sábado, 28 de setembro de 2013

NY, ontem e hoje, por um novaiorquino, Andres

Andres, descendente de italianos, natural de NY e hoje vive no Queens, trabalhou numa agência de correio da área conhecida como “NY hell’s kitchen” (cozinha do inferno de Nova Iorque). Fica entre as ruas 39th e 53th West Side (oeste). “Nos anos anteriores ao tolerância zero, todo tipo de criminalidade rolava solto, prostituição, drogas, máfias italiana, russa e porto-riquenha. Era muito complicado circular naquela área. Até dentro da escola eu fui assaltado”, contou Andres.  (Dependendo do horário e local era impossível passar por lá; pior que nas nossas cracolândias.)

O Hell’s Kitchen de NY hoje é tido como um dos cartões postais do sucesso alcançado pelo tolerância zero. Foram várias as mudanças, dentre elas a transformação radical da Broodway e Times Square, hoje mais vivas do que nunca.

Um dos trabalhos de Andres foi distribuir os cheques sociais nas caixas postais da agência Post Office. “Chegava o dia (do pagamento) e logo cedo estavam todos (beneficiários) dentro da agência. Eu tinha que ser enérgico com eles para conseguir colocar os cheques nas caixas (postais). Eles queriam tirar os cheques de minha mão. Conheci famílias que estavam na terceira, quarta geração, todos vivendo só do programa social. Nenhum deles havia trabalhado, só iam lá e pegavam o cheque”.

“A mudança (realizada em NY) foi muito boa. Hoje as bicicletas e os pedestres estão nas ruas (ele não soube qual é o meu trabalho). É muito bom. Temos paz, não há mais violência”, conta ele com rosto leve e sorrindo. “O lado ruim é que muita gente, como eu, que sou uma pessoa comum de classe média, com um trabalho normal (não sobra dinheiro no fim do mês) teve que se mudar. Os imóveis ficaram caros, construíram muito coisa nova... Mas a cidade está muito melhor para viver. Não quero que volte a ser como era antes. Não dá”.

“O candidato da oposição (do governo atual) fala que o que foi feito pela polícia foi ilegal, inconstitucional, que não pode parar e revistar as pessoas. Eu tenho medo da volta da violência. Tem que continuar do jeito que está”.

“É uma situação muito confusa, mas não quero a cidade de antes”.

A conversa foi em Naples, Flórida. Andres estava hospedado num hotel simples de beira de estrada, barato e próximo à rua principal, para uns dias de praia.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

comparação simples

Tirei a máquina de fotografia do bolso para fotografar um conjunto de edifícios pseudo modernos e horrorosos que estão de frente para a praia. Mal gosto e mediocridade há em qualquer lugar.
Voltei a pedalar e passou por mim uma SUV branca buzinando e com as crianças acenando insistentemente. Olhei para trás e a SUV estava parando sobre a ciclovia e as crianças continuavam a acenar insistentemente para mim. A porta da frente abriu e uma criança saiu correndo em minha direção. Só então pude perceber uma coisa caída no chão entre eu a criança. Rapidamente me dei conta que era a bolsinha de minha máquina fotográfica e que eles, pai e dois filhos, haviam parado para pega-la e me devolver. Simples; emocionante.
 

domingo, 22 de setembro de 2013

Lições de Miami e Miami Beach

Um bobcat, pequeno trator de serviço leve, ia cruzando a rua e a ciclovia de lá para cá, de cá para lá, descarregando o caminhão parado do outro lado da rua e ciclovia. A medida que os ciclistas se aproximaram o condutor do bobcat subiu na entrada de carros da casa, girou o pequeno trator para ficar de frente e poder ver os ciclistas que iriam passar e antes da chegada deles cortou o motor para os deixar passar com a máxima tranquilidade possível. Os ciclistas cruzaram o bobcat, se afastaram um pouco e só então o condutor acionou o motor do pequeno trator e voltou a trabalhar.

No Aroma, de uma rede concorrente ao Starbucks, o jovem funcionário estava recolhendo pratos, xicaras e outros das mesas, e colocando tudo no carrinho de com muito cuidado, sem bater nada, preocupado em não fazer barulho e perturbar os clientes sentados ao redor.

