Domingo fiz os
100 km de pedal da Rota Márcia Prado, a descida de São Paulo para Santos pela
via Grajau, Bororé, estrada de manutenção da Imigrantes, Bairros Cota e Cubatão.
Novamente adorei. Sai às 6:08 h da Ponte Cidade Universitária, praticamente uma
hora antes da largada oficial, que aconteceu na entrada Vila Olímpia da
Ciclovia Pinheiros, já havia uma massa de ciclistas circulando e pegando o trem
da CPTM para Grajau, o segundo ponto de partida. A largada oficial foi dada às
7:00 h na patética entrada Vila Olímpia da Ciclovia Pinheiros, que virou um festivo
caos.
Mais de 7.200
inscritos pela Internet, na CicloBr.org.br, já é uma quantidade de ciclistas notável;
mas a divulgação boca a boca apontava para números que chegaram a assustar.
Quantos iriam? 10.000? mais? Ninguém sabe ao certo quantos foram, mas mesmo com
um tempo esquisito e chuvoso a conta fecha para lá dos 8.000.
Eu cruzei a
primeira balsa, de Bororé, em uns 30 minutos, se tanto, mas teve gente que
demorou 4 horas para cruzar. Quando cheguei na Imigrantes, lá pelas 11:00 h,
conversei com os Policiais Rodoviários, que afirmaram que naquele momento já tinha
passado muito mais gente que no ano passado. Vale a pena ver as fotos do
Willian Cruz no Facebook, que fez o fechamento do passeio e comparar com as
minhas, do início. Fácil entender o tamanho da brincadeira: exatamente às
19:30h, quando passamos a Serra do Mar de volta para São Paulo ainda tinha
muita gente pedalando na estrada de manutenção. Simples.
Pessoalmente
gostaria de ver o circo pegando fogo. Com a Ciclo Faixa de Domingo e outras
iniciativas abriram a caixa de pandora da diversão e hoje tem muita gente que
sabe que consegue pedalar com facilidade até grandes distâncias. Perderam o
medo e descobriram que “fazer loucuras” não tem nada de loucura, de sair por ai
de bicicleta, muito perlo contrário, é muito bom para a alma e não em preço. Se
não acabou a mentira de que “bicicleta não existe” ou “é perigosa”, deu-se um
salto imenso no sentido contrário.
Um passeio
destes destrói paradigmas negativos sobre a bicicleta e cria demandas que
deveriam ter sido resolvidas a muito pelo poder público, o que obviamente também
não será atendido amanha nem depois de amanha. Sabe lá Deus quando a absurda lentidão
da coisa pública conseguirá fazer sua parte e quais serão as consequências. Se
com chuva juntou esta massa para a aventura e diminuiu sensivelmente o número
de ciclistas na Ciclo Faixa de Domingo, imagine se tivesse feito tempo legal...
Se o evento mais que dobrou do ano passado, o que acontecerá nos próximos anos?
Pior, o pessoal que experimentou e gostou provavelmente não vai mais ficar
sujeito à programação oficial dos fins de semana e, pior ainda, vai ‘incitar’ os
novatos. Situação deliciosamente perigosa.
Como já disse,
quem organizou foi a CicloBr.org.br, que fez um ótimo trabalho, principalmente
em se tratando de voluntariado. Que inveja eu tenho desta nova geração de ciclo-ativistas...
Houveram pouquíssimos incidentes e acidentes, principalmente dadas as
condições.
Prefeitura de
São Paulo e Governo do Estado deveriam estar mais atentos e presentes. Não cabe
mais não vi para não me responsabilizar. É lógico que Guarda Florestal, PM,
Polícia Rodoviária estavam lá e fizeram um ótimo trabalho, mas a dimensão do
que aconteceu, e todo mundo sabia que iria acontecer, demanda muito mais. Por
exemplo: não dá mais para negar que os ciclistas descem o ano inteiro pela
estrada de manutenção, portanto é ridículo não sinaliza-la oficialmente,
principalmente no dia do evento. Enfim, a burrice está nos estertores finais da
negação da existência da bicicleta e ciclistas, que existiam muito antes destes
eventos e daqui para frente tende a existir muito mais. Ser burro é uma coisa;
agora ser burro, estúpido, cego, surdo e mudo é outra (sem ofensa aos burros, que são
quadrupedes bem inteligentes).