quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Eu não quero velório nem missa de 7° dia

Acabo de vir da missa de 7 dia de um primo. Igreja cheia.

Eu não quero. Como disse Paulo antes de morrer: Eu não vou estar presente, portanto não façam (a missa).

A coisa que mais me irrita é ouvir de amigo quando este me apresenta para alguém, "Arturo é o maior conhecedor das coisas da bicicleta no Brasil". Doi no fígado.
Sempre gostei do meu canto, nunca fui afeito a elogios, passei toda minha vida aprendendo muito mais com as críticas, que sempre considerei mais que bem vindas. Ficar só me faz bem. Trabalho, penso, me divirto, leio, vejo besteiras. Conviver com outros eu adoro, mas canso com certa rapidez, mesmo que o contato seja ótimo. Preciso de minha solidão para respirar.

Não quero sequer velório. Custa caro e reúne gente que só se reúnem nos velórios. Que desperdício deles. Como seria bom vê los com frequência. Como eram bons os tempos de portas abertas, casa cheia, conversa farta, gente inteligente. Já naquele tempo, bons tempos, eu precisava respirar, ia para a cozinha organizar o que servir ou lavar pratos. Ah! Lavar pratos.

Eu dispenso velório e missa de 7° dia. Reúnam se num café expresso com mesinhas na rua, vai ser infinitamente mais agradável que o maldito café com bolachinhas do velório. Ademais, cheiro de flores de caixão...

Muito menas

Vai que meu velório estoure nas mídias sociais. Não posso, porque é proibido, ser colocado no caixão nú. Nossa, quanto narciso! Narciso porra nenhuma.

Descobri que enterrar nu "não pode" quando estavam preparando o corpo de meu irmão. Fui levar a garrafa de Coca-Cola, a original, de vidro, cheia, é  lógico, para por no caixão e dei com os funcionários de olho nos sapatos italianos que Teresa e Cida escolheram para vestir o meu querido defunto irmão. Aliás, ele estava vestido de gala, terno, camisa, gravata, tudo chiquérrimo. "Que loucura! O que é isso?" falei rindo olhando para Teresa. Perguntei quanto os funcionários calçavam, um deles batia, e disse para pegar os sapatos. "Aliás, deixa ele nú, que era o que mais gostava na vida. Trabalhou muito, trabalhou duro, fez um trabalho importante para esta cidade e para o Brasil, trabalhou em casa horas a fio sem parar, e sempre nú, nú como um indio. Despe ele. São Pedro não vai notar". E a resposta veio melancólica: "Não podemos, a lei não permite". 'Que porra! Nem na morte se tem paz'.

Pulei de paraquedas uma vez. Divino. Repetiria caso saltasse solo, o que só depois de muita aula. Se me mandarem pro inferno, que tem grande possibilidade, vou poder despencar num solo. Se me mandarem subir vou fazer o caminho inverso, o que como última vontade prefiro fazer só. Enfim, pelo menos na morte quero fazer o que bem entender. 

Na vida, de duas coisas ninguém foge, pagar impostos e morrer. Já que eu vou estar morto espero que não me imponham mais nada.

Como dizia sempre meu irmão: vamos comemorar!
Já que não estarei junto digo: vão comemorar.
 

PS. Estou vivinho da silva é assim pretendo ficar. A bicicleta me espera 

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