segunda-feira, 29 de junho de 2015

Muito alarido, pouco resultado


São Paulo reclama
O Estado de São Paulo
Domingo, 28 de Junho de 2015
Notas & Informações

Sobre "Muito alarido, pouco resultado"

A verdade é uma só: com o sistema semafórico que temos, burro e obsoleto, nada e ninguém terá a fluidez minimamente adequada. Qualquer cidade que queira ser global player, como é o caso de São Paulo, precisa oferecer um mínimo de qualidade nas mobilidades e nos transportes. Pensar em soluções isoladas como, por exemplo, corredores de ônibus e ciclovias, é gerar factoides, é roubar o futuro da cidade mais importante do país. A fluidez de corredores de ônibus, de ciclovias, do pedestre ou até de automóveis e motos, só será possível quando a cidade tiver um (complexo) sistema inteligente de semáforos que trabalhe todas as fluidezes em conjunto e cada modal em particular. E, óbvio, que não pare de funcionar na primeira gota de chuva ou vento. É crucial não só para a fluidez de trânsito, como também para aumentar o nível de segurança de todos, principalmente pedestres, os mais vitimados de nosso trânsito. É investimento urgentíssimo, mas é difícil de ser capitalizado em votos, tão invisível como uma rede de esgoto. Pelo que sei na administração passada, de Kassab, iniciaram trabalhos para a troca de todo um novo sistema semafórico, ou seja, a compra de supercomputadores, cabeamento, sensores, câmeras, monitores, semáforos, instalação, treinamento... Também pelo que sei, esta administração, Haddad, optou por mais um remendo do que está ai, que é definido em off pelo pessoal da CET como lixo.
Mesmo um sistema semafórico menos sofisticado, básico, que trabalhe só a fluidez geral, sem particularizar, já seria um enorme ganho para a cidade de São Paulo. É caro, muito caro, e não é nada populista.


Complementando esta carta enviada ao Estadão: Quando da campanha para a Prefeitura de São Paulo que elegeu Haddad eu tentei fazer que os manifestos entregues a todos candidatos fizessem o pedido da troca de todo sistema semafórico da cidade, e fui voto vencido, infelizmente. É preciso "perceber" o trânsito e fazer cálculos complexos para que ônibus trafegando em corredores, que tem uma velocidade determinada, e ciclistas circulando em sistemas cicloviários, que tem outra velocidade, cheguem nas esquinas e encontrem o semáforo aberto; mas isto tem que ser feito sem colocar em colapso a fluidez dos outros modais. Com um sistema inteligente é possível dar o tempo apropriado para pedestres atravessar avenidas em segurança, que aqui em São Paulo morrem atropelados às pencas. Um sistema de semáforos inteligente pode diminuir a necessidade da construção de ciclovias, o que melhora a segurança de pedestres, por exemplo. Com inteligência as ciclovias ficam mais seguras. E ai vamos. 
Simples: você prefere um sistema burro ou inteligente? Inteligência custa caro, mas vale cada centavo. Burrice só empobrece.

domingo, 28 de junho de 2015

inauguração da ciclovia Av. Paulista

Criticando ou não, é inegável que a inauguração da ciclovia da Av. Paulista, em São Paulo, está sendo uma grande festa para os ciclistas. A felicidade dos ciclistas estava estampada em todos. Fica aqui meus votos para que dê certo. 
Subi para a Paulista pela Av. Rebouças, a partir da rua dos Pinheiros, não pela calçada quase sem pedestres, como sempre faço, mas pedalando na própria avenida junto a uma quantidade de ciclistas que nunca vi antes, todos indo para a Paulista. Na esquina da Av. Consolação, já na Paulista, o número de ciclistas (2 primeiras fotos) era grande tanto pela estrutura montada no entorno da Praça do Ciclista, como pela distribuição grátis de camisetas do Bradesco. Dai para frente a avenida estava conificada, provavelmente por que a prefeitura esperava que pedestres aparecessem para prestigiar em massa, o que não aconteceu. Os pedestres que circulavam estavam nas calçadas e tinham jeito de estar lá como se fosse um domingo qualquer. 
Que tenha um bom futuro e seja o início de alguma coisa boa.

As primeiras fotos foram feitas antes da inauguração, lá pelas 9:30 h. e as demais depois, lá pelas 11:00 h. 






sábado, 27 de junho de 2015

Paulista: acertamos tudo da primeira vez?

Ótimo o comentário sobre meu texto: “Av. Paulista, símbolo de São Paulo”, publicado dia 22 de Junho passado.
Compartilhamos do mesmo pensamento traduzidos em texto Sr. Arturo. Será que todas as "nações desenvolvidas" não tiveram que atravessar todo esse processo de tentativa e erro, tentativa e acerto para chegar ao patamar atual de "desenvolvidos"? (Livro Riqueza das Nações - Adam Smith)... Seria possível fazer uma grande mudança tanto no aspecto pessoal quanto a uma avenida, bairro, cidade, estado, país...e acertar logo de primeira?

Será que acertamos tudo desde a primeira vez que tentamos? (o primeiro namoro, a primeira faculdade, a primeira casa, o primeiro trabalho, o primeiro tudo...)

