domingo, 29 de março de 2015

Dois museus e uma cidade

Stuttgart sofreu 53 ‘raids’ de bombardeamento na Segunda Guerra Mundial. Era um dos principais polos industriais principalmente por causa da Mercedes Bens e Porsche. Não ficou completamente arrasada, como pretendiam os Aliados, mas o estrago foi para valer e restou pouco para ser restaurado. O centro da cidade, incluindo a estação ferroviária, é praticamente todo construções recentes, pós guerra. Resta uma coisa ou outra anterior à guerra, como um trecho de ruas com um resquício de traçado medieval no meio de um urbanismo cartesiano, e mais algumas construções mais antigas, sei lá de quando. No final das contas Stuttgart tem um centro sem graça, mas funcional. 
Estava numa esquina deste centro olhando um conjunto de edifícios modernos, quadrados, repetitivos e sem graça, quando fui surpreendido por uma mulher que veio em minha direção dizendo que também não gosta daquela arquitetura. “Sua expressão e o balançar da cabeça mostram o seu desgosto. Eu também não gosto”, completou. Respondi que aquilo era obra de quem só sabe trabalhar projetos no computador, uma geração muito digitalizada. Ela abriu a porta do carro estacionado ao meu lado, colocou as sacolas que transportava dentro e voltou-se para mim contando que trabalhava numa empresa que produz justamente estes softers. “Eles são uma ferramenta preciosa, indispensável para as empresas”. “Concordo. O problema não é a ferramenta, mas quem a usa. A maioria desta nova geração de arquitetos não sabe desenhar, não consegue criar na mão; não sabe o que é errar e nem tirar proveito do erro, construir o novo e o equilíbrio a partir dai”, comentei. “Sei o que está falando por que tenho filhos de 22 anos. Tem coisas da vida que não adianta tentar conversar, como política e isto (apontando para a arquitetura horrorosa), mas quando se fala sobre mídia social eles sabem tudo”.
A uma quadra da esquina fica a avenida principal que hoje é um imenso calçadão muito largo e talvez um quilômetro de extensão lotado de gente, lojas e alguma coisa para beber e comer. Não há mesas na calçada, exceto umas poucas onde a avenida se abre para a grande praça do palácio. O espírito do espaço é muito duro, formal, pouco aproveitando as pessoas que passam na informalidade, a maioria de bem com a vida. Neste contexto a bicicleta é mal aproveitada. Não faço ideia de qual é o percentual de uso, mas já é sensível. Não vi paraciclos e bicicletários posicionados integrar-se com a força que o calçadão já tem. Enfim, falta jogo de cintura por parte das autoridades; e não é coisa desta geração X Y mediática social.
O pouco que vi da cidade quando me movimentei de trem deixa uma curiosidade de conhecer a outra Stuttgart, distante do centro, pedalando, mas só pago para ver caso um dia decida voltar para revisitar os museus da Porsche e Mercedes, maravilhosos, exemplares. Eles valem Stuttgart.
O Museu Porsche é perfeito. Fica colado na estação de trem qualquer coisa - Porsche, tem uma arquitetura externa agressiva, um interior muito bem resolvido, ótima iluminação interna e um inteligente posicionamento da incrível coleção. Carros e peças mais importantes da mostra têm o complemento de telas de toque com um preciso e precioso material fotográfico complementar. Tudo está na dose certa, prendendo a atenção do começo ao fim, sem cansar. Almocei no restaurante do lobby de entrada e não recomendo. Se não fez reserva no restaurante principal coma na cafeteria. Fiz cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança e consegui depois do almoço ser incluído, mesmo sem ter feito reserva prévia, num dos grupos de visita à fábrica, que fica do outro lado da rua. Levando em consideração que o pessoal já passou pelo museu, a visita também é a dose exata para dar uma noção cativante do processo de fabricação.
Ferdinand Porsche tem uma história que vai muito além dos carros esportivos de luxo e das corridas. Criou carruagens movidas a propulsão elétrica; um motor elétrico de centro de roda adaptável a qualquer carro; o primeiro carro com propulsão híbrida elétrica / combustão, idêntico aos usados atualmente. E muito mais. Logo depois da II Guerra Mundial decidiu fabricar carros esportivos de luxo, o que foi então considerado uma loucura.
O Museu Mercedes Bens está num edifício meio cilíndrico e prateado, praticamente sozinho no espaço e por isto parece menor que o Porsche. Parece, mas definitivamente não é. É um monstro de 6 andares com uma coleção imensa restaurada e exposta de maneira impecável. Paga-se a entrada e se é colocado num elevador de desenho futurista que sobe direto para o último andar, onde, por ordem cronológica, é possível ter uma visão muito interessante da história dos automóveis movidos a motores de explosão, lógico que na versão Mercedes Bens. É uma senhora referência. Tive que ver a coleção em duas etapas, e não aguentaria de outra forma, mesmo ficando embasbacado com o que está exposto. É muita coisa. Para quem entende um pouco de carro, o Museu é uma Mercedes Bens 600 SL, o topo de linha, raríssimo no Brasil, um luxo só.
Principalmente no museu Mercedes Bens fiquei impressionado com a quantidade de jovens que estavam lá unicamente com seus selfies.
E ai voltamos a conversa que tive no meio da rua.

Depois coloco com calma as fotos

quinta-feira, 26 de março de 2015

Zurich não é a mesma...

Conheci Zurich em 1976, voltei para cá em 1994 e agora em 2015. Pulos de 20 anos no tempo. Sempre gostei desta cidade de espírito tão suíço. Pelo menos assim era. Zurich, como o universo, está globalizado, o que tira muito do charme preciso, careta, achocolatado, simpático cartesiano que ela tinha. A cidade cresceu uma barbaridade. Há construções modernas, algumas recém acabadas, por todas partes. No trem para cá já tinha ficado impressionado com a mudança que novas rodovias e ferrovias causam na bucólica paisagem suíça. Pelo menos as vaquinhas continuam marrons como o chocolate ao leite. Óbvio que na construção do novo procuram interferir o mínimo possível no meio ambiente, mas o espaço é pouco e não dá para passar desapercebida uma estrada ou ferrovia expressa.
Ainda dentro do trem fiquei grudado na janela procurando se veria algum ciclista nas estradas secundárias que serpenteiam pelas novas estradas e ferrovias. As velhas estradinhas, impecáveis, sempre tem um sobe e desce daqueles com curvas em grampo. Nos pedais deve ser uma pauleira. O único ciclista que vi, um homem de meia idade magro, musculoso, ciclista das velhas épocas, todo paramentado, pedalava em pé, giro após giro suado, como se estivesse subindo uma escada. Não é para qualquer um, pelo menos em alguns trechos. Quando a estrada acompanha o rio no fundo de vale deve ser um sonho para pedalar. As cores da paisagem são maravilhosas, uma mistura de azul límpido, branco da neve nos picos, pedras cinza-marrom, um pouco esverdeadas, com um verde capim vivíssimo logo abaixo fechando os dois lados do vale ponteados por neve que ainda não derreteu. E pequenas cidades engolidas pela modernidade de casas e galpões construídas não faz muito tempo.
Zurich começa sei lá onde, mas longe, bem longe. Quando estive aqui lembro que começava ali, não muito longe do centro. Hoje vai tão longe que some na leve névoa do lago. Já achei estranho quando desci do trem por que a estação de trem cresceu muito. Muita gente circulando. Fora da estação ficou patente que os tempos são outros. Era tudo muito calmo. Hoje é uma cidade do mundo. Praticamente só havia suíços vestidos como suíços. Hoje o zoológico é mais variado, pelo menos aqui no Centro. Provavelmente nos bairros deve ser mais tradicional.
Tive a grande sorte de ter visto a Itália italiana, Suíça suíça, Alemanha alemã, Holanda sem tantos turistas, mas mais ou menos a mesma coisa que é hoje. Quem é novo conhece um mundo praticamente pasteurizado, mais pobre do que a confusão que existia antigamente.
Mas o que mais me chamou a atenção é a quantidade de ciclistas circulando pela cidade, que é sensível. Mais do que isto fiquei impressionado com o comportamento de uma boa parte deles, muito agressivo em se tratando de Suíça e Zurich. É uma baba pedalar no meio da rua. Os motoristas são dos mais disciplinados do mundo, mesmo com a sensível quantidade de carros esportivos sofisticados e caros circulando. O problema é a forma como a maioria dos ciclistas passa pelo pedestre, principalmente a aproximação. Me senti incomodado. Aqui, como pedestre, prefiro um milhão de vezes atravessar a rua quando está vindo um carro ou até mesmo caminhão. Pode por o pé na rua que eles param mesmo. Diga-se a verdade, uma grande parte dos ciclistas também para, mas não são todos, não mesmo.

