sexta-feira, 29 de junho de 2012

A imprensa falando de trânsito


Cada vez que leio uma matéria sobre trânsito de pedestres e ciclistas na imprensa brasileira tenho a sensação que o texto foi escrito por um motorista que por coincidência é jornalista. Diferente de artigos sobre economia, literatura, política, artes, crime e tantos outros temas específicos, que claramente são escritos por especialistas, pessoas que estudam o tema, sabem sobre o que falam, os textos sobre trânsito pecam pela pouca consistência. Pecam pelo precário conhecimento sobre a lei e ignorância das sutilezas da técnica viária e principalmente sobre as reais causas dos acidentes.

Jornalismo só existe se for investigativo. Mas, infelizmente, não é o que acontece no caso das bicicletas. Durante anos o mote foi ciclovia. Agora é capacete. Algumas vezes são os equipamentos obrigatórios (por lei), aos quais obviamente é acrescido o capacete, que não é obrigatório. Com uma rápida é possível descobrir que ciclovias por si só não resolvem a segurança do ciclista (e que em algumas situações até pioram); que a maioria das lesões na cabeça acontecem em áreas onde o capacete não cobre...;  que documentos oficiais de várias cidades do Canada, Austrália, França, dentre inúmeras outras, não deixam qualquer dúvida que capacete resolve muitíssimo menos (ou praticamente nada) do que o forte lobby da indústria faz crer...
Com um pouco de investigação é possível entender porque o brasileiro não tem refletores em suas bicicletas. Um pouco mais e se descobre que a curva dos acidentes é mais alta em período noturno e que refletores de fato fazem uma grande diferença. O problema está na abraçadeira. Como? Abraçadeira? O caminho para esta e outras respostas está nas bicicletarias. Bicicletarias? Ou melhor, na lixeira de cada uma das bicicletarias de periferia.

Por que ciclistas morrem nas estradas? Quanto é responsabilidade do ciclista, do motorista, da via, do projeto técnico, e dos veículos envolvidos no acidente? Como caminho para uma investigação fica a recomendação uma conversa com o pessoal que faz atendimento de pista. A bicicleta, o veículo, vai entrar na história. De volta à bicicletarias e bem vindo às entidades representativas do setor. Por que?
Como escrever um texto isento se por princípio o tema causa medo? Quem são os entrevistados para os assuntos da bicicleta? Especialistas em trânsito de veículos motorizados e transporte de massa, e ou cicloativistas. Ou técnicos de trânsito do próprio poder público, para quem a bicicleta é mais um problema. O que tirar das entrevistas se o assunto provoca medo no jornalista? Bicicleta é segura?
Somos todos pedestres. Durante décadas, e até hoje, a quase totalidade dos textos jornalísticos responsabilizaram condutores de veículos ou pedestres, sem qualquer análise isenta sobre questões técnicas e burocráticas, principalmente no que se refere ao conjunto de leis que diz respeito à responsabilidade de quem assina o projeto de uma simples faixa de pedestre e da via onde ela está pintada, por exemplo.

O posicionamento de uma faixa de pedestre é determinado por uma série de fatores, basicamente pelos fatores automóvel, pedestre e geometria da via. Está no manual. Ou um pouco mais: velocidade do automóvel, tipo de veículo circulando, largura e topografia da via, sinalização existente e necessária, tempo de cruzamento do pedestre... Ou ainda um pouco mais além: perfil psicológico dos condutores que trafegam pela área, influencia do meio ambiente local, interferência de placas de publicidade e de trânsito, tempo de reação dos condutores, posicionamento do olhar, tipo e qualidade do pavimento; quantidade, diâmetro e alinhamento de postes, qualidade da calçada... E algumas outras coisinhas mais. Dentre elas um fator sutil: fluidez. Fluidez! É o peixe mais difícil de ser pescado.

