sábado, 10 de janeiro de 2015

Compartilhar a segregação

A mais de 100 anos foi realizada em NY o primeiro encontro para trocar experiências e buscar soluções que melhorassem a qualidade de vida de grandes cidades. Na virada das décadas 60 para 70, quando São Paulo passou a sofrer mais uma das suas grandes transformações históricas, foi construído o Viaduto Presidente Costa e Silva, mais conhecido como Minhocão. Naquela época já se sabia dos males que um viaduto colocado no meio de uma importante avenida do centro da cidade viria a causar, mesmo assim a população paulistana aplaudiu a obra. 
A consequente degradação da área, afetando a própria sustentabilidade de boa parte do Centro, se faz sentir até hoje, quase meio século depois de sua construção. Outro exemplo é o corredor de ônibus da av. Santo Amaro que, mal feito, destruiu uma das mais simpáticas avenidas desta cidade. São inúmeros os exemplos de erros grosseiros cometidos, todos na contramão dos bons exemplos do mundo. E assim foi, e, infelizmente, assim continuará sendo. 
É inacreditável que a população deste país fica empacada a alguns dogmas. Mesmo os privilegiados que têm acesso às melhores cidades deste planeta acabam não entendendo nada. Brasileiro só tem civilidade quando cruza o aeroporto de Orlando rumo aos parques de diversão. Eu retiro o que disse. Nem ai conseguimos entender o que é uma cidade, o que coletividade, o que é compartilhar espaços públicos, principalmente suas vias. Nossos medos, até pertinentes, não nos permitem.
Estive andando pelo interior de São Paulo e vi algumas pequenas cidades com ciclovias. Ótimo, dirão. Ótimo? Simplesmente por que a cidade precisa acompanhar as modernidades e estimular a bicicleta? Ciclovia significa segurança? Significa inclusão? É mesmo? Onde?
Os prefeitos destas cidades torraram o curtíssimo orçamento da Prefeitura para dar ao povo ciclovia, como a inacabada de Ibiúna. Mesmo que sejam necessárias, o que realmente duvido, são mal projetadas e executadas, acabando por ser perigosas. Em Juquiá um trecho termina numa rotatória e os ciclistas acessavam pela contramão. Em cidade pequena o dinheiro é curtíssimo, tipo fez aqui deixou ali sem nada. A ciclovia de hoje é o que foi a nova fonte da praça ou o novo portal de entrada da cidade. Seja bem vindo a... É como Piedade, que orgulhosa está terminando o seu primeiro edifício alto, uns 15 andares. Para que uma cidade pequena precisa de um edifício, para dizer que tem? Para ser importante? Patético, pobre!
O triste é que estes lugarejos seguem o exemplo, melhor dizendo, as modas da grande cidade. E ai vem a barbaridade que se está fazendo por aqui, São Paulo Capital. A apoteose deste retardamento será a ciclovia da av. Paulista, tão aplaudida. 
A propaganda da Prefeitura colada nos vidros dos taxis fala em compartilhar. Compartilhar o que? Compartilhar a segregação? Compartilhar o que foi feito 40 anos atrás?

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