sábado, 4 de outubro de 2025

Fé na estrada e foda-se o resto (pelo menos por uma semana)

Está semana é a minha mais esparada do ano: romaria! "Nossa, quanta fé", pensarão. Nada disto, misto de diversão e desculpa para fugir. Sempre gostei destes eventos religiosos, procissões e romarias, ...para ver. Melhor, fiquei apaixonado por festa popular desda primeira vez que participei de uma. Com um detalhe: as de antigamente. As atuais são muito cheias e bagunçadas, um tipo de bagunça que definitivamente não gosto. Há uma sensível diferença entre uma Festa de Santa Aquiropita, de San Genaro, Santo Antônio..., na década de 70 com a muvuca infernal que se transformaram atualmente.

Se arrependimento matasse, morreria mil vezes por não ter vivenciado estes festejos populares desde que tive autonomia para ir sozinho. Dos mais doidos foi não ter aceitadado o convite de minha avó para ver as escolas de samba do carnaval carioca ainda na av. Rio Branco. Muitos anos mais tarde fui ver como era na Marques de Sapucaí e pirei.

Não sou de pular carnaval, fogueira, soltar rojões, pagar promessas, mas sou um apaixonado voyeur, incluo aí buraco de fechadura. Ver!

Como passar por esta vida sem pelo menos ter seguido uma vez o Garota de Ipanema, sem ter passado uma noite na Marques de Sapucaí, vivenciar o pré carnaval de Olinda, ter caminhado lentamente ao lado de um andor, assistido uma missa com cantos gregorianos...? Bom, pelo menos estes eu vi. De novo, morri um pouco por não ter ido ver o Galo da Madrugada. Carnaval de Salvador? Não, este não, um pouco overdose para mim, muita gente, bagunça acima do meu limite, música muito acima de minha audição. Enfim, não perca, vá, não deixe passar. Quando novo eu "odiava", para usar uma expressão besta dos jovens de hoje. Aí fui, e pirei, adorei, virei fã.

Quando estava na Rádio Eldorado ouvi, melhor, ouvimos todos, espantados, que um jornalista tinha assistido o lançamento de um balão de 40 metros de altura. "40 metros? São uns 10 andares. Não é possível!" Sim, era. Mesmo que seja um evento de uma beleza impressionante, hoje se sabe que é um crime ambiental sem tamanho. De qualquer forma gostaria de ter visto, mesmo sabendo os perigos. Em 1978 engatilharam um revolver na minha orelha quando segurei a boca de um balão que caia. "Se rasgar eu mato você" ouvi. Devia ter uns 3 metros de altura, lindo.

Se um neto me dissesse que ia para um pancadão numa favela, confesso que iria ficar bem preocupado. Hoje tudo é 'over', tem que ser super. Nem tudo, dá para selecionar. Eu não quero ver a Marcha para Cristo que reune milhões, mas a romaria para Aparecida é divertida, o pessoal fica espalhado pela estrada, e mesmo na chegada à Basílica a coisa se dá em doses homeopáticas, aos poucos, sem tumulto.

"Você não tem medo de pedalar na estrada (Dutra)?" Sim e não. Sim, não é coisa mais cômoda, tipo pedalar num estradinha de terra sem qualquer trânsito por perto, mas também não é um drama. A Dutra é sinalizada, os motoristas entendem o que está acontecendo e tomam cuidado. Ok, vira e mexe tem atropelamento, mas pela quantidade de romeiro e pelos dias que romaria, e pelo perfil de acidentalidade que temos no trânsito brasileiro, as ocorrências são raras. Lógico que são divulgadas com alarde porque as autoridades se pudessem proibiriam pedestres nas estradas, mas isto é outra história. 
Ultrapassar pedalando os romeiros que caminham não é a situação mais segura do planeta, concordo, mas depende de como você encara a romaria numa bicicleta. O pessoal esquece que está num acostamento de uma das rodovias mais movimentadas do país e segue lado a lado conversando como se estivesse num parque. Em algumas ocasiões o ciclista tem que ir para a pista, o que concordo não é muito seguro, principalmente com caminhões por perto. Por outro lado não dá medo de ser assaltado e ter a bicicleta levada, que é o que mais temo. 

O interessante é que a cada ano que passa fico me perguntando se ainda aguento ir de casa até São José dos Campos numa tacada só, ou num dia só. São exatos 100 km que normalmente faço em 7 horas, com paradas. Já fiz em 6 horas com paradas, o que provavelmente não repetirei mais. A idade cobra. Descanso em São José pelo menos dois dias e daí vou em mais uma tacada até Aparecida, mais 80 km. Infelizmente comecei a fazer estas 'romarias' muito tarde, faz só uns anos. Gostaria de tê-las feito quando jovem ou adulto para matar os 180 km numa pedalada direta. Hoje não consigo mais. Fé na bicicleta, mas aos 70 (anos) ajoelhado no milho da velhice. Velhinho, mas inteiro.

Só agora, faz uns poucos meses, liguei o foda-se para as besteiras que colocamos como dramas da vida. Ah! O foda-se, maravilhoso e redentor foda-se! Fé no foda-se! Os bons espíritos lá do Céu entendem e até dão uma força. Paz na terra aos homens e mulheres de boa vontade, e principalmente aos que se auto-respeitam. Auto respeito é a base do respeito coletivo. Lá vou eu.

Uma das coisas mais bacanas da romaria é a ajuda que você recebe pelo caminho. Todo tipo de ajuda, bebida, comida, massagem e até atendimento médico para pés machucados, muito comum. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário