sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Chuva, barro: limpar a bicicleta

Não pára de chover, mesmo assim pedalar no meio do trânsito continua sendo bastante eficaz. O que dá pena é pela bicicleta, que sofre por causa da água. O tipo de bicicleta que é vendido no Brasil não é o ideal para chuva, apesar deste ser um país tropical. Com chuva normalmente sofre a corrente, as sapatas de freio, e principalmente os rolamentos, mesmo que sejam selados. A situação piora nas tempestades que temos por aqui e suas conseqüentes profundas e imundas poças e enchentes espalhadas pelas ruas.

O segredo para secar depois de qualquer chuva é tirar o canote de selim e deixar a bicicleta de ponta cabeça. Não recomendo fazer o mesmo com sua moto. A continuação do segredo é, depois de algumas horas de ponta cabeça, sair para pedalar um pouco e só então, e finalmente, secar com um pano macio.

E se ficou cheio de areia ou barro? Nada melhor que deixar secar o que estiver grudado e depois, com escovas, retirar tudo o que puder. Escovas recomendáveis são 3: para lavar roupas, para lavar pratos, e a tradicional e insuperável escova de dentes. Para complementar o trabalho um pano macio umedecido com água. Valter Busto, responsável pelo Museu de Bicicletas de Joinville, usa o pano umedecido em óleo diesel, o que funciona muito bem.

Sobra a corrente, que é o que mais sofre com qualquer chuva. Corrente correta é aquela que está limpa, lubrificada por dentro e seca por fora. Seca por fora! Corrente empapada em óleo serve para grudar sujeira, que acaba virando uma lixa que destroi as engrenagens. Pessoalmente sou contra tirar a corrente e mergulhar num solvente, tanto porque enfraquece o elo, quanto pela questão ambiental. Tirar a corrente só em casos extremos, como depois de ter passado por lama líquida, mesmo assim...

Para limpar e lubrificar a corrente deixe secar, passe uma escova até sair o grosso, passe um pano umedecido com querosene ou outro solvente, deixe secar e só então lubrifique. Faça uma marca na lateral de um dos elos da corrente com óleo para saber onde vai começar e terminar. Uma gota de óleo especial por elo, de preferência tipo “cross country” para mountain bike, que resiste melhor às nossas condições brasileiras. Quando todos elos estiverem lubrificados (com uma gota) gire lentamente o pedal para trás para a corrente absorver bem o óleo. Termine o serviço secando com um pano seco o excesso. Jeans é o melhor pano para este serviço. O ideal mesmo é secar mais uma vez depois que você voltar do próximo passeio. Seca por fora e lubrificada por dentro! Última dica: corrente se lubrifica depois do passeio, quando ela vai ficar parada por um tempo. Faz diferença.

Nunca se deve usar esguicho de água ou ar comprimido. Infelizmente é pratica comum. A bicicleta vai ficar limpa por fora e a sujeira vai entrar nos rolamentos, o que é um crime. O importante é ter uma mecânica perfeita; não uma aparência reluzente. Um pouco de sujeira externa não faz mal para ninguém.

É lógico que bicicleta e proprietário podem virar um perfeito croquete de barro e ai não há alternativa que não seja mandar fazer uma lavagem completa na bicicleta, daquelas que desmonta absolutamente tudo. Não será difícil que corrente, sapatas ou pastilhas de freio tenham que ser trocados. Faz parte e vale a pena.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

NY: morte no Brooklyn: somos todos iguais, aqui e lá, mas....

Vivo repetindo "Somos todos humanos". É daqueles óbvios que ninguém gosta de ver, pelo menos aqui, neste Brasil de "indivíduos". Nosso complexo de inferioridade brasileiro, que não é para qualquer um. Faz questão de afirmar constantemente que a situação aqui é pior. Em alguns muitos pontos é, de fato, muito pior. Bota pior. Ou melhor: bosta pior! Mas, somos todos humanos e absurdos acontecem mundo afora. A diferença, esta sim, é que o brasileiro usa seu complexo de inferioridade, o que provavelmente a maioria não faz idéia do que seja, em nome de sua covardia. O que nos faz diferentes, brasileiros, é o delicioso discurso da vergonha de nossas mazelas do bar em proveito do tirar o cú da reta. Ai faz diferença. Ops! Não nos esqueçamos dos super-heróis brasileiros, aqueles que salvarão a pátria de todas as mazelas, que obviamente também tiram o cú da reta, mas cuspindo na cara de seus odiados idênticos. Inocentes úteis para um delirado réquiem. Cada um pega para si o que sua inteligência e capacidade pode.
Mudança é sempre possível, mas sem excesso de covardias. Ter medo é uma situação normal. Ter um ataque de covardia também. Auto-proteção. O que não é normal ou produtivo é ter uma covardia normalizada, normatizada e institucionalizada, como a que temos aqui no Brasil.
Acidentes acontecem em todas as partes. Erros jurídicos também. Injustiça não é fruto único e exclusivo do Brasil. A diferença é que lá a sociedade reage. Nós nos calamos.
Antes que você vá para o NY Times: para reverter a guerra civil que vivemos no Brasil só reestruturando as polícias, que definitivamente não é nosso inimigo (como querem de má fé alguns), e dando a eles condição técnica e legista eficaz e inteligente. Do contrário não há saída, vamos continuar na barbárie. Até que uma reta nos pegue por trás.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Ciclovia Pinheiros

Inauguraram a rampa de acesso e a própria Ciclovia do Rio Pinheiros e lá fui eu conhecê-la neste último domingo. Esta rampa de acesso está localizada no meio da ponte, portanto o ciclista tem obrigatoriamente que cruzar as alças da própria ponte, o que nunca foi fácil e continua não sendo porque não há qualquer sinalização. Bem entendido, não há sinalização para o que quer que seja: para cruzar a alça, para indicar por onde você acessa a rampa da ciclovia ou para que o ciclista não pedale junto aos pedestres. Existe uma placa indicando cruzamento de pedestres, mas quem a enxergar ganha um prêmio.

Quem vem pela Ciclo Faixa de Domingo acaba não sabendo da existência do acesso. É como se o que é da Prefeitura é concorrente do que está sendo feito pelo Governo do Estado. Se não é verdade..., é muito provável que seja. Os interesses políticos são bem distintos e pelo jeito o que interessa não é o ciclista, mas a propaganda. Pintura vermelha em via de muito trânsito se vê de longe e faz uma propaganda fantástica. Pode não ter muito uso para o ciclista, como, por exemplo, a Ciclovia da Radial Leste, quase as moscas, mas faz sucesso. “São Paulo tem ciclovias!” Brilhante!!!


Como disse um marronzinho: “Este pessoal (quem fez o projeto da rampa de acesso) acha que os ciclistas saem do nada, caem do céu.” Deve ser. Lembrei de quando inauguraram o primeiro trecho da Ciclo Faixa de Domingo que os técnicos da CET quiseram impor aos ciclistas que cruzassem as ruas pela faixa de pedestre empurrando. Isto ai, genial! Cumpra-se a lei. Viaja na maionese que faz bem. Não sei o que aconteceu aqui, neste novo acesso, mas aposto que alguém teve mais um chilique e bateu os pés no chão. “Não faço, não faço, não faço, porque não faço e não quero fazer!!!” Já ouvi esta. Conta uma nova que o disco já está gasto. O que acontece nos bastidores normalmente é infinitamente mais divertido que Escolinha do Professor Raimundo.