A imprensa brasileira tem sido crucial para a transformação deste Brasil. Nós brasileiros devemos muito aos seus profissionais. Mas, infelizmente, a questão do trânsito ainda é escrita por motoristas que acreditam estar fazendo jornalismo.

terça-feira, 26 de junho de 2012

NY Times - bicicletas coletivas em NY e aumento de acidentes

http://www.nytimes.com/2012/06/23/nyregion/liu-warns-of-lawsuits-with-citys-bike-share-program.html?_r=1&emc=eta1

Silêncio urbano

Hoje fui fazer a inspeção veicular do velho e bom carrinho. Passou fácil. Mas pediram para que entrasse em outra baia para fazer a medição de emissão sonora, o que me causou estranheza. O atendente logo explicou: “Fazemos (a medição) em veículos que estão fora do padrão ou por amostragem. O seu caso é amostragem”. E a experiência acabou sendo proveitosa porque descobri porque veículos naturalmente barulhentos passam no teste. Simples: as medidas são tomadas em rotações até 2.000 giros e o padrão de emissão sonora é fornecido pelo fabricante. Só pode ser brincadeira.

Lembrei de minha avó, Carminho, que teve um Fuscão envenenado com motor 1600 e comando P2 ou P3. É lógico que, mesmo com uns 70 e muitos anos de idade, ela jogava um tijolo no acelerador e saia apavorando. Dirigir mantendo até os 2.000 giros? Nem aquele motor, nem qualquer outro carro. Gostaria de saber quantos conseguem dirigir no trânsito numa faixa de giro tão baixa. Esta medição é, para ser extremamente educado, “falha”. Em trânsito normal praticamente todos os veículos emitem ruídos, principalmente motos que tem o motor exposto.

Quem deve estabelecer normas e padrões saudáveis para a população é o governo, o poder público, e não os fabricantes. Provavelmente está ai a razão da brutal diferença entre o pouco barulho das cidades europeias e nossas cidades quase ensurdecedoras.

Para quem pedala a diferença de volume de som do trânsito é muito grande, não só para os ouvidos. Quanto menos tensionado pelo trânsito o ciclista pedalar, mais seguro estará. Esta verdade vai muito além da proximidade física com os carros e motos, da necessidade de ciclovias. A Ciclovia da Radial Leste, que foi implantada entre uma via expressa e o muro do Metro, é ótimo exemplo. Praticamente não é usada porque é ensurdecedor pedalar ali. Não precisa tanto; basta sair de um lugar movimentado e entrar num parque para sentir do descarrego sonoro.

Já quase cai da bicicleta por ter tomado um susto sonoro. A primeira foi quando estava completamente distraído perto da cabeceira da pista do Aeroporto de Congonhas e passou aterrissando um velho 737 de turbinas finas, as antigas e infernalmente barulhentas. O mesmo com motos e carros esportivos acelerando na minha orelha só para fazer graça. Sem falar na infeliz mania de usar a buzina sem necessidade. Sem qualquer comentário sobre os tunados da vida.

Manter o silêncio é uma questão de civilidade. Está mais que provado que manter o padrão sonoro dentro de um limite tem uma relação direta com diminuição de agressividade, violência, stress, e outras tantas doenças sociais e psicológicas. Uma das melhores qualidades da bicicleta é ensinar ao usuário o valor de rodar sem ser percebido, sem incomodar ninguém, possibilitando ouvir a vida.


segunda-feira, 25 de junho de 2012

Sorrir para Vida: o trabalho numa ONG

É impossível fazer uma transformação social sem um trabalho conjunto. Tristemente movimentos sociais tem sido usados de maneira inadequada, ou como inocentes últeis, ou como laranjas, o que vem manchando a idéia original, que por sinal é ótima.
Com estes vídeos sobre administração de ONGs quero tentar dar uma base de compreensão sobre como deve ser o funcionamento (honesto) de uma organização social sem fins lucrativos e como chegar aos resultados esperados. Há muita gente séria que merece ser ouvida e seguida como exemplo.
Não há outra saída: ou se faz em conjunto ou continuaremos a reboque dos bandidos, todos eles, até os votados.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

“Ciclista fura sinal e morre em colisão com micro-ônibus”

O Estado de São Paulo
São Paulo Reclama:

A pergunta é: por que o adolescente cruzou o sinal vermelho? A resposta mais óbvia e comum é que a maioria dos ciclistas evita perder o embalo. E a pergunta que ninguém faz é sobre a qualidade da bicicleta e sua capacidade de frear. Bicicletas, como a que está no foto da reportagem, costumam ser de baixa qualidade e ter sistema de freio precário ou que simplesmente não funciona. Ainda pela foto, acredito que os freios sejam de aço recoberto por plástico e os manetes de freio em plástico, uma combinação sem qualquer eficiência.
Quem trabalha em rodovias, principalmente as concessionadas, dizem que o número de acidentes causados por falha mecânica da bicicleta é muito alto, acima de 35%, o que não é tão difícil de comprovar. Basta revirar o lixo de bicicletarias de bairro. Os fabricantes de bicicletas no Brasil que estão oficializados (com CMPJ e etc..) afirmam que o índice de informalidade do setor é altíssimo, próximo aos 50%. Muita bicicleta montada sequer tem alguma marca que indique procedência. Não há qualquer controle oficial, assim como desconheço a existência de pelo menos um técnico ou perito especializado em bicicletas trabalhando no Brasil. Se houvesse provavelmente no número de acidentes envolvendo ciclistas seria muito menor.
Não há qualquer número oficial, mesmo que especialistas de trânsito e transporte reconheçam que mui provavelmente a bicicleta é o veículo mais usado no Brasil, com uma frota que seguramente ultrapassa 50 milhões de bicicletas, segundo as entidades representativas do setor (legalizado). O último senso do IBGE que incluiu a bicicleta foi em 1981.
Nesse imenso desprezo e desrespeito oficial, a responsabilidade sempre vai recair sobre o ciclista, principalmente os de baixa renda que são presa fácil de fabricantes, contrabandistas e bicicletarias despreparadas ou de má fé.

Artigo publicado no caderno Cidades/Metrópole, pg. C6, Sexta-feira, 22 de Junho de 2012, do jornal O Estado de São Paulo.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Poluição

Um dia entrei em casa, depois de dar uma voltinha com os meus cachorros, sentei, o Zumbi subiu no meu colo e o cheiro de poluição de seu pelo chegou a me incomodar. Confesso que fiquei deprimido. Pensei nos meus netos, nas crianças, nos cachorros que passeiam pelas calçadas. E olha que no bairro a maioria dos carros e motos está em bom estado, não soltam fumaça que se possa perceber, e ônibus só a dois quarteirões de distância.
            Na mesma época eu estava trabalhando num projeto em outro município, que não tem controle veicular, e cada vez que circulava pedalando naquelas ruas e avenidas voltava para casa preto de poluição e cheirando horrorosamente mal. O que saia do nariz era assustador. Motociclista sabe bem do que estou falando. A diferença é que com a bicicleta eu procuro ficar o mais longe possível de ônibus e caminhões.     Foi quando pedalei pela primeira vez no meio do trânsito pesado de Paris que percebi quão ruim é a qualidade de nosso ar. Não consegui sentir praticamente nenhum cheiro, mesmo ao lado de um ônibus. Estava de camiseta branca e ela continuou branca. Em casa cheirei minhas roupas e praticamente nada. O mesmo para o caos de Nova Iorque.
            Não sei o que acontece, mas a cada ano que passa tenho mais problemas com a garganta. Não é uma questão de variação de temperatura, nem de frio, porque em Paris variações e frio foram maiores que as nossas e sai de lá perfeito. Deve ser o ar daqui. Mesmo com o novo diesel, se é que já está sendo distribuído, o número de veículos circulando aumentou tanto que é possível sentir o ar mais pesado. Antigamente até que era divertido surfar com a bicicleta no mar de carros parados. Perdeu a graça. Aliás, nem para bicicletas há mais espaço. Nem ar. Agora, mais que nunca, os caminhos alternativos são a saída saudável para o ciclista. Avenidas? Tá louco.
            Se servir de consolo para nós das duas rodas, quanto mais próximo do solo pior a poluição. Motoristas respiram um ar muito pior que ciclistas por estar mais baixo e próximo da fonte poluente, o cano de escapamento. Ouvi isto em 1997 da boa figura Andreas Marker, na época trabalhando para a GTZ, Cooperação Técnica Alemã. E soube sobre a questão do tamanho das partículas de poluição. Quanto mais fino o particulado pior. Tempos depois foi publicado que a forma como medimos poluição não é adequada e que as medidas da CETESB pouco servem. Estamos muito longe de ter a qualidade de ar de outros países ricos. Triste.

NY Times - Dropping helmet laws to reduce a town's risk

Uma autoridade sensata ou irresponsável? Quando lerem o artigo abaixo lembrem que a lei Americana e o sistema judiciário funcionam mesmo. E tirem suas conclusões.

http://www.nytimes.com/2012/06/19/us/to-avert-liability-washington-town-drops-helmet-laws.html?_r=1&emc=eta1

terça-feira, 19 de junho de 2012

“Contran libera advertência (por escrito),

... em vez de multa, para infrações leves e médias. Dentre as quais (caixa texto dentro do artigo): “Leves: Estacionar em calçada. Estacionar em faixa de pedestre. Médias: Excesso de velocidade (até 20%). Desrespeitar rodízio. Fechar cruzamento. Circular com luzes queimadas.” “Os beneficiados são aqueles sem antecedentes...”

Só pode ser piada. A prioridade é a preservação da vida. É questionável que estes artigos sejam considerados infrações leves porque atentam contra o próprio CTB. Um carro estacionado sobre a calçada obriga uma mãe com carrinho de bebe a ir para a rua e ficar completamente exposta ao perigo, por exemplo. O posicionamento da faixa de pedestre na via é definido por critérios técnicos que levam em consideração vários fatores de segurança para pedestres e condutores de veículos. Qualquer veículo ou situação que impeça a correta utilização da faixa de pedestre não só está colocando em risco vidas, como arrebentando todo esforço no sentido da correta e legal utilização da sinalização existente.

Acredito que o CONTRAN tenha consciência que a maioria dos acidentes, principalmente atropelamentos e colisões envolvendo ciclistas, ocorrem no período noturno, portanto trafegar sem luz... Acredito também que devam ter conhecimento sobre os custos previdenciários relativos a doenças respiratórias geradas por poluição veicular; fruto principalmente de engarrafamentos; vide cruzamentos. Etc...

O que o CONTRAN diz com é “Você ganha um prêmio por ser bonzinho”. Não! É inaceitável porque atenta contra a vida. “A Resolução 404 publicada” é mais um ato de boa vontade irresponsável. Aponta para um CONTRAN cego para a realidade extremamente violenta de nosso trânsito. Cria um buraco jurídico. Como se julga um acidente provocado por um “beneficiado por bons antecedentes?” Pedagogia? O Brasil está cansado de ver o péssimo resultado deste tipo de afago. A lei existe para ser cumprida – sempre e por todos, sem exceção. O contrário faz algo como 35 mil mortos/ano. Escolha.

Artigo publicado no caderno Metrópole, pg. C1, Terça-feira, 19 de Junho de 2012, do jornal O Estado de São Paulo.

carta enviada ao O Estado de São Paulo; São Paulo Reclama:

segunda-feira, 18 de junho de 2012

carta ao SP Reclama, do Estadão: Mortes de pedestres caem 43,6% no Centro

Depois da matéria "Mortes de pedestres caem 43,6% no Centro - Dados se referem aos dez meses de campanha de redução de atropelamentos", fica a pergunta: quem se responsabiliza pelas dezenas de milhares de mortes ocorridas até hoje nesta capital? O Ministério Público vai continuar acreditando que a responsabilidade é de só pedestres, motociclistas, ciclistas e motoristas, sem olhar as responsabilidades estabelecidas pelo Código de Trânsito Brasileiro? Ou a lei é falha?

NY Times: ciclista mata pedestre em São Francisco

Recomendo a leitura deste artigo do NY Times:
http://www.nytimes.com/2012/06/16/us/san-francisco-cyclist-charged-with-manslaughter.html?_r=1&emc=eta1
Esta é uma situação que já passamos aqui no Brasil e que ainda não repercutiu na imprensa. Seria bom que o pessoal que está a frente tivesse uma base para lidar com um caso inevitável de morte causado por ciclista.
Eu já tive a experiência, faz muito tempo, de um juiz que estava julgando a colisão frontal de dois ciclistas ligar para casa para pedir ajuda. Hoje a situação seria diferente, com uma repercussão pesada e negativa.
Todos nós sabemos que há muita fumaça, portanto deve haver fogo. Ouve-se muitas histórias, nunca confirmadas, sobre acidentes graves em parques, ciclovias e ciclo faixas de lazer.
Hoje há grande interesse por parte de autoridades para que a coisa da bicicleta tenha boa imagem. Mas...

