Bondes maravilhosos; ônibus confortáveis; metro fácil, mas maltratado. Chega-se facilmente a qualquer destino. Os horários são cumpridos e é previsível o tempo de viagem. Que difereça!!!!
Arturo Alcorta, Escola de Bicicleta, sobre a vida, rodando um pouco por tudo
quinta-feira, 29 de março de 2012
A imprensa e os acidentes
Por ai sei que a morte de Juliana na av. Paulista detonou uma onda de protestos e interesse da mídia pelo tema. Minha pergunta é até quando e com que resultado. Não tenho visto qualquer nota sobre o processo do atropelamento fatal do Victor Gurman e muito menos sobre o Leonardo Araújo dos Anjos que morreu atropelado depois da festa de calouro da FEA e que infelizmente e provavelmente passará para história como mais um caso indigente, mesmo já sendo aluno oficial da USP SP. Vi a primeira página do atropelando do ciclista em Brasília pelo filho do Eike Batista com sua Mercedes tri-especial. Este ciclista morreu, mas não ficou no anonimato.
O que me deixou feliz nestes dias foi ver uma discussão entre os membros da UCB, União dos Ciclistas do Brasil, sobre os esquecidos e indigentes. Venho repetindo que “ou todos temos segurança ou ninguém tem segurança”. Não existe esta coisa que eu construo meu próprio castelo, na minha região é mais segura, e outras bobagens que nós, brasileiros ainda estamos acreditando. É uma questão de cultura: temos que perceber que a Idade Média já acabou faz tempo. A sociedade atual tem uma tal dinâmica que qualquer isolamento é facilmente contaminado.
O trânsito previsível de Paris, NY ou Montreal torna-se bastante perigoso quando um adolescente cheio de hormônios ou qualquer um (ou uma) que não saiu da adolescência decide fazer o que quer. Um dos problemas é a situação que eles estão criando naquele exato momento, o outro, muito pior, é a contaminação social. “Se ele pode, eu também posso”, um pensamento normal, mas muito perigoso. Quase proibiram o uso da bicicleta em NY por causa do alto número de acidentes gerados pelos bike courriers. A imagem da bicicleta era a dos courriers e a população nova-iorquina tinha horror a ciclista. Controlaram os ciclistas mais atrevidos e transformaram a cidade numa das mais agradáveis para se pedalar. Notícia ruim é repetida 83 vezes, enquanto as boas novas só são repassadas 3 vezes; diz a ciência.
Por aqui não vejo mais noticia sobre o acidente com o ônibus no túnel de Sierre, Suíça, mas tenho certeza que gente trabalhando no caso e que haverá resultados, tanto na justiça quanto revisão técnica da segurança rodoviária, e assim que houver novidades será publicado. Anormalidades são tratadas com bastante atenção pela sociedade europeia, principalmente quando envolvem crianças. Acidentes como aquele são raríssimos por aqui, mesmo assim ouvi uma conversa de mãe para mãe sobre a preocupação de seus filhos saírem de férias numa excursão em ônibus.
quinta-feira, 22 de março de 2012
Paris, projeto urbano e Velib
Ontem, finalmente, depois de uma longa luta para conseguir preencher os quesitos necessários, consegui sair pela primeira vez numa Velib. Basta desbloquear, ajustar o selim e sair pedalando. Há postos Velib por toda a cidade e é fácil largar a bicicleta. Mas foi para mim, um estrangeiro, uma luta conseguir preencher o formulário na internet. No final quem conseguiu foi uma amiga francesa.
A experiência foi até emocionante, mesmo sendo eu bem vivenciado nas coisas da bicicleta. A bicicleta em si é pesada, mas roda muito bem, é estável, tranquila, previsível. Tem 3 marchas internas no cubo e freios convencionais. Ao primeiro movimento o dínamo interno ao cubo de dianteira aciona automaticamente o farol e a lanterna traseira e mesmo depois de parado estas permanecem acesas por um bom tempo. A cestinha dianteira é obviamente prática e conta com um cabo de tranca em espiral. A conservação está sendo bem feita e é difícil ver alguma torta, desalinhada ou muito desajustada. Já usei 4 delas e só em uma o câmbio poderia estar mais bem ajustado. Tentei ajustar, mas obviamente o sistema, como toda bicicleta, é estanque a curiosos.