No meio de uma rua estreita passei entre dois mendigos que conversam fechando o caminho. Eles veem minha aproximação e abrem o caminho gentilmente. Um deles me cumprimenta “boa noite, senhor” e respondo. Ele tem na mão direita uma garrafa de bebida alcóolica, que tem consumo proibido no meio da rua. Quando percebe seu erro imediatamente buscou esconder a garrafa atrás do corpo; sorriu desapontado e preocupado com seu erro, como se pedindo desculpas e compreensão. Parei na esquina, próximo aos dois e pude ouvir a conversa em espanhol. O que está com a garrafa de bebida na mão orienta o outro a lidar com os policiais. O novato estava dormindo no gramado de uma praça, o que não é permitido, e foi retirado por um policial. Não tinha gostado da história, mas também não mostrava raiva. As praças verdes, ajardinadas, impecáveis. O da bebida, experiente, diz que tem que obedecer a policia, que é boa forma de viver bem nas ruas. Não há ressentimento no tom de voz dos dois; só constatação dos fatos.

Foram preservadas boa parte das construções em art deco. Miami Beach, que eu não sabia, é uma cidade independente. Sabe que sua sobrevivência depende da preservação de sua história; dai seu turismo. Infelizmente há uma quantidade grande de edifícios altos, grandes, e modernos, um deles na ponta da cidade, é um aborto, um monumento à idiotice que destoa de tudo. Faço um paralelo com a cidade de Santos, de arquitetura riquíssima, mas que não sabe tirar proveito. O turismo brasileiro tem números ridículos.

O Centro de Miami está praticamente irreconhecível, com uma linha de frente de edifícios altos e modernos, mas continua muito agradável. Basta procurar a cidade, não as lojas. Brasileiro não sai das lojas, mas os nativos daqui dizem que a nossa festa diminui muito, quase parou.  

É difícil pedalar por que o calor e umidade são muito altos. Pedalei com uma bicicleta comunitária aqui em Miami Beach, pesada, mas roda bem, como todas outras. Fui até as 3 ilhotas residenciais que pontuam o velho caminho de pequenas pontes que fica entre Miami Beach e o Centro de Miami. Local simplesmente chique que remete ao Guarujá dos anos 60.

Não dá para ficar pedalando debaixo deste sol o calor infernal. Tenho circulado num Ford híbrido, a gasolina com assistência de motor elétrico, que é ótimo. Indo com calma ele praticamente não usa o motor a combustão. O silêncio do motor elétrico é mágico.

Bem ao sul de Miami, em Pinecrest Gardens e Cutler, que é maravilhosamente arborizada, vem de novo a horrível sensação da pobreza de nossos ricos brasileiros. Uma coisa é mostrar-se rico, mesmo com dinheiro grosso, outra é ser rico. E riqueza tem pouco ou nada a ver com a histeria patética que temos por ai. Nossas confusões sociais começam pela distorção que vem de cima.

Comemos pela segunda vez em um restaurante italiano, Fratelli la Bufala. Comida perfeita. Falei sobre a péssima qualidade da maioria das cantinas paulistanas, que não passam de enganação para dessedentes que perderam suas raízes. Desde quando qualquer italiano que se preze faz ou come uma pasta mole, passada do ponto?

Se conto estas histórias no Brasil vão dizer que estou virando besta. Pena. Eu não acho. Só gostaria que meu país, meus compatriotas, nosso futuro, fosse construído da melhor forma possível. Se você fala sobre os problemas é besta. Se deixa as coisas desandarem é um imbecil.

A quantidade de bicicletas por todas as partes é bem grande. Infelizmente, tem um monte de ciclista circulando pela calçada, que são lisas e limpas. Mesmo aqui, onde o trânsito dos carros é muito organizado, ciclista é um caso a parte, faz mais o menos o que quer, vai por onde bem entende. É muito fácil pedalar no meio do trânsito. Limite de velocidade é seguido à risca. O máximo que encontrei foi 45milhas/h em vias expressas. Avenidas 35milhas/h, ruas 30 ou 25m/h. Na frente de escolas, com luz piscando, é 15 milhas/h, ou literalmente parado. E no sinal de ‘pare’ todo mundo para mesmo, aqui no centro, ou na área rural a 30 km do centro, por onde passei. Os ciclistas circulam com tranquilidade. Só em raros trechos há ciclovia ou ciclofaixa, no demais o ciclista vai junto.

Só para saber: aqui, em Miami Beach, até os motociclistas tem o direito de conduzir suas motos sem capacete. Interessante.
 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

....quantos ciclistas mesmo?

