhor do que eu imaginava, mesmo assim continuo não gostando da história toda. Enquanto pedalava fiquei revisando meus prós e contras e fazendo uma autocrítica.


Prós:
  1. Por estar na av. Paulista a ciclovia deve causar um grande impacto em todo Brasil, estimulando outras cidades a fazer o mesmo. 
  2. Henrique Peñalosa, ex Prefeito de Bogotá, sempre repete que é crucial que a ciclovia passe pelo ponto mais importante da cidade, como um marco de mudança
  3. É óbvio que o número de ciclistas que passam pela av. Paulista, que já é grande, vai aumentar bem mais que os 30% normais depois da implantação de uma ciclovia. Não existem outras alternativas interessantes à av. Paulista. As ruas no entorno são acidentadas, as duas paralelas estão saturadas e em alguns pontos são mais perigosas que a própria Paulista. 
  4. A solução aponta para o que se está fazendo: ciclovia de canteiro central. Partilhar o trânsito na av. Paulista é possível, mas complexa e arriscada. Infelizmente tivemos as três mortes e um grave acidente envolvendo ciclistas na avenida, o que cria mais empecilho para por para frente um projeto ousado. 
  5. Onde partilhar? Junto aos ônibus depois dos acidentes fatais? Junto aos ônibus reduzindo mais ainda a velocidade média destes? Na segunda faixa de rodagem, junto aos carros, mas e as conversões à direita? 
  6. No Velo City ouvi de várias autoridades, de vários países, que a segregação do ciclista é o caminho, principalmente por causa de mulheres, crianças e idosos.
Contras:

