quinta-feira, 8 de maio de 2014

democracia e rede social

Neste ano, 2014, o planeta vai alcançar a marca de um celular por habitante. Como? Seremos então mais democráticos? Pelo que dizem por ai, sim, seremos. Eu acho que não. Seremos simplesmente os mesmos, mas agora com um celular próprio à disposição. “Alô, mamãe?” Lembre-se que tá cheio de usuário de celular que não sabe bem porque nem para que tem aquela coisa; gente assim tipo eu.
Não fosse a rádio, o telefone e a TV, já populares na Europa e Estados Unidos, é muito provável que a revolução pop, dos Beatles e sociedade, não tivesse acontecido. E foi uma puta revolução social! Aliás, não se esqueçam do pequeno detalhe chamado Segunda Guerra Mundial, findo na Europa 20 anos. A comunicação foi só uma ferramenta para transbordar ansiedades. Ficamos então mais democráticos? Sim, um pequeno passo a frente.
Como em 1969, num lugar no meio do nada, se conseguiu reunir 500.000 pessoas no Festival de Woodstock? Como funcionava a rede social da época? Como a notícia se espalhou? Foram 4 dias de música, zero de violência, praticamente zero de emergências médicas, quase um milagre tendo em vista as condições caóticas do local. Foi a apoteose do movimento hippie e sua proposta de liberdade completa. Teria sido os 4 dias de democracia plena sonhada pela nova geração de hoje?
Outro dia um jornalista que estava preparando uma matéria sobre pedalar em São Paulo saiu com esta: “A Ciclo Faixa de Domingo foi criada por pressão dos ciclistas”. Bate com alguns garotos que vieram dizer (meio que apontando o dedo) que “antes (do que não sei) o processo da bicicleta não era democrático e que não ninguém era chamado para reuniões”. Interessante ouvir estas versões. Participava das reuniões quem se interessasse, que eram poucos na época. Esta nova geração ainda não havia vindo à tona, não estava consciente, organizada ou afins. Quem esteve lá sabe que a Ciclo Faixa de Domingo foi criada por vontade do Walter Feldman, Secretário de Esportes do Município, com total apoio de Serra e boa parte dos Secretários, em especial Eduardo Jorge (SVMA) e Stela Goldstein (Chefe de Gabinete), e não por pressão dos ciclistas, que então era pequena. A Ciclo Faixa de Domingo foi resultado do cabo de força entre o irritado primeiro escalão do Governo Serra e a CET SP que negava constantemente a aprovação de todos projetos ligados à bicicleta. Foi goela abaixo. Todos, prefeitura, ciclistas e até a CET, sabiam que havia uma grande demanda reprimida, mas ninguém sabia ao certo o que aquele projeto iria dar. Enfim, não foi um processo “democrático”, pelo menos no sentido que se diz por ai, mas o resultado é a criação de massa de ciclistas que hoje faz uma pressão democrática.
Eu tenho esperança e acredito em boa parte desta nova geração, mesmo que muito deles usem de maneira pecaminosa o termo democracia. Fazer o que, muitos realmente acreditam que as redes sociais são mais democráticas do que tudo que existia antes e que vão fazer toda diferença. Será? A história diz que não é bem assim. Rede social não muda a formação intelectual, a herança genética e o caráter de quem está nela. Como o livro não mudou. Assim como, muito antes do livro, a transmissão oral da cultura.
Não é a ferramenta, é a qualidade que nos fará mais democráticos. Qualidade!

Estão pensando que se joga críquete com borduna. (“Não usa esta frase por que vai ter gente que não sabe o que é borduna e muito menos críquete”). 

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