Arturo Alcorta, Escola de Bicicleta, sobre a vida, rodando um pouco por tudo
sábado, 25 de fevereiro de 2012
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Chuva, barro: limpar a bicicleta
Não pára de chover, mesmo assim pedalar
no meio do trânsito continua sendo bastante eficaz. O que dá pena é pela
bicicleta, que sofre por causa da água. O tipo de bicicleta que é vendido no
Brasil não é o ideal para chuva, apesar deste ser um país tropical. Com chuva normalmente
sofre a corrente, as sapatas de freio, e principalmente os rolamentos, mesmo
que sejam selados. A situação piora nas tempestades que temos por aqui e suas
conseqüentes profundas e imundas poças e enchentes espalhadas pelas ruas.
O segredo para secar depois de
qualquer chuva é tirar o canote de selim e deixar a bicicleta de ponta cabeça.
Não recomendo fazer o mesmo com sua moto. A continuação do segredo é, depois de
algumas horas de ponta cabeça, sair para pedalar um pouco e só então, e finalmente,
secar com um pano macio.
E se ficou cheio de areia ou barro?
Nada melhor que deixar secar o que estiver grudado e depois, com escovas,
retirar tudo o que puder. Escovas recomendáveis são 3: para lavar roupas, para
lavar pratos, e a tradicional e insuperável escova de dentes. Para complementar
o trabalho um pano macio umedecido com água. Valter Busto, responsável pelo
Museu de Bicicletas de Joinville, usa o pano umedecido em óleo diesel, o que
funciona muito bem.
Sobra a corrente, que é o que mais
sofre com qualquer chuva. Corrente correta é aquela que está limpa, lubrificada
por dentro e seca por fora. Seca por fora! Corrente empapada em óleo serve para
grudar sujeira, que acaba virando uma lixa que destroi as engrenagens.
Pessoalmente sou contra tirar a corrente e mergulhar num solvente, tanto porque
enfraquece o elo, quanto pela questão ambiental. Tirar a corrente só em casos
extremos, como depois de ter passado por lama líquida, mesmo assim...
Para limpar e lubrificar a corrente
deixe secar, passe uma escova até sair o grosso, passe um pano umedecido com
querosene ou outro solvente, deixe secar e só então lubrifique. Faça uma marca na
lateral de um dos elos da corrente com óleo para saber onde vai começar e
terminar. Uma gota de óleo especial por elo, de preferência tipo “cross country”
para mountain bike, que resiste melhor às nossas condições brasileiras. Quando todos
elos estiverem lubrificados (com uma gota) gire lentamente o pedal para trás
para a corrente absorver bem o óleo. Termine o serviço secando com um pano seco
o excesso. Jeans é o melhor pano para este serviço. O ideal mesmo é secar mais
uma vez depois que você voltar do próximo passeio. Seca por fora e lubrificada
por dentro! Última dica: corrente se lubrifica depois do passeio, quando ela
vai ficar parada por um tempo. Faz diferença.
Nunca se deve usar esguicho de água
ou ar comprimido. Infelizmente é pratica comum. A bicicleta vai ficar limpa por
fora e a sujeira vai entrar nos rolamentos, o que é um crime. O importante é ter
uma mecânica perfeita; não uma aparência reluzente. Um pouco de sujeira externa
não faz mal para ninguém.
É lógico que bicicleta e
proprietário podem virar um perfeito croquete de barro e ai não há alternativa
que não seja mandar fazer uma lavagem completa na bicicleta, daquelas que
desmonta absolutamente tudo. Não será difícil que corrente, sapatas ou pastilhas
de freio tenham que ser trocados. Faz parte e vale a pena.
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
NY: morte no Brooklyn: somos todos iguais, aqui e lá, mas....