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Mobilização de resultados

Rio+20 e os vícios


Eu tive 4 pré-comas glicêmicas e um apagão completo, um tipo de morte de curta duração, experiências que fizeram toda diferença no meu olhar para a vida. Eu já havia tido 3 pré-comas e mesmo assim o Rui, um primo de minha mãe que então era considerado um dos melhores médicos especialistas em diabete, afirmava que eu não era diabético. Ele seguiu os conceitos da medicina de seu tempo. E eu quase acabei no apagão.

O que aconteceu comigo foi uma overdose que praticamente zerou minha glicemia, fato bastante comum (por isto aquela larica típica). O corpo estabilizou a tempo e eu tive muita sorte de sair inteiro da brincadeira. No dia seguinte à minha dita “morte” ficou clara uma dimensão mais palpável do que é vida, estar vivo, viver.

Alguns anos mais tarde; depois de me separar perdi 10 kg em três semanas e logo em seguida fiquei duas semanas com uma miopia muito forte. Estas duas crises me levaram a mais exames e o início do tratamento de diabete estabelecido pelo Dr. Luís Carlos Bettarello, planejado sem a ortodoxia que a medicina de então mandava. Na época ainda tratava-se diabete com um “corta tudo: açúcar, massas, batatas...”, ou seja, tratamento de choque. Em vez disto, Bettarello tratou a crise com uma mudança gradual de hábitos, me ensinando como, quando e o que comer e beber. Funcionou tão bem que hoje equilibro meu metabolismo só com alimentação e exercícios.
Durante anos infelizmente vi muitos amigos simplesmente ficarem pelo caminho, mortos, transformados em zumbis ou dependentes dos diversos tipos de drogas, químico ou sociais. Sei como é dificílimo tirar alguém do vício e infelizmente perdi pessoas que amei (e sigo amando) de fato porque as portas deles se fecharam.
Micro e macro; ovo e galinha. Física pura de dinâmica e equilíbrio psicossocial. Yin-yang...   

Rio+20. Que diferença há entre fazer mudanças sociais em larga escala e recuperar viciados? Numa sociedade altamente consumista, comunista de desejos, capitalista selvagem de vontades próprias, como fazer a boiada parar de ruminar?
No fundo não há muita diferença: somos todos biologicamente, psicologicamente e socialmente parecidíssimos; só muda o tipo de dependência. Como podemos usar a experiência pessoal para ter um olhar mais claro sobre a questão social? Eis a questão.

Normalmente a grande distorção entre as realidades micro e macro está em não saber olhar-se no espelho com isenção. O espelho sempre está muito embaçado pelo pó dos vícios sociais. Quem sou eu? Tudo passa longe neste mundo de ilusões individualistas. A santa inquisição está viva dentro de cada um de nós, todos nós. Estamos todos presos no próprio círculo vicioso e a sociedade moderna aprendeu muito bem a fomentar este círculo vicioso individual e endêmico “para o bem de todos”.
Os ditos desvios sociais sempre foram, de uma forma ou outra, aceitos, mesmo que combatidos com crueldade, para dar vazão as incertezas próprias da inteligência (ou estupidez) humana. Exemplo leve e triste: a experiência do espontâneo Festival de Woodstock foi engolida e absorvida pela sociedade para dar vazão a um novo e imenso mercado voltado para pseudo-revolucionários-pacifistas. Este pessoal consumiu e ficou quieto, como sempre aconteceu. A máquina do progresso azeitou seus problemas. “O sonho acabou”. A bicicleta, antes coisa de pobre e atraso de vida, hoje é carro chefe de um sem número de publicidades cheias de status (qual não se sabe).

A história se repete. A criatura engole o criador, faz a digestão e caga novos criadores. Quem somos nós, tropa de frente do tempo ou inocentes úteis? Depende da qualidade do que deixamos plantado. Ganha quem viciar mais.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Building true green economy


CSE Director Sunita Narain wrote an excellent article on 'Green Economy' for World
Environment Day. Her analysis of the World's harsh realities and plea to become part of
'Environmentalism of the Poor' make a true message for Rio+20 (20-22 June).

http://www.downtoearth.org.in/content/building-true-green-economy

Bicycles will undoubtedly be seen at Rio+20, active transport easily serves as an icon to build
a green and sustainable image. However, taking active transport serious means stepping
away from the icon of cheap and easy gains. In order to substitute 20% of transport
emissions, cycling mobility needs to be developed from a common >2% trip share to a 5%
critical mass for real scale jumps to 15% (cycling cities) to 30% (Netherlands) to 50% (climate
target). For developing critical mass, in infra and society, and for creating scale jumps, in infra
and society, we need investments and innovations at the level of electric vehicle development
targeting at the other 50% trip share.
In order to play its role internationally the Dutch knowledge on bicycle infrastructure must
innovate towards creating scale jumps (infra, performance) and partner with local knowledge
on local development (society). Which is my message to Dutch delegates at Rio+20.