Suas palavras traduzem o que todos sabem ou sentem de forma consciente ou inconsciente na administração pública de uma forma geral no Brasil (e tem que ser externado mesmo!!!) mas fica a dúvida: Há prefeitos e vereadores qualificados hoje para fazer tudo da forma correta de primeira? O que é a forma certa? Como fazer da forma certa? Qual é o prazo certo? Qual o custo certo? Se não for inspirado e "copiada" boas praticas dos "países desenvolvidos", quem deve ser a referência para o brasileiro? Será que temos algum bom exemplo e referência no Brasil para administração pública? E muitas outros questionamentos que não cabem aqui... sorrisos.

Cicloabraços - Joãozinho
Acertamos tudo da primeira vez? Normalmente não. A questão é o grau do desacerto que se comete e o momento que se está.
Estou lendo Streets for People; a primer for Americans; by Bernard Rudofsky. O primeiro capítulo conta a história de NY e é deprimente ler que os dilemas que estamos tendo hoje aqui em São Paulo, cidade, são muito parecidos, quando não os mesmos, que os nova-iorquinos tiveram por volta de 1800. 
Meu irmão, Murillo Marx, professor de História da Arquitetura e Urbanismo, FAU USP SP, de quem herdei o livro, num de nossos almoços contou que tinha tido um ataque com os alunos por causa da pasmaceira de boa parte deles. Ele parou a aula e começou gritar “Sonhem, sonhem, sonhem!”. O desespero dele era pela falta de um sonho maior. Sinto muita falta dele, mas estou feliz que o pessoal lá de cima tenha chegado a conclusão que ele não merecia passar pelo que estamos passando neste Brasil do nunca antes. Livraram ele da agonia de ver a São Paulo que tanto amou chegar ao descalabro que se encontra hoje.
Sinto falta de minha mãe. Dela vem este meu horror à mediocridade. Horror!
Lollia, minha mãe, dizia que não adianta mudar de casa, de cidade, de país. “Meu filho, se você quer mudar você precisa mudar o que está dentro de você,. Não são os outros, é você!”.
Joãozinho, temos é que mudar nossa postura. Temos que sonhar. Como você diz, “temos que usar as boas referências”, mas mais do que isto, precisamos saber distinguir o que é uma boa referência. Ai é que estamos pecando, pecado que nos está encaminhando para o inferno. 
Questões históricas e macro econômicas que o mundo está vivendo praticamente zerou a margem de erro que uma sociedade pode cometer. Nós erramos no básico do básico. Não aprendemos nada, (parece que) não estamos interessados em aprender. Não éramos assim.
Agora está dito aos quatro ventos para quem quiser ouvir: mínimo de 3 anos para o barco parar de afundar, se conseguirmos o feito, mais 20 anos para o Brasil ter a perspectiva que tinha antes dos anos do Brasil do nunca antes. O Município de São Paulo ainda gera mais de 11% do PIB do Brasil. E vem sistematicamente caindo, afundando. No tamanho da crise que vivemos praticamente não temos espaço para cometer erros. Não dá para fazer e corrigir. Não dá.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Virada cultural vazia

Foi com tristeza que vi uma Virada Cultural no Centro de São Paulo com bem pouco público. Não fui a noite, mas fiquei sabendo que também tinha muito menos público que no ano passado. Segundo um PM graduado "no ano passado teve muita confusão e o pessoal ficou com medo de vir (nesta Virada Cultura 2015)". Fui conversando e o pessoal sempre repetia a mesma coisa e mais que "O Centro de São Paulo está cheio de mendigos e viciados, sujo e mal cuidado. Dá medo vir para cá". 
De uns anos para cá o Centro de São Paulo vem virando uma bagunça, uma terra de ninguém. O empobrecimento da área é notável e só frequenta quem não tem outra alternativa. O cerne da questão não é a pobreza em si, mas a forma como ela é tratada. Pobre também é cidadão e deve respeitar direitos e deveres. O discurso corrente de que eles são coitadinhos e por isto podem fazer o que quiser é de uma imbecilidade sem tamanho. Ter uma política permissiva para os pobres é um desastre principalmente para os pobres. Ser permissivo com a marginalidade então...
Em qualquer cidade normal, onde o espaço urbano é vivenciado por todos sem medo, inclusive pobres, a ordem social é mantida. Ponto! As regras de convívio social são cumpridas inclusive pelos miseráveis. Cumprindo regras eles acabam se integrando socialmente. Em uma cidade decente é muito raro ver aberrações, pichações, depredações, coisas quebradas, mal cuidadas. Há edifícios tomados por movimentos sociais, mas não estão completamente pichados, deteriorados, assustadores. Há moradores de rua, mas discretos, a maioria quase imperceptível. Durante o dia parecem desaparecer da paisagem. Não me lembro de cheiro de urina ou fezes humanas. Para dizer a verdade só me lembro de um chinês imbecil fazendo pipi atrás de um monumento. Em uma cidade decente mesmo os mais miseráveis não fedem como aqui, provavelmente por que são cuidados com respeito.
O centro de qualquer cidade é o marco de encontro de todos. Deve ter qualidades que aglutine a população, toda população e não alguns. É de crucial importância que se tenha um centro de riquezas para ser partilhado entre todos. Riquezas... bem dito, inclui cultura, lazer, interação... Deve gerar riquezas para distribuir entre todos. Um centro deteriorado distribui custos, empobrece a todos. O planeta inteiro sabe disto. 
Foi triste ver um mega evento maravilhoso como a Virada Cultural de São Paulo tão vazio. Fruto da deprimente política social que se abate sobre nós. O conceito básico desta política social está correto, mas a forma como vem sendo implementada é no mínimo medíocre, irresponsável.


terça-feira, 23 de junho de 2015

Tarkus e Close to edge, versões piano.

