quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Mais uma chacina, desta vez mais uma carioca

O que houve no Rio de Janeiro? Não sei. As primeiras notícias foram de arrepiar, 64 mortos. Confronto entre polícia e bandidos traficantes? Só isto? Para mim o absurdo é só uma mínima parte da barbárie. O que mais, o que não estamos sabendo? O que não interessa que venhamos a saber?

Acordei, tomei café da manhã e olhei o celular. Triste notícia, Mif, minha querida Mif, minha protetora durante os anos de relacionamento dela com meu pai, se foi. Triste por que depois do seu tombo, creio que banheiro, que resultou num estado de demência, não a fui visitar. Não tive condições mentais, exausto com meus problemas, os mais variados que vieram numa tacada só. Fico feliz que tenha ido. Ninguém merece passar de certo ponto de vida. Ninguém merece.

Programei minha ida ao velório, caiu uma tempestade que parecia não ter fim, e já não tinha tanta certeza que conseguiria ir. E ouvindo as notícias na rádio soube que o povo estava carregando e depositando corpos da chacina do dia anterior no meio da comunidade, mais de 50. Celular na mão vi a foto da Reuters tirada por um drone. Imagem impactante, muitos corpos cobertos e muitos só de cueca, todos estendidos lado a lado no meio de uma rua, que segundo a rádio, uma das principais da comunidade. 

Liguei a TV e o que ouvi foi assustador, ou, melhor, desanimador, brochante. No meio da violência que vivemos ser assustador ficou para trás. Brochante! "Peço desculpas, Mif, mas não consigo ir (ao velório)" falei baixinho, olhando pela janela o sol que aparecia. No notícias do UOL começaram a sair detalhes que a rádio não dera. Selvageria total, com todos requintes de crueldade possíveis. 

Um monte de perguntas começaram a zuar minha cabeça. E uma exclamação que tenho certeza que deve estar na boca de muita gente: "bandido bom é bandido morto". Exclamação burra. Sou contra, não por razões ideológicas, mas por puro pragmatismo. Morreu, foi-se um arquivo, talvez precioso. "Numa guerra (guerra?) mortes são inevitáveis", disse algum imbecil sobre o ocorrido. Sim, numa guerra, a primeira que morre é a verdade. 
Estamos ou não numa guerra pouco importa, só me interessa resultado: quero, como todos queremos, paz. 

No meio de tantas perguntas que se seguiam às notícias voltei a me perguntar: O que realmente foi aquela operação policial no Guarujá? O que realmente está acontecendo? Por que nossos (nossos?) políticos e autoridades não conseguem resultados em relação ao crime? Por que nunca se interessaram para valer? Ineptos? Opa! na procura pelo sentido exato de 'inepto' dei com "ineptocracia". Com certeza, por aí. Mesmo que estejamos numa ineptocracia, vale a pergunta: Qual o interesse em manter as coisas assim? Violência é rentável, eu sei, muito rentável, dos mais rentáveis negócios existentes. Mas, o que mais? O que nos falta compreender?

O que realmente aconteceu nesta operação violentíssima, a mais violenta da história do Rio de Janeiro? O que está por trás? A resposta de vários comentaristas é simples e direta: eleições. Com certeza, sim; mas o que mais?

Quanto mais chegavam notícias, mais a situação toda se mostrava uma barbárie sem tamanho, injustificável. Os mortos, número assustador para um "confronto" entre polícia e bandido? Não, injustificável, porque ninguém consegue responder as perguntas mais simples e sensatas, começando pelo "como nesta operação para frear os bandidos o governo carioca não tem um programa de ação?" Entraram, encurralaram, mataram e foram para casa jantar? Este é o programa do Governo do Rio de Janeiro para a redução da violência urbana? Upa!

O que as forças de segurança cariocas (forças de segurança?) fizeram sabemos. Alguma coisa está vindo a tona, mas e o que mais? Começando pela pergunta: dos da comunidade, quantos foram ver os corpos, quantos protestaram, e quem? Quantos perderam os seus? Quem são? E a pergunta que não quer calar: quantos locais não podem se expressar livremente sobre o ocorrido? Imagine os que vivem um inferno cotidiano e querem que os que lhes trazem o inferno real no dia a dia vão para o inferno. Corrigindo, caso necessário: quantos simplesmente querem viver em suas casas na comunidade em paz? Paz!

Paz, mas a que preço?
Como se constrói a paz e prosperidade? 

Volto a recomendar que vejam os novos documentários sobre a Segunda Guerra Mundial que estão revendo a história, abrindo detalhes que antes não interessavam a muitos, mas que mostram que a verdade não foi exatamente aquela que conhecíamos. Revisitando a WWII, Revisando a WWII e WWII a cores. Contam a história como foi, não a dos vencedores e perdedores. 

Eu quero paz, e sei que a imensa maioria também quer paz. Só chegaremos a ela quando soubemos o que realmente está acontecendo. Este massacre na Penha e no Alemão pode ser chamado de um ponto fora da curva, um absurdo, ou qualquer outro adjetivo forte, dramático, mas faz parte de um processo que vivemos a décadas, que normalizou-se e é inaceitável. 

Talvez o meu bater sempre na mesma tecla seja só uma chatice. Talvez toda esta violência seja aceitável, não nas palavras e reclamações, mas na alma de muita gente. 




quarta-feira, 29 de outubro de 2025

A burrice de comprar de produtos muito baratos sem procedência

Eu nunca fiz a burrice de comprar algo que tinha consciência que era produto ilegal? Claro que sim. Mas, se arrependimento matasse eu estaria morto e enterrado. Aliás, algumas das besteiras que fiz não consigo me perdoar, nada fora do trivial de todos nós fazemos pela vida, besteiras comuns à juventude, mesmo assim não consigo me perdoar. 
Meu sonho, como de tantos, é um país melhor, mais justo com todos, sem exceção, e a construção deste ou de qualquer país, como de qualquer outra coisa, passa por não cruzar algumas linhas. Pelo que se está vendo, passamos direto e sem remorsos, pior, com frequência e com sérias consequências.

Minha cabeça começou a mudar lá pelos anos 90 quando foi publicado um artigo sobre o problema da informalidade da economia Italiana, muito alta, e suas consequências sociais, as mais diversas.