O acesso à ciclovia tem que ser feito empurrando a bicicleta pela rampa. A bem da verdade, seguindo as leis, na ponte o ciclista está circulando em espaço do pedestre, portanto deve passar desmontado e empurrando a bicicleta, o que praticamente ninguém faz. A calçada é estreita para a quantidade de gente circulando lá e o número de pedestres vem aumentando com a abertura da passarela para o metrô - CPTM, que está logo ali, também no meio da ponte e em paralelo à rampa dos ciclistas. Para quem não é de São Paulo ou não usa o sistema, esta linha da CPTM já estava tendo um crescimento acelerado e com a inauguração da Linha Amarela, que faz a ligação com o Centro da cidade, o número de usuários praticamente explodiu.

Esta nova rampa de acesso à ciclovia praticamente inviabiliza o projeto de uma ponte específica para pedestres e ciclistas, proposta para o local, que acabaria com todo conflito destes com os veículos motorizados. Da forma que está hoje vai dar muita confusão, principalmente nos bastidores. Neste ponto concordo em grau gênero e número com a Meli e outros da CET, que querem o espaço só para pedestres. Mas a responsabilidade é de quem sugeriu a reforma da ponte que tirou espaço dos pedestres para dar mais uma faixa de rolamento para os veículos e fluidez do trânsito. Aquilo deu nisto! Não existe almoço grátis!!!! Uma hora vem a conta.


Enfim chego na nova ciclovia, vermelhinha que só não dói na vista porque o tempo está nublado. Conforme vou rodando minha irritação inicial com o mal feito acesso vai dando lugar a um passeio divertido, bem divertido. A paisagem tem novo ângulo, se vê o horizonte, há um verde, a água suja do rio que não fedia, o rodar no asfalto sem buracos. É divertido, sem dúvida.

Mas quando passo pelos outros acessos... Haja improvisação! O da Vila Olímpia é patético. Faço o convite para vocês verem o número de usuários da CPTM e o tamanho do problema nas ruas de acesso às estações para entender do que falo. Antes de pensar no ciclista todo entorno das estações tem que ser redimensionado para os usuários da CPTM. Da forma que está agora é ridículo, humilhante, perigoso. Mais a bicicleta ainda...?


A Estação Santo Amaro é uma obra de arte, uma escultura gigantesca  em aço oxidado, única na cidade. Deveria estar tombada como patrimônio histórico. Colocaram uma rampa na lateral da estação que dá para o rio e que interfere muito no projeto original. Provavelmente nem chamaram o autor da estação para ajudar na intervenção. Triste! Mas quem se importa? O povo quer é pedalar - a qualquer custo.

Já que estou falando de obra de arte, este novo trecho de ciclovia, entre a Usina da Traição e a Ponte do Jaguaré, teve um projeto do Ruy Ohtake que não sei que fim levou. Ruy Ohtake é autor de projetos polêmicos e geniais como o hotel Unique, edifico Tomie Ohtake, Conjunto Habitacional Heliópolis, dentre outros, e propunha uma série de elementos que criavam referências orgânicas ao espaço. Foi criticado por muitos, o que não quer dizer muito. Inteligência sempre é um problema para a maioria.

Hoje está implantado 19 km de um total de 25 km da Ciclovia Pinheiros. Parece que estão trabalhando no acesso da estação Ceasa - Jaguaré - Parque Villa Lobos, mas ninguém sabe quando será inaugurado. Provavelmente próximo às eleições.

O que posso dizer é que foi divertido, bem divertido. Com sol não deve ser tão agradável assim porque não há sombra, o vermelho da pintura do asfalto deve doer nos olhos, os bebedouros são poucos. Confesso que tenho medo dos que vão lá para treinar. A maioria não sabe o que está fazendo.

Tenho a informação que durante a semana menos de 400 ciclistas usam o espaço. Nos fins de semana, sem a inauguração deste novo trecho, um pouco mais de 1.500 pedalam lá. No domingo estavam contando e das 5h30 até as 13h30 já tinham passado mais de 1.500, isto com aquele tempo encrencado. Não me espanta, já que os números da Ciclo Faixa de Domingo podem parecer bons isoladamente, mas ficam bem mais tímidos se comparado ao total de ciclistas que estão pedalando pela cidade no mesmo horário. E se for feito o cálculo do custo pelo número de usuários... ai a coisa fica mais estranha. Mas quem se importa?