Tarkus, ELP, versão piano de Massimo Bucci

Close to the edge, Yes, versão piano Rick Wakeman

Tarkus novamente, versão feminina de Rachel Flowers

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Av. Paulista, símbolo de São Paulo

Neste domingo, 21 de Junho de 2015, a caminho da Virada Cultural no Centro de São Paulo passei pela avenida Paulista e vi a ciclovia que será inaugurada na próxima semana, creio que no domingo. Está melhor do que eu imaginava, mesmo assim continuo não gostando da história toda. Enquanto pedalava fiquei revisando meus prós e contras e fazendo uma autocrítica.


Prós:
  1. Por estar na av. Paulista a ciclovia deve causar um grande impacto em todo Brasil, estimulando outras cidades a fazer o mesmo. 
  2. Henrique Peñalosa, ex Prefeito de Bogotá, sempre repete que é crucial que a ciclovia passe pelo ponto mais importante da cidade, como um marco de mudança
  3. É óbvio que o número de ciclistas que passam pela av. Paulista, que já é grande, vai aumentar bem mais que os 30% normais depois da implantação de uma ciclovia. Não existem outras alternativas interessantes à av. Paulista. As ruas no entorno são acidentadas, as duas paralelas estão saturadas e em alguns pontos são mais perigosas que a própria Paulista. 
  4. A solução aponta para o que se está fazendo: ciclovia de canteiro central. Partilhar o trânsito na av. Paulista é possível, mas complexa e arriscada. Infelizmente tivemos as três mortes e um grave acidente envolvendo ciclistas na avenida, o que cria mais empecilho para por para frente um projeto ousado. 
  5. Onde partilhar? Junto aos ônibus depois dos acidentes fatais? Junto aos ônibus reduzindo mais ainda a velocidade média destes? Na segunda faixa de rodagem, junto aos carros, mas e as conversões à direita? 
  6. No Velo City ouvi de várias autoridades, de vários países, que a segregação do ciclista é o caminho, principalmente por causa de mulheres, crianças e idosos.
Contras:

  1. Por estar na av. Paulista a ciclovia deve causar um grande impacto em todo Brasil, estimulando outras cidades a fazer o mesmo e isto pode ser um grande problema. Infelizmente brasileiro acha lindo imitar e mais infelizmente ainda (com este português horroroso mesmo) imitar o que não faz sentido, o que não tem necessidade. Exemplos absurdos não faltam. É muito comum ver cidades pequenas de interior com edifícios altos. Perto de Avaré tem uma pequenina cidade que tem um destes edifícios. O construtor foi um fazendeiro que queria mostrar riqueza. Numa outra cidadezinha perto dali outro fazendeiro construiu um edifício mais alto ainda para não ficar para trás. Quando a Ciclo Faixa de Lazer de Domingo de São Paulo deu certo muitas cidades passaram a criar suas próprias ciclo faixas de lazer de domingo, só que sem patrocinador, portanto com dinheiro público... Operacionalizar ciclo faixa de lazer todo fim de semana custa uma montanha de dinheiro. Falta investimento em praticamente todos outros esportes, em eventos de lazer e principalmente na cultura. Poderia escrever páginas de imitações medíocres, desastrosas.
  2. A av. Paulista é o símbolo de São Paulo, São Paulo, esta cidade que já foi símbolo de modernidade, de progresso, de riqueza, de futuro. Ciclovia não é por si símbolo de modernidade, progresso, riqueza ou futuro. Ciclovia é o caminho mais fácil, da forma como se está fazendo um caminho simplório para alegrar incautos. 
  3. Não se caminha para frente sem tomar riscos. 
  4. Segregar? Como? Aonde? Para que? Por que? Quanto custa? Há outra alternativa? Alguém se perguntou estas e outras questões?
  5. "O que estiver errado depois corrige"... O que, gastando o dinheiro público, dos outros? Estou fora. Não é possível que não caia a ficha que a crise que o Brasil só está começando a viver foi causada exatamente por este “se estiver errado depois corrige”.
  6. É lógico que a ciclovia da avenida Paulista é um imenso instrumento de propaganda politica, importantíssimo para um partido que está mais por baixo que "barriga" de cobra. 
  7. O que me arrepia é a pergunta: Quem está por trás desta história? "Diga com quem andas e dir-te-ei quem és". Abra o Google, veja os currículos. É óbvio que ninguém muda do dia para a noite. Eu não quero chegar aos meus objetivos a qualquer custo. A vida ensinou que definitivamente que no futuro vai aparecer problema.
  8. São Paulo tem uma coisa, sim uma coisa, conhecida como Minhocão. Esta coisa, um elevado que rasga o Centro numa das áreas mais bem estruturadas da cidade, foi recebida como um grande avanço para a mobilidade da cidade. É inegável a deterioração que o Minhocão causou no seu entorno e até mesmo em boa parte do Centro da cidade, assim como é inegável que a mobilidade de carros e motos fica muito melhor com ele. Hoje se luta para sua desativação e demolição.
  9. Qual é o valor agregado de cada ciclista? Qual é o valor agregado dos pedestres, de quem usa transporte coletivo, dos motoristas, motociclistas...
  10. Ainda no valor agregado, como vai ficar a circulação dos motoboys com a diminuição do espaço entre as faixas de rodagem? Motoboy, em São Paulo, tem mais que um simples valor agregado; são absolutamente cruciais para a macro economia do país. OK, em quanto tempo se consegue substituir os motoboys por bike couriers - com a mesma eficiência. Nem a questão legal dos bike couriers está completamente clara.
  11. av. Paulista é um das mais importantes pontos da macro economia do Brasil. Só o investimento imóvel da Paulista já é incalculável. O Centro de São Paulo está sendo desintegrado em nome de uma política dita social que não leva em consideração a geração de impostos. O que vai acontecer com a Paulista?
  12. A bandeira do Município de São Paulo traz escrito Non ducor, duco, 'Não sou conduzido, conduzo'. Não é preciso falar mais nada. Eu sou dos paulistanos que ainda tem sonhos. Eu não imitaria, eu não faria o mais fácil, eu ousaria.
Eu tenho um sonho; um sonho de uma avenida Paulista inteligente, ousada, gente cruzando livre o leito carroçável com total segurança, transporte coletivo por bonde, via sem meio fio, veículos circulando em velocidade compatível com a segurança de mães, crianças, idosos, e pessoas com deficiência. Ciclistas integrados e circulando com respeito aos outros. A diminuição do barulho, da poluição, a volta da vida. Uma reformulação completa do uso do espaço comum, público e privado, onde as áreas comuns dos edifícios sejam espaços fluidos com o público e com as contíguas. Onde a cultura de qualidade possa se expandir além dos ótimos espaços culturais e museus já existentes, num museu de rua, num projeto comum. Mesas na calçada, bares, cafés, restaurantes, mais gente conversando, mais tempo na rua. Melhoria do acesso para vizinhos da Paulista. Melhor paisagismo, melhor urbanismo, mobiliário urbano e sinalização uniforme... Recuperação do conjunto MASP, Parque Trianon, Túnel Nove de Julho e seu mirante. Segurança própria, comunitária, treinada para atendimento e turismo. Uma administração única da área. E como parte desta reformulação um SISTEMA CICLOVIÁRIO compatível. Ou seja, só um pouco além de uma ciclovia de canteiro central. 

