terça-feira, 11 de agosto de 2015

Tudo é passageiro - Ayrton Camargo e Silva


"Tudo é passageiro. Expansão urbana, transporte público e o extermínio dos bondes em São Paulo" de Ayrton Camargo e Silva é leitura obrigatória para quem quer mesmo, de verdade verdadeira, o bem desta cidade ou de qualquer outra cidade deste país. Conta a história, deprimente, dos descaminhos e oportunidades perdidas que o transporte público teve em São Paulo desde os idos de 1800 e bolinha quando surgiram as primeiras linhas de bondes puxados a burro. Quando os burros de quatro patas foram tirados de circulação entrou a tropa de burros de duas patas com suas ideias, empacando aqui e ali, uns para tentar tirar proveito próprio da situação, outros por que além de burros imbecis, e ai aquilo deu nisto, exatamente nisto que está ai. É deprimente ver que depois de bem mais de um século de desacertos continuemos nos enroscando nas mesmas ladainhas, vontades próprias, nos mesmos desacertos, nas mesmas idiotices: tarifas irreais, interesses mui particulares, descontinuidade, imprensa despreparada, tendenciosa e muitas vezes medíocre, população ignorante, depredações, e absoluta falta de um planejamento de longo prazo realista, sensato, que seja iniciado, seguido e terminado. 

"Tudo é passageiro" é leitura obrigatória principalmente para o ciclista que vê com bons olhos o que está acontecendo com São Paulo neste exato momento. 

Milão, 2015, igualzinho aos nossos
                Sou um apaixonado por bondes. Sonho um dia ver os corredores de ônibus serem substituídos por corredores de bondes, em especial o da av. Santo Amaro, avenida com a qual tive uma relação quase familiar e que foi estraçalhada junto com a esculhambação do projeto original do seu corredor de ônibus. Entra o Jânio Quadros e aborta o projeto original do pessoal do Covas. Jânio por sua vez tenta enterrar a av. Juscelino Kubitschek, já uma via expressa, formando um boulevard. Entra Luiza Erundina, que por sua vez acha o projeto de Jânio um erro social e enterra tudo para anos mais tarde considerar que fez uma burrice sem tamanho. E assim vamos. No meio desta ópera bufa desafinada onde cada um canta o que bem entende foi-se a única ciclovia que São Paulo tinha a época. Cá entre nós, não fez qualquer diferença por que a ciclovia JK não ligava nada a lugar nenhum. O projeto original ligaria o Parque Ibirapuera à Cidade Universitária, o que nunca saiu do papel por que os técnicos ficaram loucos com o cruzamento da Ponte Cidade Jardim. Nossa! E ai continuamos.

Antes do boulevard JK o Prefeito Figueiredo Ferraz já tinha tentado fazer com que a av. Paulista tivesse dois níveis, um subterrâneo e expresso, e outro no nível atual, com um boulevard e trânsito local. É óbvio que não foi para frente por causa de alguns interesses particulares e uma visão medíocre da população. Ironia do destino da obra restou os dois quarteirões entre a av. Consolação e rua Haddock Lobo, onde hoje se encontra a Praça do Ciclista. A Paulista seria melhor com o boulevard de Figueiredo Ferraz ou como está hoje?


Eu vivi numa São Paulo que vocês não conseguem fazer ideia do que foi. Maravilhosa, simples, mas completamente heterogênea, riquíssima, chiquérrima, mágica, viva, muitas cidades numa única, mágica pura, mas a maioria da população não teve inteligência para olha-la e entende-la e preferiu sair fazendo tentativas. Deu no que deu. São Paulo foi linchada por descaminhos e vontades particulares, a maioria mesquinha, ridícula. "Tudo é passageiro" de Ayrton Camargo e Silva é um olhar essencial sobre a questão dos transportes em São Paulo, leitura leve e obrigatória para quem quer de fato lutar para que as coisas melhorem. 

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