sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Mais ciclistas morrendo? Como?

Uma série de notícias aponta um aumento nestes últimos seis meses de 69% nas mortes de ciclistas no Município de São Paulo. Numa das reportagens, da Globo, diz "Todas (mortes) em vias sem ciclovias ou ciclofaixas". Noutra reportagem do SPTV, também da Globo, aparece como causas destas mortes acidentes com "ônibus, carro, bicicletas, pedestres". Colisão entre ciclistas e atropelamento de pedestre como causa de morte de ciclista é mais que uma novidade estatística. Ônibus e carros sempre foram declarados pelos cicloativistas como assassinos, agora se deve incluir nesta lista macabra pedestres e, pasmem, bicicletas ou negar a realidade excluindo as bicicletas, o que não seria fora do trivial. Enfim, somos todos iguais. 

Colisão ou incidente entre ciclistas é fato corriqueiro e não é de agora. A liberdade dos ciclistas para fazerem o que bem entendem não tem nenhuma novidade, sempre foi assim, parte por que as informações e a cultura de como conduzir uma bicicleta sempre foram anárquicas, parte pela completa ausência do poder público em promover a educação e a segurança de todos no trânsito, óbvio incluindo ai ciclistas. Eu colocaria mais um fator gerador desta situação fatal: uma engenharia de trânsito quase completamente voltada para a fluidez dos veículos motorizados, o que induz, melhor, não dá outra alternativa a pedestres e ciclistas que inventar caminhos, fazer o que dá na cabeça, e infringir a lei. Nestes pontos acima pode estar a justificativa para várias mortes. Brasil é um dos países campeões mundiais de violência, precisa dizer mais? 

Quanto deste aumento de mortes se deve a acidentes entre ciclistas e atropelamentos de pedestres eu não consegui encontrar. Também não consegui encontrar as causas dos acidentes "todos fora de ciclovias e ciclofaixas". No Infosiga é possível ver um mapa e as localidades, mas não o detalhamento e é justamente o detalhe que importa. Por exemplo, se o ciclista morreu saindo da ciclovia, do outro lado da rua, num ponto de acesso usado por ciclistas e pedestres, mas não sinalizado, para a estatística, também para as autoridades, e principalmente para os leigos, a ciclovia não tem nada a ver com o acidente e a morte. Se o ciclista vinha na contramão distraído no celular e encheu o capo de um carro para muitos o trânsito é que é perigoso e é necessária a construção de mais e mais ciclovias. E aí vai, a ciclovia ainda é a solução para todos males, amém. 

A saber; até mesmo cicloativistas mais aguerridos quando podem estão pedalando fora da ciclovia porque se sentem mais seguros no meio dos carros. Conclua o que bem entender. 

O fato é que aumentar de 14 para 25 ciclistas mortos em acidentes chama atenção, principalmente quando se fala em aumento de 78%, um número alto, 78%. Número bruto sempre impressiona. Isto me lembra aquele livro genial "Como mentir com estatísticas" de Darell Heff, de 1959. Para a verdadeira segurança no trânsito o que realmente importa são as causas precisas dos incidentes e acidentes, sem qualquer sensacionalismo, todos, não só os mortais. 

Ainda segundo a reportagem da Globo número de ciclistas circulando pela cidade aumentou de 304 mil em 2007 para 377 mil em 2017, o que me impressiona pelo crescimento baixo, muito aquém do esperado. Se cresceu só isto as críticas feitas aos 400 km de ciclovias e ao discurso de quanto mais km melhor são mais que pertinentes. 

Terminando: desde que este CTB entrou em vigor fui contra e tentei derrubar a obrigatoriedade da pintura de ciclovias e ciclofaixas, seja vermelha, verde, azul ou qualquer cor. Num país onde não há dinheiro sequer para as coisas essenciais pintar de cabo a rabo é um absurdo. Quis e continuo querendo que se pinte única e exclusivamente, aí com tinta de qualidade e com preço honesto, cruzamentos ou pontos onde seja realmente necessário para a segurança do ciclista, do pedestre e demais condutores. Pintar tudo é ótimo só para político.


Só mais uma coisa: o que se está fazendo com a Globo e seu jornalismo é um nojo. Eles podem ter seus problemas, cometer erros, falar coisas que não gostamos, não concordamos, mas daí chegar ao nível selvagem de críticas que recebe de todos lados é um absurdo. Estranho, mas é a única emissora brasileira que de fato expõe e discute o Brasil real. Sem esta discussão caímos no obscurantismo que nos encontramos e não é de hoje. A Globo toma porrada até de quem foi "beneficiado" por sua programação. Não tenho TV paga, portanto dos quase 20 canais da TV aberta, pelo menos uns 15 tem um forte viés ou são puramente religiosos, ou ainda são canais oficiais da política, o que resumo como tragédia. A diferença de qualidade entre a programação da Globo e da maioria das emissoras é abissal. Infelizmente as TVs educativas, incluindo a Cultura, estão tendo seus orçamentos cortados, uma tragédia. 
A meu ver não só é a matéria da Globo sobre as mortes de ciclistas de São Paulo que tem buracos. Todos têm, principalmente a população que não tem o menor interesse pela verdade. Neste sentido um morto a mais ou a menos é só matéria para notícia

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