O custo da batida do saco
contra o quadro da bicicleta seguida da batida do mesmo saco na árvore foi
muito além da vergonha de ser devolvido ipsis litteris de saco cheio por Yeda,
minha amada mãe substituta, para minha mãe de fato, a santa Lollia. O saco
preto do tamanho de uma bola de futebol de salão entre minhas pernas, resultado
do acidente de bicicleta descrito neste mesmo blog, felizmente não afetou
minhas festas, mas os filhos que sempre quis nunca vieram por mais que eu tenha
me divertido. É, nunca tive a chance de entrar em casa, sentar no sofá com cara
lavada e dizer “Mãe, não sei como aconteceu, mas ela (namorada) está grávida”. Enfim,
não sou pai, pelo menos biológico.
A vida é cheia de ironias e
sei lá por que cargas d’água escrevi sobre meu saco cheio justamente agora. Nós
temos pais biológicos e outros que não o são (biológicos), mas nem por isto
deixam de ser realmente pais. Jandir Falzoni, pai de Henrique, Renata, Roberto
e Ricardo, talvez tenha sido o pai mais marcante que eu tenha tido. No mesmo
dia que publiquei sobre a dolorosa comédia recebi no fim da noite a notícia que Jandir tinha
partido. Não tenho nenhum problema em misturar a partida dele com minha história
por que uma das muitas qualidades de Jandir foi exatamente o uso sábio de um
inteligente e polido senso de humor. Tenho uma vaga lembrança dele dando bronca
em nós, Renata, eu, Roberto e Ricardo, e mesmo nestas broncas havia
um tom de “Olha aqui, ou eu faço isto ou sua mãe (a adorável Yeda) me mata, ou
nos mata a todos, como queiram; portanto comportem-se”. (Yeda, extremamente
inteligente, nunca precisou chegar a tanto para conseguir o que queria.)
Jandir foi minha referência de
comportamento leve que um homem deve ter com as mais diversas coisas da vida. Mino
Falzoni, primo de Jandir, de quem já falei aqui e outra de minhas melhores referências
de vida, um dia teve seu carro roubado de dentro da garagem que ficava
exatamente debaixo da janela onde ele dormia. Os ladrões abriram o portão, forçaram
o quebra-vento, empurraram o carro para a rua, e ninguém ouviu, nem ele que
dormia quase em cima do capo do carro. Quando contou o fato, bravo, muito
bravo, eu, criança, estourei na gargalhada como se estivesse ouvindo a história
de Jandir. Mino ficou mais bravo ainda e por muito pouco não tomo um safanão. O
detalhe é que Jandir teve seu carro roubado algumas vezes e contava o fato de
maneira natural, quase que tentando divertir os outros. Foram dois pais fantásticos, Mino e
Jandir.
Jandir era leve, charmoso,
inteligente, ótimo pai, calmo, paciente, coerente. Sua chegada era sempre
esperada, principalmente pelos filhos, e confesso que eu partilhava da mesma
emoção. Yeda sempre foi de uma sabedoria sem tamanho e provavelmente tenha
ajudado a construir a imagem que tenho de Jandir. O fato é que entre os Falzoni
sempre me senti mais um filho, gozando de completa segurança e tranquilidade, maravilhosa
sensação de paz.
Ser pai é acima de qualquer
coisa dar e deixar referências. Peço desculpas a mim mesmo por não ter procurado
conversar mais com Jandir e Mino. A Jandir ainda consegui aparecer e dar alguns
abraços pelo dia dos pais. Fui um pentelho para Mino, mesmo o adorando, e se
ele pudesse provavelmente teria pulado no meu pescoço – e com razão.
Por timidez ou vergonha, não
sei bem, tirei pouquíssimo proveito destas oportunidades que a vida me deu. Só
posso dizer uma coisa: Idiota!
A bicicleta me tirou a
possibilidade de ter filhos biológicos. Tratei de tê-los de outra forma e acho
que os tenho por ai. Com sentimento de pai busquei usar o melhor das
referências que tive na vida: Jandir, Mino, Murillo meu irmão, alguma coisa de
meu pai, de meu avô. É dia dos pais e me atenho aos homens. Mas Jandir foi quem
me orientou na busca de um ser leve, charmoso, positivo, que sigo até hoje, mas
que meu carácter maltrata. Obrigado Jandir.
Arturo dileto irmão, adorei suas palavras! Meu - nosso pai - faz falta
ResponderExcluirAmado pai Jandir
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