Stuttgart sofreu 53 ‘raids’ de
bombardeamento na Segunda Guerra Mundial. Era um dos principais polos
industriais principalmente por causa da Mercedes Bens e Porsche. Não ficou
completamente arrasada, como pretendiam os Aliados, mas o estrago foi para
valer e restou pouco para ser restaurado. O centro da cidade, incluindo a
estação ferroviária, é praticamente todo construções recentes, pós guerra.
Resta uma coisa ou outra anterior à guerra, como um trecho de ruas com um resquício
de traçado medieval no meio de um urbanismo cartesiano, e mais algumas
construções mais antigas, sei lá de quando. No final das contas Stuttgart tem
um centro sem graça, mas funcional.
Estava numa esquina deste
centro olhando um conjunto de edifícios modernos, quadrados, repetitivos e sem
graça, quando fui surpreendido por uma mulher que veio em minha direção dizendo
que também não gosta daquela arquitetura. “Sua expressão e o balançar da cabeça
mostram o seu desgosto. Eu também não gosto”, completou. Respondi que aquilo
era obra de quem só sabe trabalhar projetos no computador, uma geração muito
digitalizada. Ela abriu a porta do carro estacionado ao meu lado, colocou as
sacolas que transportava dentro e voltou-se para mim contando que trabalhava
numa empresa que produz justamente estes softers. “Eles são uma ferramenta
preciosa, indispensável para as empresas”. “Concordo. O problema não é a
ferramenta, mas quem a usa. A maioria desta nova geração de arquitetos não sabe
desenhar, não consegue criar na mão; não sabe o que é errar e nem tirar
proveito do erro, construir o novo e o equilíbrio a partir dai”, comentei. “Sei
o que está falando por que tenho filhos de 22 anos. Tem coisas da vida que não
adianta tentar conversar, como política e isto (apontando para a arquitetura
horrorosa), mas quando se fala sobre mídia social eles sabem tudo”.
A uma quadra da esquina fica a
avenida principal que hoje é um imenso calçadão muito largo e talvez um
quilômetro de extensão lotado de gente, lojas e alguma coisa para beber e comer.
Não há mesas na calçada, exceto umas poucas onde a avenida se abre para a
grande praça do palácio. O espírito do espaço é muito duro, formal, pouco aproveitando
as pessoas que passam na informalidade, a maioria de bem com a vida. Neste
contexto a bicicleta é mal aproveitada. Não faço ideia de qual é o percentual
de uso, mas já é sensível. Não vi paraciclos e bicicletários posicionados integrar-se
com a força que o calçadão já tem. Enfim, falta jogo de cintura por parte das
autoridades; e não é coisa desta geração X Y mediática social.
O pouco que vi da cidade
quando me movimentei de trem deixa uma curiosidade de conhecer a outra Stuttgart,
distante do centro, pedalando, mas só pago para ver caso um dia decida voltar
para revisitar os museus da Porsche e Mercedes, maravilhosos, exemplares. Eles
valem Stuttgart.
O Museu Porsche é perfeito.
Fica colado na estação de trem qualquer coisa - Porsche, tem uma arquitetura
externa agressiva, um interior muito bem resolvido, ótima iluminação interna e
um inteligente posicionamento da incrível coleção. Carros e peças mais
importantes da mostra têm o complemento de telas de toque com um preciso e
precioso material fotográfico complementar. Tudo está na dose certa, prendendo
a atenção do começo ao fim, sem cansar. Almocei no restaurante do lobby de
entrada e não recomendo. Se não fez reserva no restaurante principal coma na
cafeteria. Fiz cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança e consegui depois
do almoço ser incluído, mesmo sem ter feito reserva prévia, num dos grupos de
visita à fábrica, que fica do outro lado da rua. Levando em consideração que o
pessoal já passou pelo museu, a visita também é a dose exata para dar uma noção
cativante do processo de fabricação.
Ferdinand Porsche tem uma
história que vai muito além dos carros esportivos de luxo e das corridas. Criou
carruagens movidas a propulsão elétrica; um motor elétrico de centro de roda
adaptável a qualquer carro; o primeiro carro com propulsão híbrida elétrica / combustão,
idêntico aos usados atualmente. E muito mais. Logo depois da II Guerra Mundial
decidiu fabricar carros esportivos de luxo, o que foi então considerado uma
loucura.
O Museu Mercedes Bens está num
edifício meio cilíndrico e prateado, praticamente sozinho no espaço e por isto parece
menor que o Porsche. Parece, mas definitivamente não é. É um monstro de 6
andares com uma coleção imensa restaurada e exposta de maneira impecável. Paga-se
a entrada e se é colocado num elevador de desenho futurista que sobe direto para
o último andar, onde, por ordem cronológica, é possível ter uma visão muito
interessante da história dos automóveis movidos a motores de explosão, lógico
que na versão Mercedes Bens. É uma senhora referência. Tive que ver a coleção
em duas etapas, e não aguentaria de outra forma, mesmo ficando embasbacado com o
que está exposto. É muita coisa. Para quem entende um pouco de carro, o Museu é
uma Mercedes Bens 600 SL, o topo de linha, raríssimo no Brasil, um luxo só.
Principalmente no museu
Mercedes Bens fiquei impressionado com a quantidade de jovens que estavam lá
unicamente com seus selfies.
E ai voltamos a conversa que tive no meio da
rua.Depois coloco com calma as fotos