Vamos fazer umas contas simples: 100 ciclistas (um pouco mais que isto) por hora passando pela esquina da av. Faria Lima com Rebouças, em 14 horas de contagem, dá 1.400 ciclistas, num único ponto. Zona Norte, av. Bras Leme, em ponto único de contagem, um pouco mais de 80 ciclistas/hora, multiplica por 14 horas e dá 1.020 ciclistas. Av. Paulista, próximo ao MASP, entre 21:00 e 01:00, portanto só 4 horas de contagem, mais de 800 ciclistas. Soma todos pontos e temos: 1.400+1.020+800= 3.220 ciclistas/dia em 3 pontos de contagem, numa matemática para lá de grosseira.
Vamos colocar que o fator de viagens/dia destas bicicletas está em uns 2.5, um pouco maior que em 2005 quando era 2.2 viagens/bicicleta, e temos 1.288 ciclistas/dia.
Lá por 2005 o número oficial de ciclistas no Município de São Paulo era de 135.000/dia, com fator de viagem em 2.2 e dá 61.364 ciclistas/dia circulando. Pesquisa O.D. Metro, com dois filtros, modo principal e transporte para trabalho, o que exclui muito ciclista.
Fazendo outra brincadeira: se você multiplicar os 1.288 ciclistas/dia de hoje/09-2013 por 48 (pontos de contagem) você já tem mais ciclistas do que os 61.364 ciclistas/dia da OD de 2005.
Boa brincadeira, não é? Não dá para tirar conclusões, mas dá para imaginar que os números oficiais tão divulgados não eram exatamente a realidade ou não teríamos estes números de agora. Ou o crecimento da bicicleta em São Paulo foi tão maluco assim? Foi, todos sabemos, mas quanto? E como é a curva de crescimento, tão acelerada quando uma brincadeira destas me leva a pensar? O fato é que se o crescimento estiver tão acelerado nós temos um não boa notícia.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Contagens de bicicletas em São Paulo

Os números apresentados das contagens realizadas em São Paulo são mais que promissores. Para quem pedala pelas ruas não há novidade, as bicicletas estão ai, por todo lado, para todo gosto. Não via e não vê quem não quer.
O pessoal que acompanhou a pesquisa realizada pela Ciclocidade conta que na av. Faria Lima com av. Rebouças passaram bem mais de 100 ciclistas por hora. Numa outra contagem, Zona Norte creio, deu um pouco menos de 100 ciclistas/hora.
A CET apresentou contagem nos diversos trechos das Ciclo Faixa de Domingo com média aproximada superior a 1.300 ciclistas/hora. Na tabela da ciclofaixas há um número pífio de 35 ciclistas no horário de 19:00h às 20:00h para a ciclofaixa permanente de Moema, que prefiro não comentar dado o tamanho da besteira toda. Apresentar este último número, desta forma, só pode ser sacanagem da grossa.
As contagens da CET na avenida Paulista, entre 21:00h e 01:00h, fora de horário de pico e em horário de ciclista fazendo passeio noturno, são bem altos. Mas, de novo, só pode ser sacanagem não fazer contagem em horário de trabalho.

Estes números me faz lembrar o momento que a Meli, então CET, entrou numa reunião do GEF Banco Mundial com uma planta debaixo do braço, estendeu o papel na mesa, que era uma contagem aleatória da CET no Centro Expandido realizada lá por 2005. Feita em horário de pico da circulação de carro paulistano, entre 08:00h e 10:00h; e entre 18:00h e 20:00h, tinha números que pareciam irrelevantes, tipo 4 ciclistas/dia na rua Gabriel Monteiro da Silva com rua Mariana Correia; 10 ciclistas na Ponte Cidade Universitária; e outros mais promissores lá pelo lado de Santo Amaro ou Socorro. Eu dei um pulo de alegria com o que vi e comecei a rir. Simples: Os horários escolhidos não era os dos ciclistas da época, a maioria trabalhadores de baixa renda; muito menos os horários de entrada e saída dos alunos e funcionários da USP que cruzam a ponte Cidade Universitária. Ademais, os quatro ciclistas da Gabriel Monteiro circulando àquela hora naquele local, miolo de bairro riquíssimo, insinuava que a bicicleta ali não era exatamente coisa de pobre. Chique, muito chique! Ciclistas ricos mapeados pela primeira vez? Possivelmente. O mapa tinha outras pitadas de ciclistas aqui e ali de áreas ricas e apontava a existência sim da bicicleta – como algo que tinha chegado para ficar mesmo!

