quinta-feira, 1 de outubro de 2015

fafalha de comunicação


No trânsito:
Demorei umas duas semanas para começar a entender o que o povo de Olinda falava. Nos primeiros dias foi um horror, não entendia quase nada quando o pessoal falava um pouco mais rápido. Quem era do sertão então era impossível; falam outra língua. Zé Carlos Viana me levou para uma reunião de amigos e o pessoal disparou a conversar bla bla bla e "axé poco", blablabla e "axé poco". "Axé poco? Pensei com meus botões "sei o que é Axé, mas axé pouco não faço ideia. Coisa do candomblé regional?" Uns dias depois de muita dúvida perguntei para Zé Carlos e ele deu uma boa gargalhada e foi dizendo em tom pausado, "Arturo, é Eu acho é pouco; Eu acho é pouco! É o nome de um bloco carnavalesco".
Plantando ciclovias:
Tive que replantar uma árvore de romã que estava no meu jardim. Árvore linda, grande para uma romã, frequentemente florida, cheia de frutos, cresceu sobre uma tampa de concreto de fossa que não sabia existir e depois de uma chuva mais forte quase tombou. Perto de casa tem uma pequena ponta de terreno público e lá escolhi para a nova moradia de minha romã. Quando comecei a cavar a cova apareceu o Sombra, morador de rua que vive na pracinha ao lado. Sombra veio dizendo que a praça era pública, que eu não deveria plantar ali, e mais outras coisas que não consegui entender. Como ele estava começando a ficar alterado parei o plantio e voltei no dia seguinte para continuar. Recomecei e Sombra reapareceu tentando explicar algo que de novo não consegui entender. Ele se afastava um pouco e voltava gesticulando, apontando para o outro lado da rua, e mais isto e aquilo que eu continuava a não entender. Para evitar mais confusão parei mais uma vez. No dia seguinte a cova que eu havia cavado estava coberta com um cobertor e cheia de pertences que imaginei ser de Sombra. E é óbvio que ele logo apareceu. Falou com um pouco mais calma que aqueles pertences eram de um outro morador de rua, novo no pedaço. Sombra amigavelmente pegou tudo que estava na cova, levou para o outro lado da rua, voltou e pediu para eu plantar mais para lá. Como sempre não entendi por que. Finalmente terminei a cova, replantei a romã. Dois dias depois, quando fui regar, conversei com o vendedor de churrasquinho que trabalha ali e só ai entendi toda história. Sombra queria que eu plantasse a árvore um pouquinho mais a esquerda para não atrapalhar a lona que o vendedor de churrasquinho estica ali. 
A letra da lei, o CTB e suas versões:
Estudei em colégio de padres e tive problemas porque não queria assistir as missas. Não era para menos: as missas eram em latim ou em português, numa ou noutra versão para mim incompreensíveis. Por esta e por outras acabei sendo convidado a me retirar do colégio. Graças a Deus! Passadas décadas por pura curiosidade acabei lendo a Bíblia que era de minha mãe, leitura agradável. E um pouco depois achei meu vergonhoso boletim e a Bíblia oficial do colégio e das aulas de religião que não me lembrava da existência, leitura chata, pesada, desagradável, cheia de comentários ortodoxos, alguns muito da igreja da época e pouco religiosos. Que diferença dela para a Bíblia de minha mãe! O incrível é que tem muita gente que reza pela chatice, pela cartilha de pensamentos arcaicos, incovenientes.

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