  1. Por estar na av. Paulista a ciclovia deve causar um grande impacto em todo Brasil, estimulando outras cidades a fazer o mesmo e isto pode ser um grande problema. Infelizmente brasileiro acha lindo imitar e mais infelizmente ainda (com este português horroroso mesmo) imitar o que não faz sentido, o que não tem necessidade. Exemplos absurdos não faltam. É muito comum ver cidades pequenas de interior com edifícios altos. Perto de Avaré tem uma pequenina cidade que tem um destes edifícios. O construtor foi um fazendeiro que queria mostrar riqueza. Numa outra cidadezinha perto dali outro fazendeiro construiu um edifício mais alto ainda para não ficar para trás. Quando a Ciclo Faixa de Lazer de Domingo de São Paulo deu certo muitas cidades passaram a criar suas próprias ciclo faixas de lazer de domingo, só que sem patrocinador, portanto com dinheiro público... Operacionalizar ciclo faixa de lazer todo fim de semana custa uma montanha de dinheiro. Falta investimento em praticamente todos outros esportes, em eventos de lazer e principalmente na cultura. Poderia escrever páginas de imitações medíocres, desastrosas.
  2. A av. Paulista é o símbolo de São Paulo, São Paulo, esta cidade que já foi símbolo de modernidade, de progresso, de riqueza, de futuro. Ciclovia não é por si símbolo de modernidade, progresso, riqueza ou futuro. Ciclovia é o caminho mais fácil, da forma como se está fazendo um caminho simplório para alegrar incautos. 
  3. Não se caminha para frente sem tomar riscos. 
  4. Segregar? Como? Aonde? Para que? Por que? Quanto custa? Há outra alternativa? Alguém se perguntou estas e outras questões?
  5. "O que estiver errado depois corrige"... O que, gastando o dinheiro público, dos outros? Estou fora. Não é possível que não caia a ficha que a crise que o Brasil só está começando a viver foi causada exatamente por este “se estiver errado depois corrige”.
  6. É lógico que a ciclovia da avenida Paulista é um imenso instrumento de propaganda politica, importantíssimo para um partido que está mais por baixo que "barriga" de cobra. 
  7. O que me arrepia é a pergunta: Quem está por trás desta história? "Diga com quem andas e dir-te-ei quem és". Abra o Google, veja os currículos. É óbvio que ninguém muda do dia para a noite. Eu não quero chegar aos meus objetivos a qualquer custo. A vida ensinou que definitivamente que no futuro vai aparecer problema.
  8. São Paulo tem uma coisa, sim uma coisa, conhecida como Minhocão. Esta coisa, um elevado que rasga o Centro numa das áreas mais bem estruturadas da cidade, foi recebida como um grande avanço para a mobilidade da cidade. É inegável a deterioração que o Minhocão causou no seu entorno e até mesmo em boa parte do Centro da cidade, assim como é inegável que a mobilidade de carros e motos fica muito melhor com ele. Hoje se luta para sua desativação e demolição.
  9. Qual é o valor agregado de cada ciclista? Qual é o valor agregado dos pedestres, de quem usa transporte coletivo, dos motoristas, motociclistas...
  10. Ainda no valor agregado, como vai ficar a circulação dos motoboys com a diminuição do espaço entre as faixas de rodagem? Motoboy, em São Paulo, tem mais que um simples valor agregado; são absolutamente cruciais para a macro economia do país. OK, em quanto tempo se consegue substituir os motoboys por bike couriers - com a mesma eficiência. Nem a questão legal dos bike couriers está completamente clara.
  11. av. Paulista é um das mais importantes pontos da macro economia do Brasil. Só o investimento imóvel da Paulista já é incalculável. O Centro de São Paulo está sendo desintegrado em nome de uma política dita social que não leva em consideração a geração de impostos. O que vai acontecer com a Paulista?
  12. A bandeira do Município de São Paulo traz escrito Non ducor, duco, 'Não sou conduzido, conduzo'. Não é preciso falar mais nada. Eu sou dos paulistanos que ainda tem sonhos. Eu não imitaria, eu não faria o mais fácil, eu ousaria.
Eu tenho um sonho; um sonho de uma avenida Paulista inteligente, ousada, gente cruzando livre o leito carroçável com total segurança, transporte coletivo por bonde, via sem meio fio, veículos circulando em velocidade compatível com a segurança de mães, crianças, idosos, e pessoas com deficiência. Ciclistas integrados e circulando com respeito aos outros. A diminuição do barulho, da poluição, a volta da vida. Uma reformulação completa do uso do espaço comum, público e privado, onde as áreas comuns dos edifícios sejam espaços fluidos com o público e com as contíguas. Onde a cultura de qualidade possa se expandir além dos ótimos espaços culturais e museus já existentes, num museu de rua, num projeto comum. Mesas na calçada, bares, cafés, restaurantes, mais gente conversando, mais tempo na rua. Melhoria do acesso para vizinhos da Paulista. Melhor paisagismo, melhor urbanismo, mobiliário urbano e sinalização uniforme... Recuperação do conjunto MASP, Parque Trianon, Túnel Nove de Julho e seu mirante. Segurança própria, comunitária, treinada para atendimento e turismo. Uma administração única da área. E como parte desta reformulação um SISTEMA CICLOVIÁRIO compatível. Ou seja, só um pouco além de uma ciclovia de canteiro central. 

Não se enganem: mediocridade mata. 

Um comentário:

  1. Compartilhamos do mesmo pensamento traduzidos em texto Sr. Arturo. Será que todas as "nações desenvolvidas" não tiveram que atravessar todo esse processo de tentativa e erro, tentativa e acerto para chegar ao patamar atual de "desenvolvidos"? (Livro Riqueza das Nações - Adam Smith)... Seria possível fazer uma grande mudança tanto no aspecto pessoal quanto a uma avenida, bairro, cidade, estado, país...e acertar logo de primeira?

    Será que acertamos tudo desde a primeira vez que tentamos? (o primeiro namoro, a primeira faculdade, a primeira casa, o primeiro trabalho, o primeiro tudo...)

    Suas palavras traduzem o que todos sabem ou sentem de forma consciente ou inconsciente na administração pública de uma forma geral no Brasil (e tem que ser externado mesmo!!!) mas fica a dúvida: Há prefeitos e vereadores qualificados hoje para fazer tudo da forma correta de primeira? O que é a forma certa? Como fazer da forma certa? Qual é o prazo certo? Qual o custo certo? Se não for inspirado e "copiada" boas praticas dos "países desenvolvidos", quem deve ser a referência para o brasileiro? Será que temos algum bom exemplo e referência no Brasil para administração pública? E muitas outros questionamentos que não cabem aqui... sorrisos.

    Cicloabraços - Joãozinho

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