terça-feira, 29 de setembro de 2020

A cidade do automóvel não é nova

A cidade do automóvel não é novidade, não nasceu com a indústria automobilística. A saber, largura de vias e túneis foram padronizadas tendo como base a dimensão própria para uma carroça puxada a cavalo. Se fizessem uma pesquisa sobre modo de transporte antes de 1850, o início do fim da era dos cavalos, provavelmente todos diriam que prefeririam ir numa carroça ou num cavalo, nesta ordem, do que seguir caminhando, portanto, a padronização de tudo sob o ponto de vista da carroça era muito mais que aceitável. 

A padronização equestre do espaço das vias, portanto das cidades e seus espaços, continuou a mesma na construção de ferrovias, depois para os automóveis. No início das ferrovias a bitola, distância entre trilhos, variava para proteger interesses particulares de cada companhia. Com o tempo esta disputa entre companhias provou-se um contrassenso econômico e estratégico e tudo foi padronizado. Interessante é que esta padronização acontece mais ou menos em conjunto com o início da padronização de produtos industrializados, em especial no setor das bicicletas com o surgimento da bicicleta de segurança, com suas duas rodas com diâmetro igual e ciclista sentado entre elas, o mesmo que temos desde aproximadamente 1890 até hoje. A uniformização da bitola aumentou a malha ferroviária para o público gerando comodidades porque não era necessário fazer baldeações, assim como a padronização das rodas reduziu drasticamente o preço das bicicletas tornando-as populares. Mais, o processo industrial das bicicletas levou a padronização e popularização dos automóveis. 

Espaço público já foi dimensionado para pedestres, burros, cavalos, carroças, tropas militares, até que entrou no páreo e venceu disparado e sem freios o automóvel. O estrondoso sucesso do Ford T, o primeiro automóvel popular, deve-se a sua incrível capacidade em circular nos mesmos caminhos de cavalos e carroças, por mais precários que fossem. Não demorou para ser a prioridade com apoio unânime de capitalistas, democratas, comunistas, religiosos fanáticos e todo zoológico. "Caminhar é coisa de pobre", posicionamento social dito e repetido a torta e direita nestas exatas palavras por gerações. O espaço público passaria a ser o espaço do automóvel, e a cidade do automóvel está consolidada.

E então veio a pandemia para reforçar as mudanças necessárias. Será o fim da cidade do automóvel? Tenho minhas dúvidas. Melhor, tenho certeza que não. Temos que adaptar os espaços públicos e privados para a nova realidade, com ou sem pandemia. Adaptar; foi assim no passado muito distante e assim será. Neste cenário vai ganhar e muito quem agir rapidamente e com inteligência. Infelizmente nós, brasileiros, definitivamente não primamos pela eficiência, ou seja, nem rápidos, nem... 


Milão 




  • árvores - espaçamento entre árvores 
  • pós crise econômica e social 
  • serviços públicos online 
  • suporte da comunidade para mudanças 
  • suspensão de algumas taxas e impostos 
  • levantamento de restrições e tarifas de trânsito 
  • orientação ecológica, infraestrutura digital e transição ambiental 
  • repensar desenho urbano + humano 
  • entregas em casa 
  • Uber e outros 
  • aluguel e temporários 
  • garagens – o que fazer?

o patrimônio pessoal dos candidatos no Brasil e Bloomberg

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Os candidatos às prefeituras apresentaram a declaração de seus bens para inglês ver, provavelmente o pessoal do Monty Pyton. Não precisa conhecer pessoalmente nenhum deles para imaginar que o que declaram pode ser até verdade, e provavelmente é, mas definitivamente não cola. Tem coisa aí, e se não tem, precisa saber quem está ensinando quem, nossos candidatos ensinando Trump, o milionário que paga US$ 750,00 de imposto de renda ou vice-versa? Começamos muito mal. É sabido que ser rico no Brasil não cai bem, e que declarar pobreza salva e tamo junto, mas vamos com calma em fazer o eleitorado de trouxa. A bem da verdade o que está declarado pelos candidatos perante o fisco deve ser a verdade verdadeira, com o perdão da cacofonia. Fato é que o eleitor vai no me engana que eu gosto porque nesta nossa nova democracia o povo ainda não conseguiu entender que o que vale são os valores que o candidato deve ter para realizar uma boa, honesta, e justa administração pública, independente dos detalhes do imposto de renda. Cidadãos eleitores de todo Brasil, a saber: Bloomberg, um pobretão com 60 bi de dólares declarados lá, nos Estados Unidos, foi um dos melhores, mais atuantes, justos e ousados Prefeitos (com P maiúsculo) não só da história de Nova Iorque, mas das cidades modernas. É sobre a inteligência, não sobre bolso. 


domingo, 27 de setembro de 2020

Baranga, mal educada, e pobre

Baranga e mal educada, mas deve ter algum dinheiro ou não estaria hospedada neste hotel. Comportamento de baranga, grossa, pobre, para ficar na ordem alfabética. Sua filha, pobre adolescente, chegou primeiro, silenciosa, inexistente, encapuzada e rosto baixo brilhando pela tela do celular. Saiu do elevador virou a esquerda e tentou entrar onde está sendo servido o café da manhã empurrando para o lado o bloqueio. O atendente percebeu e educadamente a orientou a dar a volta. E ela apareceu do outro lado, na entrada, encapuzada, rosto e olhos baixos brilhando pela tela do celular. O atendente deu bom dia, não respondido, perguntou o quarto, respondido com um grunhido forçado através do capuz e existente pelo brilho do celular. Pós adolescente, deu meia volta e foi sentar retorcida para o brilho saído de seus dedos numa poltrona no meio do lobby. Não demorou voltou como um fantasma sentou-se numa mesa ao lado e então chegou a mãe, rosto grande, redondo, olhos estreitos, beiçola, como personagem de desenho animado que só urra para os outros. O atendente se aproximou, pediu o quarto da senhora que ali chegara e teve que subentender uma resposta já que a grande mulher continuou em vão seu monólogo com a pós adolescente encapuzada cabeça baixa rosto brilhando. Não obteve grunhido ou menção de olhar. Os outros não existem, coisas de uma geração. Os outros não existem, coisas de uma certa população.
A mãe foi ao buffet, recebeu um sorridente bom dia e foi servida, como manda a pandemia. Foi servida, nada de por favor, obrigado, ou qualquer sinal de delicadeza. Sirvam-me. Sentou-se frente a frente com a filha, entulhada de pratos, xícaras, copos, e falas não respondidas, mesa pequena, meio prato apoiado prestes a emporcalhar o chão, gula grotesca. Veio o atendente e desentulhou o que pode, sem um olhar, sorriso, muito obrigado. Ele não existe. Sirva-me. "Vai pegar o café, minha filha" ouviu se no salão. Eu estava em pé esperando meu expresso e veio a filha encapuzada, cabeça baixa; e que eu saia da frente, que dê um passo para trás, e dei, fazer o que? Voltei para minha mesa, voltou a menina cheia de pratos, e atrás dela o simpático atendente com os ovos mexidos. Sem espaço na mesa, sem olhares para ele, sem agradecimento, sem mover uma palha, mãe e filha. O funcionário para elas estava ali para servir, ponto final.
Saíram do mesmo estrato social dos funcionários, mas agora tem algum dinheiro. O outro não existe, não interessa, tem que servir. É símbolo de um passado que incomoda; que não exista. 
Eu e todos que estamos aqui no hotel somos chamados pelo nome, num atendimento impecável.

Adolescentes de hoje são assim: o outro não existe. Sei porque tenho netos. Netas em particular. 
Adultos não; mas é cada dia mais comum vivenciar situações como esta aqui no Brasil. O outro não existe. Novo rico, se é que é o caso, é propenso ao grosseiro. Foi pobre, virou mal educada, portanto e sem dúvida baranga.

