quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Duas vezes no saco!

"Lollia, você precisa vir pegar o Arturo. Ele teve um "pequeno acidente", mas não se preocupe que ele está bem". Eu estava ao lado de tia Yeda quando ela fez a ligação para minha mãe. Como sempre Yeda manteve uma calma religiosa. Um pouco depois estávamos nós esperando que minha mãe chegasse com a balsa e me levasse de volta para casa. Minhas férias estavam terminadas. Era uma situação constrangedora. Yeda tinha um longo histórico de uma paciência sem limites com as travessuras de férias dos filhos e sobrinhos, em especial eu, mas esta tinha ultrapassado todo limite de sua responsabilidade. 

Amanhecera com muita chuva, que só veio a parar no meio da tarde. Abriu um lindo sol e eu e Renata pegamos as bicicletas. Não aguentávamos mais ficar dentro de casa. A ressaca do mar muito era forte, com as ondas molhando até a rua. Praia nem pensar. Saímos pedalando pela calçada da praia. As raízes das velhas árvores faziam dos blocos de concreto rampas ótimas para nós dois, crianças elétricas, sair pulando com as bicicletas. A chuva forte havia derrubado folhas e flores e a calçada estava linda, mas escorregadia. Ninguém ainda tinha se animado a sair para a rua e tudo aquilo era só nosso. Pula, dá meia volta, vê o outro pular, comenta, voltam os dois para trás, agora pulam os dois juntos, aceleram, freiam, escorregam, vão para a próxima rampa, riem, afirmam que seus voos foram os melhores. E chegamos a melhor das rampas, a mais inclinada. Acelero eu deixando Renata para trás e saio voando. 
Estou no chão sentindo muita dor. Renata está em pé ao meu lado, às gargalhadas. Não para de rir. Estou de pernas fechadas com as duas mãos no saco e nem a dor me impede de também cair na gargalhada. Quando a bicicleta tocou o chão meu pé molhado escorregou do pedal, bati no selim que cedeu, e bati o saco no quadro da bicicleta. Desequilibrado vi a roda da frente passar sobre uma linda e grande flor laranja que estava no chão. Retomei o equilíbrio, mas a bicicleta bateu de frente contra a árvore seguinte e eu, de pernas abertas, dei pela segunda vez com o saco desta vez na árvore. A dor era infernal, mas não tinha como não rir da palhaçada. Renata se contorcia de tanto rir.
Mal me lembro da volta para casa, que fiz pedalando, não sei como. Nem sei se Yeda me levou (mais uma vez) para o Pronto Socorro, o que provavelmente fez. Não me lembro do final da tarde, da noite, mas lembro bem do telefonema na manha seguinte.
A balsa chegou, minha mãe desceu dela e caminhou para nós preocupada. Eu podia ouvir o que ela pensava: "Meu filho, mais uma vez?" Yeda, sempre calma e sorridente, conversou longamente com ela. E minha mãe veio me pegar. Eu estava sentado, de calção largo, que era o que dava para usar, e o desastre estava a vista. Meu saco estava preto e do tamanho de uma bola de futebol de salão.

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