É possível contratar por um dia, sete dias ou um ano, que foi o que fiz. Dai as minhas complicações. Por um dia basta colocar o cartão de crédito e sair pedalando, o que muito turista faz, mas eu não consegui. Ontem tentei ajudar uma carioca que também não conseguiu. Quando se vai para um ano há duas opções: 29 Euros para 30 minutos de uso por vez, ou 39 Euros para 45 minutos por vez. Optei pela segunda, mas mesmo assim creio que tenha estourado o tempo na numa das saídas. Vou ter que pagar um acréscimo.
Numa das saídas acabei seguindo uma senhora de uns 50 e poucos anos que também estava numa Velib. Ela estava pedalando numa ciclovia de avenida que termina na rotatória do Trocadero, que é um pouco complicada para ciclistas. Fiquei impressionado com a forma como ela se lançou ao transito. Quando ela terminou a rotatória conversei com ela, que confessou que passar por ali não é fácil, mas que o prazer e facilidade de pedalar compensa. O trânsito de Paris é bem fácil porque os motoristas estão bem acostumados com os ciclistas e não há agressões de ambas as partes. As avenidas são bem largas o que diminui o nível de tensão geral, mesmo quando a bicicleta está no interno de bairro que é muito estreito e faz com que o motorista tenha que se manter atrás.
O Velib, as tão famosas bicicletas comunitárias de Paris, não foi o passo inicial para estimular o uso da bicicleta, mas foi a sequencia final de um projeto de transformação da cidade. O problema no Brasil é que queremos discutir bicicleta sem fazer ideia do que é, ou deveria ser, uma cidade. Parece que vão colocar 300 postos de bicicletas comunitárias em São Paulo, mas o dever de casa da CET não foi cumprido e o ciclista está jogado a sua própria sorte. Infelizmente os políticos entendem mesmo é de festa e votos e repetem a Ciclo Faixa de Domingo de São Paulo em várias cidades do páis, mas não fazem praticamente nada pelo uso da bicicleta como modo de transporte. Repito: o caso da Ciclo Faixa de Domingo é resultado de uma briga de foice no escuro entre o primeiro escalão de Serra, que queria a bicicleta no dia a dia, e uma CET desinteressada por qualquer coisa que não fosse motorizado. Fazer para o lazer acabou virando propaganda política. Provavelmente como será o Velib paulistano, ou de qualquer outra cidade. Vai funcionar? Claro que sim. A demanda reprimida é enorme, em todas grandes cidades. A população não aguenta mais a cidade na qual vive. Nossa qualidade de vida é muito ruim.
domingo, 18 de março de 2012
Beleza, futuro, susto e inconsciencia
Dentro do vagão de metro, em uma composição que
imagino seja dos anos 50 ou 60, de vagão pequeno, estreito, paredes finas e
janelas grandes, a maravilhosa mulher jovem sentada a minha frente, pequena,
delicada, de traços fortes e pintura de rosto discreta, não tira seus olhos
verdes, como água translúcida de nascente, contornados por rímel azul escuro,
do texto do I.phone. Seus dedos e unhas redondas, bem tratadas e pintadas num
vermelho discreto, praticamente acariciam em movimentos suaves, como se ajeitasse
a seda do lenço florido, a tela. O vestido preto preso à cintura por um cinto
bem estreito feito de pequenos adereços variados e parisienses marca o corpo
jovem de pernas cruzadas que apontam uma bota de cano longo e salto não muito
alto. A expressão compenetrada traz a ela um ar elegante, de mulher...
Uma imagem explode na janela e nesta fração de
segundo percebo passar luzes de janelas que vão na direção contrária, junto com
o barulho de sua composição que logo silencia e só me resta a desorientação dos
ecos e rangeres do metro que estou viajando. A deslumbrante jovem sequer moveu
os olhos da celular. Para ela aquela composição que passou simplesmente não foi
registrada, não existiu. Olho para os lados procurando rostos, expressões, e todos
seguem em suas realidades. Minha cabeça assustada está acessando acidentes,
colisões, o ocorrido nesta semana no túnel de Sierre, Suíça, onde 28 dos 50
passageiros morreram numa colisão sem explicação dentro de um túnel. Vinte e
duas das vítimas eram crianças.
