quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Dores que distorcem o pensamento

Todo pensamento está viciado pelas dores encrustadas pela vida, as pessoais e as do ambiente. É praticamente impossível pensar, fazer uma análise neutra e fria sobre qualquer assunto, sempre haverá escondida alguma dor que se imporá como um norte da verdade que se propõe ou busca. 

Aos 70 anos posso dizer que a vida me ensinou que boa parte dos pilares de nossa estabilidade emocional, muitos formados por dores, são fortes e perenes o suficiente para resistir a qualquer dúvida fundamentada de nossa linha de pensamento. Deve ter alguma relação com aquele dogma da comunicação: "Má notícia se espalha 87 vezes. Boas notícias chegam aos ouvidos de três pessoas". Esta afirmação é baseada em pesquisas. Tem tudo a ver com as dores emocionais nossa de cada dia e a forma como estruturamos nossos pensamentos e ações.

A não ser que se tome uma chacoalhada monumental da vida, daquelas divisoras de águas, o que nos dirige são os nossos pensamentos negativos. Doutrinação, se pode dizer, já que somos educados ouvindo um não atrás do outro e raríssimos sim. 

Uma pré coma seguida de um colapso total que me levou à morte por alguns minutos foi um destes momentos. Não que tenha sumido com minhas dores emocionais, os machucados da vida, mas fez tomarem um outro grau de importância e intensidade nas decisões. Minha mãe mudou completamente sua forma de ver a vida depois do cancer. Os exemplos são inúmeros, muitos usados como fórmula mágica para todos problemas. Não o são. 


"Não seja mediocre" e "As responsabilidades em primeiro lugar" da educação que recebi em casa me marcaram a ferro e fogo. 

"Não fique para trás", lema de uma sociedade de vencedores e perdedores que pesa, principalmente em quem não é exatamente um vencedor exemplar, que é o que se espera de cada um e se cobra de todos. Ser vencedor virou um veneno, uma dor que distorce não só pensamentos individuais, mas coletivos.
Hoje está em andamento uma forte reação contrária a este lema que definitivamente não é só capitalista. E assim criamos uma nova dor: ser ou não ser vencedor.
Mais ou menos resolvi este drama quando ouvi: "Quem não sabe perder, jamais saberá ganhar". 
E me aprofundei quando ouvi: "Aprenda com as dores". E, "Todo sentimento levado ao extremo causa problemas", talvez uma versão do Budismo que prega o equilíbrio, a busca do meio campo entre extremos.

O problema é comprar as dores. Aliás, é um problemão sem tamanho, tipo bode dentro da cristaleira de doces. E como gostamos do bode. 


Meu objetivo era chegar pedalando em São José dos Campos e foi cumprido, mas com as pernas fritadas. No último trecho, depois da última parada, entrou um vento de popa e simplesmente disparei, desembestei, perdi a noção do que havia programado. Estou no hotel com as pernas exaustas sem saber se vou conseguir chegar em Aparecida. Tinha programado subir pedalando a serra, o que não creio que vá conseguir. Tudo por que? Neurose. Fritei as pernas.

A saída de São Paulo para esta viagem mais uma vez foi um parto. Desnecessário, digo, porque conheço o caminho.  Medos. Medo de passar pelo Centro da cidade, medo de roubo, medo dos primeiros km de estrada, do trecho entre a principal entrada de Guarulhos e a Hélio Smitd, medo se não aguentar, medo de ter que pedir ajuda, talvez o pior de todos, medo, medo, medos... Neuroses. Medos pertinentes, mas exagerados.
Medos criados por dores que distorcem o pensamento.

E o descanso que tanto preciso, como fica com tantas travas, medos que se mostraram infundados? Dores do passado que não fazem mais sentido. Nunca fizeram, pelo menos para atrapalhar tanto.

Silêncio. Não fazer nada. Silêncio cura.

São José dos Campos para mim é bem mais que uma parada de descanso. Adoro esta cidade, adoro ficar sentado na imensa janela do meu quarto de hotel olhando as pessoas passarem na rua e o horizonte. Fazer nada. De vez em quando sair ao leo. Fazer nada.

Tenho que escrever. Tenho que fazer. Tenho. 
Há uma série de fórmulas mágicas para apagar as dores incrustadas. 
Silêncio. Não fazer nada. Funciona, é  verdade 

Mas cá estou eu tentado descansar num texto. Isto não é fazer nada 

E no meio desta minha mentira do não fazer nada...
Este treco (Tablet + Internet + robôs ou IA) subiu um vídeo do TED com o depoimento de uma das mães dos atiradores da escola de Columbine, um dos que assassinou 12 crianças e um professor em 1999, o primeiro de uma serie de massacres em escolas americanas. 
Foi a primeira vez que tive que aceitar para abrir um video. O depoimento da mãe é... Deixo para vocês.... Por alguma razão não tem link, quem quiser tem que encontrar 


Para completar esta loucura, "Dores que distorcem o pensamento", vale este depoimento de um sobrevivente do tiroteio. O final de seu depoimento apresenta um caminho...




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