É sabido que a implantação de qualquer estrutura cicloviária, principalmente vias segregadas, solta a demanda reprimida, que os manuais afirmam ser um crescimento rápido de mais ou menos 30%. Também é lógico que as Ciclo Faixa de Domingo estão empurrando novos ciclistas para o uso da bicicleta como modo de transporte. O que não me convence é o discurso que este crescimento surpreendente acontece por razão única e direta destas ações. Não dá para descartar o saco cheio de toda a população com o caos criado pela socialização do carro com IPI zero%. Também não dá para descartar a questão da violência, assalto e latrocínio, que é ocorrência quase nula com ciclistas que se transportam. E vai lá saber quais outras razões.

Qualquer pesquisa é muito bem vinda, mas é necessário ir mais longe para entender o que está realmente acontecendo. É certo que o uso da bicicleta cresce muito rapidamente na maioria das cidades, mas só isto não basta. Se faz urgente conhecer o que é a nova vida da cidade que chega como tsunami.

domingo, 15 de setembro de 2013

A culpa é dos motoristas de ônibus...


Os motoristas dos ônibus são sempre os culpados. Principalmente os cariocas, que primam pela velocidade e imprudência, que se diga a verdade, endêmica do Rio de Janeiro, portanto não só uma exclusividade dos motoristas de ônibus. Não importa o que, eles são sempre os culpados.

Um destes casos foi o de Gisela Mattos, conhecida produtora da TV Globo, e muito amiga de Bel Murray e Fê Lemos, minha enteada e genro. Logo após ter sido avisado da notícia da morte de Gisela escrevi para Zé Lobo para pedir que ele levantasse o que havia acontecido. Zé Lobo, que tem um ótimo trabalho para o desenvolvimento e segurança dos ciclistas, foi atrás de alguma informação, que só chegou a mim na última quinta-feira quando tive o prazer de revê-lo pessoalmente. Ele foi ao local do acidente, conversou com várias pessoas que viram o que ocorreu, cruzou outras informações, e não há dúvida que Gisela fez uma série de erros primários, o pior e definitivo colocar-se num espaço muito estreito entre o ônibus e o meio fio a uns metros da esquina, numa posição que o motorista nem que quisesse conseguiria vê-la. A reação imediata de toda imprensa foi divulgar que Gisela fora atropelada, em textos que empurram diretamente toda responsabilidade para o motorista e de quebra fazem da bicicleta um perigo mortal.
Umas semanas depois morreu o triatleta Pedro Nikolay em outro acidente com um ônibus, desta vez com filmagens de dentro do próprio ônibus e da rua. Eu havia estranhado o que se vê do acidente por que não se percebe uma redução de velocidade ou tentativa de desvio do ciclista. É óbvio que toda imprensa falou em atropelamento, o ciclista foi pego de frente pelo ônibus, bla bla bla..... Não é o que parecia acontecer nas imagens.

Depois de contar o que sabia sobre a Gisela, Zé Lobo falou sobre este acidente. Pedro estava testando uma bicicleta e vinha dando sprints, provavelmente estava de cabeça baixa, colidindo em alta velocidade na lateral do ônibus sem vê-lo. É praticamente impossível para um motorista de veículo grande perceber a batida de um ciclista na lateral, principalmente se o nível de ruído interno do ônibus for tão alto como normalmente é naquelas latas velhas.  
“E o pessoal está dizendo o que”, perguntei eu sobre a reação dos cariocas. “Que os motoristas de ônibus são todos uns assassinos” respondeu Zé Lobo.

Por partes:
Não existe atropelamento de ciclista, nem que ele esteja desmontado e cruzando a faixa de pedestre, o que provavelmente o colocará perante a lei como pedestre empurrando uma bicicleta.

O vulgo atropelamento de ciclista é legalmente uma colisão entre veículos. No caso de Gisela ela estava errada por que a lei, o CTB, diz que a ultrapassagem deve ser feita pela direita. E foi Pedro que colidiu no ônibus.
Quanto aos motoristas de ônibus, o que se esperar deles? Começando pelo veículo que conduzem, a forma como são tradados, a condição e quantidade de horas do trabalho.... Nós aceitamos o que está ali....

Aliás, se fossem só os motoristas que fizessem besteiras no trânsito brasileiro... que maravilha seria.
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/04/produtora-da-tv-globo-morre-ao-ser-atropelada-em-bicicleta-no-rio.html
http://oglobo.globo.com/rio/dentista-triatleta-morre-apos-ser-atropelado-por-onibus-em-ipanema-8248417

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Banco malvado!

 Tem havido uma reação contra o patrocínio do Banco Itaú em várias ações e entidades relacionadas às bicicletas. Pelo que me contaram tem gente que vai deixar a CicloBr por que discorda do apoio à entidade. Numa mensagem veio uma crítica ao patrocínio dos bancos a outras ações de promoção da bicicleta. Então vamos lá, vamos dispensar os bancos e todos demais apoiadores ditos capitalistas em nome da pureza da bicicleta e do bem de seus ciclistas.

  1. Em São Paulo termina o serviço de bicicletas públicas patrocinado pelo Itaú, a Ciclo Faixa de Domingo e o empréstimo de bicicletas do Bradesco.
  2. No Rio de Janeiro também acaba o serviço das bicicletas públicas do Itaú.

Vamos seguir a ordem cronológica invertida do que vem acontecendo com a bicicleta pelo mundo nestes últimos anos:



  1. Em NY, Nova Iorque, acaba as Citi Bikes, bicicletas comunitárias patrocinadas pelo Citibank.
  2. Em Londres acaba o Barclay Cycle Hire / Cycling / Transport for London. Barclay é banco.
  3. Seria necessário rever o Velib de Paris, que é bancado pela propaganda exposta em pontos de ônibus, muitas delas de grandes empresas multinacionais, incluindo bancos. Como a Prefeitura de Paris, como qualquer outra, não tem condição de manter os pesadíssimos subsídios provavelmente o Velib acaba.
  4. O mesmo descrito acima para o Bicing de Barcelona, o sistema de Leon, Montreal...
  5. entidades de estímulo e defesa de pedestres, deficientes, ciclistas e outros morreriam. Não tem mais Velo City, por exemplo
  6. No esporte faltariam equipes. A Rabobank, equipe tradicional de um banco holandês, desapareceria – mesmo sendo holandesa...
  7. Não haveria as equipes Volkswagen, Volvo, Fiat, Walmart, Seven Eleven...
  8. Tour de France, Giro d’Italia, Vuelta de España, e todos grandes eventos esportivos do gênero acabam
  9. Acaba o mountain bike, o triathlon, ciclocross, provavelmente até o BMX
  10. Specialized, Trek, Cannondale, Schwinn, Giant... todas são empresas enquadradas sistema produtivo industrial/capitalista...

Enfim teríamos outra realidade mundial, com todos pedalando bicicletas de baixíssima qualidade e baixíssimo custo fabricadas em países que usam intensivamente mão de obra escrava.

 

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A família de bicicleta

Saímos de casa muito cedo em um feriado prolongado. Cruzamos uma cidade vazia, silenciosa, com um pouco de névoa, que não terminava mais. Eles não sequer estavam acostumados a ir tão longe dentro da própria cidade. Imagine só; a estrada nem havia começado. Eu estava tranquilo por que já conhecia esta saída e a ansiedade interminável de chegar na estrada para pedalar no acostamento com o cheiro do verde. Pouco depois de entrar na estrada paramos no primeiro posto e fomos tomar café. Até ali havia sido quase uma hora e meia de pedal e a cara do Zé e de Cristina mostravam uma mistura de prazer, incerteza e apreensão. Zé sorria o tempo todo e de vez em quando nos encarava e ria alto. Nervoso divertido.

Bateram os três cafés com leite e as médias com manteiga no balcão. A conversa era esparsa e trivial; frio, névoa, acordamos cedo, o bêbado voltando para casa...,como se fosse importante desviar da conversa o longo dia de pedal que teríamos pela frente. Cristina deu as costas e foi ao banheiro e Zé olhou um pouco mais sério, mas com seu sorriso incessante, e só ai perguntou “falta muito?”. Brinquei com ele, dos três o que menos prática tinha com bicicleta, se a Cristina estava indo muito rápido. Ele de uma risada alta e silenciou. Sacanagem minha.