Esta ciclovia, com seu traçado, não serve e provavelmente não servirá para transporte, mesmo com mais acessos. É o que aponta a experiência internacional e mesmo os números que temos no Brasil. Esta ciclovia nasceu da vontade do Serra, e mais alguns do primeiro escalão de seu governo, Portella em particular, tanto como propaganda, como para enfrentar os que eram (e continuam) contra a bicicleta ou se atém além do sensato no labirinto da burocracia, que é verdadeiramente uma desgraça.

Aposto minha bicicleta como esta ciclovia de lazer atrasará mais ainda a implantação de uma política cicloviária integrada e funcional para quem usa a bicicleta como modo de transporte. Mas deixa bem feliz quem acha que a festa está boa.  Faz uma barulheira linda para os políticos, sem criar pressões “desinteressantes”. Maravilha! Todo mundo acaba feliz....

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Pedalar às margens do Pinheiros

A primeira que vez que entrei para pedalar nas duas margens do rio Pinheiros creio que tenha sido com Sérgio Luis Bianco, Adriano, mais alguém da Eletropaulo, e se não me falha a memória, Renata Falzoni estava junto; não me lembro bem quando, mas lá pelos idos de 84 ou 86. Já naquela época havia alguns projetos para implantar ciclovias nas estradinhas de terra de manutenção. A pedalada foi muito divertida, uma aventura num dia bonito. Creio que Renata ainda tenha fotos. Não me lembro por onde entramos e por que margem rodamos.
Em 1992 morava no Itaim Bibi e fui trabalhar na Caloi. Ia praticamente todos dias de bicicleta, e algumas vezes cheguei a pegar a estradinha de terra que vai da ponte João Dias, passa pelo Centro Empresarial e termina na avenida Guarapiranga, então os fundos da fábrica da Caloi. Algumas poucas vezes cheguei a ir em frente e seguir até a usina da Traição, passando em frente ao Parque Burle Marx, onde há uma espécie de barranco que dá para brincar de mountain bike. Eduardo Ramires quis transformar a área em local de treinamento, mas não conseguiu.

Na época era possível cruzar o rio pela antiga ponte João Dias, que estava desativada, e sair na ou Marginal Pinheiros ou na estradinha de terra junto à linha do trem, onde hoje está a Ciclovia Marginal Pinheiros. Era divertido porque não havia ninguém, mas alguns dias o cheiro do rio era insuportável, outros a quantidade de mosquitos impossibilitava respirar, e em algumas raras situações o clima ficou tenso, principalmente debaixo da João Dias, onde apareciam uns tipos nada agradáveis. Numa tarde havia um carro de polícia guardando um presunto queimado, cena nada agradável.

Uns anos depois voltei lá sozinho para checar como estava o trecho que vai da avenida Guarapiranga pelo canal e segue até a barragem da Represa Billings pelo rio, um pedaço bem interessante para pedalar e reurbanizar. Mais outros anos e segui em frente numa vistoria, a pedido de Reginaldo Paiva, da CPTM, acompanhando a linha do trem até Grajaú, onde hoje está uma estação do Metro-CPTM e terminal de ônibus. Só me falta pedalar pelo trecho que vai da barragem até a ponte do Socorro, o que hoje é fácil porque é coberto pela ciclovia. Também nunca pedalei no trecho do Jóquei / Jardins e da USP / Alto de Pinheiros, que acaba de receber mais um trecho da ciclovia.

Apesar de gostar da experiência e do entusiasmo da maioria, sempre fui contra colocar uma ciclovia às margens do Pinheiros. Vento, mosquitos, cheiro, inutilidade para modo de transporte e principalmente custo foram e são meus argumentos. Desde o primeiro momento sempre vi a bicicleta como modo de transporte, portanto enxerguei e sonhei com um plano cicloviário completo e integrado para deslocamentos práticos, o que tira o sentido de levar os trabalhadores para as margens do rio. Continuo acreditando nesta tese.  Há nesta ciclovia do Pinheiros a questão do alto custo de implantação. O que está implantado lá custou muito e não deve parar por ai. O custo mais pesado ainda virá com as pontes de acesso, estas sim dinheiro pesado, muito pesado. A meu ver, antes desta ciclovia de uso quase que exclusivo para lazer, deveria ser implantado uma rede de caminhos internos nos bairros na escala do Centro Expandido, mais até Santo Amaro numa ponta, e até Penha noutra pelo menos.

Participei de várias reuniões para vários planos ligados ao rio Pinheiros. O primeiro foi o da Eletropaulo, o que depois gerou um projeto que pretendia ligar o Parque Ibirapuera com a Cidade Universitária da USP pela av. Juscelino Kubistchek, passando pelo Clube do Mé, que hoje o Parque do Povo, com uma bela ponte de pedestres ciclistas cruzando o rio em paralelo a ponte Cidade Jardim, seguindo avenida do Jóquei até o portão principal da USP. Este foi um projeto que deu dor no coração não ter saído do papel porque fazia sentido. A Ciclo Faixa de Domingo veio décadas depois, seguiu basicamente o mesmo trajeto, precisa de uma logística de funcionamento bastante complicada e não é perene como a idéia original.

Parece que ainda não morreu o projeto de construção da ciclovia na margem do rio oposta a que hoje tem a ciclovia. Não foi para frente porque o processo seguiu os passos normais da coisa pública e naquela margem há muito cacique tomando conta do terreiro, pelo menos uns cinco, se não me falha a memória. Tem Governo Federal, Estadual e Municipal; mais órgãos e concessionárias. Um rolo sem tamanho. Pelo que entendi, um dia o Serra cansou do andor e mandou que o Portella, então Secretário de Transportes Metropolitanos, a toque de caixa implantasse a ciclovia que hoje existe. E logo saiu do papel, passando por cima de “detalhes” e oposição interna. De uma certa forma repetiu-se o que já havia acontecido na Ciclovia Radial Leste. “Cumpra-se!”

Reginaldo Paiva sonhou em aproveitar as margens da linha da CPTM a partir de Engenheiro Evangelista, construir uma ciclovia ai, que desceria para a margem do Pinheiros, seguiria no sentido Santo Amaro, cruzaria o rio numa estrutura apoiada nos tubos da SABESP que passam paralelo a ponte do Socorro, pegaria uma via de serviço que praticamente termina no Largo 13, Santo Amaro. Nem sequer entrou em pauta por causa da reforma da linha para instalação da linha CPTM / Metro lilás.

Sonhos e trabalho para aproveitar as margens do Pinheiros não falta. Hoje vejo a questão como uma forma de recuperar os grandes rios, Tiete e Pinheiros, para São Paulo, o que é vital se quisermos um futuro para esta cidade. A ciclovia em si considero um engana bobos. Meu sonho é usar a bicicleta para ajudar a resgatar as cidades para a vida. Quando o Governo nos convidou, ciclistas, para apresentar a idéia da ciclovia Pinheiros, estava em processo a ampliação das pistas da marginal Tiete. Nesta mesma reunião falei que os ciclistas deveriam aproveitar a oportunidade para demandar do Poder Público a assinatura de um termo de compromisso, com prazos claramente estabelecidos, que definissem a desocupação das margens do Tiete, afastando os carros da água, melhorando a permeabilidade, e devolvendo para a população o que nunca lhe deveria ter sido tirado: o direito a conviver com seus rios. Esta é a única razão pela qual me parece aceitável esta ciclovia do Pinheiros.


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

cidades desintegradas do Brasil

Nestes últimos anos o Brasil perdeu muito de seu charme. Virou o produto da liberdade completa de empreiteiras e do setor automobilista. Deu nisto. Nossa cidade, nossa alma construída, dita “pobrezinha”, como a maioria faz questão de afirmar, recheada de pequenas casas, sobrados, e algumas construções mais imponentes, umas poucas coloniais, a maioria em estilo eclético do princípio do século XX, praticamente desapareceu. Ou está destroçada.

