O vizinho vai
todo dia de ônibus para o trabalho, que é bem próximo. Não sei quanto demora,
mas só até o ponto de ônibus, mais a espera, descer do ônibus e caminhar até o
escritório deve dar o tempo que ele levaria pedalando. Não inclui no cálculo o
tempo de viagem do ônibus no trânsito, que hoje em dia já não se pode mais
precisar. Eu venho tentando convence-lo, sem sucesso, a fazer a experiência de
ir de bicicleta. A desculpa, educada, é a mesma da maioria: é perigoso. Ele tem
uma linda filha pequena, o que valeira como desconto pelo receio, mas,
racionalmente, não é.
Mesmo com o crescimento
do uso da bicicleta tudo o que não temos é uma discussão racional sobre a questão
da segurança de pedalar no trânsito, principalmente entre a classe média que
trabalha em escritório. Infelizmente nós vivemos um tempo no qual dar ouvidos
aos medos parece ser o mais sensato. A verdade parece não interessar.
O que é seguro
ou inseguro? Com certeza não é o que se diz em conversa de botequim. Numa
sociedade viciada em violência sentar para conversar sobre amenidades, de
preferências as boas, agradáveis, racionais, realmente sensatas, costuma cansar
a plateia. Talvez a melhor definição do que nos tornamos seria a primeira
página do Noticias Populares, extinto jornal sensacionalista que sempre estampava
na primeira página o pior ou mais bizarro. Tipo a fotografia do bebe diabo,
corpos mutilados, facas ensanguentadas, etc... Isto muito antes do Massacre da
serra elétrica. Hollywood não sabe o que perdeu. Todo mundo adorava - e a
sociedade incorporou.
Medo talvez seja
o melhor negócio dos dias atuais. O mercado internacional pode estar um
desastre, mas a indústria do medo continua muito bem; obrigado. Acabou a Guerra
Fria, alguém tem sustentar a indústria bélica. “Apavora os trouxas”. Sei lá
como foi; talvez tenha sido por ai, mas de qualquer forma vender medo é muito lucrativo.
Muito!
Mikael
Colville-Andersen, em uma palestra em Copenhagen, disse que um dos grandes
interessados na obrigatoriedade de ciclistas usarem capacete é a indústria automobilística.
Talvez tenha a ver com o fato que em absolutamente todo local onde o capacete é
obrigatório o número de bicicletas circulando diminuiu e o número de ciclistas acidentados
aumentou. E que capacete está intimamente ligado a queda, acidente. Simples coincidência.
Provavelmente mais uma teoria de conspiração. Existem pesquisas científicas que
provam que o uso de capacete em carros de passeio seria realmente útil para
diminuir as vítimas. Porque não?
Não importa que
a distância seja a ideal, menos que 4 km; que paralelo a av. Nove de Julho tenha
um monte de caminhos alternativos arborizados e seguros; que o caminho no sentido
do trabalho seja uma leve descida, portanto vai suar pouco; que sua vizinha de
porta sempre foi para o escritório bem vestida e pedalando e trabalhe na mesma
área que ele; que eu me disponha a emprestar uma bicicleta e vá acompanha-lo
para dar dicas; que indo de bicicleta ele chegue mais rápido e vá ter mais
tempo para ficar com a sua filhinha, que ele tanto ama. Não importa nenhum
argumento racional. Não dá para ir pedalando. Bicicleta é perigosa e ponto.
Olá, gostei do seu post, pois justamente estou considerando a possibilidade de usar a bicicleta como meio de transporte em São Paulo e devo confessar que tenho um pouco de medo. Pedalo numa boa aqui em Paris e só de me imaginar de bike no meio daquele mar de carros, ônibus e motos loucos de São Paulo, tremo um pouco nas bases. Tem ainda o medo de roubarem a bicicleta, já que queria investir numa dobrável para poder comutar com outros meios. E tem o fato que o metrô ao lado de casa ainda não abriu, mas tenho fé que um dia abre. E espero tomar coragem até lá!
ResponderExcluirArturo, que tal propor ao vizinho pedalar num domingo até a porta do escritório dele? Isso pode faze-lo ver que não é nenhum bicho de sete cabeças, disfarçando o rolê de "passeio". Abraço
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