O boysta
Na entrada para o bicicletário do shopping, que fica no subsolo, ficam dois funcionários tirando a temperatura dos motoristas, motociclistas e ciclistas que entram. Na minha frente desce a rampa um carro pequeno tunado com som alto, para no bloqueio e eu espero. Vejo o segurança que gesticula e até eu consigo entender que é para virar a direita, direita, descer a segunda rampa e novamente direita, caminho para o segundo subsolo. E gesticula de novo dando a mesma explicação. O motorista sai e para meu espanto segue em frente, cruza o primeiro corredor de vagas e lá na frente para perdido. Desço rindo até o funcionário com o termômetro e os três ficam olhando o perdido pedindo novas explicações. "Como ele foi em frente? Até eu que não ouvi a explicação pelos gestos entendi". O segurança que deu a explicação se aproxima e bem contrariado diz "Ele está com o som alto, pediu orientação, não abaixou o som e sequer ficou olhando para mim. Pediu de novo, expliquei de novo e não olhou, nem deve ter ouvido. E ainda reclamou que eu tenha tomado a temperatura. É assim. Nós que ficamos aqui passamos por estas. O pessoal não respeita, fica bravo, acha que somos os responsáveis, e ainda pedem orientação e não ouvem. É assim."

sábado, 26 de setembro de 2020

Automóvel, utensílio; vício e poder

O termo "cidade do automóvel" provavelmente é muito mais abrangente que imaginamos. Será que o problema da cidade dos automóveis se restringe só aos congestionamentos, poluição, espaços viários e para estacionamento? Ou, indo só um pouco mais longe, ao direito social da utilização do espaço público e espaço privado de uso público?

Tem algo que me diz ser possível que princípios fundamentais do projeto de um automóvel hoje determinam vários fatores de nossas vidas, mesmo fora de qualquer relação direta com o automóvel e transporte. Para quem não entendeu, o que estou dizendo é que a relação deveria ser os padrões humanos gerando padrões para o carro e não o inverso. Como paralelo, o celular deveria servir as pessoas e não as pessoas ficarem dependentes e terem seu padrão de vida ditado pelo celular. Não é novidade, afinal o livro impresso mudou a humanidade; a TV dissociou a realidade... 

O que acontece quando o utilitário se transforma em comodismo e acaba no mais puro vício?

O melhor instrumento de vendas é o vício. Enquanto é uma simples venda o produto tem que servir ao consumidor; quando passa a ser vício o consumidor passa a servir o produto. A cidade do automóvel é o que? Teoria da conspiração? Quando é de comum acordo não. Exemplo:

Ciclistas insistem em fazer os mesmos caminhos do automóvel, incapazes de olhar em volta e perceber alternativas. A cidade dos ciclistas continua sendo a cidade dos automóveis. O automóvel dissociou a realidade da cidade. Não é o automóvel que dissociou, mas a mentalidade da população que permitiu.

Quem tem poder não muda porque quer, mas porque há uma situação que o força a mudar. Um pai só vai sair do vício do poder que lhe é concedido como como pai pela sociedade (e igreja) quando for inevitável. O caso mais extremo que presenciei foi o nascimento de um filho com síndrome de down que fez que todos valores anteriores, inclusive o poder, fossem exterminados no ato. Vamos ficar com a entrada da filha na adolescência, que para pais inteligentes e sensíveis já impõe grandes mudanças. Com um setor tão poderoso como o automobilístico está acontecendo o mesmo: a sociedade se deu conta que do jeito que está não dá mais. Além disto, a nova geração encontrou uma paixão que mudou conceitos: o celular; e o carro perdeu seu valor. O vício é outro. 

O vício pode mudar, mas os velhos hábitos definitivamente não, principalmente quando se coloca na conta um século de condicionamento comportamental, ou seja, a história do automóvel.

A chegada dos veículos autômatos está levantando uma série de questões sobre a relação entre o automóvel e seu condutor ou usuário. É óbvio que não querem perder seu poder, o que será fácil em sociedades cegas.

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Fui suicidado

No Dia Mundial da Prevenção do Suicídio fui suicidado. Li um relatório que simplesmente descarta praticamente todo meu trabalho desde 1982. Na hora a leitura foi 'todo meu trabalho', sem praticamente. Enfim, passaram a borracha, ou pior, nem isto, sequer olharam. "Não me interessa o que você diz que eles fizeram errado, me interessa o que você fez que os levou a cometer o erro que te afetou", dizia Lollia, minha mãe. Uns dias depois numa troca de mensagens não só descobri que o dito documento era de fato o que parecia, como que para boa parte dos com quem trabalhei meu trabalho não existiu, ou de maneira menos dramática, alguém recebeu os louros com o meu. Nunca reclamei e não estou reclamando que tenham feito control C - control V, e nem queria porque acreditei piamente que um dia chegaríamos a algo próximo de nossa utopia, ou pelo menos da minha tão naife. Ledo engano. "Trouxa"! é o que me resta ao olhar para trás. 

No Dia Mundial  da Prevenção do Suicídio fui suicidado. Morrer não teria feito tão mal. Senti uma dor tão intensa quanto senti quando soube das mortes absurdas dos filhos de Miriam e Jairo. O conforto vem de ter vivenciado amigos passando pelo mesmo, não a morte dos filhos, mas um dia receberem o bilhete azul e descobrirem que depois de décadas de ótimos trabalhos passaram a não existir mais. Sensação estranhíssima ver zumbis sorridentes caminhando no Ibirapuera em hora de trabalho. Como vai? "Ótimo". Todos se refizeram, uns de verdade, outros num bom ou péssimo refúgio. Um deles em particular, dos melhores homens que este país teve, voando do 10º andar. Acabou, fim, sociedade descartável, depois de usado vai para o lixo. "Dá para reciclar?"

Acordei destruído. Por um momento não acreditei que conseguisse sair da cama. Meu médico pediu que eu desaparecesse. Quase não consegui. Mas cá estou eu. Como cheguei? Como lidei com meus pânicos, minha angústia? Brincando de classe média.

Tomei o café da manhã em casa e fiquei mais confiante. Saco cheio salva qualquer um. Ou termina com qualquer um. Depende. No meu caso o saco cheio de postergar a viagem chegou a um limite. Já era 9:00 h da manhã e fugir pedalando iria azeitar mais ainda meus atuais medos da saída de São Paulo e suas periferias e fritar minha cabeça no meio da estrada. Por mais que queira enganar tenho cara de dondoca de classe média e sou alvo óbvio.  

Se acordasse às 3:30 h como estava programado pedalaria passando para lá de São Miguel lá pelas 5:30 h ou 6:00 h, o que por um lado seria interessante porque veria mais uma vez os trabalhadores que cruzam pedalando o viaduto\ponte que sai de Ermelino Matarazzo e cai na av. Santos Dumont e Parque industrial Cumbica de Guarulhos. Reginaldo foi quem me apresentou esta massa de trabalhadores ciclistas invisíveis para autoridades e nós, a classe média chuchu beleza. A ponte\viaduto é estreita, praticamente não tem espaço para os pedestres e muito menos para os ciclistas, que cruzam por tudo quanto é canto, passarela enfrentando pedestres, asfalto de ônibus e caminhões, mão ou contramão. Mais uma luta remada, utopia naife de um trouxa, deu em nada. Duvido que tenham feito algo, deve continuar igual. A piãozada que se dane!

Voltando, além dos trabalhadores que se viram para chegar ao trabalho, têm assaltantes ou pelo menos quilômetros e quilômetros de histórias assustadoras de violência. Real ou não, pelo menos na escala, não estou mais afim. Vai que sou salvo para uma crente gorda, vestido de estampa sem graça solto escondendo meio colado às gorduras, cabelo preso em coque que parece grudento, recitando "Deus é fiel"; aí sim me suicido. Em Buenos Aires fiquei com uma 45 engatilhada no meio do olho (roxo por uma porrada do cano) e nem pisquei, não faz diferença, mas de crente me cago de medo. Hoje dentre outras razões as federais. "Quem tem cu tem medo".