Não se enganem: mediocridade mata. 

sábado, 20 de junho de 2015

Rede social, Qualidade e Equidade

Por que escolher Redes sociais, Qualidade e Equidade como tema da palestra no Velo City? Minha intenção inicial era falar sobre a situação que estamos vivendo no Brasil, desmontado rapidamente principalmente pela generalizada falta de qualidade. Incluo ai as porcarias das ciclovias que tem sido feitas país afora e em especial em São Paulo. O Brasil tem uma lei de licitação, a maldita 8.666, que, como piada, se pode dizer que é lei da eterna (8) besta do apocalipse (666). Não deixa de ser verdade. Na melhor das intenções a lei, que tem como prioridade o menor valor apresentado, infelizmente vem servindo para uma baixa brutal na qualidade da coisa pública e consequentemente na vida de todos nós, o que até o mais ignorante consegue perceber.
Meu sonho sempre foi o de usar a bicicleta na transformação da qualidade de vida da cidade. Para mim a bicicleta definitivamente é um dos meios e não o fim. Bicicleta como objetivo final é fanatismo não muito diferente de tantos outros que estão encurralando o planeta. Aliás, bicicleta como fim é de uma pobreza e mediocridade sem tamanho.
Nada pior que uma boa intenção piegas e ou carola, e é por ai que a humanidade está indo. Qual a saída? Meu credo hoje é qualidade. Só a qualidade trará a justiça social desejada, a equidade.
E por que “Rede social, Qualidade e Equidade”. Quase óbvio.
Não estou inserido nas redes sociais, mesmo assim posso afirmar com tranquilidade uma coisa: redes sociais não são democráticas, tem um grau de qualidade baixo e por isto definitivamente não levam a equidade. Como afirmar uma coisa destas sem conhecer? Desconheço as redes, mas conheço o seu efeito, por que o simples fato de não participar delas marginaliza. Hoje você tem que ter um celular inteligente (seja o que quer que isto signifique) ou está fora, vira um desconhecido. É socialmente mandatário. Ops! Como assim? Ou tem ou está fora? Ops! A história já viu histórias semelhantes antes e não deu certo. Livrinho vermelho em novo formato?
Rede social não é democrática por que é excludente principalmente entre os mais velhos, portanto com quem tem mais vivência, experiência, sabedoria. Também não é democrática por que tudo acontece muito rapidamente; mal dá tempo para digerir e pensar. E depende do poder aquisitivo, do acesso ao aplicativo ou o que quer que seja.
A qualidade de informação e pensamento que a rede social distribui e vende é muito baixa. Há uma diferença enorme entre escrever com a mão e teclar com os dedões, diferença abismal entre um texto rápido, imediatista, com abreviações, sem revisão, de poucas palavras, e um livro. Slow food, meus caros, tem um sabor completamente diferente de fast food. Fast food engorda, deixa mais lento, quando não mata. Escrever a mão é um ato que envolve mais coisas que fazer letrinhas bonitinhas por que dá tempo ao pensar, força o não errar. Quando se entra em assuntos mais aprofundados como, por exemplo, um sistema cicloviário, até textos em blogs acabam sendo superficiais. Aliás, vamos um pouco mais longe, no Brasil textos de jornais e revistas têm sido reduzidos, enxugados, para aumentar o público leitor, o que fez baixar muito a qualidade da informação, do pensamento, da troca, da democracia. A história prova que rapidez só faz aumentar as diferenças sociais.  
O poder da rede social ainda é fato novo na humanidade. Toda novidade é impactante. Mais impactante ainda numa sociedade pega de surpresa com o grau e escala de organização que teclar e enviar tem tido. O resultado nem sempre é o esperado, vide o norte da África. Andy Warhol disse algo como “um dia todos terão 15 minutos de fama” e eu digo que “hoje qualquer um pode ter seus 15 minutos de poder”, o que não necessariamente é democrático e definitivamente é um perigo para toda sociedade.

