domingo, 12 de outubro de 2025

Dutra para romeiros?

Ainda vão ser divulgados os números finais sobre quantos romeiros caminharam pela Dutra para a Basílica de Aparecida, mas pelo que vi e pelo que disse um policial rodoviário, neste ano de 2025 foi recorde. Os noticiários falam em 40 mil. Eu, que fui mais uma vez pedalando, posso ter tido a coincidência de ter visto blocos concentrados, uma longa e lotada fila indiana de romeiros mas por 100 km nos dois dias que pedalei, a quatro e dois dias do evento principal? Tenho a sensação que vi mais gente que na romaria dos 300 anos da Santa e no pós pandemia, dois anos atípicos.

Com tanta gente caminhando pela estrada a Polícia Rodoviária Federal fica com um problemão nas mãos. Fazer posts avisando que caminhar na Dutra é perigoso, que há caminhos alternativos, etc... não freia e não freará a vontade dos romeiros em percorrer um caminho que é considerado tradição. Nos ultimos dias anteriores ao 12 de Outubro, dia da Padroeira, a situação piora, porque além da massa que caminha começa a loucura dos ciclistas que querem fazer os 180 km direto, no menor tempo, um desafio para provar aos amigos quem é quem.


Tentar controlar uma massa destas é difícil, mas não impossível. Tentar impor regras é um esforço praticamente inútil. Tem que encontrar uma receita fora do cardápio.

Acabam de anunciar que pretendem construir uma "passarela" de 134 km entre Arujá e Aparecida. De cara digo com todas letras: SOU CONTRA! Explico depois.
O ideal seria entender como a massa pensa, o que quer e vai fazer, e a partir daí estabelecer como agir. De cima para baixo em cima das regras não funciona.

Tem que jogar com sutileza.

A sinalização para motoristas e motociclistas sobre a existência de romeiros deveria ser intensificada. Numa romaria passada vi uma sinalização luminosa estabelecendo redução de velocidade para todos veículos, o que deveria ser norma nestes dias de romaria. Desta vez tive a sensação que estava menos sinalizada.

Não acredito que se consiga tirar os romeiros da Dutra, nem acho desejável. Acredito que uma simples linha de marcação orientando o limite onde podem caminhar já resolveria boa parte dos problemas. Pensar simples, acreditar no outro. "O CTB não permite... Não dá certo. Você não sabe o que diz. Está louco..." Besteira. Segregação,  passarela, usar o CTB,  é querer se proteger sob o manto da lei e de técnicas tradicionais; as mesmíssimas que cansamos de ver não dar o resultado esperado, que vivem sendo questionadas e em muitos casos estão caindo em desuso.

Que cidade você quer? Que estrada você quer? Entre as estas duas perguntas há muito que responder. Conurbacão e estradas conurbadas, você sabe o que é? Sabe o tamanho do problema? Qual? Escolha: econômico, social, urbano, humano... , escolha. Em outras palavras, seu bolso.

Uma passarela para romeiros? Passarela para romeiros? Estão dizendo que ciclovias e ciclofaixas atingiram o rodos objetivos desejados, que não há criticas pertinentes? Vão repetir a dose pago pelo bolso de todos?

SOU ABSOLUTAMENTE CONTRA A CONSTRUÇÃO DE UMA PASSARELA PARA ROMEIROS DE APARECIDA.

Há uma profunda dificuldade em se acreditar na inteligência das soluções simples. Algumas delas parecem loucura sem sentido, até a hora que dão certo.

O simples fato de terem iniciado a marcação de solo que separou ciclistas dos pedestres no Parque Ibirapuera já foi suficiente para o público se organizar e fazer por conta própria a separação.
Ciclo ativistas pintaram bicicletas no asfalto da rua Groelândia. De imediato os carros passaram a trafegar mais a esquerda e dar espaço para os ciclistas.

Voltando de Aparecida para São José dos Campos em ônibus, já a noite e com chuva, fiquei impressionado com a quantidade de romeiros caminhando encharcados e no escuro. 

Sim, há um problema a ser resolvido, mas há de se levar em conta que é um problema pontual. Problema mesmo, do qual nunca se fala uma palavra, é da população conurbana, que trabalha as margens da Dutra e de todas rodovias deste país. 
Acredite, na SP55, que cruza Caraguatatuba e Ubatuba, acontecem duas romarias por dia, uma na ida ao trabalho, outra na volta para casa. Quem se importa?

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