Na noite anterior ainda luz acesa na cama tinha cogitado pegar um ônibus. É ridículo, mas entre ir para a rodoviária pedalando, comprar passagem, esperar o ônibus, fazer a viagem, descer na rodoviária e pedalar até o hotel dá praticamente o mesmo tempo de ir pedalando de casa até o hotel. Ok, uns 15% mais demorado, se tanto e se tudo sair bem. A esquizofrenia assassina do momento, sucesso maior que Agatha Christie, o tão falado Covid 19, e o tempo de viagem, no café da manhã definiram: alugar um carro. Sai muitíssimo mais caro que o ônibus ou ir pedalando, mas muito mais barato que pegar o vírus. Cálculo feito, sorriso no rosto, borracha nas mentiras não calculadas, viva o conforto do velho e bom automóvel.

E brincando de classe média sentei no meu Renault, coloquei um pendrive no rádio, big band, jazz, clássicos americanos, grandes intérpretes, e voltei ao normal. A classe média vai ao paraíso. Em duas horas e um pouquinho cheguei na porta do hotel, fiz o check in, entrei no quarto com linda vista, 8º andar, e isolamento acústico total. Nada melhor para curar a esquizofrenia momentânea e a depressão que não é só minha, mas pandêmica. Almocei árabe, com direito a uma pasta de alho divina. Meu isolamento social amanhã está garantido. Se alguém chegar perto pela frente eu abro a boca e sopro. Se se aproximar por trás sopro. Meus poros rescendem. O cheiro não difere.

Final de tarde saí para caminhar. Esta riqueza medíocre me salva. Meu médico tinha razão. Pelo menos suaviza a dor de olhar em volta e saber que fui mais um trouxa movido a inocência naife. Quieto olho em volta e peço desculpas aos mendigos que passam ou sentam para comer restos pelo que estou fazendo. Os meus vícios sociais, que não diferem da utopia geral, fazem que esta brincadeira vá custar algo em torno de 20 cestas básicas. Eu mereço?

Dia Mundial da Prevenção do Suicídio: suicídio é um direito individual. Aliás, não o suicídio em si, mas morrer como bem entender. Vida virou um business rentabilíssimo. Morrer, como na idade média, virou um péssimo negócio para o estabilishiment. Qual é o custo benefício entre vida e morte? Para os humanos e para o meio ambiente?   

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Está provado: a Terra é plana

Vou pedalar na contramão porque vejo os carros.

Você também trabalha com eletricidade? "Faço qualquer serviço. Vai funcionar direitinho, fica tranquilo."

Não estou bêbado, posso dirigir, não precisa chamar táxi. 

"Filho da puta!, babaca!, cruzou (o sinal fechado de bicicleta) sem olhar e ainda xinga! Tira esta porra de fone de ouvido, babaca." Ouve-se o grito - Motorista assassino! 

Explica uma coisa: você votou no Maluf, sempre o defendeu com unhas e dentes. Depois foi votar no Lula e Dilma. Agora está defendendo o Bolsonaro? Como é isto?

Minha religião é a bicicleta. Pedalo todos dias." E este adessivo '1 carro a menos'? Você tem carro e dirige. "Só para levar a bicicleta. Como vou pedalar no parque?"  

O Meco veio entregar o prensado e quando tirou da bolsa saiu um três oitão junto. Para que isto, é só um fuminho? Onde vai parar esta violência?

"Não acredito que o homem tenha chegado na lua. Fizeram um filme bom no estúdio e todo mundo acredita"

Você não vai ficar grávida...

"A hora que tiraram a escada do avião entrei em pânico. Lá em cima (voando) fiquei pensando sem parar com ia fazer para descer do avião se ele caísse."

"Como eles podem passar fome se tem tanta manga por lá?"

"Odeio óculos. Prefiro não enxergar nada. Não vou colocar óculos". Mas você está toda machucada do tombo. "Não caí porque estava sem óculos! Foi o degrau."

Venha ver lançamento de edifício no meio de mata virgem e com ciclovia.

sábado, 19 de setembro de 2020

Semáforos novos e segurança no trânsito para quem?

Numa live com um dos candidatos a vereador por São Paulo ouvi que há um projeto de (finalmente) trocar o sistema de semáforos da cidade e que estão pensando em usar os dados dos celulares para regular a fluidez. Como? Sim, sei sobre o que está falando, mas fluidez de quem? 

E no meio da rua descobri que a CET SP está testando semáforos controlados por sinal de rádio, ou sem fio, como queira. A razão é simples: vira e mexe os sensores e cabos de fibra ótica são cortados. Por que? Falta de mapeamento do subsolo que com uma frequência indesejável faz com que os prestadores de serviço de uma companhia cortem acidentalmente ou não os cabos ou fibras óticas de outro prestador de serviço. Não acidentalmente e de propósito? Também. Como é uma baderna e cada um faz o seu serviço não raro o funcionário encontra o que não é dele no meio do caminho e como não tem identificação e está onde não deveria é simplesmente cortado. É mais comum em postes. Daí acontece, assim... acontece... que um bairro inteiro fica sem internet, TV a cabo ou telefone. O índice de reclamação contra as empresas prestadoras de serviços de comunicação é altíssimo, mas ninguém reclama da baderna pendurada nos postes, menos ainda vai atrás para saber porque os semáforos entram em pane. Pois bem, aí está. Mas... adianta falar sobre mapeamento?

Ouvi falar que o sistema inteligente que estão pensando em implantar usará os dados de aplicativos de trânsito para celular, o que tem um pequeno problema: controla-se o fluxo de veículos motorizados e o resto que se dane, leia-se para este resto pedestres, pessoas com necessidades especiais, bicicletas, mobilidades ativas...

Outra alternativa que se está pensando os semáforos têm sensores a lazer ou sei lá o que (creio que calor), o que lê tudo, não só veículos motorizados.

E deixo a eterna pergunta, e só ela: nossas grandes cidades tem computadores com capacidade de gerir toda esta informação? Disto o que ouvi é que está tudo atualizado. Será? Está atualizado para o que se tem hoje ou para o que a cidade de São Paulo demanda com urgência? Du-vi-de-ó! 

É provável que a melhor solução seja cruzar todas as tecnologias disponíveis, mas para isto será necessário não só hardware, como software e principalmente especialistas que saibam trabalhar em conjunto e de preferência sem corporativismos atávicos. Mais, a cidade nova exige que se pense fora da caixinha porque estamos sendo atropelados pelos inesperados, do patinete que desce na contramão à pandemia que leva o espaço público para o caixão.

O novo normal da Semana da Segurança no Trânsito

Obrigado Karnal. Na mosca!

Semana de Segurança no Trânsito: faz uma busca no Google e dentre outros dá com - https://maioamarelo.com/semana-nacional-de-transito-2020/ - que nele tem um vídeo de 20 segundos - https://www.youtube.com/watch?time_continue=20&v=0FP7uXScXvU&feature=emb_logo - que pedem para compartilhar. Eu quis compartilhar aqui, mas o vídeo demora para abrir no Youtube, e "roda, roda, roda... um minuto para nossos comerciais; alô, alô Terezinha, você está na Buzina do Chacrinha" ....
....e ainda aparece uma caixa com os seguintes dizeres "Se a reprodução não começar em instantes, reinicie seu dispositivo". Ora ora, o que fazer? Nestas e noutras morri atropelado!

Do caderno mobilidade.estadao.com.br / 16 de setembro de 2020 - Trânsito brasileiro mata uma pessoa a cada 15 minutos
Está escrito aí: De acordo com Ramalho (José Aurélio Ramalho, diretor- presidente do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), http://www.onsv.org.br/), os especialistas avaliam a segurança, levando em conta, sobretudo, três aspectos: vias, veículos e fator humano". O ambiental entra como fator humano ou falta aí?

