terça-feira, 23 de abril de 2019

Na onda do patinete – mais comentários

"As autoridades foram atropeladas pela novidade" declara Sérgio Ejzenberg para a matéria sobre patinetes elétricos publicada sábado, 20 de Abril de 2019, no Metrópole do O Estado de São Paulo. A frase de uma verdade cruel simplesmente reflete em espelho de cristal lapidado com rara precisão a realidade brasileira. Autoridades deste país sempre estão muito, muito, mas muito mesmo atrás da realidade diária que nós cidadãos temos. Patinetes são mais uma realidade que só recebe atenção das autoridades quando a situação já passou muito de qualquer nível de razoabilidade. Não é por menos que somos um dos países com trânsito mais violento do planeta.

Um pouco de história:
Quando surgiram os primeiros Segway se imaginou que ali se iniciaria uma revolução na mobilidade urbana. De fato, o Segway, quando foi lançado em 2001, foi um marco na mobilidade, mas não vingou porque não existia definição legal sobre o que aquela novidade era e como encaixa-la no trânsito. Resumo da ópera não podia circular nas ruas nem nas calçadas por várias questões segurança. Acabou sendo vendido para serviços internos de empresas, depósitos, para agilizar a segurança, e outras mobilidades ou transportes restritos a áreas internas. Hoje é usada em excursões de turismo e é gozado ver o guia com os patinhos se equilibrando acompanhando atrás em fila. Provavelmente o custo, muito alto, também foi um problema para se popularizar.

Patinete não é novidade em muitas capitais europeias, portanto autoridades tem referência sobre o seu uso e os cuidados que se deve ter com segurança no trânsito. Estou falando sobre patinete não motorizado, portanto de baixa velocidade. Mais; usado numa pequena escala, principalmente por público infantil e infanto juvenil, portanto circulando em calçadas normalmente largas com boa qualidade de piso, pouquíssimos buracos ou defeitos perigosos, patinete de propriedade particular, com custo relativamente alto, usado por um público bem educado, em locais com policiamento bem preparado e com capacidade legal de ação, mesmo no caso de uma criança. Não faço ideia de como a lei vê patinetes nestes países, mas com certeza deve haver algo. Na França bicicletas podem circular nas calçadas em velocidade compatível com a segurança do pedestre. Na Florida bicicleta e ciclista que tem menos de 46 polegadas de altura total não pode circular na rua porque fica invisível no meio dos carros (mais baixo que a altura média das capotas) e por isto só na calçada. Lá fora aparece uma novidade as autoridades agem e tomam providências.

O que temos aqui, no Brasil, é um trânsito salve-se quem puder, onde lei cola ou não cola numa população sem noção do que é civilidade, menos ainda sobre o que possa ser CTB, Código de Trânsito Brasileiro, onde o policiamento não tem suporte legal para parar e reprimir comportamentos pouco civilizados, não pode multar ciclistas porque não tem poder legal para tanto...

O que é certo é que os patinetes elétricos estão causando problemas e acidentes em todas as partes. Já autoridades de metrópoles questionando até sua existência nas ruas. Se lá fora, onde ruas e calçadas tem uma qualidade excelente, os patinetes elétricos estão causando problemas, imagina aqui onde as vias mais parecem pista de treino para o Paris-Dakar e Rally dos Sertões.  

Patinetes são pouco ou nada visíveis, principalmente no meio do trânsito. A noite, quando ocorrem a maioria dos acidentes, patinete é mais invisível ainda porque as luz traseira é posicionada próximo do chão, o que torna praticamente invisível no meio do trânsito. Reparem que os carros mais modernos tem as luzes traseiras altas, alguns até com pontos no teto ou sobre o vidro traseiro, e isto é feito para deixar visível não só para o carro que vem atrás, mas principalmente para o que vem atrás deste. Os refletores ou luzes de uma bicicleta estão muito mais altos, e o ciclista ainda conta com o reflexo vindo dos pedais em movimento, mesmo assim o motorista tem dificuldade em ver o ciclista a noite. Ciclistas vistos por trás são mais largos portanto visíveis que um condutor de patinete. 
Um alto percentual de acidentes com bicicleta é por colisão lateral. Bicicleta de lado é muitíssimo maior e mais visível que um patinete. Mais, o ciclista movimenta as pernas o que chama a atenção dos motoristas.
Pelo menos o farol destes patinetes é bom, alguns mais do que deveria, porque de tão fortes atrapalham a visão do ciclista ou motorista que vem em sentido contrário. O ideal seria que fossem direcionados para o chão e que tivessem uma linha de corte de iluminação como a dos carros em um metro de altura máximo. 

Outro ponto é o caster destes patinetes elétricos que temos por aqui. É comum ver o patinete entrando em shimming, efeito dinâmico que coloca a roda dianteira do patinete em vibração, dificultando o seu controle. 
Capacete? Não faço ideia. O que sei é necessário ter dados sobre acidentes para saber a eficiência do capacete. No caso do ciclista urbano, que pedala numa posição mais em pé e em baixa velocidade, o capacete é quase inútil porque quase todas as lesões na cabeça acontecem na face. Não faço ideia de como são as lesões que um condutor de patinete sofre. É certo que o capacete pode ser muito útil se tiver refletores e porque não uma luz vermelha, e abas largas. Capacete é eficiente mesmo para proteger do sol.

A verdade é que necessitamos ter dados abertos sobre segurança no trânsito de todas as mobilidades. 

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