Jaap Rijnsburger
~ ~ ~
Cycling Lab ~ Fietslab
Raaigras 12, 2804NC Gouda, The Netherlands,
tel: +31 (0)6 270 55 865 ~ skype: Jaap_Rijnsburger

Social enterprise of Rijnsburger-MOX ~ KvK nr 24347662

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Dois exemplos


Sexta-feira, 02 de Junho de 2012, estive no evento realizado na Assembleia dos Deputados do Estado de São Paulo e promovido pelo Partido Verde relativo ao Dia do Meio Ambiente. Foi uma experiência assas interessante e ao mesmo tempo um tanto assustadora. O evento foi levado por políticos ligados a grupos evangélicos, com leitura de Salmo, agradecimentos a Deus, cantorias gospel, e homenageados: “o secretário de Saneamento e Recursos Hídricos Edson Giriboni; a atriz Letícia Sabatella, ativista social e ambiental; a jornalista e cicloativista Renata Falzoni; o projeto TAMAR-Ubatuba, o Portal Ciclo Vivo; e a estilista que atua com moda sustentável Consuello Matroni” (lista retirada do site do PV); mais o Prefeito de Rio das Pedras e Marcelinho Carioca (não citados pelo site do PV).

Entre os acontecimentos que me pareceram “exóticos”, o Prefeito de Rio das Pedras recebeu sua homenagem e fez o agradecimento para “meu pastor”, no caso o presidente da mesa (Deputado do Estado de São Paulo pelo PV), como se aquilo fosse uma conversa entre amigos de culto e o povo ali sentado (eleitores) simplesmente não existisse.

Outra situação que não entendi bem foi uma das razões para a homenagem para Marcelinho, que parece ser um empreendimento que os dois, Marcelinho e alguém da mesa diretora, têm em conjunto. De novo, e me desculpem, mas não entendi bem o que eles falaram; ou se entendi direito prefiro não ter entendido.

Creio que todo aquele evento esteja gravado na TV Assembleia SP para quem quiser ver. Desculpem, mas que Assembleia era aquela, a do povo de São Paulo ou a de Deus? Não tenho a menor dúvida que dentro da casa que representa o povo qualquer solenidade ou evento de caráter oficial deve se ater a um formalismo chato, mas neutralizador, que serve exatamente para respeitar todos credos, raças, gêneros, etc.., sem qualquer exceção. Protocolo, meus caros, protocolo! O Estado não deve ser laico?

Infelizmente a política no Brasil virou uma terra de ninguém. Gostaria de conhecer alguém que se sente representado para entender as coisas. Vai ver que mudou algo que eu ainda não pesquei e que é bom. Eu não consigo enxergar. Sinto o Brasil de meus sonhos profundamente traído e quero achar um caminho para reconstruí-lo. Isto que está ai é...





Na manha seguinte ao evento na Assembleia aconteceu uma reunião promovida pelo Ciclocidade e Ciclobr para preparação de um documento reivindicatório que será entregue aos candidatos à Prefeitura de São Paulo. A reunião foi clara, objetiva, focada, demonstrando que temos uma nova geração de lideranças que sabe o que quer e faz corretamente. O documento que será criado tem por base uma pesquisa realizada, que está tabulada, foi apresentada e discutida de maneira neutra, madura para entrar em outro estágio de revisão e só então sairá o documento final; como deve realmente deve ser feito.