"... imprudência dos motoristas é responsável por cerca de 90% dos acidentes no mundo todo", explica ele, o que não é novidade, e segue "... O correto seria que os motoristas fossem formados treinando sua percepção de risco para cada situação", no que está absolutamente correto. 
Como se constrói um sistema onde se possa ler na plaquinha "Estamos há 248 dias sem acidentes"? Por que não se consegue repetir o mesmo processo com motoristas, eu diria condutores, o que inclui todo e qualquer veículo? Como se treina para a percepção de risco uma população que está acostumada a assaltos, roubos, tiroteios, presuntos... tão frequentes no dia a dia? 

Um dos mistérios que temos neste país é porque o cidadão que trabalha numa empresa de ponta, com altíssima qualidade, não consegue transferir as práticas para sua vida pessoal.

Outro mistério, e aproveitando a fala do Leandro Karnal e lembrado da entrevista dada pelo Boni, aquele que comandou a Globo, onde diz que o problema do jornalismo é que repete sempre a mesma coisa, não consigo entender porque as Semanas de Segurança no Trânsito destes todos anos não conseguem ir para frente, tem que repetir sempre a mesma ladainha. Provavelmente pelo efeito tomada do Lula "que você enfia onde quiser inclusive com o fio terra". 

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

A farra da Zona Franca de Manaus tem que parar

As histórias que já ouvi que envolvem a Zona Franca de Manaus são bem tristes, para dizer o mínimo.

No meio da fábrica de São Paulo um lote de quadros de bicicletas só ponteados, ou seja sem as soldas terminadas. Todas amontoadas num imenso container iriam para ZF onde terminariam o trabalho de solda (o ponteamento servia para manter o alinhamento) e seriam devolvidas para São Paulo onde receberiam pintura e seriam montadas. Por que toda esta viagem? Benefício fiscal. O fato aconteceu faz algumas décadas, mas é bem simbólico.

Todos nossos grandes fabricantes de bicicletas fecharam suas fábricas, as fabricas de verdade, e foram parar na ZF. Se não for assim não sobrevivem, segundo quem conhece. Como assim? A maioria das bicicletas que são vendidas no nosso mercado são importadas e montadas na ZF, recebem meia dúzia de peças nacionais o que lhes dá o direito do "Made in Brasil", e um descontão bem legal, nos dois sentidos. Lembrando que o Brasil foi por um bom tempo o terceiro fabricante de bicicletas do mundo. Nosso parque não foi desmontado só pela entrada das importadas, mas pela baderna geral e pelo cagar e andar com a qualidade. Não peço desculpas pelo caga e andar porque foi a mais pura verdade quando se tratava de qualidade do nosso setor de bicicletas, com raríssimas exceções. Lucro vinha de detalhes tipo ZF. Não entendo nada de contábil e menos ainda de marmelada. Marmelo é uma delícia, mas a marmelada que nos vendem sequer é marmelada pura, vai um chuchuzinho no meio. 

É com tudo, não só bicicletas. O Celso Ming sabe das coisas e escreve no Estadão de 18 de setembro de 2020 - A Zona Franca de Manaus sob novo questionamento -  com detalhes que eu não fazia ideia. Eu, ignorante, por todas histórias que ouvi torço e falo pelo fim da Zona Franca de Manaus faz muito. Ou se coloca ordem fiscal no Brasil ou apaga a última luz.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Projeto cicloviário 2015 na Cidade Universitária. Não para favelados

Estadão / Infográficos; USP, ciclovia, mobilidade
30 de agosto de 2015 | 22h52
Em duas rodas - USP planeja criar 26,2 km de vias para bikes. Campus também terá sistema gratuito de empréstimo de bicicletas 


Olha só que interessante, estava fazendo uma pesquisa e dei de cara com esta notícia de Agosto de 2015. O pequeno detalhe é que mesmo a USP tendo um forte viés social fizeram um projeto cicloviário que se espalha por toda Cidade Universitária, mas.... mas... mas... não tem nada projetado exatamente no trecho que leva até o portão de entrada da favela São Remo. Genial! Podem alegar o que quiser, que as ciclovias terminam no Hospital Universitário por um lado, e no Museu de Arqueologia e Etnologia no outro, o que atinge os objetivos internos de mobilidade da USP, que a subida do Museu para o Hospital é muito inclinada (?), que é local perigoso onde ocorrem vários assaltos, onde duas amigas, Laura e Silvia, foram assaltadas e brutalmente  espancadas para terem suas bicicletas levadas, numa cena que foi registrada pelas câmeras de segurança e mostrada em noticiários de TVs. Ok, mas de qualquer forma sinaliza de maneira clara e inequívoca que "social tem limites", o famoso social coxinha, e aí não tem distinção de ideologia, entram todas. Parafraseando Margaret Thatcher "o social acaba quando interfere no meu", ou, neste projeto "ao socialismo se vai em bicicleta, mas sem os ladrões da favela ao lado".

Nem vou falar que colocar ciclovias na USP é de um atraso..., de um desconhecimento..., de uma pobreza... A universidade deve ser um espaço de experimentação do novo,  do futuro...

Não achei o vídeo do assalto que as duas sofreram, mas achei um "genérico", que dá mais ou menos na mesma porque foi do mesmo jeito. 

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Mini mini carrinho "Amigo" que não precisa de carta de habilitação

Começo com o Citröen Ami que se seu conceito colar vai mudar muita coisa no trânsito. Já disse isto mais de uma vez, mas creio que desta vez não pago a boca. Tudo indica que está colando porque o Renault Twizy pelo jeito colou, ou a Citröen não teria lançado o Ami e outras marcas não estariam prestes a lançar os seus. De uma certa forma é a reinvenção, mais uma, do automóvel e de sua potentíssima indústria. Eric Ferreira estava certo: o carro não vai acabar; e pelos sinais não só não acaba como dá a volta por cima.   

Neste artigo do The Guardian; Ami, the tiny cube on wheels that French 14-year-olds can drive, já fazem a pergunta: não tem que ir para a ciclovia? Esta e outras perguntas que estão no ar tem que ser respondidas pelos legisladores de trânsito. Não sei se em alguma parte do mundo estabeleceram perante as leis de trânsito o que é um Segway que vai fazer uma década de existência. Acabou circulando em calçadas. Em Paris e várias outras cidades se vê mamãe guia turística sendo seguida pelos patinhos turistas, mas é difícil ver um Segway como modo de transporte individual, talvez pelo preço, muito caro. Tem polícia usando, mas também vão pelas calçadas e em casos especiais pela via. Que diferença faz por onde vão? Toda! Tanto se fala em segurança e acidentes zero, o que é impossível alcançar no meio do caos que vivemos no meio destas novas mobilidades. Sua avó vai ser atropelada por patinete, skate, entregador de aplicativo ou Segway? Coisa mais chique! hoje temos inúmeras alternativas de parar no hospital. 

O que está acontecendo só deixa claro que o novíssimo trânsito não é para amanha, já é e ninguém sabe ao certo o que será. E se não regulamentarem vai ficar mais caótico com um "sei lá o que" de quatro rodas que pode ser conduzido por uma criança de 14 anos "sabe-se lá onde". A senhora que circulava a milhão pelas ciclovias de Amsterdam numa cadeira de rodas movida a um possante, barulhento e fedorento motor de 2 tempos era gozada porque era única. Imagina jovens-velhinhos neuróticos acelerando cadeiras de rodas elétricas que fazem de zero a 20 em dois segundos e que tem velocidade final além dos 35 km/h numa ciclovia, isto sem emitir um som, fora o peido do velho?

O controle de trânsito aqui no Brasil está meio que na idade da pedra, controla ou imagina controlar os motorizados, o resto meio que se dane, pedestres que o digam. Como um montão de coisas neste país não fomos capazes de fazer nem as lições primárias de casa e estamos completamente despreparados para uma mudança, qualquer que seja ela.  Vide Covid!