Lembro dos velhos filmes de competição de carros,
dos primeiros anos de Fórmula 1 que acompanhei onde era comum haver algumas
mortes por ano, de minhas loucuras quando comecei a dirigir, de colisões
frontais que já vi. Passo para os biciclos, as primeiras bicicletas de roda
grande na frente, que eram extremamente perigosas. Vejo a gravura de um livro
que mostra uma “bonne shaker” (biciclo) prestes a começar uma descida íngreme
onde se lê um aviso sobre o perigo da descida para os ciclistas. Muitos se
machucaram feio, mas provavelmente machucar-se era natural à vida, a
sobrevivência numa época ainda sem piedades.
Na linha do metro na qual estou as composições
passam realmente muito perto uma da outra. A velocidade normalmente é baixa
porque há muitas curvas, mas naquele exato momento íamos bem rápido. Nos acostumamos
a que o sistema do ir e vir funcione, que coisas passem raspando sem que
tenhamos qualquer reação. “Vai dar certo” está tatuado em nossas cabeças e não
poderia ser diferente. Do contrário não teríamos seguido em frente.
Há um paralelo ai com a coisa virtual. Se a evolução
fosse deixada para os mais velhos, a maioria assustada com as mágicas assustadoras
desta nova era, não teríamos chegado onde chegamos. Mudou tudo, mas não mudou o
processo de evolução. A cada evolução novos temores que depois se dissipam e só
voltam a tona quando o que pode não dar certo volta, por alguma razão, à tona. E
então os temores voltam, algumas vezes apavoram, mas normalmente passam. “Vai
dar certo”.
Não me lembro qual o nome daquele filme no qual uma
garrafa de Coca Cola cai de um avião e é pega por um menino de uma tribo
primitiva da África, entendida como algo divino que tem que ser devolvida aos
seus donos, homens europeus. Esta armada a confusão da novidade, o
desconhecimento, e a procura por solução. Ninguém se entende porque a realidade
dos fatos é tão obvia e distantes entre as partes que não faz sentido. O obvio
não assusta. Depois que se habituou fica mais fácil, não se pensa nos efeitos,
nas consequências.
O velho vagão de metro de Paris segue em frente. “Qual
será sua manutenção?”, penso eu. A jovem maravilhosa continua ali, encrustada
em sua tela. Seu mundo é outro. Como terá sido a transição desta nova geração
de eletrônicos, binários, digitais, ou que quer que seja, que hoje pedala comigo. Como foi sair da
verdade virtual para a realidade dos pedais. Como terão sido as emoções, os
primeiros medos, o cair na vida real do perceber, mesmo que só num sutil
pensamento, que somos frágeis, mas que a liberdade vale mais que a fragilidade,
o desaparecer. Será que o digital oferece esta opção de realidade?
Chegou minha estação. Espero a composição parar e
aciono a alavanca de abertura da porta, que se abre. Desço, ando uns poucos
passos, mas paro e volto meus olhos para as grandes janelas em busca de uma
última visão da linda jovem. A composição passa e não a vejo. Está escondida no
meio da massa, provavelmente olhando para sua tela. A composição entra pelo
túnel e desaparece. Silêncio. Olho para escada de saída para rua e vejo que a
vida continua.
Chove e faz frio. Caminho para casa de cabeça baixa
e vejo no chão um jornal de hoje com uma manchete sobre o acidente de Sierre.
Passados quatro dias a notícia ainda está fresca nos corações e mentes
europeus. Acidentes como este são raríssimos por aqui, quase o oposto do que
acontece no Brasil. Não se sabe a causa, mas há duas hipóteses fortes: mal
súbito do motorista ou falha mecânica do ônibus. No dia seguinte já se falava
nas medidas que devem ser tomadas imediatamente para evitar a repetição do
fato. Mas todos vão se cruzar de frente bem próximos e rápidos.