terça-feira, 16 de junho de 2015

A volta ao bang bang

Estou no aeroporto CDG, Charles de Gaulle, já dentro da área de embarque esperando minha hora de levantar voo para São Paulo. Não tenho a mínima vontade. A cada volta para o país do nunca antes é uma angústia danada. Meu último dia, minhas últimas horas, as últimas imagens que vão ficando para trás pela janela do ônibus que vai para o aeroporto, o check in e finalmente o entregar o passaporte para o carimbo final de despedida da civilização. Sim, civilização. Adeus Paris, adeus França, adeus Europa, adeus civilização. Não podemos afirmar que nós, brasileiros, somos civilizados. Basta o sobrevoo para a aterrissagem em nossas cidades para ficar claro que estamos em campo de guerra. Como mais chamar a baderna urbana de nossas cidades que se vê pela pequena janela do avião? E aquela paisagem que passa pela janela do carro ou ônibus que nos leva de nossos precários aeroportos para casa. Toda vez que faço esta viagem de reentrada as entranhas do Brasil lembro o choque que tive primeiro ao ver o aeroporto de Istambul e logo depois a muito bem cuidada via expressa que nos levou ao hotel vizinho à Mesquita Azul.
Ontem não tive coragem de sair do hotel e ver Paris a noite. Como se fosse uma mandinga para voltar para cá o mais rápido possível me recusei a andar alguns quarteirões e ficar babando com a vista da linda madame, a Tour Eiffel, com suas luzes brilhando para o infinito das estrelas. Hoje pela manha pedalei pelo Sena carregando a alma com aquela paisagem, exatamente como fazia na Sé de Olinda, na praia de Copacabana e a muito tempo atrás em alguns pontos especiais de São Paulo. A Praça do Por do Sol era um deles, mas faz tempo que não dá mais. Muita gente, muito barulho, muita maconha, bebida, praça mau cuidada, cheia de mato e lixo. Ainda sinto prazer em parar no meio da Ponte Bernard Goldfarb, mas ela é proibida e proibitiva para pedestres e o risco de ser atropelado é muito grande. Mas a vista do rio Pinheiros com o Pico do Jaraguá ao fundo é maravilhosa.
Este aeroporto, CDG, é maravilhoso. Chique, bem construído, aconchegante, funcional. Ele faz bem por que instiga a inteligência, o bem viver, o acreditar no futuro.
Paris estava lotada de gente como nunca havia visto antes. Nunca estive aqui nesta época, de início de temporada cheia. É muita gente para meu gosto. Felizmente consegui comer nos restaurantes que gosto, que normalmente são parisienses para parisienses. Costumo ficar numa área que
também é Paris de parisienses, com muito pouco turismo e turista. Para viver a mesmice entro em qualquer shopping center ou loja de grife, o que brasileiro e turistas de vários outros países atrasados adoram fazer. É verão, anoitece lentamente e muito tarde, depois das 23:00. Amanhece antes das 5:00. Dia longo. Sou um abençoado por que geralmente pego tempo bom, e não foi diferente desta vez. Dá para sentar numa mesa de rua e ficar conversando até o sono chegar. Dá para voltar para o hotel sem qualquer preocupação. Os franceses só pedem para tomar cuidado com batedores de carteira e eles só “trabalham” onde está cheio de turista. Ontem fui até a Basílica de Saint Denis, que fica fora do centro turístico de Paris, e lembra Brasil e sua mistureba de raças, cores, origens, falas, mas não senti qualquer temor de assalto ou latrocínio. O máximo que acontece são alguns falando no celular aos berros.

Amanha acordo no Brasil. De cara vou fazer minhas preces para que não aconteça nada entre o aeroporto e minha casa. A partir de amanha começo a contar com minha sorte para viver em paz. Começaram os assaltos na minha rua e por sorte não foi comigo. Estou cansado desta brincadeira de guerra civil, mas é nela que tenho que viver. Se pudesse sairia do Brasil e nunca mais voltaria. 

Uma das áreas de descanso com vista para o pátio dos aviões do aeroporto Charles de Gaulle

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Pays de la Loire - fotos e fatos

















