segunda-feira, 15 de outubro de 2018

cicloturismo lá (Europa) e cá (Br)

Infelizmente este ano não fui pedalando para Aparecida do Norte. Tempo ruim, fuso horário de 5 horas ainda imperando, obrigação de cuidar de netos. Fiquei triste. Fica para a próxima. E tinha feito planos: onde ficar, quanto tempo de viagem, uma possível subida da serra para Campos do Jordão, velho sonho que ainda realizo. Por onde? De novo pela Dutra ou pela Ayrton Senna, menos movimentada, mas com menos romeiros? Ou pelo novo caminho meio que exclusivo dos romeiros, Caminho da Luz, passando por Suzano e Mogi e evitando Dutra e Ayrton? Além da diversão de ir acompanhando e conversando com os romeiros, a paisagem é linda. Temos uma natureza maravilhosa neste país.Algumas meninas do Saia na Noite me pediram orientação sobre o Caminho da Fé. Aliás, queriam mesmo é saber sobre o Caminho do Sol, que nunca fiz, mas amigos com muita quilometragem de cicloturismo contam que tem muita estradinha arenosa chata de pedalar, canavial, pouca sombra e um calor de rachar coco, e não recomendam. Se é para ir por aquelas bandas recomendo sim fazer a Estrada dos Romeiros entre Santana do Parnaíba e Itu, passando por Bom Jesus do Pirapora e Cabreúva, Estrada Parque que ladeia o Rio Tiete, linda principalmente entre Bom Jesus do Pirapora e Itu. É bem conhecida porque virou local de treino.
Acabo de voltar de um passeio de 8 dias pelo Rio Danúbio no qual você pedala de dia entre cidades e come e dorme num barco. Tive muita sorte na escolha do Carissima, um barco com capacidade de uns 150 passageiros, sem frescuras, com um serviço primoroso, muito melhor do que poderia esperar. Viajamos pelo Rio Danúbio entre Passau, Alemanha, e Budapeste, Hungria, passando por Bratislava, capital da belíssima Eslováquia, e Viena, Áustria. Cabines confortáveis, comida ótima, bicicletas bem ajustadas, precisão nos horários e serviços, livrinho com roteiro, dicas e outras explicações. Repito, serviço ótimo, de primeira, praticamente impecável, exemplar. 
A ciclovia que margeia o Rio Danúbio faz parte dos 14.000 km de ciclovias/estradas que cruzam a Europa com uma qualidade geral excelente. A paisagem é muito bem cuidada, linda, mas depois de uns dias fica um pouco monótona. As cidades são impecáveis, de dar raiva no que temos aqui. A sensação de segurança é plena tanto nas ciclovias quanto nas pequenas cidades. Nas capitais nos foi avisado para não deixar as bicicletas soltas porque roubam, no mais também muito seguras. 
A empresa organizadora oferece diferentes níveis de dificuldade para os ciclistas, começando com bicicletas elétricas e trechos planos para os despreparados. Fiz o passeio leve, com trechos planos de um pouco mais de 40 km por dia (o mais longo com 56 km) onde a única dificuldade de pedal se apresentou em forma de vento. A maioria dos ciclistas eram idosos, tendo um casal com bem mais de 80 anos, ele com princípio de Alzheimer. O barco aporta, descem as bicicletas, avisam a que horas os ciclistas tem que estar no próximo porto, com tempo de sobra, lá chegam e embarcam todos e o barco zarpa para o próximo porto onde se repetirá a operação. A noite é servido um jantar farto e muito bem preparado. O café da manha é variado e antes de pegar as bicicletas entregam um belo lanche, 3 sanduíches diferentes, frutas e água para os ciclistas levaram nos alforges e comerem no almoço. Os aplausos de despedida para a equipe do Caríssima foram efusivos.
Fazendo um cálculo simplista só o Carissima recebe 450 passageiros/mês, o que num ano deve dar pelo menos uns 4.000 cicloturistas/ano, dado que param no inverno. O Danúbio está cheio destes barcos. O Danúbio e todos os rios e canais da Europa.
Quantos cicloturistas o Brasil recebe por ano?

Cada vez que saio para pedalar nas estradas brasileiras fico maravilhado com as belezas que temos neste país. Nestes 8 dias de Caríssima só me doeu saber que aqui no Brasil não temos estrutura receptiva para receber qualquer turista estrangeiro. Estamos a um ano luz da qualidade de atendimento e trabalho da equipe que nos recebeu no Carissima. Mesmo que tivéssemos um bom receptivo não temos segurança. Boa parte de nossas cidades de interior são feias e mal cuidadas. Não temos ciclovias, nem todas tem acostamento e mesmo nas melhores estradas vê-se muito lixo às margens. Nossos rios são poluídos, a nossa belíssima paisagem aviltada. No passeio me perguntaram como era pedalar no Brasil e com profunda tristeza tive que responder que não recomendava, mesmo sendo apaixonado pela nossa natureza. Eu vou, sou brasileiro, estou acostumado, e recomendo que amigos também façam cicloturismo. Não dá para estrangeiros que estão acostumados com civilidade.

















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