Há momentos que você se vê sem saída. Protecionismo é um destes fortes geradores de informalidade ou ilegalidade, que estão muito próximas, mas tem lá suas diferenças. A maioria das bicicletarias deste país teriam fechado as portas se não trabalhassem na informalidade, disto não se tem dúvida. Ciclismo de estrada profissional não teria existido durante a ditadura não fosse pela "ajudinha" da alfandega que fazia vistas grossas para a entrada das bicicletas.

Por imposição do setor de bicicletas, então oligopólio Caloi - Monark, principalmente Caloi, tudo era difícil e não raro comprávamos peças que sabíamos que eram contrabando nos primeiros anos do mountain bike. Produto de roubo era inaceitável. Esta linha, pelo menos o pessoal com quem convivi não cruzava mesmo, até porque naqueles anos, 80 e 90, sabíamos muito bem a diferença entre bandidagem e ilegalidades necessárias. Ilegalidades necessárias? Sim, ilegalidades que eram fruto de legalidades irracionais, ou, caixinha, obrigado. Ou, criar dificuldades para vender facilidades. É ridículo, mas ainda estamos margeando esta realidade.

Que se diga, naquele fim de anos 80 e início de 90, praticamente tudo dentro do mundo da biciclceta era 'por fora'. Quem estava dentro do mundo da bicicleta tinha notícias, de fontes confiáveis, de que até os oficiais, os bonzinhos, também sonegavam, quando não compravam 'por fora' para valer. (Não, você jura!?) Vivíamos por parte de alguns um "eu faço o que quero", traduzido para um "sabe com quem está falando?" feroz, ameaçador, malvado, e toca malvado nisto.

Não funcionou! Não funciona! O setor de bicicletas no Brasil desintegrou, literalmente, como tantos outros setores que desintegraram pelos mesmos motivos. E, óbvio, o país como um todo. Este desvio não é exclusividade do Brasil, mas como sempre nós caprichamos na dose. Tivemos o terceiro maior parque industrial ligado às bicicletas do planeta. Hoje não somos nada, simples assim. Fruto de proteção de mercado e bandalheira vestida de boazinha. Ou, "sabe com quem está falando?"

Dá para fazer dentro das regras? Claro que dá. Aliás, precisa! O início da Specialized no Brasil sob comando dos Dranger (1988 - 1992) foi nos conformes da lei. A Curtlo, marca tradicional de mochilas, bolsas, roupas e outros equipamentos esportivos, também. São Inúmeras as empresas que preferem jogar o jogo correto. Isto para citar dois que conheci a história, mas poderia citar muitos outros.

Fato é que o criar dificuldades para vender facilidades está aí porque este jogo de perde-perde tem aceitação geral. É o famoso "eu sou esperto". O que dizer de bebidas com metanol, veneno baratinho? "Bebida falsificada sempre teve", não é isto que dizem os entendidos? Eu não bebo, mesmo assim sabia da história.

Injusto dizer que é de aceitação geral? Como justificar aquele tempo que o "bom negócio" eram as lojinhas de 1,99? Como justificar as atuais bets digitais que trabalham na completa informalidade, inclusive patrocinando time de futebol grande. 

Da barraquinha vendendo bugiganga à entrada dos fuzis do tráfego. No final, qual a diferença? Sim, a diferença é que as bugigangas e outras besteirinhas armaram os bandidos do país. 

De grão em grão o bandidão enche a munição  


terça-feira, 28 de outubro de 2025

Uau! A USP aceitou ter uma estação de metrô


Quem acompanhou o projeto da Linha 4 sabe que o traçado original passava pela USP e que o conselho da mesma USP disse não, aqui não. Está publicado. Quando inauguraram a Estação Butantã caiu a ficha da burrice sem tamanho.

Mais atrás no tempo, foi apresentado o projeto de uma ponte passarela ligando a USP com a estação CPTM Cidade Universitária, do outro lado do rio Pinheiros, que também foi recusada pela USP. A alegação foi uma prévia do que aconteceria com a linha 4 do metrô.

USP é um enclave universitário, nos bastidores esta foi a alegação para os não. De fato é, mas "universidade" só se alcança com inteligência.

Volto a dar parabéns aos manda chuvas da USP por aceitar que seus alunos possam acessar a universalidade da inteligência sem ter que ir dirigindo um automóvel. Nada contra automóveis, tudo a favor de uso inteligente de todas possibilidades disponíveis para transporte.

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Segurança, colaboração, empatia

A partir do momento que eu parei de reclamar dos erros dos outros no trânsito passei a pedalar muito mais leve e seguro. De novo, as pesquisas não deixam qualquer dúvida que minha sensação tem fundamento. Quanto mais tenso estou, mais suscetível estou para erros e acidentes. 

Na romaria dei com um senhor tentando consertar um vazamento no banheiro. Era um trabalho complicado porque para resolver ele teve que trabalhar pelos dois lados da parede, sem fazer muito barulho. Estávamos num hotel. No momento que fui ver o que acontecia, ele estava parado, olhando o cano que ainda pingava, pronto para descer e ir tomar um cafezinho. Contou que tinha chegado o momento que estava perdendo o equilíbrio emocional, com uma vontade imensa de estourar tudo para se acalmar. "Conserto deste lado, começa a vazar do outro. Estes canos estão velhos, tinha que trocar tudo, mas é impossível. Tenho que dar jeito. Vou tomar um café e depois volto para olhar isto com calma". Contei alguns dos meus 'causos' de quando perdi a cabeça por não conseguir resolver o problema. Demos muita risada com nossos causos, ele se acalmou, desceu para o cafezinho, voltou e finalmente resolveu o vazamento.

Num jantar ouvi de Ricardo que ele estava indo à academia. Não aguentava mais sair da cadeira de trabalho uma hora sentindo dor no ombro, outra nas pernas, outra... Falei para ele aproveitar a bicicleta que está na garagem e dar umas voltinhas curtas. "Não me sinto seguro. Não tem onde pedalar. Não dá para ir ao Ibirapuera. Demora. Lá me sinto seguro". Tentei convencer o contrário, mas não consegui. Os seus dogmas estão muito bem encrustrados. Não é seguro e ponto final. Minha esperança, vã, diria, é que uma hora ele se dê conta que precisa de um chute para mudança assim como precisou para ir à academia.

Você sabe com quem está falando? Ou será o complexo de vira-latas? Nossos, digo. Segurança, colaboração, empatia, são parte de nossa cultura? Em que grau?