revistando a II Guerra Mundial

Revisitando a II Guerra Mundial é nome de uma série de documentários, não sei se da BBC ou da History Chanel, que mostra filmes e documentos inéditos sobre o que foi realmente a Segunda Guerra Mundial. Creio que citei estes documentários. A diferença para o que foi divulgado até agora é que a censura é muito. Estamos fazendo cinquenta anos do fim da guerra e com a situação política mundial que temos hoje é de grande valia ver o que foi realmente a barbárie. 
Aqui na França geralmente acordo e vejo os noticiários para melhorar o ouvido para o francês. A qualidade e variedade das notícias é notável e me deixa com raiva da baixíssima qualidade da informação e discussão que temos no Brasil. Ficamos emaranhados em canalhices estúpidas que nos irão atolar mais ainda. Não temos capacidade de rever com honestidade o passado e por isto não conseguimos fazer um futuro bom e perene.
Voltando à França; mais de uma vez vi documentários sobre vários temas históricos, todos de altíssima qualidade, provavelmente produções demoradas, complicadas e caras. Há uns dias passaram a história do Qatar, noutro foi a sobre história da pesca na costa Atlântica. Agora estou vendo um sobre a vida das crianças francesas durante a grande guerra, ou seja, Segunda Guerra Mundial. São inúmeros depoimentos de senhores e senhoras que choram ao lembrar, por exemplo, que um deles e seu irmão menor estavam indo pedalando pela estradinha rural para a escola e viam que toda a pequena vila estava em chamas. Chegaram lá e a vila praticamente não existia mais. Ou todas as crianças que tiveram que ser evacuadas para sobreviver, por serem crianças não conseguiam entender para onde e por que estavam indo ou se voltariam a ver os pais, irmãos mais velhos, amigos, professores, vizinhos, suas cidades, suas casas. Os depoimentos se sucedem, contados com a suavidade da velhice e lágrimas, mesmo quando riem das desgraçadas histórias passadas.
A duas noites passou um documentário sobre os momentos finais da guerra e a rendição incondicional dos nazistas. Nunca havia visto a sequência completa de um fuzilamento. O sujeito condenado caminhando com dignidade, acompanhado e sem ser tocado, para ser amarrado num tronco sem reagir, a calma conversa final dele com os soldados e civis que o cercam, talvez até conhecidos, risadas, o último cigarro, o distanciamento dos fuziladores, o alinhamento, a preparação, o fuzilamento, e para minha surpresa a filmagem não para, segue em frente, com o fuzilado curvando o corpo, agonizando, os fuziladores se aproximando, alguém levantando a camisa e vendo os ferimentos, o fuzilado balbuciando qualquer coisa, alguns outros se aproximando, tudo dentro de uma normalidade que deve ser típica de guerra. 
Soldados semimortos e mortos vão passando pela lente da câmera, um com um buraco perto da orelha que sangra e mostra que o tiro deformou o maxilar. O ferido levanta a cabeça tenta falar algo, mas o maxilar não responde, mas é claro que está como querendo sair dali, ser socorrido, mas é deixado para trás. Outro, aparentemente morto, cara no chão, tenta desesperadamente fazer algum movimento para que os que o filmam salvem o que resta de sua vida; move os olhos, pisca, não consegue falar, mas a câmera segue em frente filmando indiferente. Imagens paradas e longas de corpos aos pedaços ou queimados, pessoas maltrapilhas caminhando por cidades ainda em fogo, queimando as mãos nos destroços para ver se ainda encontram algo que lhes sirva. As tomadas de imagem, longas, paradas, focam o destroçamento humano. A diferença destes documentários para o que vi antes é que não são propaganda para os vencedores, mas um documento sobre a estupidez humana em seu estado mais bruto.
Imagens de Berlim logo depois da entrada dos aliados. E de outras cidades. Cenas longas. Crianças do exército nazista, que segundo o texto do documentário era o que de pior havia naquele momento, os mais brutais, perigosos, doutrinados, obstinados, mentalmente deformados, doentes. Nos documentários mais antigos eram pobres crianças obrigadas a ir para a guerra pelo exército nazista; agora, sem censura, veio a tona pré adolescentes e adolescentes sem qualquer limite para proteger seus líderes, o que de fato eram então. Aliás, como muitos são hoje e sempre foram; é um estágio biológico típico da idade.
Há filmagens de vários comandantes, de vários países, principalmente ingleses, americanos e russos, fazendo inspeção nos recém descobertos campos de extermínio. A loucura esquelética e morta que está no chão já se viu e, infelizmente, já nos acostumamos, se é que algum dia se poderá acostumar e aceitar. Mas estas filmagens coloca um longo foco nas expressões dos comandantes, de suas tropas e dos que os cercam. Filmam de frente o numeroso grupo de jornalistas que foram levados para ver a monstruosidade nazista e fixam a imagem em suas expressões incrédulas, deprimidas, mesmo para quem estava cobrindo uma carnificina generalizada. Aparece neste contexto um comandante da SS nazista vindo sorridente e com mão estendida para o comandante aliado congelado pela raiva, que fica com as mão imóveis junto próprio corpo. O nazista não dá atenção, recolhe a mão, segue falando como se aquele fosse um encontro trivial, como se dando as boas vindas ao inimigo intruso em seus afazeres.
Muitas imagens do exército russo e seus comandantes. Jamais havia visto estas imagens por que o que, nós ocidentais, víamos era o que o nosso lado tinha interesse em mostrar. A alegria e grandes comemorações por todas as partes. Corta para soldados do exército alemão rendidos caminhando ensanguentados, alguns velhos, muitos assustados. E assim seguem as imagens. Fica claro que a guerra não acabou e pronto, mas que a loucura se estendeu ainda por um bom tempo, bom tempo. 
No Revisitando a II Guerra Mundial pela primeira vez se vê filmes da tropa aliada executando soldados da Alemanha já completamente rendidos, de braços abertos e para os céus. Não havia como mante-los vivos. Não havia água, comida, remédios, soldados disponíveis para fazer a segurança. Não há bonzinhos, há uma guerra mais que sanguinária. Literalmente bombardearam cidades industriais alemãs até que elas ficassem absolutamente arrasadas, no chão. Vi Stuttgart, não preciso ver mais.  Foi muito mais arrasador que as bombas atômicas do Japão, o que nunca havia sido dito.
Ainda há uma história que tem que ser contada. Certamente há muito material censurado. A geração pós II Guerra Mundial ainda não viu nada. Hoje olho as construções e as paredes destas pequenas e maravilhosas vilas europeias e é fácil ver que boa parte delas foi bombardeada. E eles, europeus, aprenderam com a guerra. Hoje buscam o acordo, a paz.

