segunda-feira, 4 de maio de 2015

Dois bebes e uma vida

A todo momento nascem novas histórias de vida. Todas vão circular ai pelas ruas, praças e outros locais públicos e praticamente todas serão eternamente histórias desconhecidas. Acreditamos que conhecemos suas reais histórias, mas mesmo entre os mais íntimos só podemos ver a aparência.

Aos poucos a tensão da gravidez e chegada do primeiro filho foi tomando conta do casal e das famílias, o que é normal. Os ajustes finais para a nova vida de todos foram sendo apresentadas e discutidas, mas sem concordâncias. Preponderou a verdade e os anseios de cada um. A cascata de pequenos detalhes ganhou um tom pesado. Chegou a criança, sadia, linda, e o pior temor se desfez, e o cenário foi ganhando pinceladas mais claros, leves, realistas. Com o bebe no colo e sorrisos nas bocas parece que ficou claro a todos que aquela linda e frágil vida é a prioridade para o futuro. Fato consumado.
O tempo diz tudo a todos.
“Há situações que não se deve falar”, se diz em voz baixa e ao pé do ouvido. Pena, a verdade pode ser dura, mas sempre será menos dolorosa. Nos dias de hoje a gravidez e o nascimento de uma vida é um processo muito mais tranquilo e seguro que a uns poucos anos atrás, mas a vida sempre continuará frágil e imprevisível. A poucos dias do parto o bebe para de se mexer e tudo que haveria de ser ali estanca; o que sempre foi e nunca se viu sobe à tona numa dor dilacerante. Realidade, pura verdade. A vida continua a mesma para quem passa na rua e não sabe ou não quer saber da realidade da vida. Também é vida, mas algumas vezes radicalmente diferente.  

Aqui no Brasil não adianta usar exemplos para orientar. Exemplos entram por uma orelha e saem pela outra. Há uma crença nacional que o mal nunca vai cair aqui comigo ou com os meus. Tudo vai dar certo. Silêncio sobre as consequências de erros é devastador, mas quem se importa? “Faz, deixa fazer, se sair errado depois conserta”. Não conserta não! Pau que nasce torto morre torto.


Beira o impróprio usar estas histórias para fazer paralelos. Guardados as proporções as duas são brutais, uma delas dilacerante, das piores experiências humanas que uma família pode ter. Não menos brutal é a displicência brasileira pela coisa pública.

Recomendo "O mundo nunca teve rumo", de Luiz Felipe Pondé, publicado hoje, 04 de Maio de 2015, na pg C8 Ilustrada da Folha de São Paulo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário