Inauguraram
a rampa de acesso e a própria Ciclovia do Rio Pinheiros e lá fui eu conhecê-la
neste último domingo. Esta rampa de acesso está localizada no meio da ponte,
portanto o ciclista tem obrigatoriamente que cruzar as alças da própria ponte,
o que nunca foi fácil e continua não sendo porque não há qualquer sinalização.
Bem entendido, não há sinalização para o que quer que seja: para cruzar a alça,
para indicar por onde você acessa a rampa da ciclovia ou para que o ciclista
não pedale junto aos pedestres. Existe uma placa indicando cruzamento de
pedestres, mas quem a enxergar ganha um prêmio.
Quem vem
pela Ciclo Faixa de Domingo acaba não sabendo da existência do acesso. É como
se o que é da Prefeitura é concorrente do que está sendo feito pelo Governo do
Estado. Se não é verdade..., é muito provável que seja. Os interesses políticos
são bem distintos e pelo jeito o que interessa não é o ciclista, mas a
propaganda. Pintura vermelha em via de muito trânsito se vê de longe e faz uma
propaganda fantástica. Pode não ter muito uso para o ciclista, como, por
exemplo, a Ciclovia da Radial Leste, quase as moscas, mas faz sucesso. “São Paulo
tem ciclovias!” Brilhante!!!
Como disse um marronzinho: “Este pessoal (quem
fez o projeto da rampa de acesso) acha que os ciclistas saem do nada, caem do
céu.” Deve ser. Lembrei de quando inauguraram o primeiro trecho da Ciclo Faixa
de Domingo que os técnicos da CET quiseram impor aos ciclistas que cruzassem as
ruas pela faixa de pedestre empurrando. Isto ai, genial! Cumpra-se a lei. Viaja
na maionese que faz bem. Não sei o que aconteceu aqui, neste novo acesso, mas
aposto que alguém teve mais um chilique e bateu os pés no chão. “Não faço, não
faço, não faço, porque não faço e não quero fazer!!!” Já ouvi esta. Conta uma
nova que o disco já está gasto. O que acontece nos bastidores normalmente é infinitamente
mais divertido que Escolinha do Professor Raimundo.
O acesso à
ciclovia tem que ser feito empurrando a bicicleta pela rampa. A bem da verdade,
seguindo as leis, na ponte o ciclista está circulando em espaço do pedestre,
portanto deve passar desmontado e empurrando a bicicleta, o que praticamente
ninguém faz. A calçada é estreita para a quantidade de gente circulando lá e o
número de pedestres vem aumentando com a abertura da passarela para o metrô -
CPTM, que está logo ali, também no meio da ponte e em paralelo à rampa dos
ciclistas. Para quem não é de São Paulo ou não usa o sistema, esta linha da
CPTM já estava tendo um crescimento acelerado e com a inauguração da Linha
Amarela, que faz a ligação com o Centro da cidade, o número de usuários
praticamente explodiu.
Esta nova rampa
de acesso à ciclovia praticamente inviabiliza o projeto de uma ponte específica
para pedestres e ciclistas, proposta para o local, que acabaria com todo
conflito destes com os veículos motorizados. Da forma que está hoje vai dar
muita confusão, principalmente nos bastidores. Neste ponto concordo em grau
gênero e número com a Meli e outros da CET, que querem o espaço só para
pedestres. Mas a responsabilidade é de quem sugeriu a reforma da ponte que tirou
espaço dos pedestres para dar mais uma faixa de rolamento para os veículos e fluidez
do trânsito. Aquilo deu nisto! Não existe almoço grátis!!!! Uma hora vem a conta.
Enfim chego
na nova ciclovia, vermelhinha que só não dói na vista porque o tempo está
nublado. Conforme vou rodando minha irritação inicial com o mal feito acesso
vai dando lugar a um passeio divertido, bem divertido. A paisagem tem novo
ângulo, se vê o horizonte, há um verde, a água suja do rio que não fedia, o
rodar no asfalto sem buracos. É divertido, sem dúvida.
Mas quando
passo pelos outros acessos... Haja improvisação! O da Vila Olímpia é patético. Faço
o convite para vocês verem o número de usuários da CPTM e o tamanho do problema
nas ruas de acesso às estações para entender do que falo. Antes de pensar no
ciclista todo entorno das estações tem que ser redimensionado para os usuários
da CPTM. Da forma que está agora é ridículo, humilhante, perigoso. Mais a
bicicleta ainda...?
A Estação
Santo Amaro é uma obra de arte, uma escultura gigantesca em aço oxidado, única na cidade. Deveria estar
tombada como patrimônio histórico. Colocaram uma rampa na lateral da estação que
dá para o rio e que interfere muito no projeto original. Provavelmente nem
chamaram o autor da estação para ajudar na intervenção. Triste! Mas quem se
importa? O povo quer é pedalar - a qualquer custo.
Já que estou
falando de obra de arte, este novo trecho de ciclovia, entre a Usina da Traição
e a Ponte do Jaguaré, teve um projeto do Ruy Ohtake que não sei que fim levou.
Ruy Ohtake é autor de projetos polêmicos e geniais como o hotel Unique, edifico
Tomie Ohtake, Conjunto Habitacional Heliópolis, dentre outros, e propunha uma
série de elementos que criavam referências orgânicas ao espaço. Foi criticado por
muitos, o que não quer dizer muito. Inteligência sempre é um problema para a
maioria.
Hoje está
implantado 19 km de um total de 25 km da Ciclovia Pinheiros. Parece que estão
trabalhando no acesso da estação Ceasa - Jaguaré - Parque Villa Lobos, mas
ninguém sabe quando será inaugurado. Provavelmente próximo às eleições.
O que posso
dizer é que foi divertido, bem divertido. Com sol não deve ser tão agradável assim
porque não há sombra, o vermelho da pintura do asfalto deve doer nos olhos, os
bebedouros são poucos. Confesso que tenho medo dos que vão lá para treinar. A
maioria não sabe o que está fazendo.
Tenho a
informação que durante a semana menos de 400 ciclistas usam o espaço. Nos fins
de semana, sem a inauguração deste novo trecho, um pouco mais de 1.500 pedalam
lá. No domingo estavam contando e das 5h30 até as 13h30 já tinham passado mais
de 1.500, isto com aquele tempo encrencado. Não me espanta, já que os números
da Ciclo Faixa de Domingo podem parecer bons isoladamente, mas ficam bem mais
tímidos se comparado ao total de ciclistas que estão pedalando pela cidade no
mesmo horário. E se for feito o cálculo do custo pelo número de usuários... ai
a coisa fica mais estranha. Mas quem se importa?
Esta
ciclovia, com seu traçado, não serve e provavelmente não servirá para
transporte, mesmo com mais acessos. É o que aponta a experiência internacional
e mesmo os números que temos no Brasil. Esta ciclovia nasceu da vontade do
Serra, e mais alguns do primeiro escalão de seu governo, Portella em
particular, tanto como propaganda, como para enfrentar os que eram (e
continuam) contra a bicicleta ou se atém além do sensato no labirinto da
burocracia, que é verdadeiramente uma desgraça.
Aposto
minha bicicleta como esta ciclovia de lazer atrasará mais ainda a implantação
de uma política cicloviária integrada e funcional para quem usa a bicicleta
como modo de transporte. Mas deixa bem feliz quem acha que a festa está
boa. Faz uma barulheira linda para os
políticos, sem criar pressões “desinteressantes”. Maravilha! Todo mundo acaba
feliz....
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