Vivo repetindo
"Somos todos humanos". É daqueles óbvios que ninguém gosta de ver,
pelo menos aqui, neste Brasil de "indivíduos". Nosso complexo de
inferioridade brasileiro, que não é para qualquer um. Faz questão de afirmar
constantemente que a situação aqui é pior. Em alguns muitos pontos é, de fato,
muito pior. Bota pior. Ou melhor: bosta pior! Mas, somos todos humanos e
absurdos acontecem mundo afora. A diferença, esta sim, é que o brasileiro usa
seu complexo de inferioridade, o que provavelmente a maioria não faz idéia do
que seja, em nome de sua covardia. O que nos faz diferentes, brasileiros, é o
delicioso discurso da vergonha de nossas mazelas do bar em proveito do tirar o
cú da reta. Ai faz diferença. Ops! Não nos esqueçamos dos super-heróis
brasileiros, aqueles que salvarão a pátria de todas as mazelas, que obviamente
também tiram o cú da reta, mas cuspindo na cara de seus odiados idênticos. Inocentes
úteis para um delirado réquiem. Cada um pega para si o que sua inteligência e
capacidade pode.
Mudança é sempre
possível, mas sem excesso de covardias. Ter medo é uma situação normal. Ter um
ataque de covardia também. Auto-proteção. O que não é normal ou produtivo é ter
uma covardia normalizada, normatizada e institucionalizada, como a que temos
aqui no Brasil.
Acidentes
acontecem em todas as partes. Erros jurídicos também. Injustiça não é fruto
único e exclusivo do Brasil. A diferença é que lá a sociedade reage. Nós nos
calamos.
Veja esta matéria
sobre a morte de um ciclista acontecida em NY, no Brooklyn. http://www.nytimes.com/2012/02/16/nyregion/city-council-eyes-police-response-to-biker-and-pedestrian-deaths.html?_r=1&emc=eta1
.
Antes que você vá
para o NY Times: para reverter a guerra civil que vivemos no Brasil só
reestruturando as polícias, que definitivamente não é nosso inimigo (como querem
de má fé alguns), e dando a eles condição técnica e legista eficaz e
inteligente. Do contrário não há saída, vamos continuar na barbárie. Até que
uma reta nos pegue por trás.
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
Ciclovia Pinheiros
Inauguraram
a rampa de acesso e a própria Ciclovia do Rio Pinheiros e lá fui eu conhecê-la
neste último domingo. Esta rampa de acesso está localizada no meio da ponte,
portanto o ciclista tem obrigatoriamente que cruzar as alças da própria ponte,
o que nunca foi fácil e continua não sendo porque não há qualquer sinalização.
Bem entendido, não há sinalização para o que quer que seja: para cruzar a alça,
para indicar por onde você acessa a rampa da ciclovia ou para que o ciclista
não pedale junto aos pedestres. Existe uma placa indicando cruzamento de
pedestres, mas quem a enxergar ganha um prêmio.
Quem vem
pela Ciclo Faixa de Domingo acaba não sabendo da existência do acesso. É como
se o que é da Prefeitura é concorrente do que está sendo feito pelo Governo do
Estado. Se não é verdade..., é muito provável que seja. Os interesses políticos
são bem distintos e pelo jeito o que interessa não é o ciclista, mas a
propaganda. Pintura vermelha em via de muito trânsito se vê de longe e faz uma
propaganda fantástica. Pode não ter muito uso para o ciclista, como, por
exemplo, a Ciclovia da Radial Leste, quase as moscas, mas faz sucesso. “São Paulo
tem ciclovias!” Brilhante!!!
Como disse um marronzinho: “Este pessoal (quem
fez o projeto da rampa de acesso) acha que os ciclistas saem do nada, caem do
céu.” Deve ser. Lembrei de quando inauguraram o primeiro trecho da Ciclo Faixa
de Domingo que os técnicos da CET quiseram impor aos ciclistas que cruzassem as
ruas pela faixa de pedestre empurrando. Isto ai, genial! Cumpra-se a lei. Viaja
na maionese que faz bem. Não sei o que aconteceu aqui, neste novo acesso, mas
aposto que alguém teve mais um chilique e bateu os pés no chão. “Não faço, não
faço, não faço, porque não faço e não quero fazer!!!” Já ouvi esta. Conta uma
nova que o disco já está gasto. O que acontece nos bastidores normalmente é infinitamente
mais divertido que Escolinha do Professor Raimundo.