Uma camera de segurança pegou um motoboy sendo assaltado e tomando um tiro no pescoço com uma dezena de pessoas em volta. Caiu no chão, esticado, as pessoas olharam e se afastaram. O assaltante saiu corrento, mais andando rápido que correndo, sem muita preocupação em ser pego. Tem prática, sabe que ninguém reage. Um outro motoboy deu a volta com sua moto, parou dpasmano lado do corpo estendido no chão, olhou, acelerou e sumiu. Segurança? Empatia? Colaboração com a segurança pública? A sequência foi pasmante. Aquele corpo agoniante estendido no chão não significou nada para todos que estavam em volta. Segurança, colaboração, empatia? Zero.

Somos todos assim? Não creio, não quero acreditar. Então, por que deixar a bandeja sobre a mesa da praça de alimentação? O que uma bandeija deixada numa mesa tem a ver com um corpo estendido no chão? Tudo. O grande começa no pequeno detalhe. Deixar a mesa porca para o outro tem tudo a ver com não querer socorrer o próximo. "Pobrema dele!", foda-se o mundo.

Segurança, colaboração, empatia.
Unidos venceremos! Pense nisto.   








Há documentação farta sobre segurança, em todas áreas. Há documentação farta sobre qualidade de vida, em todas as áreas. Há documentação farta sobre a diferença que faz o comportamento individual no coletivo e o coletivo no individual. Todas as documentações, todos os dados, todas as pesquisas não deixam a mais remota dúvida que empatia e colaboração é o caminho para conseguir resultados positivos, em tudo, para todos. Segurança é fruto da colaboração. Segurança é fruto de empatia. Segurança, a real, não a falácia, tem tudo a ver com "unidos venceremos". Segurança sem colaboração, empatia, é uma retabilíssimo negócio.

Tenho batido nesta tecla a exaustão e espero que um dia as pessoas entendam esta verdade. Não é a minha verdade, até porque ela não existe, mas o que nossa longa história, como espécie viva, ensina.

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Pesquisa mostra a aceitação das ilegalidades


O Estado de São Paulo
Notícias, Brasil 
Comentários 

Acredito nesta pesquisa que aponta a aceitação de compras de produtos irregulares e ilegais, mas tenho lá minhas razões para considerar os números baixos. Uma delas, a vergonha de falar a verdade que pensa. O trivial 'faz, mas não conta'. De qualquer forma a pesquisa é o mais fiel reflexo deste Brasil que vivemos. Nenhuma novidade. Complicado é fazer um exercício cruzando estes números de aceitação de irregularidades com outros problemas que temos, como a qualidade e responsabilidade social de nossas autoridades e representantes públicos, a bem dizer não só deles. Nunca a bandalheira foi tão escancarada e aceita.
A filosofia por trás de nossa realidade é "eu quero o meu, e quero agora", e não se enganem, aí entra um "antes que o outro leve". Ou, "não tem jeito mesmo, então..." Exemplo banal é o furar fila, hábito tão comum entre nós. Ontem mesmo uma 'senhora de fino trato' deu uma sensacional furada de fila do caixa de supermercado em cima de uma empregada com carrinho lotado de compras, óbvio, como se fosse regra natural. 
Fato é que o tradicional bar Ministrão, nos Jardins, reabriu as portas e o público voltou sem se importar onde compram a linguiça da feijoada. Ministão esteve fechado porque vendeu bebida envenenada que cegou uma mulher de 40 anos. Quem se importa?. Como apresenta a pesquisa, todas classes sociais se comportam igual. É triste realidade entranhada no nosso espírito. E, por favor, jeitinho brasileiro é outra coisa, pelo menos foi, usar a inteligência para buscar alternativas inovadoras e funcionais. Informalidade é uma coisa, aceitar bandidagem é outra, não confundam. Não aceitem.

domingo, 19 de outubro de 2025

Ocorrências na romaria. E a fé (?) na cidade de Aparecida.

Os números oficiais batem por volta de 40 mil romeiros que caminharam pela Dutra, com quatro mortes, dois atropelamentos e dois latrocínios. Atropelamentos fazem parte. Latrocínios é a deprimente novidade.

Um dos atropelamentos foi de um ciclista, divulgado numa das matérias jornalísticas, dá, como sempre, que "o motorista do caminhão fugiu sem prestar socorro". Tendo pedalado algumas vezes em estradas com romarias, principalmente na Dutra, pergunto: qual foi o tamanho do caminhão envolvido na ocorrência? Duvido que o motorista tenha percebido, principalmente se foi dos grandes. E precisa ver se ele "atropelou" o ciclista ou o ciclista colidiu, bateu, no caminhão. Fácil acontecer, até pelo deslocamento de ar provocado pelo caminhão que puxa o ciclista para dentro da pista. 

É perigoso fazer a romaria pela Dutra? Este ano tivemos um romeiro morto por 10.000 em acidente de trânsito. Não vou fazer os cálculos para comparar com a realidade do trânsito no geral. Aliás, vamos fazer uma correção, pelo que foi noticiado foram dois latrocínios e duas ocorrências de trânsito fatais, portanto 1 morte / 10.000 romeiros. O que pouco diz, porque foram divulgadas as mortes, mas não as circunstâncias, o que faz toda diferença. 
Afirmo com todas as letras: ciclistas fazendo barbaridades no meio da romaria é o que sobra. Em romarias passadas cansei de ver ciclista ultrapassando romeiro que caminha das formas mais absurdas. Vão culpar do caminhoneiro sem saber o que realmente aconteceu? Eu não entro nesta, não sou tão simplista, ou simplório, como queiram.

Contando como foi a minha romaria em bicicleta, mais uma vez ouvi que "é muito perigoso". Interessante é que uma terceira que estava na conversa respondeu por mim. "É menos do que parece porque tem muita gente no acostamento e os motoristas ficam atentos. Ciclista sozinho no acostamento é muito mais perigoso". Uau! Na mosca. 

Continuo recomendando a todos que façam uma romaria, mesmo para os que não são religiosos. É uma experiência única.
 
É emocionante ver a assistência que recebem os romeiros. São inúmeras as barracas, carros, picapes, ounibus parados distribuindo água, frutas e outros. A cada ano que passa a estrutura na Dutra cresce e fica melhor. Os responsáveis pela Dutra querem tirar a romaria de lá, mas duvido que consigam. 

