quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Cidades esponja e a morte de seu símbolo do bem

A perda de peças cruciais para o real progresso da humanidade e planeta acontece, mas não deveria acontecer. O acidente fatal envolvendo o genial arquiteto chines Kongjian Yu, criador e divulgador das cidades esponja, me embrulhou o estomago. No mesmo acidente foram vítimas Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz, cineasta documentarista; Rubens Crispim Jr., diretor e documentarista, e o piloto e dono do avião Marcelo Pereira de Barros. A verdade é que os quatro são perdas preciosas. Fernando e Rubens tem trabalhos reconhecidos, pelo que soube agora de uma qualidade acima da média. 

No caso especifico de Kongjian Yu o golpe foi forte porque mesmo antes de ter ouvido sobre o que são as cidades esponjas já tinha me apaixonado pelo tema do controle das águas.

Mesmo sendo ciclista e tendo começado minha vida nos pedais com bicicletas com rodas 27 e pneus 1³/4, duros e pouco absorventes de irregularidades, não gostei nada quando começaram asfaltar ruas calçadas em paralelepípedo, que passaram a alagar mais ainda depois de asfaltadas. Quando vi os primeiros projetos de ciclovias em canteiro central de avenidas dei um pulo da cadeira no meio da reunião e reclamei: "numa cidade já muito impermeável vocês ainda querem colocar ciclovias no meio verde das avenidas, local onde absorve chuva?". Por prática, por ter pedalado boa parte da cidade de São Paulo, sabia bem a importância dos caminhos para ciclistas correrem junto com as águas, em particular com córregos. O Ciclo Rede Butantã previa a criação de 5 parques lineares junto a córregos. Mais ou menos na mesma época cai de amores com o Projeto Córrego Limpo Sabesp. E morri de inveja quando conheci o trabalho do Bueno e seu Ruas e Rios. Tive a sorte de ser contratado, junto com Eric Ferreira, para fazer o funcional de uma ciclovia no entorno da Represa Guarapiranga, quando apresentamos uma ideia de recuperação de boa parte das margens e integração com os parques lineares do Projeto Córrego Limpo que já estavam em andamento. Meu último trabalho, como consultor, mais uma vez previa recuperação de águas, e porque não dizer criar áreas esponja, um termo que não tinha pensado. 

Como cidadão não tenho como agradecer a Kongjian Yu pelo legado deixado. E espero que o documentário que estava sendo preparado por Fernando e Rubens seja terminado e venha a público. Pelo que se sabe, Marcelo tinha o avião e pilotava para apresentar o maravilhoso Pantanal, pois aqui vai meu merecido agradecimento a você, Marcelo.

Sinto profundamente a perda de todos. Obrigado, obrigado. Tocaremos em frente.


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