O acesso à
ciclovia tem que ser feito empurrando a bicicleta pela rampa. A bem da verdade,
seguindo as leis, na ponte o ciclista está circulando em espaço do pedestre,
portanto deve passar desmontado e empurrando a bicicleta, o que praticamente
ninguém faz. A calçada é estreita para a quantidade de gente circulando lá e o
número de pedestres vem aumentando com a abertura da passarela para o metrô -
CPTM, que está logo ali, também no meio da ponte e em paralelo à rampa dos
ciclistas. Para quem não é de São Paulo ou não usa o sistema, esta linha da
CPTM já estava tendo um crescimento acelerado e com a inauguração da Linha
Amarela, que faz a ligação com o Centro da cidade, o número de usuários
praticamente explodiu.
Esta nova rampa
de acesso à ciclovia praticamente inviabiliza o projeto de uma ponte específica
para pedestres e ciclistas, proposta para o local, que acabaria com todo
conflito destes com os veículos motorizados. Da forma que está hoje vai dar
muita confusão, principalmente nos bastidores. Neste ponto concordo em grau
gênero e número com a Meli e outros da CET, que querem o espaço só para
pedestres. Mas a responsabilidade é de quem sugeriu a reforma da ponte que tirou
espaço dos pedestres para dar mais uma faixa de rolamento para os veículos e fluidez
do trânsito. Aquilo deu nisto! Não existe almoço grátis!!!! Uma hora vem a conta.
Enfim chego
na nova ciclovia, vermelhinha que só não dói na vista porque o tempo está
nublado. Conforme vou rodando minha irritação inicial com o mal feito acesso
vai dando lugar a um passeio divertido, bem divertido. A paisagem tem novo
ângulo, se vê o horizonte, há um verde, a água suja do rio que não fedia, o
rodar no asfalto sem buracos. É divertido, sem dúvida.
Mas quando
passo pelos outros acessos... Haja improvisação! O da Vila Olímpia é patético. Faço
o convite para vocês verem o número de usuários da CPTM e o tamanho do problema
nas ruas de acesso às estações para entender do que falo. Antes de pensar no
ciclista todo entorno das estações tem que ser redimensionado para os usuários
da CPTM. Da forma que está agora é ridículo, humilhante, perigoso. Mais a
bicicleta ainda...?
A Estação
Santo Amaro é uma obra de arte, uma escultura gigantesca em aço oxidado, única na cidade. Deveria estar
tombada como patrimônio histórico. Colocaram uma rampa na lateral da estação que
dá para o rio e que interfere muito no projeto original. Provavelmente nem
chamaram o autor da estação para ajudar na intervenção. Triste! Mas quem se
importa? O povo quer é pedalar - a qualquer custo.
Já que estou
falando de obra de arte, este novo trecho de ciclovia, entre a Usina da Traição
e a Ponte do Jaguaré, teve um projeto do Ruy Ohtake que não sei que fim levou.
Ruy Ohtake é autor de projetos polêmicos e geniais como o hotel Unique, edifico
Tomie Ohtake, Conjunto Habitacional Heliópolis, dentre outros, e propunha uma
série de elementos que criavam referências orgânicas ao espaço. Foi criticado por
muitos, o que não quer dizer muito. Inteligência sempre é um problema para a
maioria.
Hoje está
implantado 19 km de um total de 25 km da Ciclovia Pinheiros. Parece que estão
trabalhando no acesso da estação Ceasa - Jaguaré - Parque Villa Lobos, mas
ninguém sabe quando será inaugurado. Provavelmente próximo às eleições.
O que posso
dizer é que foi divertido, bem divertido. Com sol não deve ser tão agradável assim
porque não há sombra, o vermelho da pintura do asfalto deve doer nos olhos, os
bebedouros são poucos. Confesso que tenho medo dos que vão lá para treinar. A
maioria não sabe o que está fazendo.
Tenho a
informação que durante a semana menos de 400 ciclistas usam o espaço. Nos fins
de semana, sem a inauguração deste novo trecho, um pouco mais de 1.500 pedalam
lá. No domingo estavam contando e das 5h30 até as 13h30 já tinham passado mais
de 1.500, isto com aquele tempo encrencado. Não me espanta, já que os números
da Ciclo Faixa de Domingo podem parecer bons isoladamente, mas ficam bem mais
tímidos se comparado ao total de ciclistas que estão pedalando pela cidade no
mesmo horário. E se for feito o cálculo do custo pelo número de usuários... ai
a coisa fica mais estranha. Mas quem se importa?
Esta
ciclovia, com seu traçado, não serve e provavelmente não servirá para
transporte, mesmo com mais acessos. É o que aponta a experiência internacional
e mesmo os números que temos no Brasil. Esta ciclovia nasceu da vontade do
Serra, e mais alguns do primeiro escalão de seu governo, Portella em
particular, tanto como propaganda, como para enfrentar os que eram (e
continuam) contra a bicicleta ou se atém além do sensato no labirinto da
burocracia, que é verdadeiramente uma desgraça.
Aposto
minha bicicleta como esta ciclovia de lazer atrasará mais ainda a implantação
de uma política cicloviária integrada e funcional para quem usa a bicicleta
como modo de transporte. Mas deixa bem feliz quem acha que a festa está
boa. Faz uma barulheira linda para os
políticos, sem criar pressões “desinteressantes”. Maravilha! Todo mundo acaba
feliz....
sábado, 11 de fevereiro de 2012
Pedalar às margens do Pinheiros
A primeira que vez que entrei para
pedalar nas duas margens do rio Pinheiros creio que tenha sido com Sérgio Luis
Bianco, Adriano, mais alguém da Eletropaulo, e se não me falha a memória, Renata
Falzoni estava junto; não me lembro bem quando, mas lá pelos idos de 84 ou 86.
Já naquela época havia alguns projetos para implantar ciclovias nas estradinhas
de terra de manutenção. A pedalada foi muito divertida, uma aventura num dia
bonito. Creio que Renata ainda tenha fotos. Não me lembro por onde entramos e
por que margem rodamos.
Em 1992 morava no Itaim Bibi e
fui trabalhar na Caloi. Ia praticamente todos dias de bicicleta, e algumas
vezes cheguei a pegar a estradinha de terra que vai da ponte João Dias, passa pelo
Centro Empresarial e termina na avenida Guarapiranga, então os fundos da
fábrica da Caloi. Algumas poucas vezes cheguei a ir em frente e seguir até a
usina da Traição, passando em frente ao Parque Burle Marx, onde há uma espécie
de barranco que dá para brincar de mountain bike. Eduardo Ramires quis
transformar a área em local de treinamento, mas não conseguiu.
Na época era possível cruzar o
rio pela antiga ponte João Dias, que estava desativada, e sair na ou Marginal Pinheiros
ou na estradinha de terra junto à linha do trem, onde hoje está a Ciclovia
Marginal Pinheiros. Era divertido porque não havia ninguém, mas alguns dias o
cheiro do rio era insuportável, outros a quantidade de mosquitos
impossibilitava respirar, e em algumas raras situações o clima ficou tenso,
principalmente debaixo da João Dias, onde apareciam uns tipos nada agradáveis.
Numa tarde havia um carro de polícia guardando um presunto queimado, cena nada
agradável.
Uns anos depois voltei lá sozinho
para checar como estava o trecho que vai da avenida Guarapiranga pelo canal e
segue até a barragem da Represa Billings pelo rio, um pedaço bem interessante
para pedalar e reurbanizar. Mais outros anos e segui em frente numa vistoria, a
pedido de Reginaldo Paiva, da CPTM, acompanhando a linha do trem até Grajaú,
onde hoje está uma estação do Metro-CPTM e terminal de ônibus. Só me falta
pedalar pelo trecho que vai da barragem até a ponte do Socorro, o que hoje é
fácil porque é coberto pela ciclovia. Também nunca pedalei no trecho do Jóquei
/ Jardins e da USP / Alto de Pinheiros, que acaba de receber mais um trecho da
ciclovia.