Já existem mini mini carrinhos, menores até que este Citröen, circulando pelas cidades europeias, mas com regras e leis claramente estabelecidas e público muito específico; na Holanda especiais para pessoas com deficiência de mobilidade, por exemplo. Que eu saiba mesmo lá não existia um mini carrinho que permitisse uma criança de 14 anos ou qualquer inabilitado ou não autorizado sair dirigindo, o que dizem ser possível com este Ami (amigo em francês). O Renault Twizy, mesmo sendo muito pequeno em comparação aos outros carros, é considerado um automóvel, até mesmo porque tem agilidade para circular no trânsito normal. 

Neste vídeo onde é apresentado o Ami vi uma Paris que não conheço, ou melhor, conheço mas está diferente. As imagens vão passando por várias ruas que foram reformadas para tirar o meio fio que separa a calçada da pista para os motorizados, o que está sendo feito mundo afora. O carro vai ficar, mas circulará em outra cidade, a cidade das pessoas. 

Perto de casa tem uma locadora de BeepBeep, um simpático Renault Zoe, mini carro elétrico, mas carro, destes que é obrigatório a Carteira de Habilitação. Eles não são completamente silenciosos, fazem um zumbido discreto que serve para avisar pedestres e ciclistas, provavelmente pensado na experiência japonesa onde os elétricos atropelaram um bocado. Inaudíveis! Fiquei 15 dias com um híbrido que bem usado fica só no elétrico e é mudo, por assim dizer; uma delícia perigosa, um fantasma no meio do trânsito. 

Os elétricos vão entrando aos poucos no Brasil, e assim vai continuar enquanto o Governo Federal mantiver o imposto alto sobre eles. Pelo jeito Brasil vai continuar sendo o rebotalho da indústria automobilística. Urge que se prepare nossas leis para a chegada eminente destas novidades. Espero que tenhamos aprendido com a pandemia que não fazer nada enquanto não chega é um péssimo negócio.  

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Cidades brasileiras, seus sonhos, sua realidade

Houveram sonhos sobre como deveriam ser as cidades brasileiras, muitos; alguns realistas, plausíveis, uns se tornaram realidades pontuais, outros possíveis e necessários nunca saíram do papel. Teve de tudo, inclusive os malucos, que não faziam qualquer sentido, e mesmo assim uns foram em frente e tornaram-se realidade.

São Paulo, quem diria, já foi chamada de "Cidade Jardim" pela quantidade de belos parques que teve. 
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Rio de Janeiro teve jeitão de uma Paris, com uma orla para a Baia de Guanabara muito bem construída, decorada, ajardinada, funcional, e principalmente visitada, vivenciada, aproveitada.

Rio de Janeiro acaba recebendo a Coroa Portuguesa e com isto o progresso, os ares de Europa. A economia do Brasil durante o Império dá um belo salto e o país enriquece, o que reflete nas principais cidades. 
O contato com a Europa se faz cada vez mais constante, o que nos traz referências, em particular de Paris, uma das capitais do mundo de então, que na segunda metade do século XIX foi remodelada, boa parte mandada abaixo e reconstruída sob o comando de Haussmann, abrindo grandes avenidas, retificando ruas e quarteirões, criando uma estrutura de serviços subterrâneos de água, esgoto e energia, organizados e funcionais, o que por sua vez abriu espaço para a construção das primeiras linhas de metro inauguradas em 1900.  
Como nosso sonho europeu vem os artesões, técnicos, engenheiros, quando não a construção completa literalmente, de casas a palácios.
Rio de Janeiro e depois São Paulo mandam abaixo parte de seus passados coloniais para a abertura de imponentes avenidas, mas a reorganização das cidades para nos seus centros.
Por outro lado, como resultado da Guerra do Paraguai surgem as primeiras favelas na Capital Federal Rio de Janeiro, que acabam definindo o futuro não só das cidades, mas de boa parte da população brasileira.
 
Sonhos e upotias: 

Rio de Janeiro o projeto de Le Corbisier, 1923, previa um imenso edifício cortando a cidade. Neles haveriam moradias, comércio, escolas, e sobre a imensa edificação uma via expressa.

São Paulo teve o seu Plano de Avenidas de Prestes Maia, 1933, que pretendia reconstruir o desenho urbano de todo centro, mas não só. Na avenida Nove de Julho no trecho entre a Praça das Bandeiras e o túnel Nove de Julho, sentido bairros, ainda se pode ver nos viadutos espaços laterais e escadarias do que deveria ter sido uma das linhas de metro de São Paulo; 40 anos antes da inauguração da primeira linha em 1973. Previa também o uso do rio Tiete para navegação de transporte de cargas e passageiros. Dentre outras.
No mesmo 1933 era inaugurado o Bairro Apollo, na região sul de Amsterdam, também conhecido como "Escola de Amsterdam", projeto de um prefeito comunista que dá espaço para todos, de todos níveis sociais, em construções padronizadas por uma simples e refinada estética art deco, só diferenciadas pelo tamanho e posicionamento, com comércio nas vias principais, grandes escolas espalhadas, e estádio de esportes. 
Rio Tiete faz um semicírculo

Ponte das Bandeiras

Metro Estação São Bento 1933. Seguia pela Nove de Julho.

Na mesma época São Paulo a companhia City abre novos bairros planejados em seus traçados, Pacaembu, Jardins, City Lapa, nos quais eram vendidos lotes com regras definidas de construção. Estas regras foram respeitadas até mais ou menos a década de 80. Interessante contar que o Clube Harmonia surgiu numa área comum interna do quarteirão, uma praça. No plano original se pode ver o Clube Paulistano também como praça.     

E o Brasil foi crescendo e ficando rico, industrializado, olhando cada vez mais para um futuro e menos para suas origens, seu colonialismo. Boa parte de nosso patrimônio histórico e nossa memória, portanto nossas referências, desaparecem. 

Belo Horizonte com JK ganhou seu Conjunto Arquitetônico da Pampulha (1943) com obras de Oscar Niemeyer, Burle Marx, Ceschiatti e Portinari. 
Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa, ganha a dita modernidade depois que foram criados o aterro do Flamengo, inaugurado aos pedaços entre 1955 e 1960, e o alargamento e calçadão de Copacabana com projeto de Burle Marx em 1970.
Brasília, o sonho de Brasília, é inaugurada em 21 de Abril de 1960 com projeto de Lúcio Costa e arquitetura de Oscar Niemeyer, uma revolução urbana para sua época, mas muito vinculada ao sonho do automóvel e de suas indústrias recém inauguradas no Brasil.
O que hoje chamamos de "cidade do automóvel" era então um fenômeno mundial, não exclusivo ao Brasil. Os erros cometidos em nome desta aposta estão por todas as partes, incluindo cidades que atualmente são consideradas modelos de mobilidade ativa dos países mais avançados.

Curitiba foi transformada e organizada pela administração Jaime Lener entre 1971 e 1975 que coloca dentro do plano diretor o transporte coletivo como prioridade para organização das moradias e comércio. Mesmo dando ótimos resultados o legado de Lener e sua equipe foram pouco ou nada usados por outras cidades do Brasil. Mas foram aproveitados com ótimos resultados por Bogotá, Colômbia, por exemplo. Curitiba respeitou um bom plano diretor, o que é raro no Brasil.

As histórias dos sonhos e do desenvolvimento urbano são inúmeras e não raro nebulosas.
Permitiram que fossem construídos edifícios altos de frente para a praia de Copacabana, o que faz com que a circulação de ar no resto do bairro seja prejudicado, causando uma série de problemas inclusive para a saúde dos moradores. E arreia fica sombreada boa parte do dia.
Pelo Brasil afora edifícios foram construídos no meio de tradicionais bairros residenciais com o aplauso da maioria. Pelo interior é comum ver pequenas cidades com um único edifício encravado no meio, o que não faz sentido. Ótimo exemplo está em Andradas, Minas Gerais, com seu Andradas Palace Hotel, por muito tempo um arranha céu isolado que se via de longe destoando. Estes edifícios apontam para privilégios de uns poucos, o famoso "você sabe com quem está falando?" que viria a causar profundas deformações em todas as cidades brasileiras, e não só nas cidades. Em várias cidades estes edifícios foram construídos só para demonstrar poder perante outra cidade, até perante outra vila.