A maioria dos ciclistas é gente bem vestida indo para o trabalho. Quem passa em roupa de franga normalmente é courrier, que são bem educados e respeitam. Bacana mesmo é ver as meninas, incluindo as senhoras, pedalando chiquérrimas. Lógico que roupa de inverno, a maioria em cores sóbrias facilita. Bicicletas normais, uma ou outra elétrica.






sábado, 21 de março de 2015

Qualidade, custo e durabilidade de calçadas e ciclovias em Milão - ERRATA

Devo fazer uma errata das grossas. Minha raiva em relação a baixíssima qualidade das obras públicas no Brasil me levaram a um erro grosseiro no texto publica ontem. Felizmente teve poucos leitores. Vamos lá corrigir.

Hoje estive com o pessoal do Ciclobby (http://www.ciclobby.it/cms/)que organizou Bicinfesta, um passeio meio manifestação que acabou em festa num parque distante do Centro de Milão. Devido a chuva e o frio foi pouca gente. Quando falei o preço do trecho de ciclovia que me foi dado pelo engenheiro Vicenzo e que cito abaixo, na Via Brera, 30,00 Euros por metro quadrado, eles deram risada. "Se fizerem este preço troco o piso de minha casa hoje" brincou um senhor artista, arquiteto e ativista. Ai me disseram que uma ciclovia pode chegar até 300 mil Euros o km linear, o que me parece muito para aqui, mas bate com o que custaria em São Paulo caso fosse feito o trabalho completo, portanto, projeto, e obra completa, do zero até a entrega de uma ciclovia absolutamente perfeita, incluindo semáforos; muito diferente do serviço porco que a administração Haddad / PT vem fazendo.
Os outros dados citados pelo engenheiro Vicenzo estão corretos. E a qualidade, ah! a qualidade, é outra, diferença de água de enxurrada para o ótimo vinho italiano. 

Vou manter o texto que escrevi por que dá uma ótima visão de como precipitação provoca erros grosseiros. Acredito que meu fraco italiano me tenha feito entender errado o preço. 

Estava fotografando esta obra de um trecho de ciclovia com reconstrução da calçada na via Brera, Centro de Milão, quando um italiano atrás de mim veio conversar. Eu disse que achava a qualidade do trabalho ótima e Vicenzo respondeu sem pensar que era ruim. "Sou engenheiro especialista nisto (calçadas e ruas) e este trabalho está mal feito". UAU! Faz muito tempo que não vejo um trabalho feito com qualidade sequer parecida com esta numa cidade brasileira. 
Quando estávamos nos despedindo me lembrei e perguntei "Quanto custa isto (a construção de uma calçada nova)". Ele rapidamente respondeu "30,00 Euros por metro quadrado" (provavelmente entendi errado). "E quanto tempo vai durar?". "De 25 a 30 anos". "Desculpe, mais uma coisa. Quanto custa o projeto?" "10% do total da obra", respondeu sem pensar.
Em São Paulo foi divulgado que o quilômetro linear de ciclovia, portanto 2.5 m X 1.000 m que é o padrão, custa em torno de R$ 600.000,00? É isto? Para quanto tempo de vida útil? E quanto custa o projeto de engenharia?
Quem quiser que faça os cálculos, mas faça bem sentado, numa cadeira bem firme. Corrigindo: Faça os cálculos, mesmo comparando com o valor dado pelo Ciclobby, mas continue sentado por que o custo da obra paulistana é alto (e o resultado ruim).
Antônio Miranda, ainda no tempo da Kassab, indagou o pessoal da Prefeitura de São Paulo sobre o custo alto, praticamente o mesmo de hoje, e não obteve resposta convincente. Segundo Miranda o custo em outras cidades do Brasil é muito mais baixo. A diferença para hoje é que naquela época se podia ver os números, saber dos procedimentos, enfim, o custo era absurdo, mas parecia estar dentro do legal. Agora parece que ninguém sabe, nem o próprio Haddad. Infelizmente as entrevistas e declarações deles sobre o causo tem confundido mais ainda. E sobre a durabilidade...
A obra de Milão vista nas primeiras 6 fotos está sendo realizado por calceteiros profissionais e tudo está encaixado alinhado, nivelado, limpo, fixo... Ops! Não sabe o que é um calceteiro? Não se preocupe, a quase totalidade dos brasileiros, incluindo ai muitos engenheiros e arquitetos que se dizem especializados em calçadas, não sabem. Calceteiro é especialista em construir calçadas, para simplificar digamos assim.
As fotos seguintes mostram outros detalhes de calçadas. Tenho muitas fotos sobre o tema, de várias cidades, e a cada foto tenho vontade de chorar de raiva. A nossa qualidade é tão ruim que até em construções de luxo se vê problemas absurdos no alinhamento e nivelamento do ‘porcelanato’.  A calçada da rua Oscar Freire, uma das mais ricas ruas do Brasil, depois de uns poucos anos está cheia de defeitos e problemas graves. Ridículo! Mão de obra no Brasil tem uma qualidade baixíssima, mas não se pode dizer uma palavra aos peões por que é politicamente incorreto. Ora! Vá catar coquinho!