Apesar de gostar da
experiência e do entusiasmo da maioria, sempre fui contra colocar uma ciclovia
às margens do Pinheiros. Vento, mosquitos, cheiro, inutilidade para modo de
transporte e principalmente custo foram e são meus argumentos. Desde o primeiro
momento sempre vi a bicicleta como modo de transporte, portanto enxerguei e
sonhei com um plano cicloviário completo e integrado para deslocamentos
práticos, o que tira o sentido de levar os trabalhadores para as margens do
rio. Continuo acreditando nesta tese. Há
nesta ciclovia do Pinheiros a questão do alto custo de implantação. O que está
implantado lá custou muito e não deve parar por ai. O custo mais pesado ainda
virá com as pontes de acesso, estas sim dinheiro pesado, muito pesado. A meu
ver, antes desta ciclovia de uso quase que exclusivo para lazer, deveria ser
implantado uma rede de caminhos internos nos bairros na escala do Centro
Expandido, mais até Santo Amaro numa ponta, e até Penha noutra pelo menos.
Participei de várias reuniões
para vários planos ligados ao rio Pinheiros. O primeiro foi o da Eletropaulo, o
que depois gerou um projeto que pretendia ligar o Parque Ibirapuera com a
Cidade Universitária da USP pela av. Juscelino Kubistchek, passando pelo Clube
do Mé, que hoje o Parque do Povo, com uma bela ponte de pedestres ciclistas cruzando
o rio em paralelo a ponte Cidade Jardim, seguindo avenida do Jóquei até o
portão principal da USP. Este foi um projeto que deu dor no coração não ter
saído do papel porque fazia sentido. A Ciclo Faixa de Domingo veio décadas
depois, seguiu basicamente o mesmo trajeto, precisa de uma logística de
funcionamento bastante complicada e não é perene como a idéia original.
Parece que ainda não morreu o
projeto de construção da ciclovia na margem do rio oposta a que hoje tem a
ciclovia. Não foi para frente porque o processo seguiu os passos normais da
coisa pública e naquela margem há muito cacique tomando conta do terreiro, pelo
menos uns cinco, se não me falha a memória. Tem Governo Federal, Estadual e
Municipal; mais órgãos e concessionárias. Um rolo sem tamanho. Pelo que entendi,
um dia o Serra cansou do andor e mandou que o Portella, então Secretário de
Transportes Metropolitanos, a toque de caixa implantasse a ciclovia que hoje
existe. E logo saiu do papel, passando por cima de “detalhes” e oposição
interna. De uma certa forma repetiu-se o que já havia acontecido na Ciclovia
Radial Leste. “Cumpra-se!”
Reginaldo Paiva sonhou em
aproveitar as margens da linha da CPTM a partir de Engenheiro Evangelista,
construir uma ciclovia ai, que desceria para a margem do Pinheiros, seguiria no
sentido Santo Amaro, cruzaria o rio numa estrutura apoiada nos tubos da SABESP
que passam paralelo a ponte do Socorro, pegaria uma via de serviço que praticamente
termina no Largo 13, Santo Amaro. Nem sequer entrou em pauta por causa da reforma
da linha para instalação da linha CPTM / Metro lilás.
Sonhos e trabalho para aproveitar
as margens do Pinheiros não falta. Hoje vejo a questão como uma forma de
recuperar os grandes rios, Tiete e Pinheiros, para São Paulo, o que é vital se
quisermos um futuro para esta cidade. A ciclovia em si considero um engana
bobos. Meu sonho é usar a bicicleta para ajudar a resgatar as cidades para a
vida. Quando o Governo nos convidou, ciclistas, para apresentar a idéia da
ciclovia Pinheiros, estava em processo a ampliação das pistas da marginal Tiete.
Nesta mesma reunião falei que os ciclistas deveriam aproveitar a oportunidade
para demandar do Poder Público a assinatura de um termo de compromisso, com
prazos claramente estabelecidos, que definissem a desocupação das margens do
Tiete, afastando os carros da água, melhorando a permeabilidade, e devolvendo
para a população o que nunca lhe deveria ter sido tirado: o direito a conviver com
seus rios. Esta é a única razão pela qual me parece aceitável esta ciclovia do
Pinheiros.
