domingo, 22 de setembro de 2013

Lições de Miami e Miami Beach

Um bobcat, pequeno trator de serviço leve, ia cruzando a rua e a ciclovia de lá para cá, de cá para lá, descarregando o caminhão parado do outro lado da rua e ciclovia. A medida que os ciclistas se aproximaram o condutor do bobcat subiu na entrada de carros da casa, girou o pequeno trator para ficar de frente e poder ver os ciclistas que iriam passar e antes da chegada deles cortou o motor para os deixar passar com a máxima tranquilidade possível. Os ciclistas cruzaram o bobcat, se afastaram um pouco e só então o condutor acionou o motor do pequeno trator e voltou a trabalhar.

No Aroma, de uma rede concorrente ao Starbucks, o jovem funcionário estava recolhendo pratos, xicaras e outros das mesas, e colocando tudo no carrinho de com muito cuidado, sem bater nada, preocupado em não fazer barulho e perturbar os clientes sentados ao redor.

No meio de uma rua estreita passei entre dois mendigos que conversam fechando o caminho. Eles veem minha aproximação e abrem o caminho gentilmente. Um deles me cumprimenta “boa noite, senhor” e respondo. Ele tem na mão direita uma garrafa de bebida alcóolica, que tem consumo proibido no meio da rua. Quando percebe seu erro imediatamente buscou esconder a garrafa atrás do corpo; sorriu desapontado e preocupado com seu erro, como se pedindo desculpas e compreensão. Parei na esquina, próximo aos dois e pude ouvir a conversa em espanhol. O que está com a garrafa de bebida na mão orienta o outro a lidar com os policiais. O novato estava dormindo no gramado de uma praça, o que não é permitido, e foi retirado por um policial. Não tinha gostado da história, mas também não mostrava raiva. As praças verdes, ajardinadas, impecáveis. O da bebida, experiente, diz que tem que obedecer a policia, que é boa forma de viver bem nas ruas. Não há ressentimento no tom de voz dos dois; só constatação dos fatos.

Foram preservadas boa parte das construções em art deco. Miami Beach, que eu não sabia, é uma cidade independente. Sabe que sua sobrevivência depende da preservação de sua história; dai seu turismo. Infelizmente há uma quantidade grande de edifícios altos, grandes, e modernos, um deles na ponta da cidade, é um aborto, um monumento à idiotice que destoa de tudo. Faço um paralelo com a cidade de Santos, de arquitetura riquíssima, mas que não sabe tirar proveito. O turismo brasileiro tem números ridículos.

O Centro de Miami está praticamente irreconhecível, com uma linha de frente de edifícios altos e modernos, mas continua muito agradável. Basta procurar a cidade, não as lojas. Brasileiro não sai das lojas, mas os nativos daqui dizem que a nossa festa diminui muito, quase parou.  

É difícil pedalar por que o calor e umidade são muito altos. Pedalei com uma bicicleta comunitária aqui em Miami Beach, pesada, mas roda bem, como todas outras. Fui até as 3 ilhotas residenciais que pontuam o velho caminho de pequenas pontes que fica entre Miami Beach e o Centro de Miami. Local simplesmente chique que remete ao Guarujá dos anos 60.

Não dá para ficar pedalando debaixo deste sol o calor infernal. Tenho circulado num Ford híbrido, a gasolina com assistência de motor elétrico, que é ótimo. Indo com calma ele praticamente não usa o motor a combustão. O silêncio do motor elétrico é mágico.

Bem ao sul de Miami, em Pinecrest Gardens e Cutler, que é maravilhosamente arborizada, vem de novo a horrível sensação da pobreza de nossos ricos brasileiros. Uma coisa é mostrar-se rico, mesmo com dinheiro grosso, outra é ser rico. E riqueza tem pouco ou nada a ver com a histeria patética que temos por ai. Nossas confusões sociais começam pela distorção que vem de cima.

Comemos pela segunda vez em um restaurante italiano, Fratelli la Bufala. Comida perfeita. Falei sobre a péssima qualidade da maioria das cantinas paulistanas, que não passam de enganação para dessedentes que perderam suas raízes. Desde quando qualquer italiano que se preze faz ou come uma pasta mole, passada do ponto?

Se conto estas histórias no Brasil vão dizer que estou virando besta. Pena. Eu não acho. Só gostaria que meu país, meus compatriotas, nosso futuro, fosse construído da melhor forma possível. Se você fala sobre os problemas é besta. Se deixa as coisas desandarem é um imbecil.

A quantidade de bicicletas por todas as partes é bem grande. Infelizmente, tem um monte de ciclista circulando pela calçada, que são lisas e limpas. Mesmo aqui, onde o trânsito dos carros é muito organizado, ciclista é um caso a parte, faz mais o menos o que quer, vai por onde bem entende. É muito fácil pedalar no meio do trânsito. Limite de velocidade é seguido à risca. O máximo que encontrei foi 45milhas/h em vias expressas. Avenidas 35milhas/h, ruas 30 ou 25m/h. Na frente de escolas, com luz piscando, é 15 milhas/h, ou literalmente parado. E no sinal de ‘pare’ todo mundo para mesmo, aqui no centro, ou na área rural a 30 km do centro, por onde passei. Os ciclistas circulam com tranquilidade. Só em raros trechos há ciclovia ou ciclofaixa, no demais o ciclista vai junto.

Só para saber: aqui, em Miami Beach, até os motociclistas tem o direito de conduzir suas motos sem capacete. Interessante.
 

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