Vou comer alguma coisa. Entro num restaurante e dou
com um grupo de jovens sentados numa mesa, cada um teclando seu celular e todos
em silêncio. O garçom deposita os pratos na mesa e só um deles olha para ele e
agradece. Não há nem velocidade, nem colisão. De novo voo nas imagens e lembro um
grave acidente aqui em Paris, com um Renault Clio destroçado na traseira por
uma Mercedes. E um rapaz aos urros no celular. Segui em frente a pé para meus
estudos. A curiosidade estava satisfeita. Depois das aulas já não me lembrarei
mais da jovem, do susto, e desta colisão. A vida é assim.
sábado, 17 de março de 2012
Ratos, treinamento, futuro
Ainda novo, na faculdade, nas aulas de pedagogia e sociologia, aprendi o óbvio que hoje estamos vivenciando intensamente no dia a dia: qualquer espécie viva precisa de um determinado espaço para viver e quanto mais adensado for o ambiente, mais tenso se torna a relação entre os indivíduos. A demonstração científica é simples: basta em um espaço determinado ir aumentando progressivamente o número de ratos. A condição individual e coletiva vai degradando até o ponto de ruptura social, com a consequente luta pelo espaço próprio de sobrevivência, ou seja, explosão da violência.
Humanos
tem um grau de adaptabilidade enorme, se comparado a outras espécies. Como
espécie, chegamos onde estamos porque fomos capazes de organizar a vida comum
através de treinamento e educação. Mesmo assim estamos passando por uma época
de ruptura social de consequências ainda não definidas.
Até os animais passam por
estes estágios de aprendizado. O primeiro está relacionado às habilidades
físicas, hoje também considerada uma inteligência, que qualquer animal,
incluindo da espécie humana, forma através de testes que chamamos de
brincadeiras, o treinamento básico para a sobrevivência. A partir de um determinado
estado evolutivo é necessário educar para tarefas específicas, o que nós,
humanos, fazemos dentro de escolas e faculdades num trabalho mais mental, normalmente
pouco prático. Outras espécies educam pela prática, como mostra qualquer
documentário de vida animal.
Trânsito,
no sentido de movimentação de seres e objetos, é um dos sistemas de organização
social mais básico. Mesmo um retardado profundo, com suas limitações
claríssimas, aprende que tem que passar pela porta e não pela parede, e que para
caminhar na rua tem que desviar dos obstáculos do caminho. É um aprendizado que
parece simples, mas na realidade é muito complexo, dado a quantidade de
informações aprendidas, e é feito através principalmente de treinamento de
erros e acertos. Uma vez aprendido como “cruzar” as coisas sem se machucar o
resto do processo é procedimento normalmente simples de ser assimilado.
Qualquer
um consegue se locomover no trânsito das cidades atuais por que é
essencialmente uma questão física de sobrevivência. Um vira lata aprende a
cruzar a rua e caminhar nas calçadas. Mas as movimentações aumentaram, se
complicaram e sofisticaram a tal ponto se tornou necessário educar as pessoas
para sobreviver neste caos controlado. As regras do funcionamento de trânsito,
que existem a milênios, foram sendo desenvolvidas para facilitar a vida de
todos e ser cada dia mais segura, como de fato é. Hoje as informações para os
usuários das vias são simples, básicas, de fácil e rápida compreensão para
todos; independente da capacidade mental.
Adensamento
do trânsito e consequente aumento de agressividade; mais tempo gasto em
transporte e consequente perda de tempo de convívio; um sistema de comunicação
digital eficiente, e cada dia mais portátil, que supre o tempo perdido nos deslocamentos,
mas que reprime o treinamento do convívio humano, do partilhar, da
sobrevivência coletiva. Chegamos à comodidade da individualidade desconectada de
qualquer pressão de organização relacionada à sobrevivência coletiva. Grande
parte da sociedade está ou no vício do automóvel e ou profundamente contaminada
por seus traficantes. E novos vícios entranham a sociedade gerados pelo
computador e sua inteligência artificial. Interessante a expressão
“inteligência artificial”. Aumentar o número de ratos no mesmo espaço e
dar-lhes uma inteligência artificial.