sexta-feira, 20 de março de 2015

Protesto de ciclistas em São Paulo contra a paralisação das ciclovias

Mesmo de longe tenho acompanhado São Paulo. A manifestação contra a paralisação da construção das ciclovias paulistanas conseguida pelo Ministério Público, ocorrida ontem, com só 350 ciclistas, segundo a Folha de São Paulo, mostra o caminho errado que tomaram as coisas, em particular o movimento pró bicicleta. Este número de ciclistas representa muito pouco o universo dos ciclistas, principalmente dos usuários que já pedalam como modo de transporte.
Seria interessante que os ciclo-ativistas fizessem uma avaliação mais neutra sobre o que está acontecendo e de suas ações. Não tenho a menor dúvida da importância histórica de muitos ativistas de ponta, mas estes só chegarão ao seu objetivo se olharem e dialogarem com a sociedade com mais sabedoria. Um carro a menos se faz necessário, mas todo motorista é um inimigo, ou pior, um assassino em potencial, o discurso vira uma besteira sem tamanho. Boa parte dos ativistas dirige e já fui vítima de barbeiragens grosseiras tendo eles e ciclistas ao volante. Como sou ciclista e não caio nestas besteiras encarei como conflitos normais do trânsito, que aliás ocorrem em todas partes do mundo. 
O discurso centrado em ciclovias é retrógrado, pobre. É preciso dar segurança ao ciclista, pedestre, pessoas com deficiência... (estou farto de repetir isto); ou seja, é preciso utilizar o espaço público disponível de forma mais equilibrada, justa, social. Ciclovia segrega; e não é preciso ir mais longe.
Estou na Itália e fiquei pasmado por que o discurso por aqui é o mesmo. Enfim, a burrice é planetária.
Pelo que entendi o Ministério Público não foi contra a segurança do ciclista, menos ainda contra a bicicleta, mas está questionando procedimentos desta administração da Prefeitura que não estão claros ou foram simplesmente omissos, mesmo sendo obrigatórios em lei. Com o detalhe: pelo sim ou pelo não, Haddad e mais alguns desta administração do PT em São Paulo participaram dos governos Lula ou de sua brilhante companheira recém eleita Dilma, portanto são passíveis de algumas dúvidas. 
O fato é que quem está dentro da coisa da bicicleta já deve ter ouvido a tempo que havia fumaça saindo das ciclovias. Com já disse aqui, ouvi mais de uma vez o "faz", no estilo três macaquinhos, num discurso tipo "se for para nosso lado...". Isto, meus caros, é uma vergonha, se não uma burrice sem tamanho, para ser extremamente polido. Quem apoia isto está sacaneando todos nós, cidadãos, principalmente os ciclistas.

Trens

O sistema ferroviário funciona muito bem em toda Europa e não é diferente aqui na Itália. É um prazer e ao mesmo tempo deprimente, pelo menos para nós brasileiros. Sou de uma geração que quando muito pequeno ainda viajou de "piuí", trem a vapor, uma experiência maravilhosa. E em 1976 fui para Corumbá de trem diesel; São Paulo - Baurú, Baurú  - Corumbá, uma viagem maravilhosa que não existe mais. Estive em Baurú não faz muito tempo e vi a velha estação de passageiros abandonada. Assim como estão todas as outras. Imagine só, a de Mairinque, do Victor Dubugras (link abaixo), que é uma das obras primas da arquitetura brasileira e mundial, está largada. Deprimente. 
É emocionante entrar em algumas estações. Quase tive um enfarte com a beleza da Estação Central de Milão. É de uma beleza e imponência difícil de comparar. Fotos não fazem jus a verdade.