E os projetos que poderiam ter transformado nossas cidades para o bem:
Em São Paulo: Por que e para que foi aberta a av. Faria Lima? Como e por que ganhou o traçado que tem hoje? E a av. Berrine? Faria Lima e Berrine deslocaram do Centro escritórios comerciais, esvaziando o Centro e levando ao abandono que temos hoje. Berrine em particular foi projetada sem levar em consideração a vida dos trabalhadores na hora do almoço e depois do trabalho. 

Ainda em São Paulo, porque não foram para frente os bulevares das avenidas Paulista e JK que realmente poderiam ter dado outro sentido não só a seus bairros, mas para toda cidade? O corredor de ônibus da av. Santo Amaro com seus terminais coletores proposta na administração Covas não só parou, mas foi deformada pela administração seguinte de Jânio Quadros. E os Planos Diretores, tão discutidos, tão desejados? Tanto se falou sobre a nova Barra Funda, foram apresentados projetos, desenhos, vídeos, sonhos... e? Os erros foram muitos e muitos deles tiveram plena aprovação da população.

Fui procurar o Projeto original da ciclovia Ibirapuera - Cidade Universitária USP, que eu sempre soube que eram de Sérgio Luiz Bianco, Adriano e mais alguém que não me lembro o nome, e dei com História dos Estudos de Bicicleta na CET - Meli Malatesta. No meio tem coisa que também pensei que eram de autoria do Projeto Ciclista comandado por Gunter Bantel. Projetos entregues a CET simplesmente não aparecem, e foram tantos.

Olhar para frente e não repetir os erros do passado; será que temos capacidade?

Houveram sonhos sobre como deveriam ser as cidades brasileiras e os sonhos foram água abaixo. Por que? Pode-se dizer que nosso pensamento intelectual não olhou para a nossa realidade. Arrisco dizer que a maioria não fazia a mais remota ideia do que existia do lado de lá, de como era a "cidade" dos pobres que crescia numa velocidade impressionante e sem controle. E um corporativismo feroz, um dos mais devastadores do futuro deste país. Por outro lado, é certo que virou esta baderna porque se permitiu que uns poucos fizessem o que bem entendessem, num quem pode mais chora menos. Para completar é líquido e certo que entre nós mais vale o olho no umbigo que a mão estendida para o coletivo. Salve-se quem puder!

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Manifesto pró bicicletas entregue aos candidatos de 2008; comentários; o que mudou e não mudou

Soltei uma carta para o Fórum do Leitor do Estadão sobre o texto "A revitalização da agenda urbana". Confesso que quando li esta Opinião do Estadão fiquei bastante incomodado porque o texto coloca o manifesto do CAU/BR como se houvesse novidade. Não há, repetem muito do que foi proposto mais de uma vez, por mais de um grupo, no passado e acabou não dando em nada. 
Da parte dos Jurássicos, no qual me incluo, entregamos em várias eleições para os principais partidos manifestos que eram voltados para a bicicleta, mas não só. Por ironia do destino tivemos repercussão nacional quando a candidata a vice-presidente Rita Camata aceitou participar de uma pedalada, ficou sob minha responsabilidade, não fazia ideia do que era pedalar e no primeiro momento que deixei de olhar para ela, preocupado com os que nos acompanhavam, voou por cima do guidão e estatelou-se no asfalto, com direito a uma sequência maravilhosa de fotos que deu em primeira página de todos jornais. Pensei que eu seria esquartejado pelos responsáveis daquela campanha eleitoral, mas fui recebido como um herói. Rita Camata ficara conhecida em todo Brasil! E a questão da bicicleta também. Vai entender.

Desde 1986 entregamos manifestos pró bicicleta, em todos tive uma mãozinha. Olhando para trás digo que tristemente todos foram muito parecidos. Tristemente porque não acontecia nada. 
Para quem tiver paciência publico o Manifesto pró bicicleta e outros que entregamos em 2008 com comentários.
Mesmo que tenhamos progredido há muito o que reivindicar.  Manifeste-se!

Manifesto para a Viabilização do Uso de Bicicletas e outros Modos de Transporte Não Motorizados para o Município; POR UMA POLÍTICA MUNICIPAL PARA NÃO MOTORIZADOS 
Entregue aos candidatos de 2008


Sobre o número de ciclistas e bicicletas nas cidades brasileiras:

A bicicleta deixou de ser só um meio de lazer, esporte ou brinquedo e se tornou definitivamente uma opção de transporte. 
Comentário: sempre foi modo de transporte entre a população de baixa renda. Já era e diminuiu por conta do acesso a motos

Nestes últimos anos o número de ciclistas circulando pelo Município não pára de crescer, seja por questões de praticidade, economia ou por causa das deficiências do transporte público. Cresce seu uso, independente da faixa etária, sexo, condição social, econômica e da ausência do Poder Público no implemento de melhorias e ordenamento garantido em Lei.
Comentário: Não parou de crescer entre a população de classes médias e ricas. O Poder Público hoje reconhece a questão das bicicletas, o que é bom, mas comete muitos erros desperdiçando ou mal versando verbas públicas   

Há uma imensa demanda reprimida de usuários da bicicleta, o que pode ser comprovado nos fins de semana (em 2008 São Paulo tinha aos domingos sem chuva 1 milhão de ciclistas nas ruas, contra algo em torno de 250 ciclistas/dia de trabalho), quando a frota de bicicletas na rua aumenta sensivelmente. Somente um terço das bicicletas existentes no país saem às ruas. 
Comentário: como trazer mais usuários da bicicleta para lazer ou esporte para o uso no transporte? Esta resposta ainda está no ar. As ciclovias e ciclofaixas acabaram trazendo muitos para a bicicleta, como em todas as partes do planeta e em todas épocas, mas está provado que só isto não basta. O que falta para ter mais ciclistas ou distanciar o pessoal da mentalidade "cidade do automóvel" que é um problema real?

Sobre o traçado urbano e a topografia, e o uso da bicicleta:

O trânsito denso e pesado na cidade está concentrado em avenidas e vias expressas específicas o que cria ilhas de tranquilidade no interior dos bairros, que podem ser usados como excelente opção de caminhos alternativos voltado para ciclistas e outras mobilidades não motorizadas. 
Comentário: A política de popularização de automóveis arrebentou as cidades aumentando exponencialmente os congestionamentos. A dos caminhões baratos criou uma crise sem precedentes no setor de cargas e também dentro das cidades. O ambiente urbano para ciclistas mudou muito desde então.

A desculpa da topografia acidentada não constitui problema tanto porque a maioria das bicicletas é dotada de marchas. o que permite vencer com certa facilidade até aclives acentuados. Isto faz com que o padrão técnico de declividade para uso de bicicletas existentes hoje seja outro.
Comentário: Hoje temos as bicicletas elétricas, mas o ideal seria ter cada dia mais ciclistas do pedal tradicional. Voltando à topografia, se aumentar o número de ciclistas circulando onde a topografia é agradável ou fácil já haverá uma grande mudança. São Paulo como exemplo, que normalmente se diz que a topografia não ajuda, está assentada em três largas bacias de rios: Tiete, Tamanduateí e Pinheiros, que juntas tem mais área que a maioria das cidades do Brasil. Temos que mudar o olhar que temos da cidade. 

A bicicleta é veículo ideal para pequenas e médias distâncias, muito eficiente até 4km. Tem uma média de velocidade urbana entre 12 e 18 km/h, dependendo do número de semáforos. Sua aceleração e manutenção de velocidade tornam incompatível o convívio do ciclista com trânsito de vias expressas. Portanto é dentro dos bairros e suas ruas tranquilas onde há a situação mais apropriada para estabelecer o uso da bicicleta. 
Comentário: Continua sendo ideal para dentro de bairros, mais ainda depois da pandemia. Estimular a economia local mesmo antes da pandemia já era uma saída macro econômica do país. Vários países da Europa têm esta política do interno de bairros ou de distâncias curtas, política econômica e social, até porque combate a violência.

Pensada com inteligência a bicicleta traz notáveis benefícios para o seu usuário, para a comunidade local e para a economia da cidade como um todo. Bicicleta abre as portas para um desenvolvimento urbano mais justo para todos os outros não-motorizados. 
Comentário: não só a bicicleta. Pensar em todas outras alternativas de mobilidade ativa veio para ficar. Não é a bicicleta pela bicicleta, mas é sobre a vida (na cidade)

O uso da bicicleta transforma e educa para a vida. 

A vida do ciclista e dos não-motorizados hoje:
Mudou de "não-motorizados" para mobilidade ativa. Zé Lobo, da ONG Transporte Ativo, sempre colocou restrições ao 

Não resta dúvidas que o uso da bicicleta está e continuará crescendo, independente da presença ou vontade dos Governos, o que positivamente não é uma situação ideal. A conseqüência disto está nas poucas estatísticas que mostram o aumento de problemas.
Comentário: Mobilidades ativas tem que ser política de Estado e não política de governo. A diferença é que política de governo dura o tempo que o governante eleito está no poder, o que aliás é um dos maiores problemas a efetivação de benefícios para a população. Política de estado obriga governos eleitos continuar o benefício público que está sendo realizado. Brasileiros estão exaustos de ver obras paradas, pela metade ou durarem décadas.

O descuido beira o inaceitável.
Comentário: primeiro tenho dúvida que seja descuido; depois inaceitável é pouco. Simplesmente não consigo entender nosso grau de aceitação de absurdos. 

Não é de interesse dos ciclistas e menos ainda de toda sociedade que, por descaso do poder público, haja mais um veículo gerando conflitos em vias que já estão no seu limite. 
Comentário: "mais um veículo" no caso é a própria bicicleta.

Esta situação pode apagar a imagem simpática que a bicicleta ainda tem, o que só faria piorar a situação.
Comentário: E prejudicou a imagem da bicicleta, ou melhor, dos ciclistas; mas não só por responsabilidade dos governantes. Houve um erro grotesco: não educar o ciclista. E não punir.

Pela ordem e o progresso respeitando todos direitos: 

Urge respeitar direitos e cumprir a Lei, fazer presente o poder público em suas obrigações com relação aos ciclistas e todos demais não-motorizados.
Comentário: vivemos no país onde tem lei que cola e lei que não cola, um absurdo total e absoluto. O resto é resto...

É conveniente abrir canais de comunicação e obter colaboração de ciclistas e outros não-motorizados experientes para a solução dos problemas.
Comentário: Este manifesto foi escrito em 2008, quando o que interessava era construir um futuro para a bicicleta, ciclistas e as cidades. Havia diferenças ideológicas, mas nos divertíamos com nossas "brigas" e no final lutávamos em grupo por uma causa comum. A chegada da nova geração de ativistas trouxe uma visão que tem que fazer, não importa como e a que custo, além de uma visão ortodoxa ideológica, tudo junto, o que acabou criando problemas inesperados. 

Quem não usa veículos motorizados se encontra abandonado. É necessário rever a política de transporte para que esta inclua e integre todos os modais de transporte. 

Infelizmente, parece ser necessário lembrar que todo cidadão tem direito à mobilidade, ao compartilhamento do espaço destinado ao trânsito, à saúde pública, à redução de acidentes, à preservação do meio ambiente, enfim, ao respeito e a dignidade. 

É absolutamente impossível continuar negando a existência da bicicleta, do ciclista, do cadeirante, do deficiente, do pedestre e de todos outros não-motorizados. 
Comentário: O número de bicicletas circulando no Brasil era o maior entre todos os veículos porque era o veículo dos mais pobres e de trabalhadores de baixa renda. O que foi feito depois mirou as classes mais privilegiadas. Pouco foi feito para as populações de baixa renda. Interessante que isto aconteceu com discurso de esquerda. 
Até hoje pouco se fez para melhorar a vida dos ciclistas de baixa renda. 

Por uma política de trânsito democrática. 
Pela criação de uma política de mobilidades amplamente inclusiva. 

Pontos básicos de reivindicação: 

Para todos: 
  1. pedestres!: lembrar sempre que nós todos somos pedestres! 
  2. iniciar política voltada para todas as mobilidades. 
  3. respeitar os direitos de menores, idosos e não motorizados (e mulheres, com certeza)
  4. inclusão em curto prazo de pessoas com necessidades especiais (15% da população) 
Para o estímulo ao uso da bicicleta; 
Levantamento geral da situação atual: 
  • Mapeamento feito sob o ponto de vista do ciclista (sob o ponto de vista da cidade) 
  • Campanha Educativa (absolutamente necessária, um crime não educar)
  • Educação para o Trânsito voltada para Crianças e Adolescentes
  • Bicicletários, pára-ciclos e estacionamentos 
  • Criação de órgão responsável pelas bicicletas e não-motorizados para o Município e área Metropolitana 
  • Dar treinamento específico para policiais e técnicos
  • Criação de Polícia-ciclística 
  • Formação de orientadores / professores de segurança ciclistas (Bike Anjos são maravilhosos, mas fazem suas ações com autonomia de posições, o que para a segurança no trânsito não é o ideal. Só se chega a plena segurança seguindo regras que são estabelecidas em cima de dados precisos. Ainda se faz necessário professores / orientadores ciclistas oficiais, ligados ao órgão oficial de trânsito da cidade)    
  • Banco de dados específico (para bicicletas e outras mobilidades ativas. Incluo ai pedestres)
  • Contato com entidades representativas de motorizados 
  • Rever Leis e tomar providências necessárias (rever o CTB pensando na cidade futura. O que está lá foi pensado num tempo que não se sonhava com as perspectivas que se abrem agora)
  • Levar em conta todas alternativas - não restringir se a ciclovias (calming traffic - acalmamento de trânsito urgente! Aliás repensar tudo. Olhar os cenários que se abrem)
  • Planejamento e execução de projeto melhorias: Ciclo Rede (Não só. Repensar tudo. Avaliar qualquer possibilidade)
  • Colocar na rua orientadores / professores de segurança no trânsito voltados para o ciclista comum, que trabalhem pedalando e vivenciando os problemas da bicicleta > educação + pesquisa = banco de dados = segurança = menor custo 
  • Cadastramento e controle imediato das bicicletas profissionais – bicicletas de carga / entrega, definindo responsabilidades. (a Transporte Ativo fez um belíssimo trabalho no Rio de Janeiro que pode servir de parâmetro) 
  • Criar facilidades em estradas que cortam o Município. (Estradas conurbadas são um dos mais críticos problemas de segurança para todas as mobilidades ativas, em especial para ciclistas. É um absurdo não olhar com cuidado este velho drama)
  • Criar áreas de treinamento esportivo (cresceu muito o número de ciclistas esportivos em todo Brasil. Nas cidades grandes se faz urgente dar solução, e um dos exemplos pode ser o que foi feito em São José dos Campos. Ciclovias não atendem o treinamento esportivo, aliás, deixar ciclistas comuns e esportivos no mesmo espaço é um problemão, um risco que vem causando inúmeros acidentes)
  • Definir responsabilidade legal sobre a criança ciclista e uso de calçada 
  • Definir regras de uso em parques e espaços públicos

A revitalização da agenda urbana: de novo? Até quando?