Tendo
justamente neste momento de crescimento urbano a beira do colapso, e tendo em
vista que a educação formal, escola e faculdade, está cada vez mais rala,
incipiente, e provavelmente ainda deve piorar, e que ainda não fazemos ideia no
que vai dar esta formação mental gerada pela mídia eletrônica, só nos resta procurar
uma saída para sobrevivência geral. Acredito que o caminho está em reorganizar a
sociedade urbana através de um sistema simples, basicamente binário, permitido
– proibido, vai – fica, o que já vivemos no trânsito. A responsabilidade de
quem está envolvido neste meio é muito maior que possa parecer a princípio. É
crucial. É dos poucos nós que oferece resultados à curto prazo e ser desatado
com certa facilidade.
quarta-feira, 14 de março de 2012
Bike thief NY
Infelizmente nao posso escrever um texto agora, mas a questao do roubo de bicicleta aqui em Paris é bem complicado.
Este artigo sobre o problema de roubos em NY mostra uma situacao que provavelmente vamos chegar em todo Brasil
http://www.nytimes.com/2012/03/13/opinion/bike-thief.html?_r=1&emc=eta1
Ps. estou escrevendo de um teclado muito diferente do usado por nos no Brasil
abracos > ou abrassos, como queiram
Este artigo sobre o problema de roubos em NY mostra uma situacao que provavelmente vamos chegar em todo Brasil
http://www.nytimes.com/2012/03/13/opinion/bike-thief.html?_r=1&emc=eta1
Ps. estou escrevendo de um teclado muito diferente do usado por nos no Brasil
abracos > ou abrassos, como queiram
terça-feira, 13 de março de 2012
Paris, motos, bicicletas e ônibus
Estou há uns 10 dias aqui em Paris, vivenciando dois bairros que normalmente um turista não vê, mesmo sendo os dois na área central da cidade. Um deles, atrás da Estação de trem de Montparnasse, de gente mais simples. O outro é La Mouet, a uns 2 km do Arco do Triunfo, bem mais sofisticado, com construções antigas e algumas realmente maravilhosas.
Há muito mais motos e principalmente scooters
circulando pela cidade do que da última vez que estive por aqui, creio que em
2007. Estão estacionadas por todas as partes, inclusive calçadas, e parece que
as autoridades fazem vista grossa quando estas realmente atrapalham a passagem
dos pedestres, o que é relativamente comum. O número de estacionamentos
regulamentados está muito longe de suprir a demanda. Mas o que me espantou foi
ver, várias vezes, motociclistas circulando pela calçada, alguns até em
velocidade alta. Nem em São Paulo vi tanta cara dura. Os parisienses parecem
resignados e não reclamam. Numa das situações perdi a cabeça e desandei a
gritar com um motociclista, e o gozado é que todos olharam para mim espantados,
mas gostaram.
Estou numa lavanderia esperando a máquina terminar o
trabalho. Ao meu lado há uma menino de uns 4 ou 5 anos, máximo, completamente
quieto, me vendo teclar. Acabei abrindo uns filmes que tenho de Montreal e NY para
ele ver e em todos não vi uma moto sequer circulando pelas ruas. Complemente
diferente de Paris.
O interessante daqui é acordar cedo e ver pais e
mães levando seus filhos para a escola. Há muita menina nova, lindas e bem
vestidas, circulando em pequenas scooters réplicas de Lambretas. Há também
várias Vespas e Lambretas originais, restauradas, perfeitas, sem soltar qualquer
fumaça. Muitas scooters recebem uma espécie de capa de proteção para as pernas
do motociclista, o que no frio deve ajudar muito. Há um modelo da Honda que é intermediário
entre uma moto normal e uma scooter, ou seja, uma scooter com rodas grandes.
Bem interessante.
Fiz uma foto de uma velhinha que espero que gostem.
Eu adorei. Se pudesse obviamente a teria comprado. Linda! Aliás, eu gostaria de
levar ela, mais uns Renault 4, Citroen 2CV, Fiat 500 original e outras
coisinhas velhas, estranhas e especiais que ainda circulam normalmente.
Maravilhosas!!!
Um detalhe muito interessante: vi algumas 125 YBR
circulando por aqui. O pessoal usa mesmo moto grande – todas com silenciador em
ordem – ou scooter. Moto pequena é rara. Há uma Ducatti bicilíndrica em V
imensa, que não faço ideia do que seja, mas é linda.
Todos os ônibus de transporte municipal são
automáticos e com piso baixo em toda a cabine. Os nossos ditos piso baixo tem
um degrau no meio que sempre considerei um crime. Paris é praticamente plana, o
que ajuda no uso dos ônibus automáticos, mas tenho a sensação que os daqui são
mais suaves. Pode ser por causa do treinamento dos motoristas, que no geral são
muito suaves na condução. Mais ao estilo brasileiro só uma motorista mulher,
grande, bonita, simpática, mas uma verdadeira vaca louca para os padrões da
cidade. A madame sabia muito bem o tamanho do ônibus e em nenhum momento sentiu
qualquer constrangimento em usar sua força – sorrindo, é lógico. Ao contrário
dos homens que tem um cuidado na incrível condução.
A relação dos ônibus com as bicicletas é tranquila.
Os ciclistas, com raríssimas exceções, tem um comportamento tranquilo e seguem
as regras. Muita mulher pedalando, todas bem vestidas. É muito raro ver um
ciclista vestido de “franga”. Há uma quantidade relativamente grande de
bicicletas elétricas, mas geralmente o pessoal pedala e usa o motor em momentos
específicos, como subidas ou rotatórias.
Para terminar, fiz uma pequena excursão no fim de
semana, e fomos num ônibus com câmbio mecânico de 12 marchas, 6 normais e 6
reduzidas, mas de acionamento computadorizado e automático. É como se um piloto
de Fórmula 1 estivesse mudando as marchas de um câmbio tradicional, até com
punta-taco, aquela técnica de redução de marchas usando a ponta do pé no freio
e o salto do sapato no acelerador para acertar o giro e fazer as marchas
entrarem no tempo. Tivemos que fazer uma frenagem de emergência e eu ainda
estava achando que o ônibus era mecânico puro. Fiquei pasmado com a redução de
marchas absolutamente precisa. O motorista, Ms. Theiry, tinha 30 anos de
estrada, dirigia com uma suavidade incrível, duas mãos ao volante, braços a 45
graus, passar de mãos sobre o volante clássico, perfeito nas curvas, o que
ajudou demais na agradabilíssima viagem, talvez a melhor que fiz na vida.
Desculpem, a foto da moto velhinha está na maquina
lá em casa e mando depois. Até.
terça-feira, 6 de março de 2012
Juliana: mais uma
Os números
oficiais e uma conclusão besta.
“Qualquer veículo mal conduzido é perigoso” – Luiz Dranger.
Escolha: conflito ou paz?
Controle social, multa e educação
Recomendação simples:
Pão e circo
Nos últimos 10 anos pararam no IML paulistano mais
de 6.000 pedestres. Os mesmos números dão conta que hoje temos um pouco mais de
60 ciclistas mortos por ano. Fazendo a regra de 3 é possível concluir que
dentro 100 anos as autoridades competentes vão tomar alguma providência em
relação a segurança dos ciclistas.
A brincadeira, aparentemente de mau gosto, tem lá
seu sentido.
O pouco que foi implantado até hoje é praticamente
todo voltado para lazer. Ciclista que se transporta, que é quem está mais
exposto às tensões do trânsito, continua largado à própria sorte. O maior
progresso que tivemos foi o fato de que as próprias autoridades terem percebido
que a quantidade de ciclistas apontada pela OD Metro está muito abaixo da
realidade. Ninguém sabe ao certo quantos ciclistas circulam nos dias de semana
pelas ruas de São Paulo, mas todos concordam que está crescendo rapidamente. A
morte de Márcia, que chocou a cidade, não diminuiu o ritmo de crescimento, e
não será a morte de Juliana que o fará.
Eu já cheguei ao ponto de acreditar que o caminho é
investir unicamente na educação e deixar de lado planos mirabolantes de
ciclovias, ciclofaixas e outros. Duvido que o façam porque educação é
planejamento para longo prazo e absolutamente invisível aos olhos do eleitor.
Ademais há um problema de cultura das próprias autoridades, que em boa parte
são xucros.
Juliana
Diferente do acidente da Márcia, quando consegui
falar com policiais que trabalharam no processo, o pouco que sei sobre o acidente
de Juliana Ingrid Reis é o que está escrito nos textos publicados na Internet.
E segundo depoimentos de testemunhas colhidos por estes, Juliana perdeu o
equilíbrio depois de tirar a mão do guidão para argumentar com um dos motoristas
envolvidos no acidente.
Infelizmente não temos uma polícia técnica com
condição de trabalho ideal que permita saber exatamente o que houve. Acredito
que a única saída para nossa guerra civil, sim, guerra civil, está na lei, no
legalismo. Me recuso a apontar culpados, me recuso a linchar.
“Qualquer veículo mal conduzido é perigoso” – Luiz Dranger.
Sou guia de passeios desde 1988 e ensino quem não
sabe pedalar a mais de 8 anos. Não tenho a menor dúvida que a maioria dos
acidentes envolvendo bicicletas decorre do erro do próprio ciclista. Não é uma
luz empírica de minha cabeça, mas o que os números internacionais apontam isto.
Repetindo, como sempre: mais de 50% dos acidentes é responsabilidade direta do
ciclista e em 90% dos casos o condutor (de qualquer veículo) tem alguma
responsabilidade sobre o ocorrido.
No atual fenômeno do crescimento do uso da bicicleta
pela classe média brasileira fica claro que há um grave problema na forma de
condução destes novos ciclistas. Os erros vão desde bicicleta inapropriada para
o uso, o mais comum, passando pelos vícios trazidos da condução do automóvel ou
moto, e terminando na natural falta de prática, maturidade ciclística. O pior
deles talvez seja acreditar que é um ciclista só porque consegue equilibrar a
bicicleta. A tradicional classe média está passando por uma crise de identidade
pesada que bate até na questão da bicicleta, mas é ir muito longe.
Escolha: conflito ou paz?
É absolutamente certo que quem briga no trânsito está
muito mais suscetível a cometer erros ou sofrer acidente. É absolutamente
básico em segurança geral, não importa se de trânsito, trabalho, caseira, ou
onde quer que seja. Aumentou a tensão, aumentou o risco. Um mais um são dois.
Estimular para o conflito é absolutamente
improdutivo, a história está farta de provar isto, mas há quem ainda acredite
que é a única saída. Inocência, imaturidade, falta de cultura ou burrice mesmo?
Um pouco de cada e todos juntos, mas normal em um país em guerra civil não
declarada como o nosso.
Controle social, multa e educação
Desculpem os inocentes, mas sem controle social, sem
punição e sem educação não se vai a lugar nenhum. Aliás, vai: se chega aos
bairros das gangues, do tráfico, da violência. Anarquismo, não é o que maioria delira,
definitivamente não é. Anarquismo para valer, com “A” maiúsculo, depende de uma
sociedade altamente educada, muito responsável e, por consequência, com uma
noção claríssima de coletividade. Completamente diferente da mediocridade que
está por ai.
Trânsito e baderna mata. É simples. Ponto final. O
contrário é disciplina no trânsito, que oferece segurança, tranquilidade e
salva vidas. O Brasil não está preparado para esta entender esta diferença,
principalmente agora que todos ganharam carro “quase de grátis”. “Liberô
geral”. Foda-se a cidade, foda-se a vida.
Não conheço o orçamento da CET, mas a sensação que
dá é que o investimento em educação para o trânsito é pífio. O que há está
longe de ser o necessário. E não gosto do teor do programa implantado para
pedestres. Gostaria de ouvir os criadores do programa para entender sua
pedagogia, mas duvido que eles queiram vir a público.
Recomendação simples:
Por causa da minha prática com ensinar a pedalar eu
recomendaria que se ensinasse a parar os veículos, o que a maioria dos condutores,
principalmente motociclistas, faz mal. Tirar o pé ou a mão do acelerador é algo
que não passa pela cabeça do pessoal. A diferença de tempo ai é grande e muda
todo cenário de perigo.
