sábado, 11 de fevereiro de 2012

Pedalar às margens do Pinheiros

A primeira que vez que entrei para pedalar nas duas margens do rio Pinheiros creio que tenha sido com Sérgio Luis Bianco, Adriano, mais alguém da Eletropaulo, e se não me falha a memória, Renata Falzoni estava junto; não me lembro bem quando, mas lá pelos idos de 84 ou 86. Já naquela época havia alguns projetos para implantar ciclovias nas estradinhas de terra de manutenção. A pedalada foi muito divertida, uma aventura num dia bonito. Creio que Renata ainda tenha fotos. Não me lembro por onde entramos e por que margem rodamos.
Em 1992 morava no Itaim Bibi e fui trabalhar na Caloi. Ia praticamente todos dias de bicicleta, e algumas vezes cheguei a pegar a estradinha de terra que vai da ponte João Dias, passa pelo Centro Empresarial e termina na avenida Guarapiranga, então os fundos da fábrica da Caloi. Algumas poucas vezes cheguei a ir em frente e seguir até a usina da Traição, passando em frente ao Parque Burle Marx, onde há uma espécie de barranco que dá para brincar de mountain bike. Eduardo Ramires quis transformar a área em local de treinamento, mas não conseguiu.

Na época era possível cruzar o rio pela antiga ponte João Dias, que estava desativada, e sair na ou Marginal Pinheiros ou na estradinha de terra junto à linha do trem, onde hoje está a Ciclovia Marginal Pinheiros. Era divertido porque não havia ninguém, mas alguns dias o cheiro do rio era insuportável, outros a quantidade de mosquitos impossibilitava respirar, e em algumas raras situações o clima ficou tenso, principalmente debaixo da João Dias, onde apareciam uns tipos nada agradáveis. Numa tarde havia um carro de polícia guardando um presunto queimado, cena nada agradável.

Uns anos depois voltei lá sozinho para checar como estava o trecho que vai da avenida Guarapiranga pelo canal e segue até a barragem da Represa Billings pelo rio, um pedaço bem interessante para pedalar e reurbanizar. Mais outros anos e segui em frente numa vistoria, a pedido de Reginaldo Paiva, da CPTM, acompanhando a linha do trem até Grajaú, onde hoje está uma estação do Metro-CPTM e terminal de ônibus. Só me falta pedalar pelo trecho que vai da barragem até a ponte do Socorro, o que hoje é fácil porque é coberto pela ciclovia. Também nunca pedalei no trecho do Jóquei / Jardins e da USP / Alto de Pinheiros, que acaba de receber mais um trecho da ciclovia.

Apesar de gostar da experiência e do entusiasmo da maioria, sempre fui contra colocar uma ciclovia às margens do Pinheiros. Vento, mosquitos, cheiro, inutilidade para modo de transporte e principalmente custo foram e são meus argumentos. Desde o primeiro momento sempre vi a bicicleta como modo de transporte, portanto enxerguei e sonhei com um plano cicloviário completo e integrado para deslocamentos práticos, o que tira o sentido de levar os trabalhadores para as margens do rio. Continuo acreditando nesta tese.  Há nesta ciclovia do Pinheiros a questão do alto custo de implantação. O que está implantado lá custou muito e não deve parar por ai. O custo mais pesado ainda virá com as pontes de acesso, estas sim dinheiro pesado, muito pesado. A meu ver, antes desta ciclovia de uso quase que exclusivo para lazer, deveria ser implantado uma rede de caminhos internos nos bairros na escala do Centro Expandido, mais até Santo Amaro numa ponta, e até Penha noutra pelo menos.

Participei de várias reuniões para vários planos ligados ao rio Pinheiros. O primeiro foi o da Eletropaulo, o que depois gerou um projeto que pretendia ligar o Parque Ibirapuera com a Cidade Universitária da USP pela av. Juscelino Kubistchek, passando pelo Clube do Mé, que hoje o Parque do Povo, com uma bela ponte de pedestres ciclistas cruzando o rio em paralelo a ponte Cidade Jardim, seguindo avenida do Jóquei até o portão principal da USP. Este foi um projeto que deu dor no coração não ter saído do papel porque fazia sentido. A Ciclo Faixa de Domingo veio décadas depois, seguiu basicamente o mesmo trajeto, precisa de uma logística de funcionamento bastante complicada e não é perene como a idéia original.

Parece que ainda não morreu o projeto de construção da ciclovia na margem do rio oposta a que hoje tem a ciclovia. Não foi para frente porque o processo seguiu os passos normais da coisa pública e naquela margem há muito cacique tomando conta do terreiro, pelo menos uns cinco, se não me falha a memória. Tem Governo Federal, Estadual e Municipal; mais órgãos e concessionárias. Um rolo sem tamanho. Pelo que entendi, um dia o Serra cansou do andor e mandou que o Portella, então Secretário de Transportes Metropolitanos, a toque de caixa implantasse a ciclovia que hoje existe. E logo saiu do papel, passando por cima de “detalhes” e oposição interna. De uma certa forma repetiu-se o que já havia acontecido na Ciclovia Radial Leste. “Cumpra-se!”

Reginaldo Paiva sonhou em aproveitar as margens da linha da CPTM a partir de Engenheiro Evangelista, construir uma ciclovia ai, que desceria para a margem do Pinheiros, seguiria no sentido Santo Amaro, cruzaria o rio numa estrutura apoiada nos tubos da SABESP que passam paralelo a ponte do Socorro, pegaria uma via de serviço que praticamente termina no Largo 13, Santo Amaro. Nem sequer entrou em pauta por causa da reforma da linha para instalação da linha CPTM / Metro lilás.

Sonhos e trabalho para aproveitar as margens do Pinheiros não falta. Hoje vejo a questão como uma forma de recuperar os grandes rios, Tiete e Pinheiros, para São Paulo, o que é vital se quisermos um futuro para esta cidade. A ciclovia em si considero um engana bobos. Meu sonho é usar a bicicleta para ajudar a resgatar as cidades para a vida. Quando o Governo nos convidou, ciclistas, para apresentar a idéia da ciclovia Pinheiros, estava em processo a ampliação das pistas da marginal Tiete. Nesta mesma reunião falei que os ciclistas deveriam aproveitar a oportunidade para demandar do Poder Público a assinatura de um termo de compromisso, com prazos claramente estabelecidos, que definissem a desocupação das margens do Tiete, afastando os carros da água, melhorando a permeabilidade, e devolvendo para a população o que nunca lhe deveria ter sido tirado: o direito a conviver com seus rios. Esta é a única razão pela qual me parece aceitável esta ciclovia do Pinheiros.


Um comentário:

  1. Li a matéria na revista “Infraestrutura Urbana” – janeiro 2013 – “BICICLETÁRIO MODAL” mencionando o projeto para a estação ferroviária José Bonifácio.
    O ICZ – Instituto de Metais não Ferrosos – faz um trabalho de divulgação da Galvanização por Imersão a Quente, processo mais eficiente de proteção do ferro e aço contra a corrosão, através de palestras gratuitas em entidades de ensino. Temos alguns slides que mostram “Bikestation” com sistemas semelhantes ao proposto para a estação ferroviária José Bonifácio, onde as canaletas e todas as demais estruturas metálicas são galvanizadas. Conquistamos com isso, além do aumento de vida útil das estruturas, a sustentabilidade do produto e a segurança para os usuários.
    Aqui no Brasil nos deparamos hoje com várias aplicações com aços galvanizados por imersão a quente, como pórticos de sustentação em ferrovias, postes de iluminação, defensas metálicas (guard rail), grades de proteção, guarda corpos, pórticos de sinalização e seria bastante interessante que esta tendência dos bicicletários também se beneficiasse deste processo.

    Atenciosamente,

    Eng° Paulo Silva Sobrinho
    Coordenador Técnico
    ICZ – Instituto de Metais Não Ferrosos
    Fone/Fax: (55-11) 3214-1311
    paulo.sobrinho@icz.org.br
    http://www.icz.org.br
    http://www.portaldagalvanizacao.com.br



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