A Basílica de Aparecida sempre foi imponente. A área de recepção ao romeiro bem estruturada. Mas a cidade de Aparecida... é horrorosa. É um grande mercado de pulgas, com uma poluição ambiental impressionante, um comércio de bugigangas as mais variadas que faz o que quer. É de uma pobreza sem tamanho, pobreza que custa caro, pega turista, pega romeiro, abusa da fé, e custa caro, bem caro.
 
Tive que esperar para embarcar no ônibus de volta a São José dos CAmpos por mais de três horas. Peguei a bicicleta e fui rodar para ver melhor a cidade. Fui um pouco para o lado dos bairros, que não fogem da precariedade que se vê nos  bairros de classe média das cidades de interior. Agora o centrinho, onde está o comércio pega romeiro, pega turista e pega trouxa, este é um escândalo de bagunçado. Exagero? Ora, vá lá e faça uma comparação com a área cercada da Basílica e a própria Basílica, e tire suas conclusões. Aparecida toda é pega turista, a questão é como e com que qualidade dentro ou fora da área da igreja, leia-se Basílica.

Deixo algumas perguntas. Aquilo, da forma que está, é rentável para a "Santa Igreja Católica"? Pensando como alguém que tem formação cristã, será que Cristo concordaria com aquilo tudo? Olhando aquilo vem a cabeça imediatamente a passagem dos vendilhões do templo. 
Igreja é uma coisa e poder público é outro, ou deveria ser, mas será que a igreja não tem poder de pressão para organizar um pouco melhor tudo aquilo? Por fé na no feio, mal feito, desagradável, faz parte da formação religiosa? 
Política e religião não devem se misturar, o Estado é laico, mesmo que em todos os poderes seja comum ver um crucifixo nas paredes e agentes do estado citando Deus.

Olhando tudo aquilo, toda a poluição visual, toda a bagunça comercial, o povo circulando para comprar lembranças de seu ato de fé (?), o contraste feroz com a beleza da Basílica... Não pude deixar de pensar muito. 



quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Roubos banalizados nos condomínios resultam em roubos bilhionários

Na reunião de condomínio sobre o fim da reforma da entrada do condomínio e garagens, falei sobre a questão da segurança das bicicletas, problema comum em praticamente todos condomínios. Roubo da bicicleta completa ou de peças, algumas que não fazem qualquer sentido, mesmo assim roubam.

Terminei de expor minha opinião, a síndica contou uma história que me surpreendeu. Olha que achava que já tinha ouvido de tudo. Um dos moradores decidiu sair para pedalar no domingo, pegou a primeira bicicleta que encontrou, uma feminina de uma outra moradora, e foi embora. Desceu a dona da bicicleta, deu falta da bicicleta, armou-se a confusão, foram até as filmagens e deram com o ocorrido. Final do dia volta o larápio, melhor, quem tinha tomado emprestado a bicicleta, bicicleta sem a cestinha, daquelas grandes e caras. Vão ao encontro dele, que fica furioso por estar sendo interpelado, e mais furioso ainda quando a dona da bicicleta pergunta onde está a cestinha. Responde ele irritadíssimo que a cestinha fazia barulho, ele ficou irritado e a jogou fora sem lembrar onde.

Roubo nos bicicletários dos condomínios é relativamente comum, mas está longe de ser problema exclusivo. Num outro condomínio, duas torres muito bem estruturadas para classe média alta, foi instalado um micro mercado com o básico do básico, depois que houveram alguns assaltos nas ruas próximas. Óbvio que o micro mercado com sistema de segurança, camếras e um dispositivo para entrada. Você entra, pega o que quer, passa num leitor, paga e leva, como deve ser. Só os moradores tem acesso. Mesmo assim ocorrem roubos. Pior, frequentes.

Nunca ouvi, nunca soube, que um destes casos, roubos, tenha resultado em uma reação mais civilizada, ou seja, pelo menos levar a conhecimento coletivo do ocorrido expondo em aberto o responsável. Mas, como se costuma dizer, para não criar mais problema, deixa como está.

Temos que parar de abafar os ditos pequenos problemas. Lembro que este maldito habito do silêncio custou a todos um discreto desvio de mais de $ 60 bi de Euros, na contação da época, no Petrolão, aliás sóna Petrobras,  desvio devidamente contabilizado. Os responsáveis foram julgados inocentes por erro processual, mesmo com documentação farta provando a culpa. O dinheiro foi devolvido? Não me lembro. É provavel que não. Começa pelo roubo na garagem e termina nos bi. Coisas do país que para não piorar, deixa como está.

terça-feira, 14 de outubro de 2025

Tragédia da educação básica



Não interessam os números, interessam os resultados, e os de nossa educação básica são vergonhosos, para não dizer nojentos, estúpidos. O futuro de todos brasileiros, sem exceção, não está em jogo, já foi-se, e parece que não se percebe. 
A burrice da elite, todas e de todas matizes, em acreditar que o futuro dos seus estudando nos melhores colégios estará garantido é inaceitável, primeiro porque prova que a geração dos pais e avós, todos e de todas matizes, que aí estão não receberam educação com a mínima qualidade para entender o que é e como se constrói uma sociedade, um país, uma nação. Depois por acreditarem que atrás de muros estarão garantidos, o que vale para todos e de todas matizes. 
O deprimente é constatar que a esquerda brasileira que poderia e deveria ter mudado esta história, até pelo que dizem ser seus princípios, não o fez, e não parece interessada fazê-lo, a prova irrefutável está ai. A direita liberal, por sua vez, não teve a inteligência e discernimento pragmático para entender a importância de criar uma força de geração de capital com alto valor agregado. Enfim, a estupidez é generalizada e o resultado é o que temos na educação básica.

Que lindos números! Nossa! quanto progresso! A verdade é que nossas crianças estão cada dia menos preparadas, portanto os lindos números não interessam, não dizem absolutamente nada frente aos resultados vergonhosos. Aliás, repetindo e recordando, um dos meus livros prediletos: Como mentir com estatísticas, de Darrel Huffy, best seller desde o fim da década de 50. 

A escola de Cubatão que foi premiada com louvores dá o caminho. Ou todos são pela educação ou não vai.