O primeiro trecho da viajem sempre é o mais duro. O corpo ainda não está no espírito da longa pedalada. As pernas demoram a soltar para conseguir despistar a pesada ansiedade. Um pouco mais para frente, já em forma, o selim se faz presente. Esquecemos dele quando o rebolado cansar. E mais uma dezena que quilómetros a viagem realmente começa a mostrar seus plenos prazeres. O voo da bicicleta pelo asfalto liso vai engolindo a paisagem cada momento mais leve e bucólica, a diminuição do barulho dos carros, caminhões e ônibus que passam, e a leveza de espírito finalmente toma conta do ciclista. Pelo menos dos experientes. É um pouco sofrido para os novatos, mas o prazer da descoberta apaga o resto.

Cristina pedala com a leveza de uma menina, que então é. Alta, magra, bela e imponente, perfeitamente encaixada na bicicleta, com uma cadência de pedal quase perfeita, posso vê-la à frente com sua cintura fina e cabelos lisos e longos ao vento. É a pincelada final daquela paisagem. Lá no começo da estrada fiz o erro de colocar meu ritmo para todos e cansei o Zé desnecessariamente. estamos no ritmo de Cristina, bem mais tranquilo, mas Zé vem atrás, perto, e só sorri quando vê que estou olhando para trás com certa preocupação.

“Esta bicicleta é mais pesada que a sua”, diz Zé para mim. “São idênticas”. “Então são estas subidas”, replica ele rindo. Um pouco mais a frente cruzamos com uma família inteira numa bicicleta vindo de frente. O pai pedala com uma filha de uns seis anos entre as pernas, a mãe está sentada no bagageiro com uma criança de colo nos braços. Estamos todos sozinhos na estrada e é possível ouvir o rodar dos pneus grossos da bicicleta da família terminando a descida e iniciando a subida. Eu chamo a atenção de Zé e Cristina para a cena. Zé está emparelhado comigo. Olha o pai iniciando a longa subida sem sequer mexer o tronco. Pedala o peso da bicicleta e de toda família com as pernas sem reclamar. Torcemos o pescoço para acompanhar a longa subida que é feita no mesmo ritmo e sem parar. Agora estamos nós subindo. Zé olha para mim e como sempre sorri, praticamente ri. “Este cara está de brincadeira comigo. Foi você que mandou ele passar por nós. Não reclamo de mais nada”. Caímos na gargalhada e seguimos em frente. Cristina segue na frente quase impassível. Nosso caminho ainda é longo.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

22 de Setembro – Dia Mundial sem Imbecis

É impressionante o crescimento do número de ciclistas circulando pelas ruas das cidades brasileiras. A bicicleta pegou. Ainda tem muita gente se perguntando se é mais um moda, pergunta que me faço também. É muito provável que neste boom tenha um fator moda, mas é inegável que mesmo quem está pedalando por moda depois da experiência nos pedais vai ter uma visão completamente diferente sobre transporte e a vida na cidade. É muito provável que venham fazer um uso mais racional do carro. Já valeu – e muito!

Numa reunião de organização dos eventos do Dia Mundial sem Carro, faz alguns anos, alguém disse que a data não significa “Dia Mundial da Bicicleta”. “E pedestres, deficientes, cadeirantes, skatistas, patinadores...?” “Somos todos pedestres, não importa por qual modo de transporte optamos. Até para sair pedalando temos que caminhar até a bicicleta”.

Dia Mundial sem Carro significa o que? Um dia sem carro circulando nas ruas como forma de protesto. Protesto contra o que? Contra os carros ou contra seus usuários? Mas dá para continuar a civilização sem o veículo individual motorizado? Possível é, mas prático, inteligente, definitivamente não é. Eric Ferreira sempre diz que o carro está ai para ficar, e vai ficar e continuar ai, isto é líquido e certo. Vai haver uma mudança muito maior e mais rápida que a que já aconteceu, mas o carro continuará a fazer parte de nossa civilização, isto é inegável. O automóvel é genial, mas é usado com pouca ou nenhuma inteligência. Aliás, convenhamos, inteligência é algo que realmente está faltando aos nossos tempos.  

Pois então, eu lanço aqui o “Dia Mundial sem Imbecis”, o que resolveria não só os problemas atualmente causados pelos carros, mas todos os problemas das cidades e estradas, que ficariam praticamente vazias. Que delícia!