Sai de lá realmente feliz, principalmente porque venho, desde os anos 80, chamando as lideranças da bicicleta para fizessem isto, sem grande sucesso. Até criei uma espécie de manual para criação de um documento reivindicatório no site Escola de Bicicleta - http://www.escoladebicicleta.com.br/cicloativismoEB.html - para ver se estimulava outros manifestos, mas desconheço algum resultado. Ficaria muito feliz se estiver enganado. Aqui em São Paulo principalmente eu e o Sérgio Luís fazíamos toda eleição um documento reivindicatório próprio para o momento e eleição e saíamos entregando, mas definitivamente dois pássaros não fazem revoada. Hoje, pelo que vi, temos uma bela revoada de pássaros que querem voar longe e conhecem um norte. Parabéns garotada!




Acredito que o Brasil está passando por um dos piores momentos da história que eu vivi. Quando tudo está aparentemente tranquilo é que as pessoas relaxam e põe tudo a perder. Não se perde oportunidades. Dinheiro não nasce em árvore. Não tenho dúvida que o Brasil está desperdiçando uma oportunidade única para construir um futuro. O que temos é uma imensa ilusão, ou pior ainda: uma monstruosa enganação. A base de sustentação do país hoje, infraestrutura, educação, saúde, segurança social, é muito mais frágil do que era antes. Cidades justas, equilibradas, com futuro, não se fazem com IPI baixo, estímulo ao carro individualista, TV e linha branca. Se isto ai é socialismo, sou mico de circo de cavalinhos.

E ai vivencio estes dois exemplos sociais, um oficial, de partido político importante, numa casa de representantes importantíssima no cenário brasileiro; e o outro realizado por um grupo de jovens “internéticos” da sociedade civil.  Pena que vocês não estivem juntos para ver os eventos tirar suas próprias conclusões.

sábado, 2 de junho de 2012

B.O.


Algumas lógicas parecem que são difíceis de ser aprendidas. Há alguma razão humana que faz com que as pessoas tenham grande dificuldade de entender que 1 mais 1 tem como resultado 2, nem mais nem menos. Mas é assim que caminha a humanidade. Uns mais, outros menos. Somos todos humanos. Buscamos paz e felicidade por caminhos que facilmente transformam 1 mais 1 em qualquer coisa, e ai os resultados normalmente acabam bem longe do esperado.

Uma destas somas mal feitas é acreditar que 1 (leia-se “um”), no caso “eu próprio”, não precisa de outro 1 (leia-se “um”) para se transformar em dois. A famosa equação do individualismo, tão praticado principalmente no trânsito brasileiro ou na segurança pessoal (dentre outros). É acreditar que tocando sozinho vai fazer som de orquestra. Definitivamente não vai – ponto final!

Para ter uma orquestra afinada é necessário ter um grupo de músicos com noção de coletivo e um maestro, que conhece a partitura, sabe ouvir, reconhece as qualidades, defeitos e erros de cada um dos músicos. Quanto mais afinado o trabalho de todos melhor o resultado. Se houver um individualismo, um achismo, um que não queira ou consiga se encaixar, e pronto, a música vai doer no ouvido. Explicação óbvia. Exatamente o mesmo vale para segurança. Metáfora não tão óbvia.

Simples: ou todos temos segurança ou ninguém tem segurança de fato. Não há variáveis. Segurança só existe num casamento estável com o coletivo. É uma questão de inteligência. Coletividade: foi assim que a humanidade se desenvolveu. Esta é a razão porque surgiram os agrupamentos sociais e as cidades. É uma questão de sabedoria, de construção uma matemática prática: dois são mais fortes que um. De garantir e facilitar a vida própria, individual, em todos sentidos. Um por todos, todos por um. Etc...

Infelizmente nossa educação vai muito mal das pernas e o brasileiro não aprendeu bem contar além do “um”. Imagine fazer um mais um... Salve-se quem puder! O resultado é que a maioria dos acidentes e crimes simplesmente não é registrada em Boletim de Ocorrência, portanto não ajuda a formar uma inteligência. “É chato...” “Vou perder meu tempo”. “Não adianta nada...” O fácil se transformou num monstro; num dos países mais violentos do mundo. Não conseguimos aprender que “o barato sai caro, muito caro, absurdamente caro”.

E ai ficamos com inveja de países onde o trânsito não é perigoso e o índice de criminalidade é praticamente zero. Qual é a diferença? Precisa explicar?

O que transforma esta minha “ironia” difícil de engolir é que o Brasil se transformou num dos gigantes da economia mundial, portanto há um Brasil coletivo que é exemplar.