quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Paris

O trânsito de Paris é simplesmente caótico. Na hora do rush ninguém respeita nada. Esqueça faixa, linha de retenção, semáforo... Dane-se o outro, o negócio é tentar ir em frente de qualquer forma. As esquinas viram um caos, muitas delas fechadas por motoristas impacientes, junto com elas quarteirões de carros parados. Hoje vi o absurdo do absurdo com um ciclista que decidiu furar o sinal vermelho e acabou ficando encalacrado na frente de um paciente ônibus que dobrava a esquerda. O ônibus simplesmente parou cruzado no meio de uma das mais importantes e movimentadas avenidas de Paris e todos tiveram esperar muito tempo até o ciclista idiota se acalmar e sair da frente do ônibus. Um frente mais a frente um motorista contornou a frente do ônibus e entrou na contramão sem cerimônia. Qual o problema? Estava livre mesmo.
No meio desta baderna ciclistas, patinetes, monociclos elétricos e outros veículos mínimos passam por onde dá, o que faz da rua um baile de loucos sem música. Acaba sendo divertido porque não se vê acidentes, não sei como.
O número de ciclistas não parece ter crescido muito desde a última vez que estive por aqui. Velib mudou suas bicicletas, aparentemente mais modernas, e parece que encolheu, algumas estações foram retiradas. Entraram em cena as bicicletas de aplicativos que ficam soltas pelas ruas. Em compensação a quantidade de patinetes normais ou com motorização elétrica cresceu muito. E é possível ver circulando um monte de geringonças de uma ou duas rodas, de todos tamanhos e formas. Há um certo respeito pela calçada, exceto pelos que usam patinetes. Não conta aí a criançada pequena que vai a escola em mini patinetes, algumas vezes acompanhados pelos pais também em patinetes. Vira e mexe entra alguém no ônibus ou metro com seu patinete dobrado. 
Como já pedalei muito por aqui, e até no olho é fácil ver, sei que motorista respeita ciclista. Ônibus em alguns pontos da cidade circula no mesmo espaço que os ciclistas e o comportamento dos motorisas é exemplar. Motoristas e motociclistas só para para pedestre quando não tem outro jeito. Hoje vi, mais uma vez, motociclista e scooter cortando caminho pela calçada e costurando entre pedestres, um absurdo.
Falam tão mal dos motoristas italianos, mas senti muito mais respeito lá, no norte da Itália, que aqui em Paris. Aliás, estou embasbacado com a baderna geral. O que, dentro do ônibus e olhando a caótica imagem da dança de lanternas vermelhas a frente, me fez pensar em como melhorar o trânsito de Paris. Mais do que isto, como dar a Cidade Luz a mobilidade que se espera para
o futuro da humanidade. Sistema de controle de trânsito através de supercomputadores com semáforos inteligentes? Duvido que funcione sem colaboração da população. E está provado, o pessoal só colabora quando doí no bolso, de preferência quando doí pesado. Eles tem uma Polícia que funciona para valer, mas não na hora do trânsito. Em alguns pontos da cidade, na saída de escola estão presentes senhoras vestidas com colete ajudando o cruzamento de crianças e pais, e todo mundo respeita. Faz uns anos vi uma Mercedes Bens 600 zero, saída da concessionária, num dia e uma Masserati 4 portas nova noutro sendo rebocadas por estacionamento irregular. Os milionários proprietários não ousaram reclamar, os carros foram embora e ponto. Só isto não basta.
Paris tem um traçado urbano irregular que dificulta muito dar fluidez ao trânsito. Não vai ser uma solução fácil porque certamente passa por uma profunda mudança de cultura do parisiense.
Parte da baderna é causada pelos pedestres. Parece um contracenso, mas não é. Depois que eles conseguem começar o cruzamento na faixa de pedestre são donos da situação, como deve ser, mas falta organizar melhor estes cruzamentos. Uma coisa é a prioridade inquestionável do pedestre, outra é em nome desta prioridade colocar em colapso o resto do trânsito e suas mobilidades.

Outra coisa, para aqueles que acreditam que o uso intensivo de eletricidade e inteligência artificial vai mudar situações como caótica de Paris digo que esperem sentados. Algo me diz que motor elétrico é mais um sonho utópico e os aplicativos a mais nova mágica, como foram tantos outros. Carro não foi o futuro da humanidade?

Nenhum comentário:

Postar um comentário