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
cidades desintegradas do Brasil
Nestes
últimos anos o Brasil perdeu muito de seu charme. Virou o produto da liberdade
completa de empreiteiras e do setor automobilista. Deu nisto. Nossa cidade,
nossa alma construída, dita “pobrezinha”, como a maioria faz questão de afirmar,
recheada de pequenas casas, sobrados, e algumas construções mais imponentes,
umas poucas coloniais, a maioria em estilo eclético do princípio do século XX,
praticamente desapareceu. Ou está destroçada.
Gente
culta, de fato, que por aqui passou, olhava maravilhada nossa diversidade.
Coisa única no mundo; preciosidade; não aos nossos olhos.
A
massa, independente do nível social, vai para a Europa e fica fascinado com a
arquitetura local. Aliás, no passado já havia acontecido algo semelhante quando
houve a invasão de Buenos Aires. Grandes capitais européias e Buenos Aires em
particular têm uma imponência que realmente impressiona. Assim como as capitais
dos Estados Unidos, em particular Nova Iorque, mas ai com outro espírito e
estilo. O brasileiro de todas as classes sai daqui e como ainda se diz nas
classes abastadas, a elite ou “zelite”, como queira: “Vou tomar um banho de
civilização”. Babam por lá, isto quando as compras e o peso das sacolas
permitem olhar para outra coisa que não seja o chão. E voltam para os
tupiniquins contando vantagens heróicas que só o dinheiro pode trazer, picotado
de desprezo pela própria história. Que vergonha! Como brasileiro tem vergonha de
si, dos seus, de seu país. Precisamos ficar igual, ninguém duvida. Sem isto não
temos futuro. Coisa de personalidade. Ou será caráter?
Uma
das melhores provas desta visão edificante seja a avenida Paulista, símbolo máximo
de fato de São Paulo. Um amontoado de egos de arquitetos e engenheiros,
desconectada entre si, concorrendo entre si, sem unidade, sem urbanidade, sem
ligação, com espaço público comum desconectado, de passagem, como fosse um
mostruário de lojinha de bairro. Está um tanto déjà vu, mas ainda serve como
referência para o futuro do desenvolvimento de toda Brasil. Tudo se faz mais ou
menos igual. Agora os edifícios estão na fase envidraçada. Genial, arquitetura
de país de primeiro mundo, daqueles do hemisfério norte, com latitude bem acima
dos trópicos, clima frio. Genial para um país tropical, de clima ensolarado e
quente. Se quebrar o ar condicionado central, o que acontece, como as janelas
não abrem quem trabalha lá fica alguns meses trabalhando a 32°C até o problema
ser resolvido. Não pode ficar nu, mesmo assim quem não gosta de sauna? Mas é
moderno, chique! Muito chique; deveras chique!
Nossa
arquitetura real vai aos poucos dando lugar a construções imponentes - no
tamanho. Não há regras, os bairros da vez são assaltados por incorporadoras em
nome do progresso. E neste espírito, o dos viajantes, dos complexados, dos
capitalistas pós selvagens, vai tudo para o chão. Um conjunto de casas em construção
colonial na rua Fernão Dias, verdadeiro patrimônio histórico, memória viva do
bairro de Pinheiros, deram lugar a edifícios sem que houvesse um pio contra o
crime. Que crime? Há piores.
Um
imbecil qualquer, que a sociedade dá o direito de falar sobre desenvolvimento
urbano, disse na TV que não há problema neste padrão de crescimento porque o
metro vai resolver todos os problemas. Olhe a foto do movimento na Linha
Amarela, Vila Sonia - Luz, FORA DE HORÁRIO DE PICO e tirem suas conclusões.
Infelizmente
o brasileiro não sabe quem é. “Que país é este?”.
