Fórum dos Leitores
O Estado de São Paulo
Exatamente como
construir casas populares sem esgoto.
Acabei sendo rude com
Fernando Ferro, Deputado Federal de Pernambuco, PT, já de cara, na nossa
apresentação, feita antes de entrar no auditório do debate realizado dia 07 de
Novembro passado, na Brasil Cycle Fair, Center Norte, sobre a questão
tributária do setor da bicicleta no Brasil. Ele parecia não conseguir entender
bem qual o papel e a importância real do setor da bicicleta em todo o contexto da
implementação de melhorias para os ciclistas. Também não entendeu bem quando eu
coloquei que a bicicleta só estava tão visível por causa da adesão da classe
média aos pedais. Mas falou sobre a diminuição dos impostos das bicicletas,
melhorias nas cidades para ciclistas e educação de todos. É o que o povo quer,
mas é muito simplista...
Fernando Ferro contou
que no fim da década de 80 fizeram uma pesquisa em Recife que apontava que o
primeiro modal de transporte, com 38%, era pedestre, e que o segundo modal era
bicicleta. Ele achou estranho aquilo, mas os fatos superaram a desconfiança. Disse
ele que a partir dai começou a se interessar pela bicicleta. Morrei em Recife
em 1981 e voltei depois para morar em Olinda em 1986 e sei bem como era, até
porque meu veículo era a bicicleta, minha velha amada preta de guerra. Naquela
época não via a bicicleta quem não queria ou quem era desvinculado da
realidade, principalmente a do povão.
A pergunta que deixo
aqui é como qualquer militante da esquerda, de um partido como o PT (Partido
dos Trabalhadores), podia se surpreender com o uso da bicicleta em larga
escala? Eles não vivem afirmando que vieram da base? Não se dizem os verdadeiros
conhecedores da realidade da massa, dos trabalhadores, dos mais pobres e
oprimidos? Então, nunca tinham visto ou desconheciam a massa de ciclistas
trabalhadores das fábricas, comércio e serviço que circulavam pelas madrugadas
periféricas rumo ao relógio de ponto? Era impossível que sindicalistas e toda esquerda
não tivesse visto o trânsito de bicicletas rodando por Jaboatão dos Guararapes,
Recife, Olinda, Paulista, em qualquer hora do dia, mesmo com o calor de racha
coco. Difícil acreditar que não tivessem sido instigados pelas notícias dos
imensos bicicletários das grandes fábricas de São Paulo e do ABC (e Diadema),
da confusa saída diária da multidão de ciclistas operários da Fundição Tupy de Joinville,
famosa, comentada até por industriais de direita. ...Cubatão, Guarulhos, Rio
Claro, Paranaguá, Baixada Fluminense, toda cidade do litoral, sertões...., em
todo Brasil, milhões e milhões de ciclistas, pelo menos uns 30 milhões naquela
época... invisíveis? Mesmo atuando com os sindicatos dentro de Caloi e Monark,
que produziam 95% das quase 3 milhões de bicicletas/ano no Brasil, este pessoal
não conseguiu imaginar onde poderia estar toda esta incrível produção?
“Bicicleta é coisa de
pobre” era a frase que estava na ponta da língua de todos; ou seja, todos
sabiam da existência da bicicleta – todos. Naquela época, décadas de 60, 70, 80,
90, a massa de ciclistas trabalhadores era proporcionalmente maior que hoje. Os
números do IBGE de 1981 provam que a bicicleta era o principal modo de
transporte do Brasil, deixando muito para trás, comendo poeira, qualquer outro
modal de transporte por veículo. Eles, a dita esquerda, desconheciam?
Hoje Fernando Ferro defende
um projeto de lei sobre redução de impostos para bicicletas. Como ele, Fernando
Ferro, será visto dentro do partido e das esquerdas que apoiaram sem restrição
o zero IPI para automóveis e se calaram sobre os até 42% de impostos incidentes
sobre o setor da bicicleta?
Espera-se que a
preocupação final não seja com os resultados políticos, como é de praxe. Para
boa parte destes novos beneméritos da bicicleta o produto final entregue à
população deve retornar em votos. Tipo assim: construir ciclovias bem visíveis
para melhorar a segurança dos ciclistas; não importando que a produção nacional
de bicicletas básicas e populares seja de baixíssima qualidade, cheia de defeitos,
portanto inseguras, muito insegura. Por exemplo, como construir casas populares
de baixa qualidade e sem esgoto.
Acabo de ler o artigo "Higher social class predicts increased unethical behavior". Na verdade a manutenção do poder poder fazer com que boa parte dos seres humanos se comportem exatamente ao contrário do que acreditavam. Esta parece ser a máxima com os partidos políticos, tão logo chegam ao poder, esquecem tudo o quanto defendiam.
ResponderExcluirhttp://www.pnas.org/content/early/2012/02/21/1118373109
Eric
Sabe Arturo, não é que eles não enxergavam isso, eles apenas achavam isso errado, quero dizer, eles achavam errado um trabalhador ter que pedalar para chegar ao trabalho. O trabalhador deveria ir de carro pq bicicleta é coisa de país pobre!
ResponderExcluirBrilhante texto, Arturo! Impressionante como o PT esqueceu quem eles representam (ou melhor representavam) e se tornaram mais um neste sistema político atrasado que temos. A bicicleta é apenas mais uma destas evidências.
ResponderExcluirO pior é a miopia destes que se dizem os que defendem os pobres e oprimidos. Bicicleta não é coisa de país pobre note-se Holanda ( pobre?),Suécia (??) Dinamarca (??), França (??), Inglaterra etc. E implementaram a política de carros para todos e agora ninguém mais consegue andar pelas cidades e os mais pobres são os que mais sofrem, como sempre!!!
ResponderExcluir