Tenho paixão por trens e seus sistemas ferroviários por que foi com o surgimento deles que realmente nós entramos na modernidade. O impacto econômico e social que a ferrovia trouxe só pode ser comparado ao que a internet está trazendo. A comparação do impacto das ferrovias com a Internet na vida das cidades teria sido o último trabalho de meu irmão, o professor titular Murillo de Azevedo Marx. 
Trens de alta velocidade, como este que vim de Roma para Milão, são maravilhosos, um luxo. O serviço de bordo é ótimo, vinho, champagne, refrigerantes, água, e uns biscoitos para beliscar. Ah! e café expresso. A diferença para o que existia é muito grande. Gosto disso, mas tenho muita saudade do passado.
Com maria fumaça (piuí ou trem a vapor, como queira) a questão é ter bom vento ou a fuligem da fumaça das caldeiras pode te deixar sujo. Trem diesel não tem este problema. Incluindo ai os velhos trens elétricos, antigamente as janelas abriam e se podia meter a cara para fora, o que é uma delícia e verdadeiramente um perigo. Nos mais antigos havia espaço aberto entre os vagões, que era divertidíssimo. Viajei muito ai; ventinho bom. 
Recomendo principalmente a descida da Serra da Graciosa, Curitiba, e os pequenos trechos de trem a vapor que ainda existem no interior de São Paulo e em outros estados. Ainda quero fazer a viagem Belo Horizonte - Vitória que parece ser divina. Quem fizer vai saber sobre o que estou falando. (link abaixo)

A destruição das linhas ferroviárias no Brasil se deu junto com o desmonte de boa parte do sistema ferroviário no mundo. Acreditou-se que o automóvel seria o futuro, o bom futuro. Erraram feio, como a humanidade errou outras vezes e segue errando. 
É lógico que o Brasil precisa reconstruir seu sistema ferroviário, assim como é lógico que seria de grande valia se tivéssemos trens velozes entre as capitais e cidades grandes mais próximas. Como qualquer outro modo de transporte as distâncias do trem deve ter um limite econômico. Dali para frente avião provavelmente é mais interessante sobre vários aspectos. Simples: São Paulo - Rio, 400 km, dentro do avião é 40 minutos, mas até chegar no aeroporto, embarcar, desembarcar, chegar ao destino, é no mínimo 3 horas, para ser muito bonzinho. Num bom trem seria praticamente o mesmo tempo. Pelo menos aqui no sul do país valeria o investimento econômico. 
Comecei dizendo que esta viagem que fiz foi ao mesmo tempo um prazer e deprimente. Deprimente por que gostaria de saber onde está o bilhão, ou são 2 bilhões, que já torraram no trem bala que deveria ter ligado Rio - São Paulo já na Copa. Não teremos sequer de volta o Trem de Prata.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Roma - errata

Devo fazer uma errata sobre o texto anterior e a farei em cima de 17 fotos de Roma. 
Para começar, qualquer policial, e são vários os grupamentos, pode aplicar todas as leis vigentes.  
Tem pichação sim, mas raras nos monumentos ou parte histórica. Infelizmente os trens urbanos estão complemente pichados. As cabeceiras das pontes também. Conversei com policiais que me disseram que a lei é dura para quem picha monumento, mas branda para o resto.

Limpeza muito cuidadosa do chão de mármore do pátio de entrada do Museo dell'Ara Pacis - maravilhoso aliás. 
 O mesmo museu. O governo italiano está com uma campanha na TV para que o povo ajude a manter os monumentos históricos do país. Já o patrimônio histórico do Brasil...

 Caminhão de lixo pichado
Cabeceira de ponte pichada.
O custo social da pichação é muito alto. Afasta as pessoas, afastando não gera trabalho e economia, com isto não gera impostos, e sem impostos os serviços sociais não podem ser oferecidos à população carente. Simples!

Infelizmente Roma ainda é a cidade do carro. O pedestre vai para a rua por que não tem calçada. O que acontece aqui é que há um acordo social que faz a situação ficar mais amena, civilizada. É este acordo social que não temos no Brasil. É cada um por si.

Primeira bicicleta elétrica que vejo que já está gasta, enferrujada, de tanto uso.


Idosos ciclistas, muito comum. Mulher com salto 10 também. 

Grafite inteligente e canoagem no rio. Que inveja!




