O sistema ferroviário funciona muito
bem em toda Europa e não é diferente aqui na Itália. É um prazer e ao mesmo
tempo deprimente, pelo menos para nós brasileiros. Sou de uma geração que
quando muito pequeno ainda viajou de "piuí", trem a vapor, uma
experiência maravilhosa. E em 1976 fui para Corumbá de trem diesel; São Paulo -
Baurú, Baurú - Corumbá, uma viagem maravilhosa que não existe mais.
Estive em Baurú não faz muito tempo e vi a velha estação de passageiros
abandonada. Assim como estão todas as outras. Imagine só, a de Mairinque, do
Victor Dubugras (link abaixo), que é uma das obras primas da arquitetura brasileira e
mundial, está largada. Deprimente.
É emocionante entrar em algumas
estações. Quase tive um enfarte com a beleza da Estação Central de Milão. É de
uma beleza e imponência difícil de comparar. Fotos não fazem jus a verdade.
Tenho paixão por trens e seus sistemas
ferroviários por que foi com o surgimento deles que realmente nós entramos na
modernidade. O impacto econômico e social que a ferrovia trouxe só pode ser
comparado ao que a internet está trazendo. A comparação do impacto das
ferrovias com a Internet na vida das cidades teria sido o último trabalho de
meu irmão, o professor titular Murillo de Azevedo Marx.
Trens de alta velocidade, como este que
vim de Roma para Milão, são maravilhosos, um luxo. O serviço de bordo é ótimo,
vinho, champagne, refrigerantes, água, e uns biscoitos para beliscar. Ah! e
café expresso. A diferença para o que existia é muito grande. Gosto disso, mas
tenho muita saudade do passado.
Com maria fumaça (piuí ou trem a vapor,
como queira) a questão é ter bom vento ou a fuligem da fumaça das caldeiras
pode te deixar sujo. Trem diesel não tem este problema. Incluindo ai os velhos
trens elétricos, antigamente as janelas abriam e se podia meter a cara para
fora, o que é uma delícia e verdadeiramente um perigo. Nos mais antigos havia
espaço aberto entre os vagões, que era divertidíssimo. Viajei muito ai;
ventinho bom.
Recomendo principalmente a descida da
Serra da Graciosa, Curitiba, e os pequenos trechos de trem a vapor que ainda
existem no interior de São Paulo e em outros estados. Ainda quero fazer a
viagem Belo Horizonte - Vitória que parece ser divina. Quem fizer vai saber
sobre o que estou falando. (link abaixo)
A destruição das linhas ferroviárias no
Brasil se deu junto com o desmonte de boa parte do sistema ferroviário no
mundo. Acreditou-se que o automóvel seria o futuro, o bom futuro. Erraram feio,
como a humanidade errou outras vezes e segue errando.
É lógico que o Brasil precisa reconstruir
seu sistema ferroviário, assim como é lógico que seria de grande valia se
tivéssemos trens velozes entre as capitais e cidades grandes mais próximas.
Como qualquer outro modo de transporte as distâncias do trem deve ter um limite
econômico. Dali para frente avião provavelmente é mais interessante sobre
vários aspectos. Simples: São Paulo - Rio, 400 km, dentro do avião é 40
minutos, mas até chegar no aeroporto, embarcar, desembarcar, chegar ao destino,
é no mínimo 3 horas, para ser muito bonzinho. Num bom trem seria praticamente o
mesmo tempo. Pelo menos aqui no sul do país valeria o investimento
econômico.
Comecei dizendo que esta viagem que fiz
foi ao mesmo tempo um prazer e deprimente. Deprimente por que gostaria de saber
onde está o bilhão, ou são 2 bilhões, que já torraram no trem bala que deveria
ter ligado Rio - São Paulo já na Copa. Não teremos sequer de volta o Trem de
Prata.
Belo Horizonte - Vitória em trem: http://www.vale.com/brasil/PT/business/logistics/railways/trem-passageiros/Paginas/default.aspx
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