sexta-feira, 20 de março de 2015

Trens

O sistema ferroviário funciona muito bem em toda Europa e não é diferente aqui na Itália. É um prazer e ao mesmo tempo deprimente, pelo menos para nós brasileiros. Sou de uma geração que quando muito pequeno ainda viajou de "piuí", trem a vapor, uma experiência maravilhosa. E em 1976 fui para Corumbá de trem diesel; São Paulo - Baurú, Baurú  - Corumbá, uma viagem maravilhosa que não existe mais. Estive em Baurú não faz muito tempo e vi a velha estação de passageiros abandonada. Assim como estão todas as outras. Imagine só, a de Mairinque, do Victor Dubugras (link abaixo), que é uma das obras primas da arquitetura brasileira e mundial, está largada. Deprimente. 
É emocionante entrar em algumas estações. Quase tive um enfarte com a beleza da Estação Central de Milão. É de uma beleza e imponência difícil de comparar. Fotos não fazem jus a verdade.





Tenho paixão por trens e seus sistemas ferroviários por que foi com o surgimento deles que realmente nós entramos na modernidade. O impacto econômico e social que a ferrovia trouxe só pode ser comparado ao que a internet está trazendo. A comparação do impacto das ferrovias com a Internet na vida das cidades teria sido o último trabalho de meu irmão, o professor titular Murillo de Azevedo Marx. 
Trens de alta velocidade, como este que vim de Roma para Milão, são maravilhosos, um luxo. O serviço de bordo é ótimo, vinho, champagne, refrigerantes, água, e uns biscoitos para beliscar. Ah! e café expresso. A diferença para o que existia é muito grande. Gosto disso, mas tenho muita saudade do passado.
Com maria fumaça (piuí ou trem a vapor, como queira) a questão é ter bom vento ou a fuligem da fumaça das caldeiras pode te deixar sujo. Trem diesel não tem este problema. Incluindo ai os velhos trens elétricos, antigamente as janelas abriam e se podia meter a cara para fora, o que é uma delícia e verdadeiramente um perigo. Nos mais antigos havia espaço aberto entre os vagões, que era divertidíssimo. Viajei muito ai; ventinho bom. 
Recomendo principalmente a descida da Serra da Graciosa, Curitiba, e os pequenos trechos de trem a vapor que ainda existem no interior de São Paulo e em outros estados. Ainda quero fazer a viagem Belo Horizonte - Vitória que parece ser divina. Quem fizer vai saber sobre o que estou falando. (link abaixo)

A destruição das linhas ferroviárias no Brasil se deu junto com o desmonte de boa parte do sistema ferroviário no mundo. Acreditou-se que o automóvel seria o futuro, o bom futuro. Erraram feio, como a humanidade errou outras vezes e segue errando. 
É lógico que o Brasil precisa reconstruir seu sistema ferroviário, assim como é lógico que seria de grande valia se tivéssemos trens velozes entre as capitais e cidades grandes mais próximas. Como qualquer outro modo de transporte as distâncias do trem deve ter um limite econômico. Dali para frente avião provavelmente é mais interessante sobre vários aspectos. Simples: São Paulo - Rio, 400 km, dentro do avião é 40 minutos, mas até chegar no aeroporto, embarcar, desembarcar, chegar ao destino, é no mínimo 3 horas, para ser muito bonzinho. Num bom trem seria praticamente o mesmo tempo. Pelo menos aqui no sul do país valeria o investimento econômico. 
Comecei dizendo que esta viagem que fiz foi ao mesmo tempo um prazer e deprimente. Deprimente por que gostaria de saber onde está o bilhão, ou são 2 bilhões, que já torraram no trem bala que deveria ter ligado Rio - São Paulo já na Copa. Não teremos sequer de volta o Trem de Prata.

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