O que aconteceu comigo foi uma overdose que praticamente zerou minha glicemia, fato bastante comum (por isto aquela larica típica). O corpo estabilizou a tempo e eu tive muita sorte de sair inteiro da brincadeira. No dia seguinte à minha dita “morte” ficou clara uma dimensão mais palpável do que é vida, estar vivo, viver.
Alguns anos mais tarde; depois de
me separar perdi 10 kg em três semanas e logo em seguida fiquei duas semanas
com uma miopia muito forte. Estas duas crises me levaram a mais exames e o
início do tratamento de diabete estabelecido pelo Dr. Luís Carlos Bettarello, planejado
sem a ortodoxia que a medicina de então mandava. Na época ainda tratava-se
diabete com um “corta tudo: açúcar, massas, batatas...”, ou seja, tratamento de
choque. Em vez disto, Bettarello tratou a crise com uma mudança gradual de
hábitos, me ensinando como, quando e o que comer e beber. Funcionou tão bem que
hoje equilibro meu metabolismo só com alimentação e exercícios.
Durante anos infelizmente vi muitos
amigos simplesmente ficarem pelo caminho, mortos, transformados em zumbis ou
dependentes dos diversos tipos de drogas, químico ou sociais. Sei como é
dificílimo tirar alguém do vício e infelizmente perdi pessoas que amei (e sigo
amando) de fato porque as portas deles se fecharam.Micro e macro; ovo e galinha. Física pura de dinâmica e equilíbrio psicossocial. Yin-yang...
Rio+20. Que diferença há entre
fazer mudanças sociais em larga escala e recuperar viciados? Numa sociedade
altamente consumista, comunista de desejos, capitalista selvagem de vontades
próprias, como fazer a boiada parar de ruminar?
No fundo não há muita diferença: somos
todos biologicamente, psicologicamente e socialmente parecidíssimos; só muda o
tipo de dependência. Como podemos usar a experiência pessoal para ter um olhar
mais claro sobre a questão social? Eis a questão.
Normalmente a grande distorção
entre as realidades micro e macro está em não saber olhar-se no espelho com
isenção. O espelho sempre está muito embaçado pelo pó dos vícios sociais. Quem
sou eu? Tudo passa longe neste mundo de ilusões individualistas. A santa
inquisição está viva dentro de cada um de nós, todos nós. Estamos todos presos
no próprio círculo vicioso e a sociedade moderna aprendeu muito bem a fomentar
este círculo vicioso individual e endêmico “para o bem de todos”.
Os ditos desvios sociais sempre
foram, de uma forma ou outra, aceitos, mesmo que combatidos com crueldade, para
dar vazão as incertezas próprias da inteligência (ou estupidez) humana. Exemplo
leve e triste: a experiência do espontâneo Festival de Woodstock foi engolida e
absorvida pela sociedade para dar vazão a um novo e imenso mercado voltado para
pseudo-revolucionários-pacifistas. Este pessoal consumiu e ficou quieto, como
sempre aconteceu. A máquina do progresso azeitou seus problemas. “O sonho
acabou”. A bicicleta, antes coisa de pobre e atraso de vida, hoje é carro chefe
de um sem número de publicidades cheias de status (qual não se sabe). A história se repete. A criatura engole o criador, faz a digestão e caga novos criadores. Quem somos nós, tropa de frente do tempo ou inocentes úteis? Depende da qualidade do que deixamos plantado. Ganha quem viciar mais.
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