Gente culta, de fato, que por aqui passou, olhava maravilhada nossa diversidade. Coisa única no mundo; preciosidade; não aos nossos olhos.

A massa, independente do nível social, vai para a Europa e fica fascinado com a arquitetura local. Aliás, no passado já havia acontecido algo semelhante quando houve a invasão de Buenos Aires. Grandes capitais européias e Buenos Aires em particular têm uma imponência que realmente impressiona. Assim como as capitais dos Estados Unidos, em particular Nova Iorque, mas ai com outro espírito e estilo. O brasileiro de todas as classes sai daqui e como ainda se diz nas classes abastadas, a elite ou “zelite”, como queira: “Vou tomar um banho de civilização”. Babam por lá, isto quando as compras e o peso das sacolas permitem olhar para outra coisa que não seja o chão. E voltam para os tupiniquins contando vantagens heróicas que só o dinheiro pode trazer, picotado de desprezo pela própria história. Que vergonha! Como brasileiro tem vergonha de si, dos seus, de seu país. Precisamos ficar igual, ninguém duvida. Sem isto não temos futuro. Coisa de personalidade. Ou será caráter?

Uma das melhores provas desta visão edificante seja a avenida Paulista, símbolo máximo de fato de São Paulo. Um amontoado de egos de arquitetos e engenheiros, desconectada entre si, concorrendo entre si, sem unidade, sem urbanidade, sem ligação, com espaço público comum desconectado, de passagem, como fosse um mostruário de lojinha de bairro. Está um tanto déjà vu, mas ainda serve como referência para o futuro do desenvolvimento de toda Brasil. Tudo se faz mais ou menos igual. Agora os edifícios estão na fase envidraçada. Genial, arquitetura de país de primeiro mundo, daqueles do hemisfério norte, com latitude bem acima dos trópicos, clima frio. Genial para um país tropical, de clima ensolarado e quente. Se quebrar o ar condicionado central, o que acontece, como as janelas não abrem quem trabalha lá fica alguns meses trabalhando a 32°C até o problema ser resolvido. Não pode ficar nu, mesmo assim quem não gosta de sauna? Mas é moderno, chique! Muito chique; deveras chique!

Nossa arquitetura real vai aos poucos dando lugar a construções imponentes - no tamanho. Não há regras, os bairros da vez são assaltados por incorporadoras em nome do progresso. E neste espírito, o dos viajantes, dos complexados, dos capitalistas pós selvagens, vai tudo para o chão. Um conjunto de casas em construção colonial na rua Fernão Dias, verdadeiro patrimônio histórico, memória viva do bairro de Pinheiros, deram lugar a edifícios sem que houvesse um pio contra o crime. Que crime? Há piores.

Um imbecil qualquer, que a sociedade dá o direito de falar sobre desenvolvimento urbano, disse na TV que não há problema neste padrão de crescimento porque o metro vai resolver todos os problemas. Olhe a foto do movimento na Linha Amarela, Vila Sonia - Luz, FORA DE HORÁRIO DE PICO e tirem suas conclusões.

Infelizmente o brasileiro não sabe quem é. “Que país é este?”.   