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

A revitalização da agenda urbana (Opinião; O Estado de São Paulo) só vira quando houver o interesse da sociedade brasileira em viver coletivamente. Podemos chamar de coletivo viver junto, desconhecendo e temendo até o vizinho de porta, protegendo-se em meio a grades, muros, fortalezas e seguranças particulares, sempre olhando cuidadosamente para interesses próprios? Existe cidade onde "o que é público não é de ninguém"? Há muito vivemos o "nós e eles", onde civilidade foi substituída por particularidades bem particulares, o que vem refletindo diretamente na vida e desenvolvimento de nossas cidades. Para revitalizar nossas cidades precisamos entender no que a transformamos.
Jorge Wilheim em seu livro "Projeto São Paulo, propostas para a melhoria da vida urbana", de 1982, e que em boa parte fez parte do Projeto de Governo Franco Montoro para o Estado de São Paulo (1983 - 1987), em linhas gerais já propunha o que é agora reapresentado pelo manifesto lançado pelo CAU/BR - Eleições municipais: entidades de Arquitetura e Urbanismo lançam Carta aos Candidatos. Pouco saiu do papel. Por que? As cinco diretrizes do manifesto: • Arquitetura e Saúde: O papel dos arquitetos e urbanistas como promotores da saúde pública nas cidades; • Cidades Sustentáveis: Urbanismo e meio ambiente: como reinventar as cidades no pós-pandemia?; • Governança e Financiamento: Cidades não se fazem de improviso. Como torná-las menos desiguais?; • Paisagem e Patrimônio: Qualidade de vida nas cidades: paisagens e história; e • Mobilidade e Inclusão: Circulando pela cidade: novas dimensões da mobilidade urbana; são questões que já foram apresentadas inúmeras vezes e que deveriam estar minimamente resolvidas nas cidades brasileiras. Por que pouco ou nada se fez? Por que chegamos a esta bagunça? Sem ter respostas honestas nada mudará. Fora o "pós pandemia" são temas praticamente obsoletos no hemisfério norte do planeta. Das 51 propostas chama atenção a citação da preservação da memória urbana, que nestas últimas décadas foi estraçalhada em nome de propagandas baratas e enganosas. Sem memória, sem olhar para trás, não há futuro.

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

gato por lebre; km de ciclovias por ciclistas; cidades inteligentes por emaranhados

O caderno Mobilidades do Estadão tem feito um bom trabalho publicando matérias sobre o assunto, mas dentro do site - https://mobilidade.estadao.com.br/mobilidade-para-que/falar-sobre-mobilidade-em-sao-paulo-e-sempre-citar-numeros-grandiosos/ - tem um dado interessante: 

  • 504 quilômetros é a extensão das vias para trânsito por bicicletas, sendo 473,7km de ciclovias/ciclofaixas e 30,3 km de ciclorrotas

Nunca tinha pensado nisto, mas muito se fala sobre os km de ciclovias / ciclofaixas e ciclorrotas, mas é difícil colocarem o número total de ciclistas circulando na cidade. Nunca vi na grande imprensa dados de ciclistas separados por ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas, o que permitiria saber o que está valendo a pena e o que não. Fala-se muito que o número de ciclistas nas ruas vem aumentando, mas também não se detalha, o que é crucial para estabelecer uma boa política não só para a bicicleta, mas para todos os modais ativos. Vou mais longe; crucial para uma política de humanização da cidade.

Esta história me lembra o livro "Como mentir com estatística" de Darrell Huff, 1956 - se não me falha a memória.

A série de debates Retomada Verde do Estadão tem sido interessante. Assisti, dentre outras, Especialistas defendem informação e participação da sociedade no destino das cidades na pós-pandemia, palestra mediada pelo Mauro Calliare e com a participação de Phillip Yang da Urbem; Roberta Kronke da FAU USP; e de Alan Cuperstein  da C40 América Latina; achei interessante, mas rasa. Como todas outras palestras durou 1 hora, o que considero pouco para um tema tão vasto. Acaba caindo num repetitivo. Gostaria que houvesse tempo para detalhar mais, mostrar números, explicar melhor. O Estadão deve saber o público alvo que tem e para o qual se destina. Triste mesmo foi ler alguns comentários nesta e nas outras palestras. 

Há uma pesada aposta em tudo que vai melhor através da Internet, aplicativos, redes sociais, inteligência artificial e que tais. Olhem a foto tirada numa das áreas mais ricas do país e tirem suas conclusões. Para quem não entendeu é a poda de árvores para que os galhos não interfiram com a fiação aérea quando começarem os ventos e tempestades. O PIB e número de empregos gerados por cada uma destas casas é coisa séria. Aliás, não muito longe de onde tirei a foto está a casa de um dos mais importantes empresários  e um dos maiores empregadores do Brasil e além mar. Não faço ideia de quanto custa para o país ele ficar sem comunicação em casa por 8 horas, 12 horas, 24 horas, como já aconteceu mais de uma vez, mas não deve ser pouco. 

Esta segunda foto tirei por causa do simpático edifício feito de containers, é em Socorro, próximo a Represa de Guarapiranga e Interlagos, uma área com um pequeno parque industrial, mas ainda muito importante para a economia e o social. Esqueça o simpático edifício e olhe a baderna de fios. Vira e mexe dá pau. É o mesmo ou pior por toda cidade, digo São Paulo, a mais rica e uma das mais organizadas do Brasil. Será que podemos acreditar em cidades inteligentes? 

Quando fazia Bike Repórter Eldorado fui ameaçado por "estar falando demais sobre postes", que os contava nas esquinas e soltava no ar. Meu irmão, Murillo Marx, também foi ameaçado pelo mesmo motivo quando Diretor do Patrimônio Histórico do Município de São Paulo. 
A quem interessa esta baderna de postes e fios para tudo quanto é lado que nem as próprias prestadoras de serviço sabem bem de quem é? A cidade inteligente tão sonhada passa não só por estes emaranhados sem fim.




terça-feira, 1 de setembro de 2020

A armadilha de deixar muitos para trás

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Entramos no sexto mês da pandemia no Brasil, ou seja, passaram 150 dias, melhor, desperdiçamos 150 preciosos dias quando poderíamos ter mudado a história deste país. Neste período muito se falou em saídas para a macroeconomia e proteção aos mais pobres, mas praticamente nada se falou sobre ensina-los a pescar. Mesmo antes da pandemia, no pós desastre econômico deixado por Dilma e o PT, já se dizia que a confusão demoraria entre dois a três anos na macro economia, caso fosse feito tudo certinho, mais uns 20 anos no geral, dado as distorções sociais que temos, principalmente a educacional que faz que nossa produtividade no geral seja muito baixa. A catástrofe não decorre só de nossa péssima educação formal, a das escolas, mas da educação informal, a educação social, civilizatória, que vem e contém valores coletivos, os mais diversos e até antagônicos, que apontam para um norte comum ou aproximado, aquele que leva um povo à coesão social, a entender, aceitar e aplicar a velha sabedoria do "unidos venceremos". Nada a ver com patriotismos, moralismos, determinismos baratos, mas com um ponto futuro melhor. Quase 70% da população brasileira não tem condição de esperar pela melhora macro; mais, são dignos, altivos, querem fazer seu próprio futuro porque mais uma vez se sentem, com razão, que estão sendo largados para trás. Tem razões de sobra para não confiar mais nos responsáveis pelo macro e traçam o próprio caminho, os números não mentem. Mesmo que tenhamos desperdiçado seis meses, nunca é tarde para estender a mão para esta massa. Em qualquer situação de perda de controle, como a que esta pandemia expõe, é dever dos mais preparados estender a mão, segurar o outro com firmeza, pés firmes no chão, e traze-los para a segurança um passo por vez. A carência é tão grande que um pequeno conhecimento passado com boa vontade e respeito faz muita diferença. Não é quanto dar, nem simplesmente dar, mas como dar autonomia. "Não ajuda, não quero que me levantem do chão, quero que me ensinem a ficar em pé e sair caminhando com minhas próprias pernas". A baixa renda não é só uma armadilha que pode aprisionar toda uma geração na renda básica e deixá-la sem perspectiva de progresso, como diz o excelente texto do O Estado de São Paulo em Notas & Informações (30 de Agosto de 2020). É a derrocada de um país que comodamente só soube olhar para o macro esquecendo de dois terços da realidade. Que macroeconomia é esta?