Faz alguns dias ensinei a
pedalar um jovem de 11 anos. Foi das experiências mais marcantes. A mãe
telefonou, contou que ele iria para um camping em poucos dias onde provavelmente
todos garotos pedalariam, que ele havia tentado, mas sem sucesso. O jovem
chegou para a primeira aula acompanhado da irmã um pouco mais velha e uma
senhora, uma situação normalmente constrangedora para a idade. Com jeito tímido
não demorou muito a soltar-se e posicionar-se no contexto de aprendiz. Fato também
notável foi sua objetividade expressa num português formal, impecável, claro e
firme. Zero gíria; zero palavrão, zero rebuscamento, manha ou qualquer tipo de
subterfúgio. Uma objetividade difícil até em adultos. As aulas se seguiram até um
dia antes da partida para o camping, já pedalando, mas ainda sem prática, o que
só a rodagem lhe dará.
A cada aula eu voltava para
casa perplexo com o jovem, me remetendo ao que fui na juventude e
principalmente pensando na sociedade que temos hoje no Brasil. A cada espanto com
as reações tranquilas e pensadas do jovem me perguntava como seria a educação
que ele recebe em casa e porque todos jovens não podem ser educados com o mesmo
bom senso.
O que me passa pela cabeça é que
seja uma questão de hierarquia. Há um velho ditado que diz ‘a hierarquia forma
o caráter’. É bem verdade, hierarquia sempre funcionou, deu certo através da
história, transformou o bicho homem ereto e ser humano e civilizado. A base da
educação é o conhecimento, que só se tem através da hierarquia. O Brasil do
passado, pelo menos o que conheci, tinha um grande respeito pela hierarquia, o
que podia ser comprovado pelo ficar quieto para poder ouvir e aprender e assim
ganhar sabedoria. Hoje estamos sendo instigados a olhar nossos próprios
umbigos. Cada um olha o seu e acha lindo! Dai cai da bicicleta (antigamente dizia-se
‘cair do cavalo’) e não sabe por que.
Também sou da geração que estranha muito, muito mesmo essa falta de limites nas crianças de hoje em dia.
ResponderExcluirE certamente elas "cairão da bicicleta" cada vez mais cedo. Ou, mais tristemente, perderão o braço para um tigre.