Um dia este país sonhou com um futuro melhor, com um progresso ordenado, com cidades civilizadas, vidas melhores, educadas, felizes, sadias, comunitárias. Brasília é o símbolo máximo deste sonho. Quando criança havia o mesmo respeito e orgulho pela nova capital do Brasil, recém inaugurada, como por Ouro Preto, Parati, Olinda, São Luiz do Maranhão e tantas outras cidades históricas. Algumas delas foram declaradas patrimônio da humanidade e estão minimamente preservadas. Vergonhosamente, se for comparado a qualquer daqueles países que invejamos. Em qualquer lugar civilizado a população sabe da importância de preservação por uma questão de auto-respeito, de referência; e porque não, também para gerar turismo, ou seja, renda. É inteligente preservar, pelo menos lá fora. Mas fazer o que? Somos Brasil. E nestes tempos até Brasília está ameaçada de perder o título de patrimônio da humanidade por falta de preservação. O desmoronamento de 3 edifícios em pleno do Centro do Rio foi um simples acidente. São Luiz do Maranhão pouquíssimo se fala, apesar de ser o símbolo máximo do desprezo pelo nosso passado. Fazer o que? Todos nós, brasileiros, aceitamos calados os Sarney da vida. Montanhas deles... Parabéns!

O que isto tem a ver com bicicletas? Nada! A bicicleta não tem nada a ver com as mudanças na cidade. Nada! Cidade e urbanismo nada têm a ver com ciclistas e pedestres... Desculpe minha ignorância.

O que importa? A esperança de todos está na ciclovia, como a que está sendo inaugurada neste exato momento no rio Pinheiros e no sonho de um dia ter bicicletas comunitárias, como em Paris. Chique, não? É uma simples questão de cultura. Nada é interligado.

Um passo atrás: educação. Só educação de qualidade pode nos tirar o complexo de inferioridade. Que país é este? Como diz um amigo: “O Brasil não precisa de surrealismo”.

A pergunta que se deveria fazer é o que é progresso? Brasil progrediu? Melhorou? O que é melhorar? Como se pode fazer uma comparação do ontem e hoje? Será que os esquecidos de ontem não são os lembrados de hoje com os mesmos problemas estruturais, mas com carrinho na garagem e TV de plasma na sala?

Será que este país de carros de vidro escuro circulando e TVs ligadas até em espaços públicos é socialmente melhor? O que é certo é que isto é resultado desta nova cidade que todos nós permitimos que surgisse. Esta ai.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Parques, ciclovias de domingo, e inocentes úteis

Ontem, mais uma vez, acabei parando o trabalho no horário normal, às 18h00, e saindo para pedalar, relaxar um pouco, e aproveitar o horário de verão. Eu adoro subir nas grandes pontes e parar no meio para ver a cidade. Minha predileta é a Ponte Bernard Goldfarb, paralela à Ponte Euzébio Matoso, que liga Pinheiros e Butantã sobre o rio Pinheiros. Não recomendo passar por ali pedalando porque não há calçada para pedestres e as faixas são estreitas. Mas a vista desta ponte alta é talvez a mais bela de São Paulo porque tem poucos edifícios interferindo na paisagem, o horizonte está longe, de um lado o Jockey Club, do outro o charme especial do Pico do Jaraguá bem ao fundo. Meu sonho é que um dia a ponte sirva para um museu ou memorial de estrutura leve e envidraçada. Basta a população querer. Nunca deixe de sonhar.

Infelizmente praticamente todas as pontes desta cidade, principalmente as mais novas, foram projetadas para a passagem de única e exclusiva de veículos motorizados. Ciclistas e pedestres ou não tem espaço para circular, ou só conseguem chegar a elas com grande risco. Ouvi dentro da Prefeitura a seguinte pérola: “Se (o pedestre) quer cruzar o rio (Pinheiros) que pegue um ônibus”. Como se nada menos que 34% da população paulistana, que se locomove unicamente a pé, não existisse. Ir e vir é direito constitucional, mas não se respeita. Bom, enfim, cruzar pedalando as pontes desta metrópole não é tarefa tranqüila, mas necessária e não raro uma experiência visual que vale a pena.

Quem passa na Ponte Cidade Universitária talvez tenha visto que já construíram uma rampa de acesso para o que em breve será a continuação da Ciclovia Marginal Pinheiros. Mais uma obra caríssima para uso quase restrito de lazer. Imagino que deva ser ligada ao trecho já existente e com este novo acesso os 25 km de ciclovia (se não me falha a memória) terão ao todo 3 acessos: Jurubatuba, Vila Olímpia e Cidade Universitária. Havia sido  prometido o acesso ao Parque Villa Lobos e Parque do Povo, e um próximo da ponte João Dias, mas não consegui ver as obras, portanto deve se restringir a estes 3 acessos.

