Cada vez que leio uma matéria sobre trânsito de pedestres e ciclistas na imprensa brasileira tenho a sensação que o texto foi escrito por um motorista que por coincidência é jornalista. Diferente de artigos sobre economia, literatura, política, artes, crime e tantos outros temas específicos, que claramente são escritos por especialistas, pessoas que estudam o tema, sabem sobre o que falam, os textos sobre trânsito pecam pela pouca consistência. Pecam pelo precário conhecimento sobre a lei e ignorância das sutilezas da técnica viária e principalmente sobre as reais causas dos acidentes.
Jornalismo só existe se for investigativo.
Mas, infelizmente, não é o que acontece no caso das bicicletas. Durante anos o
mote foi ciclovia. Agora é capacete. Algumas vezes são os equipamentos
obrigatórios (por lei), aos quais obviamente é acrescido o capacete, que não é
obrigatório. Com uma rápida é possível descobrir que ciclovias por si só não
resolvem a segurança do ciclista (e que em algumas situações até pioram); que a
maioria das lesões na cabeça acontecem em áreas onde o capacete não cobre...; que documentos oficiais de várias cidades do
Canada, Austrália, França, dentre inúmeras outras, não deixam qualquer dúvida que
capacete resolve muitíssimo menos (ou praticamente nada) do que o forte lobby
da indústria faz crer...
Com um pouco de investigação é
possível entender porque o brasileiro não tem refletores em suas bicicletas. Um
pouco mais e se descobre que a curva dos acidentes é mais alta em período
noturno e que refletores de fato fazem uma grande diferença. O problema está na
abraçadeira. Como? Abraçadeira? O caminho para esta e outras respostas está nas
bicicletarias. Bicicletarias? Ou melhor, na lixeira de cada uma das
bicicletarias de periferia.
Por que ciclistas morrem nas estradas? Quanto é responsabilidade do ciclista, do motorista, da via, do projeto técnico, e dos veículos envolvidos no acidente? Como caminho para uma investigação fica a recomendação uma conversa com o pessoal que faz atendimento de pista. A bicicleta, o veículo, vai entrar na história. De volta à bicicletarias e bem vindo às entidades representativas do setor. Por que?
Por que ciclistas morrem nas estradas? Quanto é responsabilidade do ciclista, do motorista, da via, do projeto técnico, e dos veículos envolvidos no acidente? Como caminho para uma investigação fica a recomendação uma conversa com o pessoal que faz atendimento de pista. A bicicleta, o veículo, vai entrar na história. De volta à bicicletarias e bem vindo às entidades representativas do setor. Por que?
Como escrever um texto isento se
por princípio o tema causa medo? Quem são os entrevistados para os assuntos da
bicicleta? Especialistas em trânsito de veículos motorizados e transporte de
massa, e ou cicloativistas. Ou técnicos de trânsito do próprio poder público,
para quem a bicicleta é mais um problema. O que tirar das entrevistas se o
assunto provoca medo no jornalista? Bicicleta é segura?
Somos todos pedestres. Durante
décadas, e até hoje, a quase totalidade dos textos jornalísticos responsabilizaram
condutores de veículos ou pedestres, sem qualquer análise isenta sobre questões
técnicas e burocráticas, principalmente no que se refere ao conjunto de leis
que diz respeito à responsabilidade de quem assina o projeto de uma simples
faixa de pedestre e da via onde ela está pintada, por exemplo.
O posicionamento de uma faixa de pedestre é determinado por uma série de fatores, basicamente pelos fatores automóvel, pedestre e geometria da via. Está no manual. Ou um pouco mais: velocidade do automóvel, tipo de veículo circulando, largura e topografia da via, sinalização existente e necessária, tempo de cruzamento do pedestre... Ou ainda um pouco mais além: perfil psicológico dos condutores que trafegam pela área, influencia do meio ambiente local, interferência de placas de publicidade e de trânsito, tempo de reação dos condutores, posicionamento do olhar, tipo e qualidade do pavimento; quantidade, diâmetro e alinhamento de postes, qualidade da calçada... E algumas outras coisinhas mais. Dentre elas um fator sutil: fluidez. Fluidez! É o peixe mais difícil de ser pescado.
A imprensa brasileira tem sido crucial para a transformação deste Brasil. Nós brasileiros devemos muito aos seus profissionais. Mas, infelizmente, a questão do trânsito ainda é escrita por motoristas que acreditam estar fazendo jornalismo.
O posicionamento de uma faixa de pedestre é determinado por uma série de fatores, basicamente pelos fatores automóvel, pedestre e geometria da via. Está no manual. Ou um pouco mais: velocidade do automóvel, tipo de veículo circulando, largura e topografia da via, sinalização existente e necessária, tempo de cruzamento do pedestre... Ou ainda um pouco mais além: perfil psicológico dos condutores que trafegam pela área, influencia do meio ambiente local, interferência de placas de publicidade e de trânsito, tempo de reação dos condutores, posicionamento do olhar, tipo e qualidade do pavimento; quantidade, diâmetro e alinhamento de postes, qualidade da calçada... E algumas outras coisinhas mais. Dentre elas um fator sutil: fluidez. Fluidez! É o peixe mais difícil de ser pescado.
A imprensa brasileira tem sido crucial para a transformação deste Brasil. Nós brasileiros devemos muito aos seus profissionais. Mas, infelizmente, a questão do trânsito ainda é escrita por motoristas que acreditam estar fazendo jornalismo.