quarta-feira, 13 de junho de 2012

Rio+20 e os vícios


Eu tive 4 pré-comas glicêmicas e um apagão completo, um tipo de morte de curta duração, experiências que fizeram toda diferença no meu olhar para a vida. Eu já havia tido 3 pré-comas e mesmo assim o Rui, um primo de minha mãe que então era considerado um dos melhores médicos especialistas em diabete, afirmava que eu não era diabético. Ele seguiu os conceitos da medicina de seu tempo. E eu quase acabei no apagão.

O que aconteceu comigo foi uma overdose que praticamente zerou minha glicemia, fato bastante comum (por isto aquela larica típica). O corpo estabilizou a tempo e eu tive muita sorte de sair inteiro da brincadeira. No dia seguinte à minha dita “morte” ficou clara uma dimensão mais palpável do que é vida, estar vivo, viver.

Alguns anos mais tarde; depois de me separar perdi 10 kg em três semanas e logo em seguida fiquei duas semanas com uma miopia muito forte. Estas duas crises me levaram a mais exames e o início do tratamento de diabete estabelecido pelo Dr. Luís Carlos Bettarello, planejado sem a ortodoxia que a medicina de então mandava. Na época ainda tratava-se diabete com um “corta tudo: açúcar, massas, batatas...”, ou seja, tratamento de choque. Em vez disto, Bettarello tratou a crise com uma mudança gradual de hábitos, me ensinando como, quando e o que comer e beber. Funcionou tão bem que hoje equilibro meu metabolismo só com alimentação e exercícios.
Durante anos infelizmente vi muitos amigos simplesmente ficarem pelo caminho, mortos, transformados em zumbis ou dependentes dos diversos tipos de drogas, químico ou sociais. Sei como é dificílimo tirar alguém do vício e infelizmente perdi pessoas que amei (e sigo amando) de fato porque as portas deles se fecharam.
Micro e macro; ovo e galinha. Física pura de dinâmica e equilíbrio psicossocial. Yin-yang...   

Rio+20. Que diferença há entre fazer mudanças sociais em larga escala e recuperar viciados? Numa sociedade altamente consumista, comunista de desejos, capitalista selvagem de vontades próprias, como fazer a boiada parar de ruminar?
No fundo não há muita diferença: somos todos biologicamente, psicologicamente e socialmente parecidíssimos; só muda o tipo de dependência. Como podemos usar a experiência pessoal para ter um olhar mais claro sobre a questão social? Eis a questão.

Normalmente a grande distorção entre as realidades micro e macro está em não saber olhar-se no espelho com isenção. O espelho sempre está muito embaçado pelo pó dos vícios sociais. Quem sou eu? Tudo passa longe neste mundo de ilusões individualistas. A santa inquisição está viva dentro de cada um de nós, todos nós. Estamos todos presos no próprio círculo vicioso e a sociedade moderna aprendeu muito bem a fomentar este círculo vicioso individual e endêmico “para o bem de todos”.
Os ditos desvios sociais sempre foram, de uma forma ou outra, aceitos, mesmo que combatidos com crueldade, para dar vazão as incertezas próprias da inteligência (ou estupidez) humana. Exemplo leve e triste: a experiência do espontâneo Festival de Woodstock foi engolida e absorvida pela sociedade para dar vazão a um novo e imenso mercado voltado para pseudo-revolucionários-pacifistas. Este pessoal consumiu e ficou quieto, como sempre aconteceu. A máquina do progresso azeitou seus problemas. “O sonho acabou”. A bicicleta, antes coisa de pobre e atraso de vida, hoje é carro chefe de um sem número de publicidades cheias de status (qual não se sabe).

A história se repete. A criatura engole o criador, faz a digestão e caga novos criadores. Quem somos nós, tropa de frente do tempo ou inocentes úteis? Depende da qualidade do que deixamos plantado. Ganha quem viciar mais.

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