Estacionamentos de motos e scooters tem por toda parte. É difícil ´para o motociclistas estacionar

Como em qualquer lugar civilizado do mundo 



Ciclovia, ou melhor, calçada partilhada, no Rio Tevere: vazia e mal projetada. Roma não comprou as bicicletas como realidade

terça-feira, 17 de março de 2015

Roma - São Paulo

Para quem não sabe, São Paulo é a maior cidade italiana fora da Itália. Não sei quantos são hoje, mas entre italianos e seus descendentes devemos ter pelo menos um quarto da população, ou seja, uns 3 milhões, o que a faz maior que Roma. Aqui em São Paulo os italianos tiveram um papel crucial na reconstrução de uma cidade que ainda com espírito medieval e a empurraram para o futuro do século XX. Muito da riqueza do Brasil de hoje se deve a italianada. É lógico que trouxeram suas manias, como sua forma tortuosa de fazer as coisas, mas no geral nos deixaram qualidade e graça.
Estou de volta a Roma, a Cidade Eterna. Tirando sua história, seus monumentos, a força que a faz eterna, a cidade funciona como qualquer outra cidade grande, com seu 2.5 milhões de habitantes. Estou no centro histórico, numa das ruas estreitas do emaranhado confuso do traçado urbano. Anterior à Idade Média o espaço das vias é precário, mesmo assim o convívio entre pedestres, ciclistas, fumantes, conversantes, fofoqueiros, motociclistas, scooters, automóveis e transporte coletivo é muito tranquilo. Demorei alguns dias para realizar que raramente se ouve uma buzina. Menos ainda cano de escapamento aberto, música no talo... A cidade é silenciosa e cortês. Motoristas e motociclistas esperam o pedestre fazer seu caminho ou sair da frente. Os condutores de scooters são muito menos agressivos que em Amsterdam, por exemplo. Como pitada, esta foi a primeira cidade da história da humanidade a fazer rodízio de veículos, isto na Roma antiga, ou seja, muito antes de Cristo, portanto sempre teve trânsito pesado.
Outro ponto que chama atenção é que Roma, mesmo nos pontos turísticos, é limpa, talvez não perfeita, sem absolutamente nenhum pedaço de papel no chão, mas muito limpa. As calçadas tem um piso ótimo, mas estreitas para tantos turistas. Quando não tem espaço na calçada simplesmente vão para o meio da rua, que também tem um pavimento muito bom. É confuso, mas funciona. A quantidade de idosos nas ruas é grande, alguns capengas, mas vão que vão. Excursão de colégio com crianças e adolescentes são comuns e passam para ter aulas sobre monumentos e museus.
Mesmo de noite, quando turistas e população já se recolheram, a cidade é segura. Caminha-se por todos cantos, muitos deles pouco iluminados, sem o menor receio. Não senti qualquer tensão mesmo dentro das estações de trem, que são grandes e muito agitadas. O policiamentoé muito discreto e respeitado.
Estive em Florença, Luca, Pisa e Siena. Florença é muito agitada, lotada de turista. Pisa é mais tranquila. Luca e Siena são divididas em duas partes, a área murada, histórica, e os bairros normais fora dos muros. Tudo é bem cuidado, de dar inveja. Toda cidade italiana é civilizadíssima. Não se vê um papel no chão nem nas estradas. Vi, mas não me lembro onde, uma equipe varrendo uma estrada.

A quantidade de bicicletas e ciclistas, pelo menos nesta área central e turística, é muito menor do que eu esperava. Roma é plana e o traçado urbano favorece muito a bicicleta. Sei lá, talvez os pedestres sejam tantos que tornem chato pedalar. O sistema de bicicletas coletivas está largado, enferrujado, inutilizado. Sempre ouvi que o trânsito italiano é desordenado e agressivo, mas já vi locais bem piores nos quais a bicicleta é muito usada. Creio que vi algum para-ciclo, mas não me lembro onde. As bicicletas ficam amarradas nos postes ou em qualquer coisa.  Estacionamento para motos e scooters tem em todo canto e vivem lotados. Os probleminhas de sempre, nada que dê uma pista lógica do porque se pedala tão pouco.

fato raríssimo
Infelizmente o que vi só faz piorar minha crítica à situação que São Paulo vive. Mesmo as áreas degradadas de Roma, que se veem do trem, estão mais dignas que nosso centro da cidade. A diferença se faz colocando limite. Há pichações, mas mesmo os pichadores têm um certo respeito pelo coletivo.

Vive-se uma tragédia urbana no Brasil. Tudo pelo social definitivamente não tem nada a ver com a absoluta falta de limites na qual vivemos.  

PS.: Passou um helicóptero aqui em Roma, o que é raríssimo. São Paulo tem a segunda frota do mundo. O barulho é constante e infernal. Somos agredidos de todas as partes, inclusive dos céus.