Neste ano, 2014, o planeta vai
alcançar a marca de um celular por habitante. Como? Seremos então mais
democráticos? Pelo que dizem por ai, sim, seremos. Eu acho que não. Seremos
simplesmente os mesmos, mas agora com um celular próprio à disposição. “Alô,
mamãe?” Lembre-se que tá cheio de usuário de celular que não sabe bem porque
nem para que tem aquela coisa; gente assim tipo eu.
Não fosse a rádio, o telefone e a
TV, já populares na Europa e Estados Unidos, é muito provável que a revolução
pop, dos Beatles e sociedade, não tivesse acontecido. E foi uma puta revolução social!
Aliás, não se esqueçam do pequeno detalhe chamado Segunda Guerra Mundial, findo
na Europa 20 anos. A comunicação foi só uma ferramenta para transbordar ansiedades.
Ficamos então mais democráticos? Sim, um pequeno passo a frente.
Como em 1969, num lugar no meio
do nada, se conseguiu reunir 500.000 pessoas no Festival de Woodstock? Como
funcionava a rede social da época? Como a notícia se espalhou? Foram 4 dias de
música, zero de violência, praticamente zero de emergências médicas, quase um
milagre tendo em vista as condições caóticas do local. Foi a apoteose do
movimento hippie e sua proposta de liberdade completa. Teria sido os 4 dias de democracia
plena sonhada pela nova geração de hoje?
Outro dia um jornalista que
estava preparando uma matéria sobre pedalar em São Paulo saiu com esta: “A Ciclo
Faixa de Domingo foi criada por pressão dos ciclistas”. Bate com alguns garotos
que vieram dizer (meio que apontando o dedo) que “antes (do que não sei) o
processo da bicicleta não era democrático e que não ninguém era chamado para reuniões”.
Interessante ouvir estas versões. Participava das reuniões quem se interessasse,
que eram poucos na época. Esta nova geração ainda não havia vindo à tona, não
estava consciente, organizada ou afins. Quem esteve lá sabe que a Ciclo Faixa
de Domingo foi criada por vontade do Walter Feldman, Secretário de Esportes do
Município, com total apoio de Serra e boa parte dos Secretários, em especial Eduardo
Jorge (SVMA) e Stela Goldstein (Chefe de Gabinete), e não por pressão dos
ciclistas, que então era pequena. A Ciclo Faixa de Domingo foi resultado do
cabo de força entre o irritado primeiro escalão do Governo Serra e a CET SP que
negava constantemente a aprovação de todos projetos ligados à bicicleta. Foi
goela abaixo. Todos, prefeitura, ciclistas e até a CET, sabiam que havia uma
grande demanda reprimida, mas ninguém sabia ao certo o que aquele projeto iria
dar. Enfim, não foi um processo “democrático”, pelo menos no sentido que se diz
por ai, mas o resultado é a criação de massa de ciclistas que hoje faz uma
pressão democrática.
Eu tenho esperança e acredito em
boa parte desta nova geração, mesmo que muito deles usem de maneira pecaminosa o
termo democracia. Fazer o que, muitos realmente acreditam que as redes sociais
são mais democráticas do que tudo que existia antes e que vão fazer toda
diferença. Será? A história diz que não é bem assim. Rede social não muda a formação
intelectual, a herança genética e o caráter de quem está nela. Como o livro não
mudou. Assim como, muito antes do livro, a transmissão oral da cultura.
Não é a ferramenta, é a qualidade
que nos fará mais democráticos. Qualidade!
Estão pensando que se joga críquete
com borduna. (“Não usa esta frase por que vai ter gente que não sabe o que é
borduna e muito menos críquete”).
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