Não temos documentários neste nível sobre praticamente nada no Brasil. Dentre o pouco que temos, pouquíssimos documentários são neutros, contam a história verdadeira. 
Não há interesse em contar nossa história por que nosso inimigo está dentro de cada um de nós mesmos e tem nome: covardia. "Moro num país tropical, abençoado por Deus, e bonito por natureza; Que beleza, mais que beleza, tem carnaval..."

terça-feira, 9 de junho de 2015

pedalando contra o vento...

Estou em Angers, no Pays de la Loire, "pedalando contra o vento, sem lenço sem documento..." Não sei quantos dias vou aguentar pedalar no Loire por que realmente está um vento forte de proa. Um ciclista me disse que hoje está a 29 km/h - na cara. O primeiro dia foi o pior: primeira, segunda, primeira, segunda, opa... engatei a terceira, trinta metros depois segunda... Cada vez que dá uma lufada mais forte fico pensando no Zé Lobo e Rodrigo que estão fazendo o mesmo caminho, mas pegaram um trem para começar na outra ponta. Não fizeram isto por que sabiam do vento, mas por que tiveram que deixar as malas em Nantes, para onde estão voltando e onde devem entregar as bicicletas.
Estou esturricado pelo sol e com as pernas cansadas, mesmo tendo pedalado só 30 km, o que faço brincando em São Paulo. Pensei que o primeiro dia eu fizesse uns 40, no segundo uns 60... O tempo está mudando, vamos ver como fica amanha.
Já fiz uns 100 km, e vi um único buraco! Algumas irregularidades discretas, mas um único buraco, único! É incrível como o asfalto e mesmo a terra batida são lisos. Para se ter ideia ontem pedalei pelo menos 10 km com a garrafa de água solta entre os alforjes e não caiu. E olha que passei por trechos de terra, subi e desci de guia rebaixada, passei por trilho de bonde....
(Da janela do hotel onde estou dá para ver uma parada de ônibus. Um senhor cego está esperando seu ônibus. Todos ônibus que passaram pararam exatamente nele, abriram a porta e todos motoristas informaram que linha era. Fácil de perceber por que o senhor cego só respondia algo depois de um tempo que a porta de entrada se abria.
Voltando ao Pays de la Loire. Parei numa vila de 1.400 habitantes para almoçar. Absolutamente impecável. Aliás, todo o trajeto é impecável, tudo é impecável. Nossa natureza é muito mais rica e bela, mas não dá para pensar em montar uma estrutura de turismo como esta por que certamente haveria alguns probleminhas... Pena, por que é um negócio maravilhoso. Todos ganham, principalmente a população local. Não sei quanto a circulação de ciclista representa para o Pays de la Loire, mas certamente é muito.

Ontem dormi numa tenda típica do Himalaia, em forma de oca. Cheguei numa cidadezinha e vi o esforço que todos fazem para te acomodar. Uma senhora gentilíssima telefonou para Deus e o mundo para depois de muito tentar conseguir a tenda do Himalaia. Fui meio ressabiado, mas foi ótimo. É lógico que o banheiro é numa casinha do lado de fora com privada a seco, ou seja, você faz o Nº 2 e joga serragem de madeira em cima. Duro foi relaxar e conseguir..., mas consegui! São três tendas e três casinhas instaladas num gramado forrado com umas margaridinhas brancas minúsculas. Maravilhoso! Sai para caminhar e vi numas outras flores um beija-flor de no máximo 5 cm. Sem óculos achei que era um inseto, depois percebi que era um mini beija-flor. Estava ventando muito e o bichinho mantinha exata distância da flor agitada. Já tinha visto documentários sobre ele, mas só vendo para entender como é pequeno. De tão pequeno teria que fotografar muito de perto, uns 20 cm se tanto. Com o vento chacoalhando tudo, flor e beija-flor, simplesmente nem tentei. Depois disto passei acreditar em gnomos e coisas do gênero.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

A política e a rede social

Ouest France

Justice et Liberté
Lundi 8 juin 2015

Commentaire:
La politique autrement
http://politique.blogs.ouest-france.fr/archive/2015/06/08/la-politique-autrement-14219.html#more 

O artigo fala sobre a questão do impasse que todo mundo está passando: de um lado a política tradicional, doutro as redes sociais. A questão é muito mais complicada do que esta dualidade monolítica. Como fazer a transição entre as estruturas administrativas e gerenciais que existem e o mundo novo, se é que ele realmente existe, das redes sociais. Meu medo está na negação do passado que se tem feito do que nos trouxe até aqui, e a vontade de se jogar numa novidade, a rede social, que ninguém sabe exatamente o que é. Acredito que o caminho estará entre os dois polos. "Não existe milagre", não existe situação pronta, tudo se tem que trabalhar, conversar, dialogar, ceder, ceder, ceder. 
O ponto principal não está sendo discutido, que é mais gente que nossas forças e o planeta pode aguentar. Tudo está entrando em colapso e deve piorar. A população não para de crescer e envelhecer, uma fórmula matemática que tende a dar erro constante. 
Ainda vou escrever sobre minha palestra no Velo City por que "Rede social, Qualidade e Equidade" tem justamente a ver com toda esta história. Estou publicando o link deste artigo pela ironia do destino de que tenha sido publicado agora, logo depois que ninguém entendeu uma palavra do que disse.  E como PS.: Não entenderam por que eu não soube deixar o recado, o que é relativamente comum. Se tiver um amigo que consiga ler o texto em francês peça uma ajuda por que vale a pena. Aliás, francês é uma língua que traz uma bela abertura de horizontes.  