Av. Paulista
Como fizeram a reforma da av. Paulista sem pensar
nos ciclistas o mal já está feito. Só um cego não consegue ver a quantidade de
ciclistas que passa por ali. Não dá para acreditar que simplesmente
“esqueceram”.
Não há outro caminho tão reto, plano e natural para
o ciclista. As paralelas são mais estreitas, não são planas, estão saturadas,
tem um trânsito que vai aos trancos, tem menos luz, há uma grande variação de
sombra e luz, situações pouco
apropriadas para ciclistas.
A av. Paulista está congestionada boa parte do
tempo. Gostaria de saber qual é a velocidade média dos carros e dos ônibus. Não
deve estar longe da do ciclista. Talvez ai esteja a solução. Em Paris vários
trechos de avenidas são partilhados entre bicicletas e ônibus, praticamente sem
conflitos. Não sou estúpido, sei que há diferenças fundamentais, que são
propositadamente exageradas em nossas pastagens, mas nada que creio seja impossível
de resolver, pelo menos em São Paulo. O não reconhecimento do legado da CET por
ela própria sempre aparece rapidamente quando os próprios não estão afins de
algo. Nestas horas deixamos de ser todos humanos e os motoristas paulistanos
passam a categoria de bestas do apocalipse.
O que nos falta?
·
Os ônibus parisienses são automáticos. O nível de ruído na cabine é
muito menor que o dos nossos. O motorista é autoridade máxima dentro de seu
veículo, o que faz uma brutal diferença no equilíbrio emocional do próprio
motorista. Ele trabalha resguardado por uma meia cabina, que com um simples
levantar de um vidro o deixa completamente isolado. Há policiais em bicicleta
coibindo para valer, com multa imediata, qualquer invasão de motorista na faixa
exclusiva dos ônibus. A sinalização viária é farta. O pavimento não tem
buracos. O motorista dirige muito menos estressado e só trabalha por 7 horas diárias,
máximo.
·
Julgar que o motorista de ônibus paulistano nunca conseguirá chegar ao
nível de qualquer motorista de primeiro mundo é ter muita má vontade ou, pior,
má fé. Pior, é não reconhecer o trabalho destes homens, o que é uma sacanagem.
·
Pela quantidade de pessoas circulando na Paulista os motoristas
deveriam ter um critério de escolha e treinamento específico. Creio até que já
haja algo neste sentido, mas se houver precisa ser aperfeiçoado. E de
preferência manter sindicatos e outras corporações fora do jogo. Vai dirigir na
Paulista e em outras vias específicos que tiver cacife para tanto.
Meritocracia, meus caros, meritocracia. Um valor ainda complicado para
brasileiros, mas garanto que meritocracia faz bem para a saúde geral da nação.
Tem gente que simplesmente acha impossível....
Pão e circo
Política é feita no reflexo do balanço das boas e
más notícias. Numa situação crítica como a esta, de morte de uma menina na
Paulista, entra no jogo especialistas em comunicação de emergência, com técnicas
velhas conhecidas, para apagar o incêndio. Normalmente apagam com poucos danos
colaterais, principalmente aqui no Brasil que a memória é curta. Basta dar
presentes ao público e bater forte na divulgação de meio verdades. É a cabeça
esmagada do ciclista em contrapeso da ciclo faixa de domingo. Bato uma aposta
que ganha de lavada o lazer.
Julgamento
Bato uma aposta que quando alguém for julgado, por
este nosso fantástico sistema de justiça, e condenado o demônio terá sido
colocado atrás das grades e o caso encerrado. Lincha, lincha, lincha!!!!
Assasssino!!!
Praticamente não foi tirado nenhum proveito da morte
de Márcia, como bato aposta que não será tirado da morte de Juliana.
Transitado, julgado, caso encerrado!
domingo, 4 de março de 2012
Sob a morte de Juliana Ingrid Dias na Paulista
"Não assino porque tenho filho para criar..."
Ciclistas morreriam com ou sem implementação de projetos de segurança. A lei, sempre a lei. Mas há algumas diferenças entre fazer ou não fazer. Ô se há!
Ciclistas morreriam com ou sem implementação de projetos de segurança. A lei, sempre a lei. Mas há algumas diferenças entre fazer ou não fazer. Ô se há!
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