Um
dia este país sonhou com um futuro melhor, com um progresso ordenado, com
cidades civilizadas, vidas melhores, educadas, felizes, sadias, comunitárias. Brasília
é o símbolo máximo deste sonho. Quando criança havia o mesmo respeito e orgulho
pela nova capital do Brasil, recém inaugurada, como por Ouro Preto, Parati,
Olinda, São Luiz do Maranhão e tantas outras cidades históricas. Algumas delas foram
declaradas patrimônio da humanidade e estão minimamente preservadas. Vergonhosamente,
se for comparado a qualquer daqueles países que invejamos. Em qualquer lugar
civilizado a população sabe da importância de preservação por uma questão de
auto-respeito, de referência; e porque não, também para gerar turismo, ou seja,
renda. É inteligente preservar, pelo menos lá fora. Mas fazer o que? Somos
Brasil. E nestes tempos até Brasília está ameaçada de perder o título de
patrimônio da humanidade por falta de preservação. O desmoronamento de 3
edifícios em pleno do Centro do Rio foi um simples acidente. São Luiz do
Maranhão pouquíssimo se fala, apesar de ser o símbolo máximo do desprezo pelo
nosso passado. Fazer o que? Todos nós, brasileiros, aceitamos calados os Sarney
da vida. Montanhas deles... Parabéns!
O
que isto tem a ver com bicicletas? Nada! A bicicleta não tem nada a ver com as
mudanças na cidade. Nada! Cidade e urbanismo nada têm a ver com ciclistas e
pedestres... Desculpe minha ignorância.
O
que importa? A esperança de todos está na ciclovia, como a que está sendo
inaugurada neste exato momento no rio Pinheiros e no sonho de um dia ter bicicletas
comunitárias, como em Paris. Chique, não? É uma simples questão de cultura. Nada
é interligado.
Um
passo atrás: educação. Só educação de qualidade pode nos tirar o complexo de
inferioridade. Que país é este? Como diz um amigo: “O Brasil não precisa de surrealismo”.
A
pergunta que se deveria fazer é o que é progresso? Brasil progrediu? Melhorou?
O que é melhorar? Como se pode fazer uma comparação do ontem e hoje? Será que
os esquecidos de ontem não são os lembrados de hoje com os mesmos problemas
estruturais, mas com carrinho na garagem e TV de plasma na sala?
Será
que este país de carros de vidro escuro circulando e TVs ligadas até em espaços
públicos é socialmente melhor? O que é certo é que isto é resultado desta nova
cidade que todos nós permitimos que surgisse. Esta ai.
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Parques, ciclovias de domingo, e inocentes úteis
Ontem, mais uma vez, acabei parando
o trabalho no horário normal, às 18h00, e saindo para pedalar, relaxar um pouco,
e aproveitar o horário de verão. Eu adoro subir nas grandes pontes e parar no
meio para ver a cidade. Minha predileta é a Ponte Bernard Goldfarb, paralela à
Ponte Euzébio Matoso, que liga Pinheiros e Butantã sobre o rio Pinheiros. Não recomendo
passar por ali pedalando porque não há calçada para pedestres e as faixas são
estreitas. Mas a vista desta ponte alta é talvez a mais bela de São Paulo porque
tem poucos edifícios interferindo na paisagem, o horizonte está longe, de um
lado o Jockey Club, do outro o charme especial do Pico do Jaraguá bem ao fundo.
Meu sonho é que um dia a ponte sirva para um museu ou memorial de estrutura
leve e envidraçada. Basta a população querer. Nunca deixe de sonhar.
Infelizmente praticamente todas as
pontes desta cidade, principalmente as mais novas, foram projetadas para a
passagem de única e exclusiva de veículos motorizados. Ciclistas e pedestres ou
não tem espaço para circular, ou só conseguem chegar a elas com grande risco. Ouvi
dentro da Prefeitura a seguinte pérola: “Se (o pedestre) quer cruzar o rio
(Pinheiros) que pegue um ônibus”. Como se nada menos que 34% da população paulistana,
que se locomove unicamente a pé, não existisse. Ir e vir é direito
constitucional, mas não se respeita. Bom, enfim, cruzar pedalando as pontes
desta metrópole não é tarefa tranqüila, mas necessária e não raro uma experiência
visual que vale a pena.
Quem passa na Ponte Cidade
Universitária talvez tenha visto que já construíram uma rampa de acesso para o
que em breve será a continuação da Ciclovia Marginal Pinheiros. Mais uma obra
caríssima para uso quase restrito de lazer. Imagino que deva ser ligada ao
trecho já existente e com este novo acesso os 25 km de ciclovia (se não me
falha a memória) terão ao todo 3 acessos: Jurubatuba, Vila Olímpia e Cidade
Universitária. Havia sido prometido o
acesso ao Parque Villa Lobos e Parque do Povo, e um próximo da ponte João Dias,
mas não consegui ver as obras, portanto deve se restringir a estes 3 acessos.