viajar como um adolescente

A bicicleta preta, básica, frágil, seis marchas, manetes plásticos, freios em aço, bagageiro de aço fininho, para-lamas, é uma brincadeira meio inconsequente de quem definitivamente não quer voltar a juventude, mas quer rir das próprias loucuras passadas. "Ou você ri da vida, ou a vida vai rir de você", diria minha mãe, mulher de rara sabedoria. 
Em Nantes, pela manha, toquei os alforges da coitada da bicicleta, mais a mochila, duas travas, mala-bike, e carrinho de carregar os alforges, e deu nisto que se vê na foto. Quando olhei a 'coisa' desandei a rir sem parar. "Vai desmontar. E eu vou ficar louco".
Felizmente as estradinhas para ciclistas e pedestres daqui, Pays de la Loire, França, são de uma 'lisura' de casca de pêssego. Mesmo os poucos trechos de terra são muito lisos, sem um buraco. A bicicleta não chacoalha, do contrário ainda estaria chegando ao fim do primeiro trecho. 
A paisagem é bonita e fica mais agradável por causa da limpeza e ser muito bem cuidada. Como paisagem a nossa, tropical, não existe; dá de dez a zero. Em compensação as cidadezinhas são maravilhosamente bem cuidadas, floridas, limpas, tranquilas, impecáveis. Almocei muito bem num café a beira de um córrego. Um pão de forma com fatias muito finas de maçã verde, camembert, mel, e curry, que foi levado ao forno e servido com uma simples salada de pequenas alfaces. Recomendo a receita, simples e deliciosa.
A bicicletinha veio vem até aqui e tudo indica que continuará assim. Tenho que dar um tapa na centragem da roda traseira e só. Normal para uma bicicleta nova. 
Sinceramente recomendo que se leia os sites sobre cicloturismo, em especial o ótimo Clube de Cicloturismo do Brasil, antes de viajar. E não tente repetir as besteiras deste Arturo. Eu só estou viajando no meu passado. 
Preferia estar acompnhado, o que recomendo a todos. 

sábado, 6 de junho de 2015

Ciclos da vida

Vir aqui para Nantes e estar no Velo City foi uma experiência muito estranha. Não tenho mais quase nada a ver com toda esta coisa da bicicleta. Ficaram ótimos amigos e uma geração que me deixa esperançoso. Meu tempo se foi, como é natural para todos. A maioria de vocês provavelmente não consegue colocar o dedão do pé na boca, o que qualquer bebe faz brincando. No geral as coisas melhoram, mesmo que você fique mais velho, enrugado, lento e peidorento!
Vim para cá por que quis o destino. Por pura brincadeira fiz a inscrição de ideias que venho juntando a tempo na última hora do último dia. Sabia do Velo City pelo Eric Ferreira que havia me pedido minha colaboração num trabalho genial que ele estava inscrevendo. A minha palestra "Qualidade e Equidade", que na criação do abstrato obrigatório foi levemente modificada pelo Eric para "Redes Sociais, Qualidade e Equidade" emplacou. O trabalho do Eric, "Velocidade efetiva", não. Depois entrou, depois saiu, depois entrou e finalmente aqui, na hora H não foi apresentado. Uma confusão só. Não muito diferente do que aconteceu com o meu.
Enfim, quis o destino que minha despedida do ativismo pela bicicleta, dessa vez uma chique e internacional, fosse aqui no Velo City. E me despedi em grande estilo: ninguém entendeu porra nenhuma de minha palestra. Pela cara das pessoas já havia percebido que minha fala estava um pouco fora da curva. Fica a esperança que tenha ficado algum petardo em alguma cabeça que lá estava, o que para mim já é bom negócio.
Tive que trocar de moradia e quando voltei estavam desmontando tudo no Velo City. O alívio que senti quando entrei no centro de convenções e vi aquilo já quase vazio foi muito grande. No final de contas, acho que alguma coisa valeu destes mais de 30 anos de trabalho. 
Amanha vou pedalar no Vale do Loire. Hoje comprei uma bicicleta muito simples e barata e só me dei conta que ela lembra demais minha primeira bicicleta quando estava fazendo os últimos ajustes. Fiquei lembrando de como, na garagem escura do meu prédio, apanhei para regular a minha primeira bicicleta, que hoje sei que era quase impossível regular. Aquela era branca e amarela, como a luz, um ponto de referência; esta é preta, cor do vazio, do recomeço. Amanha saio na porra louca, sem ter nada programado, exatamente como saia quando era jovem.
Dentro de uns dias volto a São Paulo e para a arte. Ou para um trabalho qualquer. Nâo vou deixar de fazer arte, seja lá o que signifique isto. Na fila da leitura estão livros sobre a história do transporte na Itália e França, e outros, mais preciosos, sobre a história das mulheres e das bruxas. Foram elas que de fato mudaram nossa cabeça, pode estar certo. A história é sempre dos vencedores, mas nem sempre a verdadeira. E, como dizia dona Lollia (minha mãe): O tempo diz tudo a todos.