segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Hierarquia

Faz alguns dias ensinei a pedalar um jovem de 11 anos. Foi das experiências mais marcantes. A mãe telefonou, contou que ele iria para um camping em poucos dias onde provavelmente todos garotos pedalariam, que ele havia tentado, mas sem sucesso. O jovem chegou para a primeira aula acompanhado da irmã um pouco mais velha e uma senhora, uma situação normalmente constrangedora para a idade. Com jeito tímido não demorou muito a soltar-se e posicionar-se no contexto de aprendiz. Fato também notável foi sua objetividade expressa num português formal, impecável, claro e firme. Zero gíria; zero palavrão, zero rebuscamento, manha ou qualquer tipo de subterfúgio. Uma objetividade difícil até em adultos. As aulas se seguiram até um dia antes da partida para o camping, já pedalando, mas ainda sem prática, o que só a rodagem lhe dará.
A cada aula eu voltava para casa perplexo com o jovem, me remetendo ao que fui na juventude e principalmente pensando na sociedade que temos hoje no Brasil. A cada espanto com as reações tranquilas e pensadas do jovem me perguntava como seria a educação que ele recebe em casa e porque todos jovens não podem ser educados com o mesmo bom senso.

O que me passa pela cabeça é que seja uma questão de hierarquia. Há um velho ditado que diz ‘a hierarquia forma o caráter’. É bem verdade, hierarquia sempre funcionou, deu certo através da história, transformou o bicho homem ereto e ser humano e civilizado. A base da educação é o conhecimento, que só se tem através da hierarquia. O Brasil do passado, pelo menos o que conheci, tinha um grande respeito pela hierarquia, o que podia ser comprovado pelo ficar quieto para poder ouvir e aprender e assim ganhar sabedoria. Hoje estamos sendo instigados a olhar nossos próprios umbigos. Cada um olha o seu e acha lindo! Dai cai da bicicleta (antigamente dizia-se ‘cair do cavalo’) e não sabe por que.

Um comentário:

  1. Também sou da geração que estranha muito, muito mesmo essa falta de limites nas crianças de hoje em dia.

    E certamente elas "cairão da bicicleta" cada vez mais cedo. Ou, mais tristemente, perderão o braço para um tigre.

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