O custo desta ciclovia na margem Pinheiros deveria despertar atenção, mas todo mundo está feliz e fazer qualquer comentário é tido como uma chatice inconveniente. Triste. Só dá para entender que a população aceite os acessos hoje existentes partindo da premissa que “qualquer coisa que vier é boa”. Definitivamente não partilho deste princípio. O que resta é ter a esperança que a pintura vermelha não seja tão escorregadia como a plicada no primeiro trecho, que derrubou uma quantidade grande de ciclistas, incluindo alguns profissionais.

Acabei meu dia pedalando no Parque do Povo, que a cada dia fica mais simpático e agradável. A ciclovia é estreita e é preferível pedalar no sentido anti-horário para ir junto com o pessoal. Tenho muito mais medo de ciclista vindo no sentido horário que de pedalar no trânsito. É mais agradável que pedalar no Ibirapuera onde há muito pseudo-ciclista pseudo-treinando nos dois sentidos; uns loucos. A saber: números apontam os parques como os locais mais perigosos para pedalar na cidade, com o Parque Ibirapuera praticamente invicto. Interno de bairro é muito mais seguro.

Como a Ciclo Faixa de Domingo só abre nos domingos durante o dia, com uma logística bem trabalhosa e custo operacional alto, que também parece não interessar a ninguém, tenho que voltar pedalando no meio do trânsito. Sei quem sou e qual é o jogo, e sigo tranqüilo, sem atritos. Só sinto pelo desinteresse dos paulistanos pela bicicleta como modo de transporte. Praticamente tudo que foi implantado em São Paulo nestes últimos anos, que é muito pouco se comparado a outras capitais mundiais, tem um cheiro de politicagem barata. E o paulistano pedala nela.


domingo, 5 de fevereiro de 2012

Barulho indecente

O Estado de São Paulo
São Paulo Reclama

Venho por meio desta pedir ao Excelentíssimo Senhor Prefeito Gilberto Kassab que tome providências em relação ao altíssimo barulho emitido por alguns veículos que circulam por São Paulo, modelos esportivos de carros e motos, e veículos populares equipados com potentes aparelhagem de som. Os dois melhores índices de aprovação de seu governo são o “Cidade Limpa” e as melhorias cicloviárias, ambas ambientalmente corretas, o que pode indicar que a população ficaria muito feliz e sadia vivendo dentro dos padrões de som permitidos por lei, o que claramente não é cumprido, principalmente nos fins de semana.
Proprietários de Ferraris e Harley Davidsons, dentre outros veículos esportivos, mas principalmente, deveriam se envergonhar fazendo tanto barulho. Eu sei, eu sei.... Imagino eu que seus proprietários já tenham viajado para fora do Brasil e (imagino) que tenham percebido que em metrópoles de primeiro mundo, civilizadas, qualquer veículo, independente do preço e conseqüente sofisticação, rodam dentro dos padrões da boa convivência, portanto sem gritar “olha eu aqui!”. Isto inclui Ferraris, Harleys, e afins.

Pela cidade também circulam inúmeros carros com sistema de som digno de trio elétrico de carnaval. O som de alguns é tão alto que a diversão dos proprietários é passar pelas ruas e disparar os alarmes de todos carros estacionados. Em portas de bares e vários outros pontos de encontro o problema se repete sem que nenhuma autoridade se apresente. Vale o mesmo “olha eu aqui!”.
Acredito que uma autoridade que enfrentou a sujeira visual e obteve ótimos resultados não vá sentir-se constrangido em obrigar a colocação de silenciadores ou de aprender o carro que tenha um trio elétrico ligado na caçamba ou porta-malas. Há uma lei a apoiá-lo.