quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Ciclovia Pinheiros

Inauguraram a rampa de acesso e a própria Ciclovia do Rio Pinheiros e lá fui eu conhecê-la neste último domingo. Esta rampa de acesso está localizada no meio da ponte, portanto o ciclista tem obrigatoriamente que cruzar as alças da própria ponte, o que nunca foi fácil e continua não sendo porque não há qualquer sinalização. Bem entendido, não há sinalização para o que quer que seja: para cruzar a alça, para indicar por onde você acessa a rampa da ciclovia ou para que o ciclista não pedale junto aos pedestres. Existe uma placa indicando cruzamento de pedestres, mas quem a enxergar ganha um prêmio.

Quem vem pela Ciclo Faixa de Domingo acaba não sabendo da existência do acesso. É como se o que é da Prefeitura é concorrente do que está sendo feito pelo Governo do Estado. Se não é verdade..., é muito provável que seja. Os interesses políticos são bem distintos e pelo jeito o que interessa não é o ciclista, mas a propaganda. Pintura vermelha em via de muito trânsito se vê de longe e faz uma propaganda fantástica. Pode não ter muito uso para o ciclista, como, por exemplo, a Ciclovia da Radial Leste, quase as moscas, mas faz sucesso. “São Paulo tem ciclovias!” Brilhante!!!


Como disse um marronzinho: “Este pessoal (quem fez o projeto da rampa de acesso) acha que os ciclistas saem do nada, caem do céu.” Deve ser. Lembrei de quando inauguraram o primeiro trecho da Ciclo Faixa de Domingo que os técnicos da CET quiseram impor aos ciclistas que cruzassem as ruas pela faixa de pedestre empurrando. Isto ai, genial! Cumpra-se a lei. Viaja na maionese que faz bem. Não sei o que aconteceu aqui, neste novo acesso, mas aposto que alguém teve mais um chilique e bateu os pés no chão. “Não faço, não faço, não faço, porque não faço e não quero fazer!!!” Já ouvi esta. Conta uma nova que o disco já está gasto. O que acontece nos bastidores normalmente é infinitamente mais divertido que Escolinha do Professor Raimundo.

O acesso à ciclovia tem que ser feito empurrando a bicicleta pela rampa. A bem da verdade, seguindo as leis, na ponte o ciclista está circulando em espaço do pedestre, portanto deve passar desmontado e empurrando a bicicleta, o que praticamente ninguém faz. A calçada é estreita para a quantidade de gente circulando lá e o número de pedestres vem aumentando com a abertura da passarela para o metrô - CPTM, que está logo ali, também no meio da ponte e em paralelo à rampa dos ciclistas. Para quem não é de São Paulo ou não usa o sistema, esta linha da CPTM já estava tendo um crescimento acelerado e com a inauguração da Linha Amarela, que faz a ligação com o Centro da cidade, o número de usuários praticamente explodiu.

Esta nova rampa de acesso à ciclovia praticamente inviabiliza o projeto de uma ponte específica para pedestres e ciclistas, proposta para o local, que acabaria com todo conflito destes com os veículos motorizados. Da forma que está hoje vai dar muita confusão, principalmente nos bastidores. Neste ponto concordo em grau gênero e número com a Meli e outros da CET, que querem o espaço só para pedestres. Mas a responsabilidade é de quem sugeriu a reforma da ponte que tirou espaço dos pedestres para dar mais uma faixa de rolamento para os veículos e fluidez do trânsito. Aquilo deu nisto! Não existe almoço grátis!!!! Uma hora vem a conta.


Enfim chego na nova ciclovia, vermelhinha que só não dói na vista porque o tempo está nublado. Conforme vou rodando minha irritação inicial com o mal feito acesso vai dando lugar a um passeio divertido, bem divertido. A paisagem tem novo ângulo, se vê o horizonte, há um verde, a água suja do rio que não fedia, o rodar no asfalto sem buracos. É divertido, sem dúvida.

Mas quando passo pelos outros acessos... Haja improvisação! O da Vila Olímpia é patético. Faço o convite para vocês verem o número de usuários da CPTM e o tamanho do problema nas ruas de acesso às estações para entender do que falo. Antes de pensar no ciclista todo entorno das estações tem que ser redimensionado para os usuários da CPTM. Da forma que está agora é ridículo, humilhante, perigoso. Mais a bicicleta ainda...?


A Estação Santo Amaro é uma obra de arte, uma escultura gigantesca  em aço oxidado, única na cidade. Deveria estar tombada como patrimônio histórico. Colocaram uma rampa na lateral da estação que dá para o rio e que interfere muito no projeto original. Provavelmente nem chamaram o autor da estação para ajudar na intervenção. Triste! Mas quem se importa? O povo quer é pedalar - a qualquer custo.

Já que estou falando de obra de arte, este novo trecho de ciclovia, entre a Usina da Traição e a Ponte do Jaguaré, teve um projeto do Ruy Ohtake que não sei que fim levou. Ruy Ohtake é autor de projetos polêmicos e geniais como o hotel Unique, edifico Tomie Ohtake, Conjunto Habitacional Heliópolis, dentre outros, e propunha uma série de elementos que criavam referências orgânicas ao espaço. Foi criticado por muitos, o que não quer dizer muito. Inteligência sempre é um problema para a maioria.

Hoje está implantado 19 km de um total de 25 km da Ciclovia Pinheiros. Parece que estão trabalhando no acesso da estação Ceasa - Jaguaré - Parque Villa Lobos, mas ninguém sabe quando será inaugurado. Provavelmente próximo às eleições.

O que posso dizer é que foi divertido, bem divertido. Com sol não deve ser tão agradável assim porque não há sombra, o vermelho da pintura do asfalto deve doer nos olhos, os bebedouros são poucos. Confesso que tenho medo dos que vão lá para treinar. A maioria não sabe o que está fazendo.

Tenho a informação que durante a semana menos de 400 ciclistas usam o espaço. Nos fins de semana, sem a inauguração deste novo trecho, um pouco mais de 1.500 pedalam lá. No domingo estavam contando e das 5h30 até as 13h30 já tinham passado mais de 1.500, isto com aquele tempo encrencado. Não me espanta, já que os números da Ciclo Faixa de Domingo podem parecer bons isoladamente, mas ficam bem mais tímidos se comparado ao total de ciclistas que estão pedalando pela cidade no mesmo horário. E se for feito o cálculo do custo pelo número de usuários... ai a coisa fica mais estranha. Mas quem se importa?


Esta ciclovia, com seu traçado, não serve e provavelmente não servirá para transporte, mesmo com mais acessos. É o que aponta a experiência internacional e mesmo os números que temos no Brasil. Esta ciclovia nasceu da vontade do Serra, e mais alguns do primeiro escalão de seu governo, Portella em particular, tanto como propaganda, como para enfrentar os que eram (e continuam) contra a bicicleta ou se atém além do sensato no labirinto da burocracia, que é verdadeiramente uma desgraça.

Aposto minha bicicleta como esta ciclovia de lazer atrasará mais ainda a implantação de uma política cicloviária integrada e funcional para quem usa a bicicleta como modo de transporte. Mas deixa bem feliz quem acha que a festa está boa.  Faz uma barulheira linda para os políticos, sem criar pressões “desinteressantes”. Maravilha! Todo mundo acaba feliz....

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