Escola tem que ser 'o' ponto de referência de qualidade, começando até pela pintura e outros cuidados básicos com a construção. Estou cansado de ver escolas públicas cheias de necessidades de cuidados com a aparência. Justifico: O Terminal Barra Funda foi por muitos anos uma referência nacional e internacional do que a qualidade do ambiente faz pelo comportamento social. Havia uma diferença sensível entre a qualidade ambiental da área da CPTM e a do Metro. As câmeras de segurança sobre as catracas mostravam uma diferença enorme do comportamento do povo antes e depois de passar a catraca. Não precisa tanto, no metrô é raro ver alguem jogando um papel no chão ou depredando. Teoria da janela quebrada.

É inadmissível que tarde ou falte verba para manter as escolas impecáveis. Escola não pode ser um reflexo de seu meio ambiente. Escola tem que ser a referência do que se espera para o futuro. Vou mais além, não precisa necessariamente ser um CEU ou CIEP grandioso, até porque em muitos lugares é inviável, tem que ser o mais acolhedora possível, um lugar onde se tenha vontade de ir e vivenciar.  

Quem se interessa?

Quem tiver acesso ao Opinião do Estadão recomendo a leitura do sensato comentário feito pelo professor Edson Del Rio. 

domingo, 12 de outubro de 2025

Clube do Bolinha e Clube da Luluzinha

Faz um tempão algum de nossos brilhantes deputados ou deputadas, sei lá quem e não quero saber, falou uma das bogagens que a cada dia eles mais disparam, algo relacionado ao Clube do Bolinha e Clube da Luluzinha, provavelmente mais uma referência a questão de gênero e a distorção religiosa sobre homem é homem e mulher é mulher, ou coisa que o valha. Bom, enfim, acredito que Deus, quem quer que seja, é mais sábio e inteligente que este pessoal que diz representar a palavra dele. 
Não, não, não, não vou entrar neste tema, mesmo já tendo entrado nele. 

Clube do Bolinha e Clube da Luluzinha? Opa! óbvio que vida continua assim, cada um nas suas casinhas, ou clubinhos. Não é discussão de gênero, de religião, do que quer que queiram, é tudo, fato corriqueiro, parte desta vida "vocêsabecomquemestáfalando?". Os iguais se encontram e gostam de ficar juntos. Sacaneando, efeito boiada ou efeito galinheiro. (Agora é que eu apanho.) Não pensem errado, efeito boiada, aqueles ou aquelas que ruminam; efeito galinheiro, aquelas ou aqueles que não param de cacarejar, nada mais, o resto é imaginação fértil de quem me lê aqui.


Brasil se divide muito mais que na política. Vivemos faz muito num país de enclaves pré medievais. Clube do Bolinha ou da Luluzinha? Ridículo! Exagero meu? Quantas ruas você conhece onde as casas, apartamentos e condomínios não são muradas? Quantos lugares deste país se têm total livre acesso? Quantas rodas de conversa são realmente abertas? 

Está pesquisa é maravilhosa porque começa abrir a caixa de pandora que nos explica. Espero que aos poucos toda a pesquisa venha a público. Não sei bem se servirá para nos ajudar a sair deste profundo buraco, mas é um começo.

E cá estou eu, me descobrindo como "progressista militante". Chiquérrimo! Por esta não esperava.

Obrigado a minha mãe que de maneira sabia soube levar uma família que conversava, mais e mais importante, nunca brigou. Aliás, eu e meu irmão tivemos uma única briga na vida, isto pouco anos de minha mãe morrer. Se arrependimento matasse, teríamos morrido nós dois. 

Obrigado tia Nenê, que mesmo com a casa sempre lotada conseguiu dar um basta em brigas políticas, ideológicas e religiosas que não levavam a nada. Ali as pessoas conversavam.

Brigar, ter posições pétreas? Brasil, cresça e apareça!

Dutra para romeiros?


Ainda vão ser divulgados os números finais sobre quantos romeiros caminharam pela Dutra para a Basílica de Aparecida, mas pelo que vi e pelo que disse um policial rodoviário, neste ano de 2025 foi recorde. Os noticiários falam em 40 mil. Eu, que fui mais uma vez pedalando, posso ter tido a coincidência de ter visto blocos concentrados, uma longa e lotada fila indiana de romeiros mas por 100 km nos dois dias que pedalei, a quatro e dois dias do evento principal? Tenho a sensação que vi mais gente que na romaria dos 300 anos da Santa e no pós pandemia, dois anos atípicos.

Com tanta gente caminhando pela estrada a Polícia Rodoviária Federal fica com um problemão nas mãos. Fazer posts avisando que caminhar na Dutra é perigoso, que há caminhos alternativos, etc... não freia e não freará a vontade dos romeiros em percorrer um caminho que é considerado tradição. Nos ultimos dias anteriores ao 12 de Outubro, dia da Padroeira, a situação piora, porque além da massa que caminha começa a loucura dos ciclistas que querem fazer os 180 km direto, no menor tempo, um desafio para provar aos amigos quem é quem.


Tentar controlar uma massa destas é difícil, mas não impossível. Tentar impor regras é um esforço praticamente inútil. Tem que encontrar uma receita fora do cardápio.

Acabam de anunciar que pretendem construir uma "passarela" de 134 km entre Arujá e Aparecida. De cara digo com todas letras: SOU CONTRA! Explico depois.
O ideal seria entender como a massa pensa, o que quer e vai fazer, e a partir daí estabelecer como agir. De cima para baixo em cima das regras não funciona.

Tem que jogar com sutileza.

A sinalização para motoristas e motociclistas sobre a existência de romeiros deveria ser intensificada. Numa romaria passada vi uma sinalização luminosa estabelecendo redução de velocidade para todos veículos, o que deveria ser norma nestes dias de romaria. Desta vez tive a sensação que estava menos sinalizada.

Não acredito que se consiga tirar os romeiros da Dutra, nem acho desejável. Acredito que uma simples linha de marcação orientando o limite onde podem caminhar já resolveria boa parte dos problemas. Pensar simples, acreditar no outro. "O CTB não permite... Não dá certo. Você não sabe o que diz. Está louco..." Besteira. Segregação,  passarela, usar o CTB,  é querer se proteger sob o manto da lei e de técnicas tradicionais; as mesmíssimas que cansamos de ver não dar o resultado esperado, que vivem sendo questionadas e em muitos casos estão caindo em desuso.

Que cidade você quer? Que estrada você quer? Entre as estas duas perguntas há muito que responder. Conurbacão e estradas conurbadas, você sabe o que é? Sabe o tamanho do problema? Qual? Escolha: econômico, social, urbano, humano... , escolha. Em outras palavras, seu bolso.