O custo desta ciclovia na margem Pinheiros
deveria despertar atenção, mas todo mundo está feliz e fazer qualquer
comentário é tido como uma chatice inconveniente. Triste. Só dá para entender que
a população aceite os acessos hoje existentes partindo da premissa que “qualquer
coisa que vier é boa”. Definitivamente não partilho deste princípio. O que
resta é ter a esperança que a pintura vermelha não seja tão escorregadia como a
plicada no primeiro trecho, que derrubou uma quantidade grande de ciclistas,
incluindo alguns profissionais.
Acabei meu dia pedalando no Parque
do Povo, que a cada dia fica mais simpático e agradável. A ciclovia é estreita
e é preferível pedalar no sentido anti-horário para ir junto com o pessoal. Tenho
muito mais medo de ciclista vindo no sentido horário que de pedalar no
trânsito. É mais agradável que pedalar no Ibirapuera onde há muito pseudo-ciclista
pseudo-treinando nos dois sentidos; uns loucos. A saber: números apontam os
parques como os locais mais perigosos para pedalar na cidade, com o Parque Ibirapuera
praticamente invicto. Interno de bairro é muito mais seguro.
Como a Ciclo Faixa de Domingo só
abre nos domingos durante o dia, com uma logística bem trabalhosa e custo
operacional alto, que também parece não interessar a ninguém, tenho que voltar
pedalando no meio do trânsito. Sei quem sou e qual é o jogo, e sigo tranqüilo,
sem atritos. Só sinto pelo desinteresse dos paulistanos pela bicicleta como
modo de transporte. Praticamente tudo que foi implantado em São Paulo nestes
últimos anos, que é muito pouco se comparado a outras capitais mundiais, tem um
cheiro de politicagem barata. E o paulistano pedala nela.
domingo, 5 de fevereiro de 2012
Barulho indecente
O
Estado de São Paulo
São Paulo Reclama
São Paulo Reclama
Venho por meio desta pedir ao Excelentíssimo Senhor Prefeito
Gilberto Kassab que tome providências em relação ao altíssimo barulho emitido
por alguns veículos que circulam por São Paulo, modelos esportivos de carros e
motos, e veículos populares equipados com potentes aparelhagem de som. Os dois
melhores índices de aprovação de seu governo são o “Cidade Limpa” e as
melhorias cicloviárias, ambas ambientalmente corretas, o que pode indicar que a
população ficaria muito feliz e sadia vivendo dentro dos padrões de som
permitidos por lei, o que claramente não é cumprido, principalmente nos fins de
semana.
Proprietários de Ferraris e Harley Davidsons, dentre outros
veículos esportivos, mas principalmente, deveriam se envergonhar fazendo tanto
barulho. Eu sei, eu sei.... Imagino eu que seus proprietários já tenham viajado
para fora do Brasil e (imagino) que tenham percebido que em metrópoles de
primeiro mundo, civilizadas, qualquer veículo, independente do preço e conseqüente
sofisticação, rodam dentro dos padrões da boa convivência, portanto sem gritar “olha
eu aqui!”. Isto inclui Ferraris, Harleys, e afins.
Pela cidade também circulam inúmeros carros com sistema de
som digno de trio elétrico de carnaval. O som de alguns é tão alto que a
diversão dos proprietários é passar pelas ruas e disparar os alarmes de todos
carros estacionados. Em portas de bares e vários outros pontos de encontro o
problema se repete sem que nenhuma autoridade se apresente. Vale o mesmo “olha
eu aqui!”.
Acredito que uma autoridade que enfrentou a sujeira visual e
obteve ótimos resultados não vá sentir-se constrangido em obrigar a colocação
de silenciadores ou de aprender o carro que tenha um trio elétrico ligado na
caçamba ou porta-malas. Há uma lei a apoiá-lo.
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