terça-feira, 16 de abril de 2019

Notre-Dame. Museu Nacional, Museu de Bicicleta de Joinville, Outro Preto...

Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo

Espero que não se faça qualquer comparação do incêndio na Notre-Dame com o crime anunciado do Museu Nacional. Assim como espero também que não tenha sido ato terrorista, o que infelizmente é uma possibilidade em se tratando de Europa, França e principalmente Paris. Pelo menos aqui no Brasil terrorista não tem vez; basta a falta de civilidade geral para destruir tudo que temos: museus queimados por puro desleixo, patrimônio histórico ruindo ou sendo jogado ao chão sob aplausos de todos, enchentes provocadas por lixo e entulho jogado nas ruas, edifícios desmoronando, poder público dando garantias que as represas estão seguras...

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Ainda estou completamente passado com o incêndio na Notre-Dame. Notável e triste é que não chorei, não consegui. Talvez esteja me acostumando. Procurando informações sobre a Notre-Dame fiquei imaginando o que sentia a população européia pouco antes da chegada dos exércitos na Segunda Guerra Mundial que dizimariam boa parte do patrimônio histórico da Europa. Uma espécie de aceitação profundamente dolorida.

Em 2007 estava vendo TV quando deram a notícia do incêndio no clipper Cutty Sark, um dos mais importantes barcos a vela da história que estava sendo restaurado em Greenwich, vizinho a Londres. A imagem a distância da fumaça doeu em mim até os ossos. Felizmente o incêndio foi controlado, não pegou o casco e outras partes importantes, o Cutty Sark foi restaurado e está lá para visitação num pequeno e mágico museu de vidro que imita uma grande onda. 

Acho inacreditável que restaurações realizadas em qualquer patrimônio histórico não siga rigorosamente as mesmas normas de segurança da aviação, que é o padrão mais alto de controle de procedimentos que temos.

Acabei de me lembrar do Buda bombardeado e de outros patrimônios da humanidade destruídos pelo Estado Islâmico. Infelizmente é muito difícil controlar atentados terroristas e os imbecis já fizeram estragos inacreditáveis. É muito difícil, chocante até, ver uma única escultura pixada de vermelho em Paris. Como disse antes aqui no Brasil não precisamos de terrorismo para destruir nosso patrimônio. Vide a escultura em bronze em homenagem ao Pixinguinha que está sendo arrancada aos pedaços e nada acontece, ninguém sabe, ninguém viu.

Nunca chorei tanto quanto durante o incêndio do Museu Nacional. Provavelmente por conta de tudo que vi sendo destruído aqui em São Paulo. Apagamos sem piedade nossa história em nome de uma modernidade irresponsável e de uma boçalidade sem precedentes. Meu irmão Murillo Marx trabalhou toda sua vida com patrimônio histórico, sei do que falo. Brasileiro faz e anda para sua história. Mesmo obras declaradas Patrimônios da Humanidade pela UNESCO estão abandonadas, se não depredadas. O MASP quase foi para saco. Ninguém se importa. Nossa elite, cultural e econômica, é muito pobre, de um complexo de inferioridade ruim, doentio. Museu Nacional pegou fogo? A notícia triste se encerrou ali, do contrário a sociedade teria pelo menos perguntado ao poder público "como estão os outros museus?". Nem pensar. Se algo sobrevive é por conta de um abnegado aqui outro ali; é o que nos resta; e muitos destes heróis são tidos como idiotas.

Fecharam o MUBI, Museu de Bicicleta de Joinville, já faz um bom tempo. Valter Busto é um destes abnegados, para mim um herói. O Perassolo é outro. Harold Capelina. Carlãozinho Coachman... Parece que agora os responsáveis se deram conta que fizeram uma caca sem tamanho. A coleção 

O Museu da Língua Portuguesas torrou porque um débil mental colocou um pano de cenário quase colado a uma lampada incandescente. O incêndio do Museu Nacional começou no ar condicionado, coisa comum por estas paragens que matam famílias e meninos de futuro, mas que ninguém faz nada. 

O Museu do Mar em São Francisco do Sul, Santa Catarina, era uma gracinha, pequeno, mas muito consistente. Depois de uma briga estúpida sobre quem manda no pedaço já não sei como está. A história mais importante do Brasil vem do mar.

Lembrando: o governo do Egito mandou uma pesada nota de protesto pelo descuido com a segurança e manutenção do Museu Nacional. Lá estavam quase 10 vezes mais múmias que as que o Estados Unidos tem. Nada mais.

No final da noite trágica de ontem, com o incêndio na Notre-Dame ainda sendo combatido, a população cantou em coro o seu amor aquela construção medieval que é um dos símbolos de Paris e da França.
O que acontece aqui no Brasil é crime contra a humanidade.

Patrimônio histórico? Aqui no Brasil? Temos profunda vergonha do que fomos e do que somos. 

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