Uma passarela para romeiros? Passarela para romeiros? Estão dizendo que ciclovias e ciclofaixas atingiram o rodos objetivos desejados, que não há criticas pertinentes? Vão repetir a dose pago pelo bolso de todos?

SOU ABSOLUTAMENTE CONTRA A CONSTRUÇÃO DE UMA PASSARELA PARA ROMEIROS DE APARECIDA.

Há uma profunda dificuldade em se acreditar na inteligência das soluções simples. Algumas delas parecem loucura sem sentido, até a hora que dão certo.

O simples fato de terem iniciado a marcação de solo que separou ciclistas dos pedestres no Parque Ibirapuera já foi suficiente para o público se organizar e fazer por conta própria a separação.
Ciclo ativistas pintaram bicicletas no asfalto da rua Groelândia. De imediato os carros passaram a trafegar mais a esquerda e dar espaço para os ciclistas.

Voltando de Aparecida para São José dos Campos em ônibus, já a noite e com chuva, fiquei impressionado com a quantidade de romeiros caminhando encharcados e no escuro. 

Sim, há um problema a ser resolvido, mas há de se levar em conta que é um problema pontual. Problema mesmo, do qual nunca se fala uma palavra, é da população conurbana, que trabalha as margens da Dutra e de todas rodovias deste país. 
Acredite, na SP55, que cruza Caraguatatuba e Ubatuba, acontecem duas romarias por dia, uma na ida ao trabalho, outra na volta para casa. Quem se importa?

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Dores que distorcem o pensamento

Todo pensamento está viciado pelas dores encrustadas pela vida, as pessoais e as do ambiente. É praticamente impossível pensar, fazer uma análise neutra e fria sobre qualquer assunto, sempre haverá escondida alguma dor que se imporá como um norte da verdade que se propõe ou busca. 

Aos 70 anos posso dizer que a vida me ensinou que boa parte dos pilares de nossa estabilidade emocional, muitos formados por dores, são fortes e perenes o suficiente para resistir a qualquer dúvida fundamentada de nossa linha de pensamento. Deve ter alguma relação com aquele dogma da comunicação: "Má notícia se espalha 87 vezes. Boas notícias chegam aos ouvidos de três pessoas". Esta afirmação é baseada em pesquisas. Tem tudo a ver com as dores emocionais nossa de cada dia e a forma como estruturamos nossos pensamentos e ações.

A não ser que se tome uma chacoalhada monumental da vida, daquelas divisoras de águas, o que nos dirige são os nossos pensamentos negativos. Doutrinação, se pode dizer, já que somos educados ouvindo um não atrás do outro e raríssimos sim. 

Uma pré coma seguida de um colapso total que me levou à morte por alguns minutos foi um destes momentos. Não que tenha sumido com minhas dores emocionais, os machucados da vida, mas fez tomarem um outro grau de importância e intensidade nas decisões. Minha mãe mudou completamente sua forma de ver a vida depois do cancer. Os exemplos são inúmeros, muitos usados como fórmula mágica para todos problemas. Não o são. 


"Não seja mediocre" e "As responsabilidades em primeiro lugar" da educação que recebi em casa me marcaram a ferro e fogo. 

"Não fique para trás", lema de uma sociedade de vencedores e perdedores que pesa, principalmente em quem não é exatamente um vencedor exemplar, que é o que se espera de cada um e se cobra de todos. Ser vencedor virou um veneno, uma dor que distorce não só pensamentos individuais, mas coletivos.
Hoje está em andamento uma forte reação contrária a este lema que definitivamente não é só capitalista. E assim criamos uma nova dor: ser ou não ser vencedor.
Mais ou menos resolvi este drama quando ouvi: "Quem não sabe perder, jamais saberá ganhar". 
E me aprofundei quando ouvi: "Aprenda com as dores". E, "Todo sentimento levado ao extremo causa problemas", talvez uma versão do Budismo que prega o equilíbrio, a busca do meio campo entre extremos.

O problema é comprar as dores. Aliás, é um problemão sem tamanho, tipo bode dentro da cristaleira de doces. E como gostamos do bode. 


Meu objetivo era chegar pedalando em São José dos Campos e foi cumprido, mas com as pernas fritadas. No último trecho, depois da última parada, entrou um vento de popa e simplesmente disparei, desembestei, perdi a noção do que havia programado. Estou no hotel com as pernas exaustas sem saber se vou conseguir chegar em Aparecida. Tinha programado subir pedalando a serra, o que não creio que vá conseguir. Tudo por que? Neurose. Fritei as pernas.

A saída de São Paulo para esta viagem mais uma vez foi um parto. Desnecessário, digo, porque conheço o caminho.  Medos. Medo de passar pelo Centro da cidade, medo de roubo, medo dos primeiros km de estrada, do trecho entre a principal entrada de Guarulhos e a Hélio Smitd, medo se não aguentar, medo de ter que pedir ajuda, talvez o pior de todos, medo, medo, medos... Neuroses. Medos pertinentes, mas exagerados.
Medos criados por dores que distorcem o pensamento.

E o descanso que tanto preciso, como fica com tantas travas, medos que se mostraram infundados? Dores do passado que não fazem mais sentido. Nunca fizeram, pelo menos para atrapalhar tanto.

Silêncio. Não fazer nada. Silêncio cura.

São José dos Campos para mim é bem mais que uma parada de descanso. Adoro esta cidade, adoro ficar sentado na imensa janela do meu quarto de hotel olhando as pessoas passarem na rua e o horizonte. Fazer nada. De vez em quando sair ao leo. Fazer nada.

Tenho que escrever. Tenho que fazer. Tenho. 
Há uma série de fórmulas mágicas para apagar as dores incrustadas. 
Silêncio. Não fazer nada. Funciona, é  verdade 

Mas cá estou eu tentado descansar num texto. Isto não é fazer nada 

E no meio desta minha mentira do não fazer nada...
Este treco (Tablet + Internet + robôs ou IA) subiu um vídeo do TED com o depoimento de uma das mães dos atiradores da escola de Columbine, um dos que assassinou 12 crianças e um professor em 1999, o primeiro de uma serie de massacres em escolas americanas. 
Foi a primeira vez que tive que aceitar para abrir um video. O depoimento da mãe é... Deixo para vocês.... Por alguma razão não tem link, quem quiser tem que encontrar 


Para completar esta loucura, "Dores que distorcem o pensamento", vale este depoimento de um sobrevivente do tiroteio. O final de seu depoimento apresenta um caminho...




segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Crise de energia? Ou completa irresponsabilidade?


Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

O que aconteceria com este Brasil caso houvesse um apagão generalizado de algumas horas, ou um dia? O mínimo que se pode imaginar é a queda de todos sistemas de comunicação. E com ele para absolutamente tudo. O artigo do Estadão, "Sistema elétrico nacional. Crise às avessas: Aumento de energia solar provoca desequilíbrio, crise financeira e risco de apagão" aponta para não mais um problema deste Brasil, mas para uma situação que mesmo sem esta notícia de torne realidade se apresenta como assustadora: os apagões frequentes que já estamos vivendo. Tudo hoje depende de energia elétrica, parece que nós, brasileiros, ainda não entendemos este fato inquestionável. Uma coisa é perder comida na geladeira, um incomodo mínimo quando comparado ao estrago que a instabilidade da distribuição de energia causa para tudo e todos, o que acredito a população já tenha consciência. O que parece não estar claro é o custo por minuto de um apagão, ou até mesmo um trivial pico de energia para a área afetada, e porque não dizer, para todo país. A precariedade que vivemos se deve em muito pela falta de agências reguladoras, que vem sendo sistematicamente desmontadas por todos governos e políticos. Por que será? Por outro lado, tudo indica que nós, brasileiros, entramos naquele modo "paciência..." que temos com tudo, violência, corrupção, saúde, golpes... Será que se cair todo sistema de comunicação o pessoal vai perceber que tem algo muito errado? Pelo que se lê neste artigo, a possibilidade é cada dia mais real, mesmo assim duvido que caia a ficha que o silêncio geral não dá certo. Fato é que o país que tanto queremos só acontecerá quando as agências reguladoras funcionarem a pleno poder.

É pior do que eu escrevi. A questão passa por lobbies...






sábado, 4 de outubro de 2025

Fé na estrada e foda-se o resto (pelo menos por uma semana)

Está semana é a minha mais esparada do ano: romaria! "Nossa, quanta fé", pensarão. Nada disto, misto de diversão e desculpa para fugir. Sempre gostei destes eventos religiosos, procissões e romarias, ...para ver. Melhor, fiquei apaixonado por festa popular desda primeira vez que participei de uma. Com um detalhe: as de antigamente. As atuais são muito cheias e bagunçadas, um tipo de bagunça que definitivamente não gosto. Há uma sensível diferença entre uma Festa de Santa Aquiropita, de San Genaro, Santo Antônio..., na década de 70 com a muvuca infernal que se transformaram atualmente.

Se arrependimento matasse, morreria mil vezes por não ter vivenciado estes festejos populares desde que tive autonomia para ir sozinho. Dos mais doidos foi não ter aceitadado o convite de minha avó para ver as escolas de samba do carnaval carioca ainda na av. Rio Branco. Muitos anos mais tarde fui ver como era na Marques de Sapucaí e pirei.

Não sou de pular carnaval, fogueira, soltar rojões, pagar promessas, mas sou um apaixonado voyeur, incluo aí buraco de fechadura. Ver!

Como passar por esta vida sem pelo menos ter seguido uma vez o Garota de Ipanema, sem ter passado uma noite na Marques de Sapucaí, vivenciar o pré carnaval de Olinda, ter caminhado lentamente ao lado de um andor, assistido uma missa com cantos gregorianos...? Bom, pelo menos estes eu vi. De novo, morri um pouco por não ter ido ver o Galo da Madrugada. Carnaval de Salvador? Não, este não, um pouco overdose para mim, muita gente, bagunça acima do meu limite, música muito acima de minha audição. Enfim, não perca, vá, não deixe passar. Quando novo eu "odiava", para usar uma expressão besta dos jovens de hoje. Aí fui, e pirei, adorei, virei fã.

Quando estava na Rádio Eldorado ouvi, melhor, ouvimos todos, espantados, que um jornalista tinha assistido o lançamento de um balão de 40 metros de altura. "40 metros? São uns 10 andares. Não é possível!" Sim, era. Mesmo que seja um evento de uma beleza impressionante, hoje se sabe que é um crime ambiental sem tamanho. De qualquer forma gostaria de ter visto, mesmo sabendo os perigos. Em 1978 engatilharam um revolver na minha orelha quando segurei a boca de um balão que caia. "Se rasgar eu mato você" ouvi. Devia ter uns 3 metros de altura, lindo.

Se um neto me dissesse que ia para um pancadão numa favela, confesso que iria ficar bem preocupado. Hoje tudo é 'over', tem que ser super. Nem tudo, dá para selecionar. Eu não quero ver a Marcha para Cristo que reune milhões, mas a romaria para Aparecida é divertida, o pessoal fica espalhado pela estrada, e mesmo na chegada à Basílica a coisa se dá em doses homeopáticas, aos poucos, sem tumulto.

"Você não tem medo de pedalar na estrada (Dutra)?" Sim e não. Sim, não é coisa mais cômoda, tipo pedalar num estradinha de terra sem qualquer trânsito por perto, mas também não é um drama. A Dutra é sinalizada, os motoristas entendem o que está acontecendo e tomam cuidado. Ok, vira e mexe tem atropelamento, mas pela quantidade de romeiro e pelos dias que romaria, e pelo perfil de acidentalidade que temos no trânsito brasileiro, as ocorrências são raras. Lógico que são divulgadas com alarde porque as autoridades se pudessem proibiriam pedestres nas estradas, mas isto é outra história. 
Ultrapassar pedalando os romeiros que caminham não é a situação mais segura do planeta, concordo, mas depende de como você encara a romaria numa bicicleta. O pessoal esquece que está num acostamento de uma das rodovias mais movimentadas do país e segue lado a lado conversando como se estivesse num parque. Em algumas ocasiões o ciclista tem que ir para a pista, o que concordo não é muito seguro, principalmente com caminhões por perto. Por outro lado não dá medo de ser assaltado e ter a bicicleta levada, que é o que mais temo. 

O interessante é que a cada ano que passa fico me perguntando se ainda aguento ir de casa até São José dos Campos numa tacada só, ou num dia só. São exatos 100 km que normalmente faço em 7 horas, com paradas. Já fiz em 6 horas com paradas, o que provavelmente não repetirei mais. A idade cobra. Descanso em São José pelo menos dois dias e daí vou em mais uma tacada até Aparecida, mais 80 km. Infelizmente comecei a fazer estas 'romarias' muito tarde, faz só uns anos. Gostaria de tê-las feito quando jovem ou adulto para matar os 180 km numa pedalada direta. Hoje não consigo mais. Fé na bicicleta, mas aos 70 (anos) ajoelhado no milho da velhice. Velhinho, mas inteiro.

Só agora, faz uns poucos meses, liguei o foda-se para as besteiras que colocamos como dramas da vida. Ah! O foda-se, maravilhoso e redentor foda-se! Fé no foda-se! Os bons espíritos lá do Céu entendem e até dão uma força. Paz na terra aos homens e mulheres de boa vontade, e principalmente aos que se auto-respeitam. Auto respeito é a base do respeito coletivo. Lá vou eu.

Uma das coisas mais bacanas da romaria é a ajuda que você recebe pelo caminho. Todo tipo de ajuda, bebida, comida, massagem e até atendimento médico para pés machucados, muito comum. 

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Pobreza pega

"Fique próximo de alguém rico. Sempre vai sobrar uma nota", trecho do livro "Eles e Elas – Contos da Broadway" de Danon Runyon, um clássico da literatura novaiorquinas. Boa definição de nossa época?
"Fique próximo de alguém pobre", esta não ouvi de forma explícita, mas nas entrelinhas de um monte de gente, incluindo, especialmente, políticos de todos naipes.

Faz muito que deixei de considerar pobreza uma questão de conta bancária. Para mim é uma questão de 'brain', cérebro, para começar. Mais outros tantos valores de carácter, moral, integridade, educação, comportamento social...

- Bicicleta é coisa de pobre - ladainha da classe abastada deste país que por décadas foi uma espécie de verdade definitiva. Bom, cheguei até ouvir que "caminhar é coisa de pobre". 
Pobre mesmo eram as definições de pobreza. A bem da verdade, continuam sendo, até as que caridosamente ressaltam a urgência de seu fim. De boa intenção o inferno está cheio.  

O interessante é que a ladainha hoje mudou de sentido e virou - "bicicleta é coisa de rico". De fato, eles têm razão, muitas são caríssimas. Segundo muitos trabalhadores, bicicleta é "esporte de quem não tem nada mais para fazer". Hoje o desejo de pobre*, leia-se trabalhadores, é trocar a bici por uma moto.
* uso do termo pobre ligando aos trabalhadores menos remunerados não é meu, assim como "coxinha", que se refere a ciclista de classe média abastada, e "lycrete" que se refere aos ciclistas que pedalam para treinar vestidos com roupa chiques de ciclismo e bicicletas caras também não é meu.

O convívio obrigatório por razões sociais com a boçalidade, a estupidez, a mediocridade sempre me incomodaram, isto desde muito pequeno. A bicicleta pode ter sido um catalizador no meu conceito do que é ou não 'pobre'.. Pedalando desde uma época quando ninguém pedalava, pelo menos os meus iguais (?), sei bem o que 'pobre sofre' e quanto 'pobreza pega'. Como 'pobre' (eu, usuário da bicicleta), ou louco (eu, usuário da bicicleta), ou qualquer outra coisa (usuário da bicicleta), tive a felicidade de sentir os prazeres da pobreza da liberdade, da pobreza do vento na cara, da pobreza do bem estar, da pobreza da agilidade, da pobreza que a pobre bicicleta me deu. Cara, como eu fui pobre!

Acabo de descobrir, para meu prazer e diversão, que tem uma obra clássica, "As 5 leis Fundamentais da Estupidez Humana" do historiador e economista italiano Carlo M. Cipolla. São inúmeros os vídeos sobre estupidez que valem a pena ser vistos com atenção. Enfim, o que considero pobreza em grande parte tem tudo a ver com estupidez, que cá para nós, pupula entre nós e ultrapassa e muito o número de pobres miseráveis financeiros deste planeta. 

Pobreza pega? De onde tirei este título não me lembro. A procurar. Biscoito! Descobri, foi um cometário feito pelo "Acorda Pedrinho", do Pedro Fernando Nery, ótimo, que falou na Rádio Eldorado sobre o assunto. O título, Pobreza pega, vem da personagem Bia Falcão da novela Belíssima de 2005. Também foi publicado em texto no Estadão, como "Pobreza ou riqueza pegam? Só uma dessas noções permite sonhar um país". Concordo, pegam. E contaminam, podendo até virar pandemia.

Pobreza é um importante ativo para a política, e não se enganem, não só a de esquerda. E como dizia Joãozinho Trinta, "Quem gosta de pobreza é intelectual". A afirmação completa de Joãozinho é "Quem gosta de pobreza é intelectual. Pobre gosta de luxo". Na época que foi dada caiu como uma bomba na cabeça de muita gente. Vestiram a carapuça até as canelas. 
Não vou entrar no 'pobre gosta de luxo' porque aí se tem que escarafunchar novo-riquismo, tema aqui no Brasil é para séculos de conversas, discussões e prováveis ofensas e gargalhadas, sem entrar num rol de estupidezes infinitas.  

Um vídeo da DW, Deutsch Welle, sobre o complexo de vira-lata do brasileiro trata de um tema paralelo e implícito à pergunta 'Pobreza pega?' e a afirmação, diria, a constatação que pobreza pega. Vira uma loucura porque entra no que é complexo de inferioridade coletivo. Paro por aqui com minha loucura infinita, mas recomendo o vídeo da DW.



A meu ver o problema que temos no Brasil está no uso de certas premissas que são destrutivas. Aqui, bicicleta é coisa de pobre, para mim que cansei de ouvir, é o exemplo mais fácil de dar. "Para o brasileiro, o segundo colado é o primeiro perdedor" dito por Nelson Piquet resume bem a nossa burrice. Diria eu em cima desta afirmação: quem não vence é pobre. Exemplos de premissas erradas é o que não falta. 

Pobreza pega? Opa! Como pega. Efeito manada. 

"Tem que educar o povo" é a premissa para solucionar tudo. Concordo em parte. Educação de boa qualidade traz o bom pensar, mas se as premissas estiverem muito doutrinadas o bom pensar começa torto. 

Enquanto não repensarmos e reposicionarmos o que de fato os conceitos rico e pobre não sairemos deste impasse suicida que o planeta está vivendo. 
O que tem valor? Aliás, o que é valor?